08 outubro 2012

«conversa 1917» - bagaço amarelo

Ela - Quero apresentar-te um novo amigo meu um dia destes...
Eu - O.k. Quando quiseres.
Ela - É um amigo muito importante para mim, por isso é que quero que o conheças.
Eu - Mas é amigo ou namorado?
Ela - Descobri uma nova forma de Amar.
Eu - Mas é amigo ou namorado?
Ela - Descobri uma nova forma de Amar.
Eu - Está bem, descobriste uma nova forma de Amar. Mas é amigo ou namorado?
Ela - A minha nova forma de Amar é que os amigos também podem dar excelentes amantes.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Pontos de luz


Um dia decidiu avançar com a proposta. Disse-lhe que a achava incrível e que se acreditava capaz de a fotografar de uma forma que a imortalizaria. Ela começou por torcer o nariz, mas a expressão dele acabou por fazê-la sorrir. Nua? – perguntou. Ou não. – respondeu ele, de forma sincera e olhar livre de hesitações.
E ela ficou de pensar no assunto e depois dizer alguma coisa.

Não pensou demais. Ligou-lhe nesse mesmo dia e por ela seria quanto mais depressa melhor, para aproveitar a adrenalina de tal decisão. E ele marcou para o dia seguinte, para ter algum tempo para preparar o espaço e o equipamento necessários.

Ela apareceu e trazia uma expressão divertida, entre a preocupação legítima e a excitação que a sessão fotográfica lhe provocava.
Ele tentou pô-la à vontade, explicou-lhe de forma resumida o cenário, panos pretos ou brancos de fundo e uns quantos projectores, mais o que o motivara a propor-lhe a iniciativa. Detalhou tudo quanto o fascinou na figura daquela pessoa com a qual se cruzava nas ruas e pouco mais. E ela ouviu em silêncio enquanto parecia debater-se com uma decisão complicada e gostou do que ouviu e a blusa foi a primeira coisa que despiu até não restar roupa alguma.

Depois foi aceitando as instruções do homem por detrás da objectiva, empenhado em levá-la a exibir o melhor em si, tratando-a como uma diva, visivelmente entusiasmado com o que via e queria tanto registar.
O gelo acabaria por derreter poucas horas depois e os constrangimentos iniciais desapareceram. Pararam um pouco para conversar e ele notou algo de diferente no olhar e no tom de voz que ela lhe dirigia. Escassos segundos de silêncio bastariam para ambos sentirem a tensão no ar e ele sentiu-se obrigado a respeitar um código de conduta qualquer e propôs retomarem a sessão.

Mas ela parecia ter tomado mais uma decisão entretanto e ele por detrás da câmara percebia a diferença no olhar e nas expressões e sentia a tentação que prometera a si próprio renegar mas não conseguia. Tudo aquilo que via, cada instante mágico que ela proporcionava era um passo acima que ele se permitia na atracção que se revelava cada vez mais inequívoca e ele a tremer por dentro pelo receio de uma má interpretação de alguns sinais.
Ela, intuitiva, já procedera à libertação de amarras artificiais e estava decidida a levar ao limite a experiência que a agradava como nunca imaginara. E o fogo que ele entretanto acendera quase sem querer começava já a arder nas imagens que ele capturava na cabeça também.

Pousou a máquina e perguntou-lhe, olhos nos olhos, se podia humedecer-lhe os mamilos para obter um efeito diferente, um brilho especial num pequeno ponto de luz.
Ela, sentada no chão, agarrou a janela de oportunidade e estendeu uma mão começou a passear os dedos no cabelo do fotógrafo amador que se deixou ficar ajoelhado, bem perto do corpo que já quase conhecia como as palmas das suas mãos, cartografado na memória em cada pormenor.
Quando ela começou a puxá-lo para si sem pressas ele traçou a rota para os lábios que ela mordia a si própria.
Só a meio do caminho percebeu que ela preferia um atalho e foi para o seu peito generoso que encaminhou o beijo que lhe consentiu.

E esse seria apenas o primeiro ponto de luz no corpo inteiro que ele humedeceu.

Não solte a franga

E tem gente que vai se identificar, aposto.



