18 abril 2013

«Flamingo Pride» - um flamingo heterossexual que tenta desesperadamente encontrar o amor


Flamingo Pride from Talking Animals on Vimeo.

WTF?


blog A Pérola

Primeira lição

Fico surpreendida quando constato que ainda há mulheres que não sabem que a vagina é servida por uma quantidade substancial de músculos que, se treinados, podem transformar uma noite em mil, mais aquela em que é conveniente despachar o parceiro.
É evidente que treinar a vagina exige, sobretudo no início, concentração, persistência, algum esforço e sobretudo um homem pacífico, colaborador, resistente, jovem e seguro, controlado, tranquilo ou virgem – os virgens não sabem se o que estamos a fazer é o que imaginam ser o habitual. Em alternativa, não é de todo afastada a possibilidade de os amarrarmos à cama de modo a que não consigam mexer um pêlo, esteja ele onde estiver.
Convém, para início do processo, enfiarmos na vagina, até à base, o pénis colocado estrategicamente por baixo de nós. Pode causar algum incómodo, depressa esquecido, porque estamos atentas ao movimento seguinte. Nada que não se possa atirar para trás.
É necessário fazer descer todos os nossos sentidos para a massa rija, cilíndrica, que nos ocupa a vagina. Procuremos apertar o pénis encravado, até lhe sentir o pulsar da glande. Se o conseguirmos, com mais um pequeno esforço faremos com que a vagina se aperceba do formato daquilo que a preenche. O arredondado da glande, o sulco, a pulsante massa dos corpos cavernosos, as veias e as artérias que nos escaldam as paredes do sexo.
É evidente que o processo é moroso, mas indiquei já as características da cobaia.
Para iniciação creio que por agora basta. Quando perceberem que tiveram sucesso neste primeiro passo, podem desatar a gemer, a gritar e a bradar por todas as divindades que conheçam, porque merecem ser muito bem recompensadas.
Passaremos à segunda lição, quando me aprouver e considerar que o tempo empregue neste primeiro exercício já foi o suficiente e já surtiu os efeitos desejados.

Camille

«Mel» - por Luis Quiles


"Diferentes versiones de algunos de mis dibujos sin la censura." [2]

Luis Quiles

17 abril 2013

«Foder é simples» - João

"Preparo-me para defender uma ideia em que acredito – ou, de outro modo, não a defenderia -, sabendo que não é consensual, que não tem aplicação universal. Aliás, diga-se, pouco do que eu defendo tem aplicação universal. Pensá-lo é um exercício de soberba. Defendo aquilo em que acredito, em algum momento da vida, sendo isso válido para mim e, com sorte, para um punhado de uns quantos mais que por infortúnio se revejam nas mesmas ideias que eu. E a ideia de hoje é tão simples quanto a de foder. Como se foder fosse simples. Mas para o caso, para este caso, é. Simples em comparação com o quê? Com o sexo oral.
À medida que os anos foram passando, fui recolhendo opiniões – mais opiniões do que experiências conjugáveis na primeira pessoa do singular – de homens e de mulheres sobre o sexo oral. Os homens, por regra, não o dispensam. Não dispensam que lho façam. Gostam (gosto! gostamos!) que as mulheres com quem estão tratem os seus pénis com adoração, com venerando linguajar, que os seus pénis sejam o derradeiro chupa-chupa à face da Terra e de todos os outros planetas habitáveis. É, talvez, o aspecto mais consensual que encontro. Daí em diante, dá-se a divisão. Os homens, compreendi do quanto ouvi, nem sempre devolvem na igual medida. Se gostam que as suas mulheres se entreguem aos seus pénis com devoção inquestionável, nem sempre se apresentam dispostos a mergulhar entre duas coxas, lambendo com incomparável satisfação as vulvas das suas companheiras, alimentando o prazer com o místico resultado de uma vagina sumarenta. É uma pena. E entre as mulheres, bem sabido, também nem sempre se encontra quem queira abocanhar um pénis com gosto, brincando com ele com atrevimento, não temendo sequer o resultado de um fellatio bem feito, um inevitável e caloroso jorrar.
Assim, com o tempo que passava, autorizei-me meditar nisto e concluir que, tudo sendo sexo, foder – no sentido de copular, introduzir o pénis na vagina e dar-lhe com ânimo -, é mais fácil, emocionalmente mais simples, do que usar a boca para dar prazer. A genitália está suficientemente afastada do centro da nossa identidade (o cérebro), anatomicamente falando, para que dar-lhe uso seja uma coisa mais simples de automatizar e desligar de alguns sentidos e/ou sentimentos. Por outro lado, levar a nossa boca à genitália de outra pessoa é levar-nos, intimamente, a algo que nos exige o envolvimento não apenas do tacto mas também do paladar e do olfacto (a visão, para o caso, dispenso-me comentar). Enquanto fodemos estamos potencialmente abstraídos nas sensações tácteis e próximos da outra pessoa, podendo isso acontecer mais, ou menos, consoante ali estamos para amar ou para usar. Mas quando vamos de boca disponível ao encontro de uma genitália, penso, eu que sou romântico, que precisamos verdadeiramente amar. As mulheres vão receber nas suas bocas um pénis que pode não lhes criar verdadeiro conforto, que pode não lhes saber ou cheirar bem. O mesmo se passa connosco quando nos afundamos de frontispício numa vulva. Vamos conviver com odores e sabores que não sabemos – à falta de experiência prévia com essa mesma vulva – se nos vão agradar. E é por isso, de uma forma muito sintética e provavelmente atabalhoada, que eu acho que entre copular e dar prazer oral, a primeira forma de exercício é muito mais simples, menos exigente. Ainda que pressuponha entrega e abertura da reserva íntima como qualquer outra forma de sexo, a dança ritmada de genitálias consegue ser mais blindada do que envolver as nossas bocas e línguas, envolvendo a nossa capacidade de saborear e cheirar.
Assumo-me profundo apreciador da oralidade. Como qualquer homem que se preze, quero o meu pénis venerado e desaparecido entre os lábios (todos eles, por sinal) da mulher com quem partilho a minha intimidade. E, como qualquer homem que se preze, quero atirar-me sem reservas a uma vulva sumarenta, por via da qual possa dar prazer à mulher que quero. E ao pensar assim, sinto que isso exige mais de mim do que o coito. E que se assim é para mim, talvez também para vós assim seja."

