27 julho 2013

Homens, aprendam... a fazer ressuscitação cardiopulmonar com empregadinhas francesas

«tenho marido na Ucrânia» - bagaço amarelo

Nunca pensei tornar a vê-la. Na verdade, para ser sincero, já nem tinha bem a certeza da sua existência real. Talvez tivesse sido apenas um produto da minha imaginação, naquela altura em que a minha mente criava mulheres em série, como se fosse uma fábrica no auge da sua vida produtiva.
Não a reconheci por nenhum traço fisionómico, nem sequer pelo cheiro ou pela voz. Ia simplesmente a caminhar entre a multidão quando um som se destacou na cidade. Era o bater duns saltos altos nas pedras do passeio, quase igual e tão diferente de tantos outros. Pensei: “é ela”. Olhei para trás e era mesmo.
Num quiosque mesmo ao lado vendiam-se cartões telefónicos que prometiam bastantes minutos de conversa para países como a Roménia, Ucrânia, Turquia ou Grécia. Fiquei a pensar naquela venda que tratava o tempo como um produto consumível, como se fosse um tinteiro de impressora ou um frasco de polpa de tomate. No nosso caso, o tempo tinha sido isso mesmo, um consumível de pavio curto. Se no princípio tudo me parecera bem, assim que os nossos corpos se tocaram uma última vez tudo passou a ser uma vertigem.
Eu não andava à procura de nada, nem sequer de sexo, no dia em que ela se sentou ao meu lado do balcão dum bar e me pediu lume. A sensação de poder Amar alguém estava tão distante como um barco que lentamente partira em direcção à linha do horizonte, e eu pouco mais fazia do que trabalhar e ver jogos de futebol enquanto me embebedava num tasco qualquer.

- Não fumo! - respondi.
- Ainda bem. Eu também não...

Depois sorrimos ao mesmo tempo e pedimos mais um copo. Não sei, escusado será dizer, quanto ficou o jogo dessa noite. Sei que eram seis da manhã quando ela se levantou e se foi embora sem se despedir. Eu, a fingir que dormia, deixei-a ir conforme combinado. Lembro-me do som dos sapatos de salto alto, num ritmo fora do normal. Aliás, nunca mais me esqueci.
Era ela. Reconheci-a por esse mesmo som. Olhei para trás e vi-a comprar um desses cartões que nos dão tempo como se dessem vinho. Lembrei-me do acordo que fiz com ela nessa noite e retomei o meu caminho sem lhe dizer nada.

- Tenho marido na Ucrânia. Só preciso de alguém por uma noite.
- Está bem, então... - disse.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

A segunda taça de escanção («taste-vin») da minha colecção

A taça de escanção que eu já tinha, tem agora companhia: uma taça em tudo idêntica, excepto na figura central e na textura da superfície.



Um sábado qualquer... - «Sexo 2»



Um sábado qualquer...

26 julho 2013

Especial «Virginia Johnson» - bagaço amarelo

Na década de 50 o mundo recuperava lentamente de duas guerras mundiais. A memória da segunda, que atingira directa ou indirectamente todos os continentes e vitimara milhões de cidadãos, estava bem viva. Entre a frágil sensação de paz mundial, nascia a Guerra Fria e o mundo dividia-se em dois. O pacto assinado em 1950 pelas duas maiores nações comunistas ameaçava o mundo ocidental e abria uma nova frente de guerra nas Coreias. Nos EUA iniciava-se a Caça às Bruxas moderna, que é como quem diz, a Caça aos Comunistas.
Foi neste ambiente que Virginia Johnson deu andamento à expressão "Make Love, Not War" e revolucionou os estudos sobre a sexualidade. Com o seu marido, e com base na observação directa e métodos de medição por ela criados, explicou a esse mundo frio o que é o orgasmo. A mim parece-me bem.
Morreu ontem. Que o mundo agora a homenageie na cama.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Is Tropical - «Lover's Cave» (video dirigido por Richard Kern)


IS TROPICAL- "Lover's Cave" (2013) from Richard Kern on Vimeo.