Eta Deus forte!

Capinaremos.com

07 outubro 2012

Porta-Curtas - «Zéfiro Explícito»

Documentário
Directores: Gabriela Temer, Sergio Duran
Elenco: Gil Caminha, Juca Kfouri, Nilton Bahlis, Otacílio D'Assunção, Otacílio D'Assunção, Paulo Cesar Pereio
Duração: 15 min Ano: 2012
Sinopse: Sob o pseudônimo de Carlos Zéfiro, o funcionário público Alcides de Aguiar Caminha publicou centenas de quadrinhos eróticos que influenciaram gerações. Alcides também foi compositor de sambas, em parceria com grandes nomes como Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito. Esta é história de sua descoberta.

A posta que ela está a olhar para ti

A felicidade é frágil. Essa é a sua única debilidade, o defeito que podemos apontar para a livrar da ameaça da perfeição. As coisas perfeitas são como equipa que ganha e a felicidade precisa ser mexida, cultivada, regada como uma flor no canteiro que é a beleza que podemos e devemos nutrir para que sobreviva, feliz.
A felicidade é um bem raro e precioso porque depende de factores externos, cruzamentos de caminhos, sorte nos destinos, mas também da capacidade intrínseca para alguém a sentir e sobretudo para conseguir preservá-la das permanentes agressões a que se vê submetida, em alguns casos apenas por existir e com isso incomodar quem não a consiga experimentar. E a felicidade é sensível, até a inveja ou o ciúme a beliscam porque uma felicidade a sério não consegue entender essas coisas, más vontades deliberadas ou mesmo as situações azaradas que a afastam do sítio onde gosta de estar, perceptível, omnipresente em cada sopro de vida de quem a possa albergar.
A felicidade precisa de se sentir defendida, reclamada a todo o tempo por quem com ela tenha trocado um olhar. É frágil, desprotegida perante tudo quanto acontece para a perturbar, mais a ignorância ou a distracção de quem nem a consegue distinguir por entre as cortinas de fumo do que mesmo sendo acessório atinge as pessoas como essencial.
A felicidade é possessiva e não gosta de ver a pessoa distraída com as outras, as emoções negativas que são proibidas numa felicidade como deve ser. Ela queria ser a única mas exige mesmo é ser a principal, a rainha plenipotenciária da atenção dos seus súbditos felizardos por inerência, quer que todos aceitem o seu cariz indispensável para uma existência como todos dizem querer, saudável e feliz.
É a própria felicidade quem o diz, quase o grita, quando por entre os medos de uma pessoa aflita, por entre a tristeza temporária, passageira, que tolera apenas por ser um bom termo de comparação consigo mesma, favorece o seu esplendor de fonte de sensações positivas e clareza de raciocínio no aproveitar do melhor que uma vida nos dá, afirma-se indispensável para as coisas correrem melhor.
A felicidade é generosa pela influência do amor na sua forma de estar. O amor gosta imenso de dar e a felicidade respeita essa vontade e até fica satisfeita com o resultado obtido pela sua intervenção, aquilo que recebe de volta quase não conta porque amar já quase basta para se ser completamente feliz.

E a pessoa acredita, por ser a própria felicidade quem o diz.

Está longe de existir liberdade de expressão em algum lugar do mundo

O Comitê de Ética da Coréia do Sul censurou a entrada do livro 120 Dias de Sodoma, obra do Marquês de Sade. Já é algo terrível saber que o livro somente agora chegou ao país, e ainda mais escroto por haver sido proibido. O livro foi considerado como altamente obsceno e cruel, devido aos relatos de sadismo, incesto e outras "imoralidades".

Fonte: Revista Cult

E aí, é obsceno pra você?

Obscenatório
http://obscenatorio.wordpress.com

A Grande Igreja



Ricardo - Vida e obra de mim mesmo
(crica na imagem para abrir aumentada numa nova janela)

06 outubro 2012

Skrillex & Wolfgang Gartner - «The Devil's Den»


SKRILLEX & WOLFGANG GARTNER - THE DEVIL'S DEN (Unofficial Music Video) from Spy Films on Vimeo.

