Um sábado qualquer...
06 outubro 2012
05 outubro 2012
«Dobrar o Bojador» - João
"O Cabo Bojador é um marco importante para nós, Portugueses. Devemos a Gil Eanes, que o dobrou em 1434, a astúcia de contrariar a prática da época, de navegar com a costa à vista, e afastar-se para o mar alto onde encontrou ventos mais favoráveis para progredir para Sul. Abriu, dessa forma, o caminho à nossa navegação, que viria a tornar-nos Império. Lamentavelmente, somos hoje pálida amostra. O Bojador havia clamado inúmeras embarcações, por causa de ventos variáveis e uma plataforma continental a muito pouca profundidade. Dobrá-lo, deixá-lo para trás, dar-nos-ia a satisfação de um novo mar aberto a descobertas. Os monstros marinhos que puxavam os homens para as águas, davam lugar a sereias.
A ideia de dobrar o Cabo Bojador continua a ser importante. Para muitas coisas. É uma belíssima metáfora de que nos podemos socorrer sempre que queremos transmitir a alguém a necessidade de abrir novos caminhos, de ultrapassar uma dificuldade, vencer um desafio. E há um desafio que temos dentro das nossas casas e dentro das nossas cabeças, que nos obriga a dobrar, uma e outra vez, todos os Bojadores que se nos apresentam. O desafio de manter as chamas acesas. Já antes aludi às vontades evadidas que resultam dos dias preenchidos que temos. Já não nos sentimos obrigados a viver os dias governados pela luz do Sol. Não vamos para dentro quando a luz desaparece, deixámos de nos deitar com as galinhas, prolongamos as nossas actividades profissionais muito para lá daquilo que se pode considerar compatível com uma vida pessoal, particular, plena, e dessa forma recuamos para as nossas casas num estado de cansaço – quando não também de apatia – que é muito pouco convidativo ao aconchego, que juntando pele com pele, dando espaço às feromonas para fazer a sua magia, envolve as pessoas num suor de algo que lhes deu prazer e depois disso, mesmo que cansadas, felizes.
Entra aqui o Cabo Bojador. Assim como Gil Eanes se afastou da costa, indo além do que era a prática comum, também nós temos de vencer, nas nossas casas, a tentação de ceder ao cansaço, de não iniciar um carinho, um gesto, só porque tudo quanto nos apetece é sentar, deitar, desligar. Depois de dobrarmos o Bojador, tudo se abre à nossa frente. Vemos que valeu a pena, que ganhámos um novo ânimo para derivar em conjunto, em vez de derivarmos sós. Os monstros marinhos, ao largo do actual Sahara Ocidental, não existiam. Os nossos existem, não são marinhos, estão dentro de nós, e cabe-nos dominá-los, para que não nos afundem."
João
Geografia das Curvas
A ideia de dobrar o Cabo Bojador continua a ser importante. Para muitas coisas. É uma belíssima metáfora de que nos podemos socorrer sempre que queremos transmitir a alguém a necessidade de abrir novos caminhos, de ultrapassar uma dificuldade, vencer um desafio. E há um desafio que temos dentro das nossas casas e dentro das nossas cabeças, que nos obriga a dobrar, uma e outra vez, todos os Bojadores que se nos apresentam. O desafio de manter as chamas acesas. Já antes aludi às vontades evadidas que resultam dos dias preenchidos que temos. Já não nos sentimos obrigados a viver os dias governados pela luz do Sol. Não vamos para dentro quando a luz desaparece, deixámos de nos deitar com as galinhas, prolongamos as nossas actividades profissionais muito para lá daquilo que se pode considerar compatível com uma vida pessoal, particular, plena, e dessa forma recuamos para as nossas casas num estado de cansaço – quando não também de apatia – que é muito pouco convidativo ao aconchego, que juntando pele com pele, dando espaço às feromonas para fazer a sua magia, envolve as pessoas num suor de algo que lhes deu prazer e depois disso, mesmo que cansadas, felizes.
