24 abril 2013

«Explosões no céu» - João

"E então, sem aviso, a tua mão agarrou a minha. Senti os teus dedos deslizar por entre os meus, as tuas unhas vincar um pouco a minha pele. Senti a tua respiração diferente, e todos os sinais estavam ali. Pediste-me que dissesse algo. Horas antes pediste-me que te dissesse alguma coisa, depois de termos avançado, pela penumbra, em direcção um ao outro. Num abraço silencioso. Foi sofrido, sabes? Todo o caminho até ali foi sofrido. E quando finalmente nos tocamos num abraço tão curto, quem falava por mim era o meu coração palpitante, cheirando-te, agarrando-te, desejando o teu corpo e a tua alma numa dimensão que não consegui nunca medir.
Naquele momento eu estava num cinzento, algures, e no céu havia explosões. Grandes, barulhentas. Tu eras a minha explosão no céu. Água para um sedento, paliativo para um sofredor. Lembro-me de uma história:
As linhas rectas não existem. Tudo o que é recto é uma ilusão. As coisas rectas são aquilo que temos a pretensão de ser, é o que gostamos, o que nos ensinaram. As coisas rectas são simples. Desliza-se por elas como crianças num escorrega, seguem-se sem esforço, sem cansaço. As linhas rectas que nos separam, meridianos ou paralelos, as linhas rectas que nos fazem a todos um pouco ortogonais, são as linhas que separam os brancos dos pretos, o monocromático do policromático. As linhas são falsas. Somos nós que as construímos, somos nós que as erguemos desde o chão até ao céu, onde compartimentamos o azul. O problema, para nós, é quando as linhas abanam. Achamos que somos poderosos, que temos o poder, em nós, de segurar as altas barreiras apenas por nos encostarmos a elas de costas fincando os pés no chão. Mas cedo o vento vence, cedo o peso força, e os pés enterram-se mais no solo, e os joelhos fraquejam.
E é nessa altura que dou por mim a pensar novamente nesse joelho que vejo, nessa coxa que me convida, na mão que quer fugir por ti, que te procura. É então que um beijo foge, que os lábios se abrem timidamente, que eu percebo que te quero, por um instante, ou dois. Seja longo, seja curto. Desde que seja. Sem brancos, nem pretos. Porque não existem, porque não cabe tudo neles, porque há emoções que transbordam como líquidos viscosos, devagar, por onde o espaço se abre. Bem vês, eu não posso forçar-te a foder-me. Talvez tu quisesses isso. Talvez fosse mais fácil para ti adicionar ao desejo que já sentes, um empurrão forte que te rasgasse as roupas e tirasse toda a hipótese de resistir. Talvez quisesses ser mulher a correr na Ilha dos Amores, com pequenas risadas que a cada passo te reduzem a distância face a quem te persegue. Talvez queiras muito ser tomada, amarrada, empurrada contra qualquer coisa, e apenas dar, abrir, sentir. Tudo isso pode acontecer. Mas não pode forçar-se. No dia em que me foderes, será porque decidiste fazê-lo. No dia em que me foderes, voltaremos a ver explosões no céu. Como antes, como nunca."

João
Geografia das Curvas

Manuel Vieira, Filipe Melo e Kornos Quartet - «Merda» (ensaio) @ Cordoaria Nacional

Manuel Vieira, Filipe Melo e Kornos Quartet durante a exposição CASA de Manuel Vieira, na Galeria Torreão Nascente na Cordoaria Nacional

«conversa 1965» - bagaço amarelo

Ela - O meu marido está sempre a queixar-se que não temos sexo suficiente.
Eu - E não têm?
Ela - Para mim chega o que temos. Acho que não vemos o sexo da mesma forma...
Eu - Da mesma forma?!
Ela - Sim, da mesma forma. Para mim o sexo é luxúria, só faz sentido se eu estiver nos píncaros da libido. Para ele, e acho que para os homens em geral, é uma sensação de conforto. Mesmo que não estejam muito entusiasmados, precisam duma certa regularidade sexual.
Eu - Ah! Compreendo.
Ela - Ele não, não compreende...


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

A importância do paleio para as gajas

Crica para veres toda a história
Abertura


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oglaf.com

23 abril 2013

Passagem de modelos em Praga com pintura corporal

BODY ART 2013 - Castelos de Praga


BODY ART 2013 - Praha stověžatá (Prague Castles) www. Tristarmedia.cz from Tristarmedia.cz on Vimeo.

Eva portuguesa - «Vida»

A vida é uma foda:  ao principio dói, depois é bom, depois torna a doer e não vimos a hora de acabar...

Eva
blog Eva portuguesa - porque o prazer não é pecado

«encontro-te nas luas azuis» - Susana Duarte



encontro-te nas luas azuis
de todas as marés do meu corpo,
e em todas as marés, encontro as noites
perfumadas de mirtilos. encontro-te

em cada onda que morre e em cada maré viva.

és, de todas as praias, a mais rubra
manhã dos meus olhos quando, em cada movimento,
ondulas seiva e me respiras.

encontro-te onde as frutas
me perfumam com a luz dos teus olhos,

e o azul-maré-recanto dos teus olhos, é a vida
que me cresce dentro e ilumina as veias
onde navegas. Mais não somos, senão ondulações
das letras
com que escrevemos o futuro

sobre o qual caminhamos.

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto

A versão original da estátua de David, de Miguel Ângelo

Estamos habituados a ver a pilinha do David, de Miguel Ângelo:



... mas o original (não censurado) desta obra de arte apareceu e está na minha colecção.
Tem 17cm de altura, 3,5x4cm de base e é uma peça em bronze original de Pierre Leroux, de quem tenho várias estatuetas:



22 abril 2013

«É melhor com molas» - anúncios a colchões



«conversa 1963» - bagaço amarelo

Ela - Esta vai ser a primeira passagem de ano em que estou divorciada.
Eu - Isso preocupa-te?
Ela - Preocupa-me passá-la sem os meus filhos...
Eu - Compreendo. Eu telefono sempre à minha filha nessa noite, quando não estou com ela.
Ela - Eles não têm telefone e tenho quase a certeza que o meu ex-marido não vai atender.
Eu - Não vai atender?! Porquê?
Ela - Porque me quer irritar.
Eu - Ele não faz isso de certeza. Eu conheço-o e sei que não faz. É um gajo porreiro.
Ela - Eu também sou porreira e fazia-o sem problema nenhum.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Luís Gaspar lê «Saudade» de Cristina Miranda

"Foi depressa que devagar nos percorremos,
Foi devagar que depressa corremos o nosso corpo,
Cobrindo-nos da felicidade
Que ia caindo como fiapos de acalento,
Dos meus e dos teus dedos…
Ah, não somos capazes de mais,
A não ser gotejar anseios
Para enobrecer os gestos
Com que nos saciaremos,
Logo mais,
Quando de novo nos inventarmos!
Pensemos no bem-querer que teremos
Quando demorar a vontade,
Que pinga, em nós, açucarada
Sobrevoemos o prazer de estarmos,
De sentir o calor da arena da pele,
E então, sim,
Surpreendamo-nos com a extravagância:
Será depressa que devagar nos percorreremos
Será demorada a pressa de nos invadirmos,
Mas será tão notável o prazer que sempre teremos,
Quer seja ontem,
Quer seja hoje,
Ou amanhã,
De esvoaçar sobre o diadema do nosso desejo."

Cristina Miranda

Ouçam este poema na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

Uma ajudinha

Às vezes todos precisam de um empurrãozinho.



Todos tem direito a se divertir.

Capinaremos.com