Conheceram-se na Internet, num fórum sobre comida de gato. Verificaram partilhar entre si certos interesses mundanos, pelo menos em quantidade suficiente para que acertassem janta num antro vegetariano, escolhido por ela, no centro da capital.
As primeiras impressões foram de agradável promessa mútua. -"A gaja é bem boa." - pensou o rapaz, lambendo mentalmente os beiços. Por outro lado, o repasto foi uma monumental bosta à base de verduras e legumes insípidos, moldados em forma de deliciosas vitualhas carnívoras. Para ele e para sempre, a desilusão tinha agora a silhueta de um presunto de Chaves. A conversa, essa, escorreu no sentido de recíprocas tesões, tendo os dois acordado saltar os intermédios copofónicos, passando directamente à arena fodengal, situada nas águas-furtadas que a jovem habitava. Foi no sofá que começaram a lide. Muita saliva trocada, vianda sopesada e arfanço canino depois, estava tudo nu e pronto para outras oralidades. Eis que ela o pára, mão de unha pintada no peito. Desejava acender um pau de incenso, não obstante topar-se nesse instante com uma verdadeira tocha carnuda de veias pulsantes. Ele mordia-se por dentro, mas aguentou. Porém, ela também quis que lessem em conjunto um livro sobre sexo aiurvédico. O desgraçado sentia o artimanho rebentar-se-lhe nas peles enquanto via aquela musa de curvas generosas e em pelota integral, oferecendo-se à vista em sortidas perspectivas, enquanto recolhia incensos, cristais de ametista, espanta-espíritos, literatura
new-age, discos com vocalizações de golfinhos na migração do solstício, sininhos budistas, óleos essenciais da Natura e outra quinquilharia porno-espiritual. -"A trepa valerá isto e muito mais!" - reflectiu o entesoado, acercando-se dela com a moca em riste, estava a moça curvada sobre o leitor de CD, o rotundo, rosadíssimo viegas espetado. Mas, mal sentiu a flauta pingante aflorar-lhe os pequenos lábios da moela, saltou alarmada. -"Que é isso? Não sei que fiz para lhe dar essa ideia tão
brega. Queria oferecer-lhe um momento de alívio espiritual! Alinhará os chacras, vem-se para dentro, e o caralho, reagrupando-se com a sua essência vital." Gritava, desgrenhava-se, tapando-se com o que apanhava; gatos e peluches avulsos, que lhe atulhavam os cantos da casa.
Foi então que, à medida que lhe murchava o Orlando Furioso, o rapaz percebeu que ninguém naquela casa foderia e levitou até ao bar mais próximo.