Entra aqui o Cabo Bojador. Assim como Gil Eanes se afastou da costa, indo além do que era a prática comum, também nós temos de vencer, nas nossas casas, a tentação de ceder ao cansaço, de não iniciar um carinho, um gesto, só porque tudo quanto nos apetece é sentar, deitar, desligar. Depois de dobrarmos o Bojador, tudo se abre à nossa frente. Vemos que valeu a pena, que ganhámos um novo ânimo para derivar em conjunto, em vez de derivarmos sós. Os monstros marinhos, ao largo do actual Sahara Ocidental, não existiam. Os nossos existem, não são marinhos, estão dentro de nós, e cabe-nos dominá-los, para que não nos afundem."
João
Geografia das Curvas
Você comeria num restaurante chamado Fukyu?
Sempre ouço discursos dos pró-capitalistas afirmando que os países desenvolvidos possuem liberdade de expressão (ou como dizem na língua inglesa: freedom of speech).
Uma falácia, como qualquer pessoa esclarecida sabe. Não existe liberdade de expressão para os meros mortais do povo. E não precisamos adentrar em questões mais complexas da política para demonstrar que isso realmente acontece.
No Canadá, um país considerado exemplo de liberdade e bem estar social, a justiça ordenou que um restaurante japonês alterasse o seu nome, pois era ofensivo. O empreendimento, que tinha o nome de "Fukyu", que em japonês refere-se ao nome de um estilo de karateca, um nome reduzido de fukyugata, teve que ser o nome trocado por ter semelhança com a palavra inglesa "Fuck You" (foda-se). As palavras apenas se assemelham na escrita, pois a pronúncia é diferente. Ainda assim, a democracia liberal canadense exigiu a mudança do nome e o restaurante agora se chamará "Kabuki".
É bem provável que não seja permitido sair do restaurante dizendo que ficou satisfeito ou que já está bem comido.
Obscenatório
Ai não?
Porque reclamas amor eterno se defendes que a um amor a sério não se podem impor quaisquer condições?
04 outubro 2012
Nádegas
Entre as duas nádegas
o pávido sulco
tem aroma de áfricas
e de uvas de outubro
Dirias que fora
um silvo de morte
a penetrar toda
a nocturna flora
até hoje intacta
que ainda aí tinhas
Respira
Não fales
Murmura
Não grites
Que travo
de amoras
Que túnel escuro
Que paz no que sofres
por mais uns minutos
o pescoço vergas
submissa e frágil
tal o de uma
égua que vai beber
água
mas encontra a
lua
E junto da cama
a rosa viúva
com lágrimas brancas
já pede os meus dedos
sacudido apoio
para a viuvez
em que a deixo hoje
Muito mais a
norte os queixumes
calas
E nem gemes
Gozas
enquanto te invade
o suco da vara
vertido no sulco
Vê como foi fácil
Respira mais
fundo.
David Mourão-Ferreira
blog A Pérola
o pávido sulco
tem aroma de áfricas
e de uvas de outubro
Dirias que fora
um silvo de morte
a penetrar toda
a nocturna flora
até hoje intacta
que ainda aí tinhas
Respira
Não fales
Murmura
Não grites
Que travo
de amoras
Que túnel escuro
Que paz no que sofres
por mais uns minutos
o pescoço vergas
submissa e frágil
tal o de uma
égua que vai beber
água
mas encontra a
lua
E junto da cama
a rosa viúva
com lágrimas brancas
já pede os meus dedos
sacudido apoio
para a viuvez
em que a deixo hoje
Muito mais a
norte os queixumes
calas
E nem gemes
Gozas
enquanto te invade
o suco da vara
vertido no sulco
Vê como foi fácil
Respira mais
fundo.
David Mourão-Ferreira
blog A Pérola
«Diz-me a tua profissão, dir-te-ei como montas o sardão» - Patife
Recém licenciadas em Direito: Gostam de malhar a direito por pichas tortas. Fazem tudo para subir na vida e na picha. Acção recomendada: Pinar.
Advogadas e Juízas: Regradas no tribunal, desregradas na cama. É uma espécie de compensação. São a Foda-Rainha do desregramento. Adoram ouvir nomes na cama. Acção Recomendada: Pinar.
Engenheiras Químicas: São de combustão fácil. São muito fáceis de levar para a cama e atingem o orgasmo em menos de nada. Acção recomendada: A escolha perfeita para quem gosta de rapidinhas.