«tão sozinha e tão contigo» - bagaço amarelo

As cidades despovoadas fazem-se sempre confusão. Fico a olhar para os prédios silenciosos e não percebo onde é que se meteram as pessoas. Não parece que estejam nas suas casas, nas ruas também não estão. São três da tarde e aponto para o que parece ser um café aberto ao fundo da rua. Talvez ali possa beber uma cerveja fresca e comer qualquer coisa, enfim, recuperar as forças. A Sofia quer sorrir, mas já não consegue. Dou-lhe uma pequena e indelével palmada no ombro, como se assim a pudesse ajudar a andar. Não posso.
Dez minutos depois penetro numa imensa sombra ameaçada pelo calor exterior. Sinto o pescoço a arder por causa do Sol e ouço apenas algumas moscas esvoaçantes. De vez em quando há uma que é electrocutada numa lâmpada roxa. Não há ninguém a atender e eu não tenho forças para chamar. Sinto-me cansado e o suor que lacrimeja por todo o meu corpo faz-me sentir desconfortável. Sento-me numa mesa com a sensação de que acabei de escalar o Everest. A Sofia ficou à porta, depois de deixar cair o saco que trazia aos ombros, como se estivesse à espera da morte.
Decidimos percorrer Trás-Os-Montes à boleia na noite em que nos conhecemos. Não tens coragem, disse ela. Pode ser já para a semana, respondi eu. E assim foi. Agora estamos os dois aqui, perdidos numa cidade na qual começava a ter dúvidas que existisse vida, não fosse uma mulher com um rosto esculpido pelos anos surgir duma porta aberta que parece abrigar a escuridão. Peço uma caneca de cerveja e um pacote de cones com sabor a queijo, ela pede um sumo natural de laranja lançando-me simultaneamente um olhar de censura. Não sei por que motivo pedi os cones com sabor a queijo, digo. De repente apeteceu-me, explico-lhe. Ela ri-se. É a primeira vez que se ri em muitas horas. O saco dela continua abandonado na porta.
Ganha cor enquanto bebe o sumo. Ganha vida. Fico a pensar na noite em que a conheci e como a achei logo tão bonita quanto acho agora. Estava aflita para ir à casa de banho num bar e a das mulheres estava ocupada, por isso pediu-me para ficar à porta da dos homens e que não deixasse ninguém entrar. Os homens partem sempre as fechaduras das casas de banho, disse ela quando saiu. Depois convidou-me para um copo.
Gosto de álcool como gosto de música. Emociono-me com ambos, não sei porquê. Foi o que eu lhe disse quando pedi um uísque duplo e ela um cocktail qualquer. Falámos sobre lugares, viagens e sonhos, acabando na promessa sofrida que faríamos esta viagem à boleia. No fim abraçámo-nos algum tempo e senti-a chorar para dentro. Disse-me que os abraços a fazem sentir-se só, embora os adore e precise deles para viver. Os abraços dela são os meus uísques, pensei.
Não gosto nada de ter dúvidas sobre o Amor, mas neste momento tenho. Não sei se a Amo ou não. Sei que só a tenho a ela e que nesta cidade esse sentimento é ainda mais intenso.Não preciso explicar-lhe nada do que sinto. Por qualquer motivo sei que ela sabe de tudo. Faço silêncio e acabo a cerveja. Procuro a senhora para pedir outra mas ela já não está. Provavelmente foi engolida pela porta da escuridão. Como os últimos cones de queijo e lambo os dedos. São bons.
O que é que estás a sentir? Pergunta. E eu nem sei. As cidades despovoadas fazem-me sempre confusão. Fico a olhar para os prédios silenciosos e não percebo onde é que se meteram as pessoas. É como se todos me tivessem abandonado e partido para um lugar incerto. Ao mesmo tempo ser abandonado e tê-la ali ao meu lado sabe-me bem. Os dois sozinhos no mundo, mais uma mulher que aparece e desaparece engolida pela noite, apenas para nos servir cerveja, sumos e cones com sabor a queijo. Sinto-me só, concluo.
É assim que eu me sinto quando me abraças, diz ela. Tão sozinha e tão contigo.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Quem é que tem uma amiga que traz um pacote de café desde Miami (Florida - EUA) para a minha colecção? Quem é? Quem é?