João
Geografia das Curvas

«conversa 1961 e respostas a perguntas inexistentes (232)» - bagaço amarelo

Não sou, por norma, muito falador. Pelo menos é o que eu acho. Como costumo dizer a mim mesmo, falo de menos e escrevo demais. Até me considero uma pessoa tendencialmente tímida. Há, no entanto, uma excepção: as conversas a dois.
Na verdade, considero que a minha sanidade mental depende muito das conversas a dois. Prefiro conversas a dois do que a três, quatro ou cinco. Não sei porquê, mas a capacidade que eu tenho de me concentrar numa conversa e, portanto, de me interessar por ela, é muito maior quando tenho apenas um interlocutor.
É por isso que adoro receber uma visita em casa ou, por outro lado, tendo a visitar mais os meus amigos que vivem sozinhos. Um amigo, uma garrafa de vinho ou de uísque e algum pão ou chocolate, e tenho uma noite por bem dada.
É verdade que esta minha característica, que não é boa nem má, também teve sempre uma enorme importância nos meus relacionamentos amorosos. Uma relação com uma mulher que gosta de falar a dois, por mim, é normalmente mais fácil do que com uma que até pode ser mais social e, por isso, não dispensa uma noite sem um grande grupo de amigos à sua volta. Acreditem, sei-o por experiência própria.
Isto quer dizer também que, na idade que atravesso, considero-me um privilegiado por ter feito e mantido alguns amigos que são exactamente como eu neste aspecto. Não são muitos, mas são os suficientes para eu manter equilibrada a balança da solidão e do convívio. Há uns dias, por exemplo, visitei uma amiga minha que quase nunca sai de casa por opção própria. Visito-a mais a ela do que ela a mim, talvez por isso mesmo. Depois duma noite inteira a conversar, deviam ser umas três da manhã quando ela me pediu silêncio.
No princípio até pus a hipótese dela se estar a sentir mal. Observei-a com atenção enquanto ela dividia irmãmente o que restava duma garrafa de Vila Ruiva Reserva 2010 (ela só bebe vinho alentejano) e cheguei à conclusão que não. Dei um gole no copo e encostei-me para trás no sofá.