Jornalistas: São as melhores sugadoras de cornetas do Universo, precisamente por terem prática diária a meter a boca no trombone. Acção recomendada: Leram a parte de “São as melhores sugadoras de cornetas do Universo”, não leram?
Hospedeiras de Bordo: Adoram ter o nabo hospedado nas bordas. São completamente loucas e estouvadas na cama, o que se explica pela constante falta de oxigenação em grandes altitudes. Acção recomendada: Fugir. Apesar de grandes fodas são capazes de furar os pneus do carro, esfaquear, injuriar, ameaçar e arquitectar grandes peixeiradas públicas.
Secretárias/assistentes pessoais: Dão quecas enfadonhas e gostam de ser chamadas de fofinha ou princesa durante o acto. Gostam de pinar com peluches na cama e têm a fantasia oculta de fazer um threesome com um gajo e com o bicho de pelúcia. O mesmo deve estar repleto de manchas de suco chonal pela quantidade de vezes que já lá se esfregaram. Acção recomendada: Run Forrest, run.
Professoras: Estão habituadas a grandes calhamaços. Se tens uma picha pequena serás gozado. Com uma picha grande podes ficar descansado que sabe manusear-te o calhamaço. Gostam de ir fazendo reparos à actuação. Acção recomendada: Se tens um sardão a partir de 22cm, pinar. Caso contrário, deixa isso para as pichas a sério.
Psicólogas/psicoterapeutas/psiquiatras: Fodem-te a cabeça toda. Mas também te fodem a cabeça toda do nabo. Gostam de fazer uma análise minuciosa após a queca, interpretando cada gemido, cada revirar de olhos, o tempo e ritmo da queca e a quantidade de meita produzida ao mililitro como grau do prazer alcançado. Acção Recomendada: Pinar se não tiveres nada a temer.
Actrizes: Gemem mais do que lhes seria exigido, estão sempre a mudar de posição e a fazer caras para todos os planos possíveis. Sentem que têm um holofote na sua direcção e são muito prestáveis para agradar. Aceitam correções de postura a meia-foda. Se quiserem que continue a brochar basta dizer que o take não ficou bem e ela repete, sem protestar. Acção recomendada: Pinar.
Enfermeiras: Esqueçam tudo o que sabem. Nunca fodem de bata e não andam de collants provocantes. São de alta manutenção pois estão tão fartas de tratar dos outros que só querem que tratem delas na cama. Acção recomendada: São perfeitas para quem gosta de dar mais do que de receber.
Arquitectas: São fodas de alta manutenção. Dão quecas invariavelmente demoradas, sem espaço para improvisos, devidamente projectadas nas suas cabeças e nós temos de nos ajustar a um plano pré-concebido. Assimetrias corporais e falta de sustentação nabal não são permitidas na queca com uma arquitecta. Acção recomendada: A escolha ideal para quem aprecia quecas longas e elaboradas.
Analfabetas: que como toda a gente sabe são virgens do anal. Acção recomendada: Analfabetizar!
Músicas: Dão-te música mas depois, na hora da verdade, armam-se em difíceis. Olham-te de lado se gemes fora do tom. Pinam ao ritmo de uma pauta musical à qual não tens acesso. Acção recomendada: Não vão na cantiga delas.
Polícias: O maior flop da história da fodenguice. São rígidas e gostam de dar ordens. Estão mortinhas para usar o cassetete como strap-on no pacote dum gajo. Acção recomendada: Fugir com o rabo à seringa.
Cabeleireiras: A tatuagem entre as costas e o rabo, também conhecida como tramp stamp, as unhas de gel, as raízes pretas nos cabelos louros ou a permanente não deixam grande espaço de manobra. Acção recomendada: Dão para um bom bico, à falta de algo melhor para fazer.
Patife
Blog «fode, fode, patife»
03 outubro 2012
Sodomia
Eis que
entras fundo, feroz,
entre
nádegas resistentes
e
sensíveis,
de
brancas carnes, ansiosas
pelo falo
erguido
teu!