Sou eu! Sou eu!
Obrigada, Suzana R.!


Um sábado qualquer... - «No princípio»




Um sábado qualquer...

05 outubro 2012

«Dobrar o Bojador» - João

"O Cabo Bojador é um marco importante para nós, Portugueses. Devemos a Gil Eanes, que o dobrou em 1434, a astúcia de contrariar a prática da época, de navegar com a costa à vista, e afastar-se para o mar alto onde encontrou ventos mais favoráveis para progredir para Sul. Abriu, dessa forma, o caminho à nossa navegação, que viria a tornar-nos Império. Lamentavelmente, somos hoje pálida amostra. O Bojador havia clamado inúmeras embarcações, por causa de ventos variáveis e uma plataforma continental a muito pouca profundidade. Dobrá-lo, deixá-lo para trás, dar-nos-ia a satisfação de um novo mar aberto a descobertas. Os monstros marinhos que puxavam os homens para as águas, davam lugar a sereias.

A ideia de dobrar o Cabo Bojador continua a ser importante. Para muitas coisas. É uma belíssima metáfora de que nos podemos socorrer sempre que queremos transmitir a alguém a necessidade de abrir novos caminhos, de ultrapassar uma dificuldade, vencer um desafio. E há um desafio que temos dentro das nossas casas e dentro das nossas cabeças, que nos obriga a dobrar, uma e outra vez, todos os Bojadores que se nos apresentam. O desafio de manter as chamas acesas. Já antes aludi às vontades evadidas que resultam dos dias preenchidos que temos. Já não nos sentimos obrigados a viver os dias governados pela luz do Sol. Não vamos para dentro quando a luz desaparece, deixámos de nos deitar com as galinhas, prolongamos as nossas actividades profissionais muito para lá daquilo que se pode considerar compatível com uma vida pessoal, particular, plena, e dessa forma recuamos para as nossas casas num estado de cansaço – quando não também de apatia – que é muito pouco convidativo ao aconchego, que juntando pele com pele, dando espaço às feromonas para fazer a sua magia, envolve as pessoas num suor de algo que lhes deu prazer e depois disso, mesmo que cansadas, felizes.

Entra aqui o Cabo Bojador. Assim como Gil Eanes se afastou da costa, indo além do que era a prática comum, também nós temos de vencer, nas nossas casas, a tentação de ceder ao cansaço, de não iniciar um carinho, um gesto, só porque tudo quanto nos apetece é sentar, deitar, desligar. Depois de dobrarmos o Bojador, tudo se abre à nossa frente. Vemos que valeu a pena, que ganhámos um novo ânimo para derivar em conjunto, em vez de derivarmos sós. Os monstros marinhos, ao largo do actual Sahara Ocidental, não existiam. Os nossos existem, não são marinhos, estão dentro de nós, e cabe-nos dominá-los, para que não nos afundem."

João
Geografia das Curvas

Você comeria num restaurante chamado Fukyu?


Sempre ouço discursos dos pró-capitalistas afirmando que os países desenvolvidos possuem liberdade de expressão (ou como dizem na língua inglesa: freedom of speech).

Uma falácia, como qualquer pessoa esclarecida sabe. Não existe liberdade de expressão para os meros mortais do povo. E não precisamos adentrar em questões mais complexas da política para demonstrar que isso realmente acontece.

No Canadá, um país considerado exemplo de liberdade e bem estar social, a justiça ordenou que um restaurante japonês alterasse o seu nome, pois era ofensivo. O empreendimento, que tinha o nome de "Fukyu", que em japonês refere-se ao nome de um estilo de karateca, um nome reduzido de fukyugata, teve que ser o nome trocado por ter semelhança com a palavra inglesa "Fuck You" (foda-se). As palavras apenas se assemelham na escrita, pois a pronúncia é diferente. Ainda assim, a democracia liberal canadense exigiu a mudança do nome e o restaurante agora se chamará "Kabuki".

É bem provável que não seja permitido sair do restaurante dizendo que ficou satisfeito ou que já está bem comido.



Obscenatório