07 janeiro 2013

Pure Chess

Há menos mulheres que homens a jogar xadrez porque o objectivo é encurralar o rei mas o que as peças todas querem mesmo é comer a rainha.

«conversa 1938» - bagaço amarelo

Eu - O meu problema é que não consigo aguentar muito tempo uma relação morna.
Ela - Não consegues?!
Eu - Não. Tenho que me sentir sempre apaixonado e não aguento quando começo a ter discussões regulares.
Ela - É mais ou menos como eu.
Eu - Mais ou menos?!
Ela - Sim. Também tenho que me sentir sempre apaixonada, mas preciso duma discussão assim de vez em quando


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Sexo tubular



Obscenatório
obscenatorio.wordpress.com - um dia destes de volta, sobrevivendo à censura

Memórias de uma guerra

O que é da guerra permanece na guerra.



Que senhor honrado!

Capinaremos.com

06 janeiro 2013

Peerish - «Euphoria»

Preços

Desafiar a solidão pelo amor, liberta a força das tempestades no peito, liberta a violência de todas as catástrofes naturais nos alicerces dos dias. 




A verdade, meu amor, a verdade é que eu sabia, sempre soube das consequências, a vida tem uma forma qualquer de me segredar ao ouvido quando encontro o silêncio para lhe dar em troca. A vida só nos diz coisas quando lhe damos ouro. Mas, chega este lençol de vendaval morno em que se transforma a minha pele sempre que a tua voz se transforma na voz do meu silêncio, no som de todos os meus sons, e o meu corpo encontra o teu, e, sei, que desabem os dias, eu não desabei! 

Enfeite natalício


Eu sei que foi uma ideia peregrina, Senhor Doutor. Numa altura em que o Aki está a abarrotar de gente a acotovelar-se na escolha das bolas de Natal, das fitas brilhantes, dos lacinhos, das luzes que piscam até doer a vista, dos presépios com mais ou menos figuras, das meias de Pai Natal importadas da tradição escandinava e até dos Pais Natal de pendurar na janela, só a mim me lembraria ir para lá procurar madeiras para fazer mais uns metros de estante em casa.

Com o papelinho das medidas em riste lá avancei com muitos com licença por aqueles casacos e kispos cheios de braçados de decorações de Natal até arribar à silenciosa secção de madeiras, espiolhando as espessuras e larguras. Dirigi-me ao balcão, interrompendo o intenso jogo que o encarregado da secção disputava no telemóvel e expliquei-lhe quantas tábuas queria. Ele saiu de trás do balcão e acompanhei-o para indicar a madeira que ele carregou como uma canastra até à máquina de corte. Fixei as mãos dele enquanto seguravam firmemente a tábua e suponho que a insistência do olhar o fez levantar as pálpebras na minha direcção. Nesse instante pensei que aquele era um cenário adequado a um filme porno em que sem uma palavra o homem do corte despia a bata do serviço e me chamava para a bancada do fundo, transformando magicamente as minhas jeans numa mini-saia de pregas, para de calças arreadas até aos joelhos me penetrar ao som dos formões, martelos e serrotes a abanar numa constante onomatopeia de pong pong pong.

É claro que peguei nas madeiras cortadas e abalei para a bicha das caixas mas parece-me, Senhor Doutor, que o facto de no outro dia ter pintado com tinta para madeira das portas o apalpa-folgas do meu mais que tudo, que aliás deu uma trabalheira desgraçada para lavar, me marcou mais do que supunha.

[Foto de 1890 do © AMEA/World Museum of Erotic Art]

Tudo em família


05 janeiro 2013

Corrida aos saldos


College Streakers! por stab_lamp

«respostas a perguntas inexistentes (219)» - bagaço amarelo

só o céu

Às vezes, alguns períodos da nossa vida que nos souberam particularmente bem tendem a dissipar-se com o tempo, de tal forma que deixamos de ter a certeza se os vivemos ou sonhámos. É o que acontece com as recordações de algumas paixões efémeras uns anos depois, quando entramos numa fase mais estéril de emoções.
A Sara gostava de se deitar no imenso tapete relvado que se estendia naquela zona da cidade de Lisboa, e de encontrar um ângulo em que não avistasse nenhum dos prédios silenciosos que o povoavam.

- Só o céu! - dizia ela.

Eu deitava-me devagar ao lado dela e ficava a olhar para as árvores com a plena consciência que os nossos mundos próximos se separavam ali, naquele nosso silêncio sepulcral acompanhado duma espécie de dor de parto, enquanto os meus dedos duma das mãos tocavam nos dedos dela como se tocassem piano uns nos outros.
Era tão estranho quanto agradável, saber que nunca nos apaixonaríamos um pelo outro mas que tínhamos disponibilizado um mês inteiro do Verão para estarmos juntos. Acordávamos com um beijo, eu fazia sempre o almoço e ela sempre o jantar, entre passeios em espiral pela cidade cujos lábios tocam o Tejo. Éramos um casal, sem o ser de facto.
Ao fim da tarde deitávamo-nos ali e fugíamos por momentos um do outro, creio eu que para regressar às nossas vidas anteriores, cada um com o seu Amor, e também ao futuro, cada um sabe-se lá com quem. De vez em quando ela perguntava-me se eu não queria tentar enquadrar só o céu, como ela fazia, para sentir que estava a planar e a distanciar-me da Terra.

