Um dia decidiu avançar com a proposta. Disse-lhe que a achava incrível e que se acreditava capaz de a fotografar de uma forma que a imortalizaria. Ela começou por torcer o nariz, mas a expressão dele acabou por fazê-la sorrir. Nua? – perguntou. Ou não. – respondeu ele, de forma sincera e olhar livre de hesitações.
E ela ficou de pensar no assunto e depois dizer alguma coisa.
Não pensou demais. Ligou-lhe nesse mesmo dia e por ela seria quanto mais depressa melhor, para aproveitar a adrenalina de tal decisão. E ele marcou para o dia seguinte, para ter algum tempo para preparar o espaço e o equipamento necessários.
Ela apareceu e trazia uma expressão divertida, entre a preocupação legítima e a excitação que a sessão fotográfica lhe provocava.
Ele tentou pô-la à vontade, explicou-lhe de forma resumida o cenário, panos pretos ou brancos de fundo e uns quantos projectores, mais o que o motivara a propor-lhe a iniciativa. Detalhou tudo quanto o fascinou na figura daquela pessoa com a qual se cruzava nas ruas e pouco mais. E ela ouviu em silêncio enquanto parecia debater-se com uma decisão complicada e gostou do que ouviu e a blusa foi a primeira coisa que despiu até não restar roupa alguma.
Depois foi aceitando as instruções do homem por detrás da objectiva, empenhado em levá-la a exibir o melhor em si, tratando-a como uma diva, visivelmente entusiasmado com o que via e queria tanto registar.
O gelo acabaria por derreter poucas horas depois e os constrangimentos iniciais desapareceram. Pararam um pouco para conversar e ele notou algo de diferente no olhar e no tom de voz que ela lhe dirigia. Escassos segundos de silêncio bastariam para ambos sentirem a tensão no ar e ele sentiu-se obrigado a respeitar um código de conduta qualquer e propôs retomarem a sessão.
Mas ela parecia ter tomado mais uma decisão entretanto e ele por detrás da câmara percebia a diferença no olhar e nas expressões e sentia a tentação que prometera a si próprio renegar mas não conseguia. Tudo aquilo que via, cada instante mágico que ela proporcionava era um passo acima que ele se permitia na atracção que se revelava cada vez mais inequívoca e ele a tremer por dentro pelo receio de uma má interpretação de alguns sinais.
Ela, intuitiva, já procedera à libertação de amarras artificiais e estava decidida a levar ao limite a experiência que a agradava como nunca imaginara. E o fogo que ele entretanto acendera quase sem querer começava já a arder nas imagens que ele capturava na cabeça também.
Pousou a máquina e perguntou-lhe, olhos nos olhos, se podia humedecer-lhe os mamilos para obter um efeito diferente, um brilho especial num pequeno ponto de luz.
Ela, sentada no chão, agarrou a janela de oportunidade e estendeu uma mão começou a passear os dedos no cabelo do fotógrafo amador que se deixou ficar ajoelhado, bem perto do corpo que já quase conhecia como as palmas das suas mãos, cartografado na memória em cada pormenor.
Quando ela começou a puxá-lo para si sem pressas ele traçou a rota para os lábios que ela mordia a si própria.
Só a meio do caminho percebeu que ela preferia um atalho e foi para o seu peito generoso que encaminhou o beijo que lhe consentiu.
E esse seria apenas o primeiro ponto de luz no corpo inteiro que ele humedeceu.