Eis que
m’atormentas
(enlouqueço)
fustigas-me,
atiças-me,
e entre o
lamento e o rugido
solto o
queixume
num
gemido…
Eis que
(te) vens, contorcido
entre
êxtase e exaltado
completas
a cópula
e
insistes
sodomizas-me
eu gosto,
tu resistes,
e ecoa o
grito final…
Vera Sousa Silva
poema do livro "Bipolaridades", Lua de Marfim Editora, 2012
(Pedidos do livro para svera.silva@gmail.com)
Blog Palavras Soltas
«red light» - bagaço amarelo
Por vários motivos conhecidos e mais alguns desconhecidos, a Holanda é provavelmente o país mais diferente que podemos encontrar dentro da União Europeia. É possível fumar brocas em qualquer coffee shop sem ter a polícia a tomar conta da ocorrência, o comércio não aceita as moedas pretas de cêntimos em nenhuma situação, a bicicleta é um meio de transporte realmente popular, a paisagem é praticamente toda plana e,no centro de Amsterdão, as mulheres vendem o corpo em montras de lojas como se fossem carne no talho. E é desta última diferença que me apetece falar.
Em primeiro lugar, não pertenço ao grupo de líricos que acredita que a prostituição pode ter um fim. De resto, acho que é um direito de qualquer pessoa ganhar a vida a vender sexo, se for o que realmente lhe apetece fazer. O meu problema é que não acredito que a maior parte das mulheres que o faz, o faça por opção. Amsterdão, ao contrário do que se ouve de vez em quando, não é excepção.
A Red Light surgiu na cidade como uma barreira física para suster os ímpetos mais violentos dos marinheiros que atracavam no histórico porto da cidade e que, desta forma, não precisavam de entrar muito mais na cidade. As prostitutas de Amsterdão começaram por ser, assim, uma espécie de garantia de manutenção da paz urbana da urbe.
O negócio foi-se desenvolvendo e os interesses à sua volta também. Hoje em dia não é preciso ter muitas conversas com holandeses para perceber que a legalização da coisa não melhorou em muito a vida das prostitutas. É verdade que têm um seguro de saúde e pagam impostos, aspectos com os quais concordo, mas também é verdade que são exploradas por uma longa fila de interesses sem fim. Proxenetas e proprietários dos imóveis em primeiro lugar.
Além disso, e desculpem-me os adeptos da mulher na montra, eu acho que esta maneira de vender sexo é uma forma de humilhação pública, e só por aí não a considero uma alternativa política ao véu que se estende, por exemplo no nosso país sobre o negócio.
Tenho dito.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Não é novidade: o amor existe e aprende-se a fazer-se acontecer
Amor aos primeiros minutos. Logo. Como o amor dum cão. Um cão vai logo ao primeiro que lhe faça uma festa. Vai logo atrás. E logo a seguir, aquele é “o dono” e pronto. Para sempre. Pelo cão será para sempre. Que capacidade de amar! Incrível! Ama logo à primeira. Eu também. Eu também amo logo à primeira (se quiser). Fui assim desde sempre, amo logo à primeira. E sempre amei muito. Tive um excelente mestre: a minha mãe. Especialista em amar. Aprendeu a amar em criança não sendo amada. Uma experiência terrível na origem de uma capacidade incrível de amar com qualidade. A minha mãe sabe mesmo amar. E a mim amou-me sempre muito. Só ela me amou a sério, mas sempre muito e muito bem, sempre o melhor. Ela aprendeu a amar não sendo amada, e eu prossegui com a sua experiência, aprendendo a amar sendo amada. Desde o começo sempre eu me dispus ao amor com toda a gente: pelo gosto que me é espontâneo de amar. E sofri… xi!! Como sofri entregue a este mar de egoísmo cego que por aí afora grassa…
… sucede que “por sorte”…
O amor é tudo. É só o que importa. Jesus disse-o. Ninguém entendeu nada. Os Beatles insistiram (All you need is love). Ninguém entendeu nada. E eu, entendi agora (só agora), aos quarenta anos, porque fui catapultada por razões desconhecidas para um nível de entendimento diferente, de onde se avista de muito mais alto, mais longe e mais claro. Alcancei a metamorfose. Outra. Não fosse assim, também eu não entenderia nada apesar de tão simples.