Alfabeto erótico de 1931 por Sergei Merkurov (ex-União Soviética)

"Com o objectivo de combater o analfabetismo adulto, o artista soviético Sergei Merkurov desenvolveu, em 1931, um alfabeto formado por ilustrações de posições sexuais com referências a seres mitológicos e símbolos oriundos da cultura grega e romana.
Além da riqueza artística e do inusitado método de ensino, deve-se considerar ainda o período de realização. As ilustrações foram concebidas durante o repressivo governo de Estaline e, ironicamente, pelo mesmo artista que anos depois participou activamente na criação de esculturas do ditador."
Via IdeiaFixa















Postalinho do Butão

"Os falos pintados nas casas butanesas destinam-se a trazer fertilidade e a proteger do mal as famílias que lá habitam. Mais comuns nas áreas rurais do que nas urbanas, tiveram origem nos ensinamentos de um homem santo do século XVI conhecido como o «Louco Divino», dados os seus métodos de ensino, que eram pouco ortodoxos, considerados bizarros e chocantes."
Alfredo Moreirinhas

Mais informação aqui.









25 julho 2013

Viva a revista Cru! Vulva! E viva o Tio Putinhas! Vulva!

Recebi a minha encomendinha da revista CRU nº 49 (especial Ódio), ainda quentinha do forno, juntamente com a CRU nº 34 (um número antigo que está disponível para consulta on-line aqui, tal como outros números da revista).
Esta revista é editada pelo Esgar Acelerado, que os tocadores de flauta-de-um-buraquinho-só deverão reconhecer pelo menos nas ilustrações dos textos do Valter Hugo Mãe na Playboy (ou então passam essas páginas porque não têm fotos de gajas nuas... ou então ainda são as únicas páginas que ainda conseguem abrir, porque as outras estão todas coladas).
Impressionante foi saber que "com formas diferentes e sob diversas encarnações, a revista está em publicação há mais de 20 anos"!
Na Bedeteca encontram a lista de conteúdos da CRU nº 49.
Podem fazer encomendas da revista por aqui [no momento em que publiquei isto, este link não estava disponível, pelo que sugiro que, em alternativa, os contactem pela página da CRU no Facebook]. A revista custa 5 euros, com os portes incluídos.


A primeira página e a última tira do suplemento colorido gratuito da CRU nº 49: «Tio Putinhas Vs. Maga Putalógica», história de Walt Esgar

O pin do Tio Putinhas que a CRU ofereceu no lançamento da revista. E esclarecem que "para a criação das personagens e dos seus fartos falos foi necessário um estudo exaustivo de documentários da National Geographic sobre a vida sexual dos patos. Obrigadinho TV Cabo! O que seria do Walt Esgar sem ti!"
Um destes pins faz agora parte da minha colecção, tal como as duas revistas que encomendei.

«Mostra-me os teus boxers, dir-te-ei o que és!»
por Alice in Goreland, ilustrado por Zbigniev Koniek (um gajo com o traço chapado do Esgar Acelerado... por obra e graça da globalização) 

Para acabar em beleza - e com ódio por chegar ao fim - seleccionei, da secção «Ódiário – 16 ilustradores desenham o seu ódio de estimação», esta ilustração deliciosa de Susana Carvalhinhos.

Casio G'zOne Commando - «Yoga»