- Só as árvores! - dizia eu.

As árvores, melhor do que ninguém, sabiam como eu me sentia naqueles dias, e talvez por isso ficassem ali a olhar para mim como um médico que ausculta um doente. Diziam-me para ter calma e depois deixavam o vento segredar-lhes uma dança improvisada entre as folhas. Da mesma forma que os meus dedos tocavam nos da Sara, os seus ramos tocavam uns nos outros.
Hoje passei a manhã a lembrar-me desta fase da minha vida sem, no entanto, ter a certeza que aconteceu.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Livro «Fios condutores» de João Cutileiro

Edição em papel reciclado e executada à mão, feita em exclusivo para o Centro Cirúrgico de Coimbra.
Este exemplar, nº 49 de uma edição de 100, numerado e assinado pelo autor, foi oferecido pelo seu presidente do Conselho de Administração, Dr. António Travassos, à colecção «a funda São». Os 42 desenhos de João Cutileiro são complementados com poemas e outros textos de vários autores (António Machado, Frederico García Lorca, Luís Vaz de Camões, Fernando Pessoa, Gomes Leal, Armindo Rodrigues, José Saramago, Alexandre O'Neill e do próprio João Cutileiro).
Num pequeno texto introdutório, António Travassos explica o que têm em comum um lápis e um bisturi: "Um e outro abrem caminhos e seguem Fios Condutores (...) A matéria é a mesma: o corpo".
Que bela e valiosa prendinha!...
Para quem queira consultar os conteúdos, esta obra tem também uma versão digital, acessível aqui.

Um sábado qualquer... - «Bastidores de um grande acontecimento 2»



Um sábado qualquer...

04 janeiro 2013

51

Um sorriso enorme. Alberto quando saiu da casa de banho, de banho tomado, trazia um sorriso enorme. Um sorriso proporcional ao desejo que sentia, ainda que, naquele momento, só o sorriso sinalizasse o desejo, pois, o membro continuava flácido, molemente a apontar para o chão a imitar teca do quarto do casal.
Deitada na cama, Arlete desviou a custo os olhos da televisão quando ouviu o marido tossir e repetir a tosse enquanto permanecia imóvel em pé junto à cama. – Não te vestes? – perguntou, voltando o olhar para a televisão antes mesmo de acabar a frase.
Alberto respirou fundo e informou-a: – Estava a pensar foder.
Arlete sentiu um arrepio, os palavrões excitavam-na. Excitavam-na sempre, ainda que o marido não soubesse. – Alberto! – censurou. – Que modos são esses?! Sabes muito que eu não gosto de palavrões.
O marido permaneceu de pé, imóvel. – Não o estava a dizer como um palavrão. Foder, neste caso, era apenas um verbo. Uma coisa que eu queria fazer contigo.
– Há outros termos – replicou Arlete. – Não é preciso seres ordinário!
– Mas se eu te quero foder – justificou-se Alberto, em tom quase infantil.
– Alberto!
– Queres que eu diga o quê? Que quero fazer amor?
– É uma hipótese mais correcta.
– Eu não quero fazer o amor. – Alberto encheu a boca com o “o” e a mulher olhou-o espantada. Ele continuou como se cada palavra fosse o “o” da frase anterior: – Estou farto de fazer amor contigo, foda-se, hoje quero foder-te. Fo-der-te. Fodermos mesmo. – Alberto recuperou o sorriso com que saíra da casa de banho e até o membro ganhou alento e alegria com a assertividade com que ele falara.
– Já não temos idade para isso, Alberto – destrunfou-o a mulher com matreira meiguice, erguendo suave e compreensivamente as sobrancelhas. – Agora ou fazemos amor ou uma espécie de sexo pré-terceira idade. Foder já não é para nós. – Arlete não conseguiu evitar o embaraçado sorriso lascivo que dizer a palavra lhe causou.
– Que raio… – Alberto hesitou, engoliu em seco e pensou na resposta. O tema da idade fodia-o e ela sabia-o bem. Ainda estava a ultrapassar o trauma de fazer os cinquenta e já tinha cinquenta e um. “Foda-se”. O membro encarquilhou e tornou a apontar para o chão. A mulher manteve um propositado olhar terno e indiferente mas esperava, esperava mesmo, que ele se rebelasse, que insistisse. Que a quisesse.
Alberto olhou para a porta da casa de banho e para a porta do quarto, ambos abertos. Haviam esperado tantos anos por privacidade na própria casa e agora que a tinham faziam um amor modorrento, quase assexuado por vezes, num silêncio envergonhado, como se os filhos continuassem em casa.
– Foda-se – exclamou o homem. A mulher e o membro redobraram a atenção; tudo se decidia ali. – Quero-te comer, Arlete. Quero ser comido. Que se foda a idade. Vamos mostrar-lhe que não somos só fodidos por ela, que também fodemos com ela. Quero foder-te, Arlete. Foder-te. Agora. Aproveitar a casa. Aproveitar estarmos sozinhos. Aproveitar querermo-nos. Termo-nos! Que se foda a idade. Vamos foder como se tivéssemos 20 anos outra vez!
Arlete sorrindo aproximou-se do marido e estendeu a mão para o membro que também sorria ainda que não se visse. – Queres voltar a foder no carro, é?
– Foda-se…