Sucede que eu sempre pratiquei o amor muito e o melhor que podia. Não o compreendia, mas sempre o pratiquei muito e o melhor que podia. O amor é tudo. A razão de existirmos. O que nos une ao Universo e à sabedoria reunida por todos. Existimos para amar. E é assim e só assim que aprendemos e evoluímos enquanto pessoas (seres) e isso é a única coisa que conta, que importa. E também é só assim que se cria algo de realmente bem feito, belo, intenso, perfeito: arte. Com amor. Grande, intenso, profundo. Só assim. Por amor a alguém ou a algo (um animal, uma planta, uma paisagem…) A amar para fora. Dando atenção, tempo, conhecendo o outro, a sua essência, o que ele é, a sua verdadeira natureza, conhecendo-o e compreendendo-o a fundo, sendo capaz de pensar com ele, pensar como ele através de uma experiência de vida diferente… (Aprende-se muito a fazer isto.) E depois, depois de o conhecer e tentar compreender (porque compreender a sério - ser capaz de pensar como o outro - é muito trabalhoso e demorado), determinar as suas necessidades e tentar ajudá-lo a obter aquilo de que ele precisa, ou mesmo fornecer-lhe aquilo de que ele precisa, uma palavra (às vezes uma só - só uma - faz a diferença), ou seja, agir no sentido da sua máxima felicidade. Amar é isto.
Aconchegar o outro quando ele tem frio, jardinar para ele as flores de que mais gosta, cozinhar para ele saudável, saboroso, bonito, abraçá-lo se está triste, tranquilizá-lo se está nervoso, pensar nele, estar disponível, escrever-lhe, apreciá-lo, dar-lhe o ombro para chorar, partilhar com ele experiências, estar atento aos seus movimentos, aos seus pensamentos, aos seus sentimentos, aos seus sonhos, às suas palavras, às suas necessidades, conhecê-lo, compreendê-lo, respeitá-lo, perceber os seus gostos, ajudá-lo a solucionar os seus problemas, observar as suas coisas com atenção, com olhos de ver a estética e a ética, conversar com ele, comunicar com ele, rir com ele, dar-lhe prazer… proporcionar-lhe uma experiência o mais positiva possível. Isto é que é amar (para fora). Ir além do egoísmo e do puro instinto animal, do “só eu, só meu”. É assim que o amor “acontece”. É assim a inteligência: ser-se capaz de, sem esforço, ir além do puro instinto animal, egoísta, possessivo, materialista, territorial. Ter a força e a vontade e a persistência necessária para abrir a porta a um novo significado para a existência. A sua razão maior: evoluir para a felicidade.
Aprender a fazer acontecer o verdadeiro amor é algo de extraordinário.
Quando se faz isto, se intenta neste objectivo com este propósito, mesmo que seja só por cinco minutos, o amor acontece. Plint! Acontece! Em diferentes intensidades, mas acontece. Estava distraído o jovem da caixa de supermercado. Completamente ausente. Enquanto ensacava, aproveitando um momento mais favorável, fitei-o e disse-lhe com doçura: “Que grandes pestanas as suas, hein?” (foi sincero) Ele sorriu. Eu sorri. E os nossos olhos brilharam. Pronto. Aconteceu o amor (cinco segundos, mas aconteceu). Os olhos do outro brilham, os nossos também, é o amor que acontece. De parte a parte há um acréscimo de energia positiva. Em intensidades diferentes. Às vezes é muito forte, outras vezes menos. E daqui, se se quiser, se de parte a parte houver vontade, o resto se constrói com tempo e dedicação. Cada qual que decida a quem entregar a maior parte do seu escasso tempo de existência material…
Por amor fiz eu por tornar as minhas palavras mais claras e simples a respeito do mais profundo do meu ser, do mais essencial da minha experiência. E ao fazê-lo assim, por amor, de forma insistente e persistente e o melhor que podia, intentando sempre na perfeição, tentando sempre o mais essencial pelo menor número de palavras, acabei a fazê-lo melhor que nunca. Aprendi a conhecer-me a mim própria e aos outros melhor que nunca e assim, suponho, me foi dada esta graça de ver aquilo que antes, ainda que defronte aos meus olhos, nunca pude ver. Foi assim: em resultado de um insistente exercício de amor ao meu semelhante.
A partir daqui já só me apetece amar de perto qualidade humana.
Só (cozinho com amor para, faço as coisas o melhor que posso para, jardino ao gosto de, dedico palavras doces, mimo, penso na pessoa, penso em ajudá-la, em ser-lhe agradável, em compreendê-la, ouvi-la, nas suas necessidades, na sua saúde, em dar-lhe prazer sexual se for o caso, em dar-lhe o tempo de que necessite, fazê-la rir, apreciar o seu amor, ensinar-lhe coisas importantes para ela, partilhar com ela as melhores experiências, fazê-la sentir que para ela existe “todo o tempo do mundo” sempre, etc., etc., etc.) amo qualidade humana. Homo sapiens sapiens que tenham alcançado a proeza de sair do seu casulo de egoísmo. Que tenham ultrapassado a sua fase larvar. Que sejam capazes de ver (qualquer coisa, ao menos). De amar para fora. Quanto mais qualidade humana, mais intensamente (com mais tempo e dedicação) amarei. A partir daqui é critério único.
Só qualidade humana porque estes (atentos, de bom carácter, virados para fora, inteligentes, dedicados, simples, sinceros, generosos, sábios, entendidos em amor,…) também gostam de amar e sabem amar. Há pessoas a quem é um gosto amar. Gosto dessas. São estas a melhor e mais valiosa experiência de todas. Já fui muito mal amada. Muitas vezes. Quase todas. Sei o que é. Justamente, agora aprecio muito ser bem amada. Se não tiver qualidade humana recuso. Em mim o amor é espontâneo. Gosto de amar. Estou sempre pronta a ajudar, a compreender, a tentar agir no sentido do bem estar do outro (mesmo que o não conheça). Em mim é espontâneo. Comigo o amor acontece (com sexo ou sem sexo). E amando aprendo muito. Amar e ser amada faz-me muito feliz. É de tudo o que mais felicidade me dá. E agora, que sou capaz de reconhecer outros “malucos” como eu, a verdadeira qualidade humana, a maior parte do sofrimento está, desde já, ultrapassada. É fantástico!
Este “salto” na capacidade de ver a luz por entre as trevas foi uma dádiva divina. Dos restantes, dos “larvares”… amarei de perto um ou outro que me pareça mais promissor na aprendizagem de amar (para fora)… O que valer a pena (só). O tempo é escasso. Não se deve desperdiçar.
Disse-me alguém um dia: “o que conta é a obra (material)”. Mas discordo. O que conta é a experiência. A obra fica (ou não, ou desmorona-se), a experiência prossegue.
A experiência prossegue além da obra (material), e até, além desta existência corpórea. Quem não ama a sério (como deve ser), não aprende nada de nada que valha a pena. Não aproveita nada de relevante desta experiência de existir nesta forma. Zombies. Quase todos. Zombies cegos com a mania de que são espertos em incessante luta entre si por conta de “tralhas”. É assim que começam e é assim que na maioria dos casos acabam, infelizes e ignorantes e traídos e abandonados e atirados ao lixo pelos outros “larvares”, ao cabo de, por vezes, quase um século de existência inútil (ou por assim dizer inútil). Exércitos de mal amados e de infelizes dedicados à propagação da ignorância, do sofrimento, da imundície e da destruição da beleza. Que tragédia!
Sexo… para mim tanto faz sexo como sopa. Não gosto que me sirvam “uma merda qualquer”. Gosto de qualidade (em tudo). De amor. E qualidade é amor (de qualidade).
… de resto, para quem seja capaz de alcançar daqui, “parar de amar” quem não o mereça é só ir amar para outro lado que assim se estanca o sofrimento. Depois de começar, o amor já não acaba, mas o sofrimento sim, esse é desnecessário. Por mim, acho que atingi a quota. A partir daqui, de sofrimento é só o mínimo. Farei por isso. E amar muito, muito tempo com muita dedicação, só quem valer muito a pena. Só quem tenha muita qualidade. E de resto… a todos.
O amor é assim: horas e horas e horas de sofrimento, anos e anos de esforço, de absoluta entrega, de meditação profunda, de dedicação extrema, de persistência neurótica, para desenhar esta meia dúzia de palavras de amor ao meu semelhante. Nunca desistir de amar.
A única obra que importa é a da qualidade humana. É esta a experiência que prossegue.
E eis a metamorfose, o princípio de umas novas asas, de uma nova capacidade de voar, o começo de uma nova etapa. A experiência prossegue. Ainda não sei que nome darei à nova Libélula. Talvez Salomé.
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