«A pornografia é boa para a sociedade» - Milton Diamond

"Pornografia. A maioria das pessoas já viu e defende fortes opiniões a seu respeito. Uns argumentam que um acesso fácil traz efeitos negativos à sociedade, como a degradação da mulher. Mas outros defendem que é uma expressão legítima de fantasias e que, não apenas permite a satisfação imediata do desejo, como também substitui a agressão sexual. Assim, evitaria outras actividades perigosas, prejudiciais e ilegais. Algumas feministas afirmam até que a pornografia emancipa a mulher, libertando-a das amarras do pudor e das restrições sociais.
Não faltam provas a confirmar esse ponto de vista. Ao longo dos anos, muitos cientistas investigaram a ligação da pornografia, tanto com crimes sexuais, quanto com o seu efeito na atitude dos homens em relação às mulheres. E, em todas as regiões investigadas, os pesquisadores descobriram que crimes sexuais ou diminuíram ou não aumentaram onde a disponibilidade da pornografia cresceu. E, dos poucos que viram correlação entre a disponibilidade de pornografia e comportamentos antissociais, nenhum encontrou uma relação de causa e efeito.
Pesquisas de escala nacional na Dinamarca, Suécia, Alemanha Ocidental e EUA observaram que, embora a presença de pornografia tenha aumentado consideravelmente de 1964 a 1984 nesses países, a taxa de estupros ou caiu ou permaneceu no mesmo nível. Estudos posteriores mostraram ainda resultados semelhantes em todos os outros países cientificamente examinados - entre eles, Canadá, China, República Checa, Finlândia, Japão e Polónia. Afinal, a pornografia oferece um substituto fácil e imediato para os crimes sexuais: a masturbação.
Ainda assim, é comum que a polícia sugira que uma grande percentagem de criminosos sexuais já usou pornografia. Isso é irrelevante, dado que a maioria dos homens tem, em algum momento da vida, acesso a conteúdos de sexo explícito.
Observando a questão mais de perto, pesquisadores descobriram algo surpreendente: presos estupradores têm maior probabilidade de terem sido punidos na juventude por verem pornografia do que os não estupradores. E mais. Presos não estupradores começaram a ver pornografia mais cedo e em maior quantidade que os estupradores. O que é realmente correlacionado com o crime sexual é ter tido uma educação religiosa rígida e repressora.
Estudos também mostram que homens expostos a filmes pornográficos são mais tolerantes com as mulheres que os não expostos. Nenhum pesquisador cientificamente sério provou que a exposição à pornografia tem uma relação de causa e efeito com sentimentos ou actos negativos contra mulheres.
É verdade que algumas pessoas afirmam sofrer efeitos adversos da exposição à pornografia - basta considerar testemunhos em cortes de divórcio. No entanto, não há nenhuma prova de que a pornografia tenha sido a causa do abuso. Acima de tudo, não há liberdades que não possam ser usadas de forma sem equívocos. Mas o acesso à pornografia é uma das que parecem oferecer mais bem do que mal."
Milton Diamond
Director do Centro do Pacífico para Sexo e Sociedade, associado à Universidade do Hawai
in «Revista Super Interessante» (traduzido por mim do brasilês)

Imagine só



Imagine só, pensar assim todas as vezes que ficarmos com vergonha do público

Capinaremos.com

24 julho 2013

«O céu, perto» - João

"Gostava de estar sentado ao teu lado num avião. Fazer-me à pista e dar-te a mão. Não temer o rugir dos motores enquanto ganham momento para descolar. Sentirmos o chão sair debaixo de nós e deslizar entre as lâminas de ar olhando as coisas pequenas lá fora pela janela, mais pequenas e mais longe, enquanto ganhamos altura. Apetecia-me estar contigo dentro de um avião, fosse qual fosse o destino. Podias pedir uma manta, ou apenas ler um jornal, enquanto a minha mão deslizava por entre as tuas pernas, para te aquecer, para, de uma forma um pouco menos figurada, te fazer ir ao céu (novamente). Uma vez ou duas. E depois disso, ou até em vez disso, deixar-te dormir encostada ao meu ombro enquanto avançávamos no escuro, com as asas cortando ar, os dois sozinhos num tubo cheio de gente, cada um com a sua história. Mas apenas tu, e apenas eu, com sorrisos cúmplices, de uma transgressão partilhada.

Gostava de estar contigo na cama, contigo a ler uma revista e eu a ler os meus e-mails e notícias. Terias a tua cabeça sobre a minha barriga, as pernas dobradas, eu tocaria as tuas coxas e trocaríamos ideias sobre as coisas do mundo, sobre as coisas das revistas, e sobre as coisas dos e-mails. E quando o cansaço fizesse pesar as pálpebras, deslizaríamos para baixo dos lençóis e faríamos promessas de uma noite reparadora de sono. Promessas falsas, porque a pouco e pouco desapareceriam os centímetros entre nós, e pouco depois os corpos estariam já colados, e o calor seria tanto que nada restaria fazer senão agitá-los, destapando a pele.

Gostava de passear contigo pelas ruas. Que me agarrasses o braço. Caminharíamos por aqui e por ali. Visitaríamos locais icónicos, ou outros desconhecidos. As ruas passariam por nós, as pessoas seriam uns borrões indefinidos, o espaço seria curto, uma bolha à nossa volta. O meu sorriso e o teu. Fotografias. E as mãos juntas, os dedos entrelaçados, ao ar ou dentro do meu bolso quando viesse o vento cortante. Gostava de não conhecer o significado da saudade por não precisar dela. Por ser uma coisa estranha, nunca vivida nem sentida. Talvez mais pobre, com menos conhecimento, mas mais leve, sem o peso profundo de uma ausência. Gostava que estivesses aqui, ou eu aí, ou os dois em parte incerta, distante."

João
Geografia das Curvas