- Eu acabei de te explicar porque é que me divorciei do meu marido. - disse ela.
- Acabaste, sim. - confirmei.
- Disse-te que passámos quatro anos, eu e ele, a tentar apaixonarmo-nos um pelo outro e que, passado esse tempo, chegámos à conclusão que não tínhamos conseguido.
- Eu percebi. - confirmei de novo.
- És a primeira pessoa a quem conto isto e que não faz nenhuma observação parva, do género: "tanto tempo para perceber que não estavam apaixonados?!".
- Não acho que seja assim tanto tempo. Além disso, acho perfeitamente normal insistirmos em tentar uma paixão com aqueles de quem gostamos muito. Já aconteceu a todos... - observei, numa tentativa de tornar o mais normal possível a coisa.
- Eu acho que só nos entendemos assim tão bem porque nunca há mais ninguém quando conversamos. - concluiu.

Fiquei a pensar naquilo para além daquela noite, até agora, momento em que escrevo este texto. É que às vezes, para alinhavar o meu pensamento, tenho que o escrever. Senão não sou capaz. Acho que ela tem razão e, sem o saber, explicou-me uma característica que eu tinha como minha.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Pânico no tabuleiro

Quando o peão foi promovido a rainha e o xeque-mate ficou iminente,
o rei adversário berrou: "Meu Deus, vou ser derrotado por um travesti!"

Gato sado-brincalhão


Cartoon de Temel

16 abril 2013

«Mulher livre!» - por Zuleta


Na edição 2013 do World Press Cartoon, Zuleta, cartoonista colombiano, conquistou o terceiro prémio na categoria de desenho de humor com o desenho «Mulher livre!», publicado na revista peruana «El Mundo de Karry»

Tutti Rouge lingerie - Primavera/Verão 2013

Eva portuguesa - «Oração 2 - o regresso»

"Senhores passageiros, estamos a começar a descer em direcção ao aeroporto de Lisboa, Portugal" - dizia o comandante no intercomunicador do avião.
Nunca fiquei tão feliz em ouvir o nome do meu país e da minha cidade!...
Sim, era um regresso súbito e bem mais cedo do que o planeado... e talvez por isso mesmo muito mais desejado....
Lisboa aparecia por baixo das nuvens e eu sorria de felicidade.
Lembrava quando, há bem pouco tempo, tinha feito exactamente a viagem oposta.
Ainda sábado deixava saudosista, mas tambem esperançosa, a minha casa e, contra todas as previsões, já estava de volta...
Não vim com mais dinheiro mas vim mais rica, mais crescida. Cresci por ter observado e recusado a entrar num mundo que não é meu...um mundo de drogas, bebida, clubes nocturnos e prostituição barata... Nunca, como nestes quatro dias, dei tantas graças pela (inesperada e não reconhecida) dignidade do meu trabalho, tal como o pratico aqui...
Obrigada, meu Deus, por me teres protegido, por me permitires regressar em segurança e paz, pela possibilidade de manter alguma dignidade e tranquilidade naquilo que faço!
Obrigada por me trazeres de volta a casa, à minha gente e aos meus clientes!
Obrigada por me teres mostrado a degradação e me manteres afastada dela!
Obrigada pela paz, saúde, alegria. 

Obrigada pela minha casa, o meu carro, a minha cadelinha, o meu filho e os meus amigos.
Obrigada pelo meu trabalho, pelos meus clientes, pela minha vida... 
Obrigada!
E, no fim desta pequena mas sentida oração, aterro em Lisboa, de onde, sei agora, nunca devia ter saído...
E agora retomo o meu trabalho cá, ainda com mais dedicação, grata por tê-lo....


Eva
blog Eva portuguesa - porque o prazer não é pecado

«Despida» - Susana Duarte

Tenho os sentidos despidos de ti,
e de ti vestidos
na montanha de luas antigas,
na sáfara atravessada de rugas,
na territorialidade das névoas,
e na eternidade dos olhos.

De ti, retenho em mim a pele,
e na pele
dispo as cátedras do que sabia antes,
em dias que não sei,
em tempos e lugares onde fui outra,
em tempestades que retive na sombra
dos tecidos
do corpo.

Do corpo, despi-me na neve
e na neve das noites
enchi-me de ar,
volteei em ondas de som
e deixei-me encantar pelas nuvens
da mente.

Resido nas pontas feiticeiras
de um saber antigo
e dispo-me dos sentidos:
olhar,ainda que despida dos olhos;
sentir, ainda que sem tocar;
escutar, ainda que os ouvidos
alados
se tenham tornado viajantes
onde torres caem e mistérios
se levantam
nos dias
que sou.

Despi-me de tudo.
Prossigo em ti.

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto