{SALMÃO, entre as forma poliglotas da língua se desabotoa no rio aceso, descendo, entre os esquadros, continuamente, nafraseologia HÚMIDA, incerta nas cavidades a descobrir }
A PELE se dependura, animal, na gaze a língua, SALMÃO, fecunda e viajante...
Treme o sangue a roçara crispação que se lambe num enxame, nos mamilos, em osmose. Os SEIOS e a seda dança, crespa, selvagem, múltipla, luxuosa e eu SORVO-ME neles. Isolando os prados em prantos, gemeres abismais exitados, esfuziantes,que na respiração se exibem, líquenes. Obturada a mão MUSA acende a estrela e a massa cravada a recebe em movimento. Fica assim. Gulosa na dança pelas roupas e a nudez. Duplamente CORPO e remoinho…
Nos lugares opacos a carne fica iluminada!
Os DEDOS inventam imperscrutáveissílabas. Narinas e curvas tensas numa fronte de beleza em labaredas e uma ABERTURA salgada se desfralda em citadinas avenidas de prazer. Os bífidos sentidos onde os teoremas se ajoelham e rendem em pistas marítimas, dorsosonde as COXAS põe a luzir as falanges: onde o meu sal se deita, cresce e alojaessa força que trago dentro de mim, nua, em quadris quetua boca expele transpira, húmida como a escrita em carne, SALMÃO, respira e transpira desde ofundo da página ao grito que se despenha e se entorna na água QUENTE que transborda de onde me arranco o DENTRO e escrevo. As palavras em sexo e as VAGINAS furiosamente ENTORNADAS nesta página, radiando o que na mente ARDE e nos lembrares treme.
Paragens gráficas o SALMÃO desce, no meio cresce. Sei que toco o desvastador, em sinos que desmaiam as raias, a braçada quente. Beijo-te por dentro. A BOCA no chão. O branco da matéria deixando-nos em BRASA os LÁBIOS, na sagacidade dos sítios, e o incêndio não sabe que estás algures na paisagem que ergues em múltiplas tragadas, na VULVA alta, alimento, pura. Tremendo no meu mundo ou no aroma aterrada a colher rotativa a substancia primária. Delicada. Tão ABERTA que apanha toda a rósea LÍNGUA dentro no SEXO desabrochada.
A bexiga planta e discursa laços, acolhimentos, corpúsculos nas vertingens agora poltronas do meu, do nosso, SALMÃO em total desalinho, perto do Porto. ONDEo rebuço ruge agudo os rasgões de LANHA em LANHA.
A choupa pulsa o umbigo. Redondo. A conjuntura chupando um CLITÓRIS, femenino, a carne em círculos debruçada. Brilha, Branco o TESÃO, côncavo grita, geme relâmpagos entre o óleo táctil, no profundo das águas ardentes, o HAUSTO idioma e as efervescências hieroglíficas_____________________ENTRANDO.
Confunde-me esta coisa de me apaixonar pelo desconhecido, mais propriamente pelas desconhecidas. Uma vez, por exemplo, andei doente de Amor por uma locutora de rádio que nunca cheguei a ver. Para além da voz, nada mais. Creio que a culpa foi essencialmente do meu despertador, que me acordava sempre à mesma hora na mesma estação. Naquele período do dia em que ainda não estamos despertos, mas também já não estamos a dormir e em que, portanto, o sonho se dissolve facilmente na realidade, era a voz dela que me embalava.
É verdade que nunca a cheguei a ver, mas também é verdade que ela me fez perceber uma das muitas coisas que um homem procura numa paixão: um abrigo. Durmo sempre com a persiana corrida, deixado os seus buracos abertos. Desta forma, todas as manhãs a luz do Sol vai entrando devagar no quarto, como se tivesse que pedir licença para me vir despertar dum sono bom. Nesse momento não sei como está o mundo lá fora. Talvez haja uma revolução, talvez um acidente na rua tenha feito vítimas mortais, talvez dois homens se agridam um ao outro depois de um desentendimento no trânsito. Nunca me interessou. Dentro do meu quarto, por aqueles dias, a voz dela era o meu mundo e dizia-me que estava tudo bem. Ela também gostava dessa ténue luz que me espreitava, e depois punha uma música a condizer Só para mim.
Senti a falta dela quando, por causa do meu horário de trabalho, passei a acordar mais tarde. Durante alguns dias, por não a sentir perto de mim, levantava-me ainda ensonado e passava o resto dos dias a dormir em pé. Alguma coisa estava mal comigo, e demorei tanto a curar a falta dela como se fosse um outro Amor qualquer. Mas, claro, como se fosse outro Amor qualquer, lá acabei por passar a ressaca.
Hoje acordei mais cedo do que o costume e foi dela a primeira voz que ouvi. "Se ainda está no vale dos lençóis, fique a saber que tem mais sorte do que eu, e aproveite para ouvir esta música ainda de olhos fechados", disse. Eu fechei os olhos e ouvi-a.
Espreguiço-me devagar e sensualmente na cama, onde estivemos aninhados até agora... Sinto o corpo maravilhosamente dolorido pela sofreguidão com que nos amámos. Contigo é sempre como se fosse a primeira vez... o tesão não diminuiu... antes pelo contrário, aumentou... o meu corpo reclama o teu, a minha alma chama por ti, a minha boca satisfaz-se na tua, eu só existo por ti e através de ti...
Os lençóis estão húmidos de suor e sémen... o quarto cheira a sexo... Agarro-me a este cheiro que é a soma do cheiro de cada um...
Saíste deixando-me, achavas tu, adormecida.
Mas eu só não queria abrir os olhos para não perder o momento... o teu momento... o nosso momento.
Como em todos os amores proibidos, não sei quando te voltarei a ver, quando voltaremos a estar juntos.
E assim tento prolongar ao máximo estes farrapos de tempo que a vida nos dá.
E sinto o teu beijo de despedida, cuidadoso, carinhoso, amoroso, saudoso até.
E recuso-me a abrir os olhos quando oiço a porta da rua bater.
E continuo nesta dormência de prazeres satisfeitos, de saudades que irão surgir...
Entraste sorrateiramente de madrugada. Não te esperava. Dormia tranquilamente com o gato aninhado a meus pés. Só te senti quando puxaste os lençóis e te aninhaste em mim... Queria levantar-me, ir lavar os dentes, a cara, ficar mais bonita para ti. Não deixaste. Disseste que me amavas ainda mais quando eu estava assim, amassada do sono e da cama, calma, serena e apenas eu própria... Disseste que sorria enquanto dormia; com certeza sonhava contigo, numa forma inconsciente de pressentir a tua chegada.
Amámo-nos apressadamente, como se o mundo fosse acabar na próxima meia hora. Enroscaste-te então em mim e adormecemos numa confusão de braços e pernas. Passadas poucas horas acordámos com o amanhecer e tornámos a fazer amor. Desta vez com lentidão, beijos que começam na testa e acabam nos pés... língua que percorre a autoestrada do corpo, detendo-se demoradamente no centro do prazer... mãos que exploram, agarram, arranham, trepando pelo corpo que se abre e se oferece ao outro... chupaste-me e eu chupei-te... lambeste-me e eu lambi-te... mordiscaste e eu fiz-te o mesmo...penetraste-me, primeiro devagar, depois com vigor e urgência... tu por cima, eu por cima, de lado, de trás... nada ficou por fazer, por explorar, por amar... parecíamos sanguessugas um no outro... eu começava onde tu acabavas e vice-versa. E juntos gememos, gritámos, fomos às estrelas... eu mais do que uma vez, fazes sempre questão disso... e brincas, dizendo que é hora do leite, fazendo-me vir selvaticamente na tua boca...
Como é divino e incomparável o amor que fazemos! Sexo com sentimentos mas por vezes animalesco...
E assim deixo-me estar, nua, saciada, besuntada do teu sémen e do meu... e cheiro o nosso amor proibido, que ainda palpita nos meus lençóis e no meu corpo...
E sinto este sabor que apenas um amor proibido tem...
Tenho um gosto especial por objectos que têm segredos, como esta pequena taça (12,4 x 12,4cm) da época de Napoleão III (1808 – 1873), recebida de fresco para a minha colecção.
A taça tem uma imagem bucólica de um senhor à pesca com uma senhora a assistir:
Em baixo, a legenda "Nos bons Pêcheurs! Une Pêche miraculeuse!" ("Nossos bons pescadores! Uma pesca milagrosa!"):
Virando a taça, a parte de baixo é branca, sem nada à vista...
... a não ser que se passe levemente com um lápis, o que revela uma imagem (tecnicamente está muito bem feito, pois a imagem aparece em falhas do vidro da superfície da porcelana), que é a saia da senhora a ser levantada pelo anzol da cana de pesca, mostrando o rabo ao pescador... e a nós:
Na parte inferior da imagem, revela-se também uma assinatura ("??acke"):