Infelizmente, e porque o nosso modelo político não deixa grandes alternativas a quem precisa e gosta de se deslocar frequentemente, também tenho um carrito. Está quase sempre parado e, em média, só o uso aí uma vez de quinze em quinze dias. De resto ando de bicicleta, a pé e nos transportes públicos que ainda existem.
Para além de ser um erro, esta utilização massiva do automóvel por tudo e por nada, é também uma demonstração das diferenças de género. Os homens, na generalidade, adoram carros. As mulheres nem adoram nem deixam de adorar. Estão-se nas tintas para eles e só os usam quando precisam. Nesse aspecto sou mesmo muito parecido com elas e, para confirmar esta minha tese, a última vez que peguei no meu pequeno Fiat houve um gajo que me mandou ir para casa com o meu "carro de gaja".
O que mais me confunde e entristece nesta ligação do género masculino ao automóvel, é o exibicionismo. Eu disse que não gosto de conduzir, não disse que conduzir é difícil. Conduzir é, aliás, uma coisa tão banal e fácil que não tem piada absolutamente nenhuma, e quem se exibe demonstrando as suas capacidades ao volante, é tão atado que parece que ainda não se deu conta que há milhões e milhões de pessoas a fazer exactamente o mesmo ao lado dele.
É claro que este gajo que me disse que eu tenho "carro de gaja", logo a seguir carregou no acelerador a fundo e desapareceu na estrada. A exibição dele foi essa, carregar num pedal. Puff! Eu, que estava a estacionar junto à estação de Aveiro, e que o tinha enervado por causa disso, desliguei o motor e pus-me a pensar naquela frase. O mundo era melhor se não existissem "carros de gajo", ou seja, montes de palermas a fazer asneiras na estrada porque descobriram um dia que sabem conduzir.
Aliás, talvez um dos problemas deste mundo seja as mulheres não mandarem mais. O modelo de desenvolvimento que seguimos, e que nos levou a esta coisa tão estúpida que é termos que gastar uma pipa de massa num automóvel para nos podermos deslocar, é capitalista mas também é masculino. Se as mulheres mandassem mais, talvez a mobilidade em transportes públicos fosse um direito de todos. Aí, teríamos todos "carros de gaja", só para andar de vez em quando.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»