Que maravilha!
Já conhecia este grupo «Penicos de Prata» - um quarteto de cordas formado por guitarra, ukelele, contrabaixo e violoncelo - há algum tempo e gosto muito da abordagem que fazem à poesia erótica e satírica portuguesa.
Agora, André Louro, Catarina Santana, Eduardo Jordão e João Paes publicaram este livro/CD em que interpretam poemas de Adília Lopes, Ana Abel-Paúl, António Botto, António Maria Eusébio (o Calafate), Carlos Queiroz, Ernesto Manuel de Melo e Castro Fernando Pessoa; Francisco Eugénio dos Santos Tavares, João Vicente Pimentel Maldonado, José Anselmo Correia Henriques e Liberto Cruz. O livro tem ilustrações muito curiosas de diversos autores.
O livro/CD já faz parte da minha colecção. E espero, um dia destes, poder proporcionar à malta d'a funda São (eu incluída, claro) a oportunidade de assistirmos a um espectáculo ao vivo dos «Penicos de Prata». Para já, comprem o livro/CD e deliciem-se, que vale bem a pena.
Tomem umas amostras grátis (mas recomendo o CD, que tem uma excelente qualidade de gravação):
26 novembro 2013
25 novembro 2013
Uma frase que eu gostaria que tivesse sido minha
"Metade
do
sexo
é o
sonho."
Sasha Grey, «Juliette Society»
(pág. 223 da 1ª edição portuguesa - Divina Comédia, 2013)
«conversa 2031» - bagaço amarelo
Eu - Demasiado?!
Ela - Sim. Precisava que ele gostasse menos de mim, que era para eu conseguir gostar mais um bocadinho dele...
Eu - Confundes-me totalmente.
Ela - Isso é porque não percebes nada de desafio.
Eu - Que desafio?
Ela - Desafio, pá. Se um gajo não nos desafia em nada, perde o interesse.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Luís Gaspar lê «As Mil e Uma Noites»
A primeira página de grandes obras da literatura.
As histórias que compõem as Mil e uma noites tem várias origens, incluindo o folclore indiano, persa e árabe. Não existe uma versão definida da obra, uma vez que os antigos manuscritos árabes diferem no número e no conjunto de contos. O que é invariável nas distintas versões é que os contos estão organizados como uma série de histórias em cadeia narrados por Xerazade, esposa do rei Xariar. Este rei, louco por haver sido traído por sua primeira esposa, desposa uma noiva diferente todas as noites, mandando-as matar na manhã seguinte. Xerazade consegue escapar a esse destino contando histórias maravilhosas sobre diversos temas que captam a curiosidade do rei. Ao amanhecer, Xerazade interrompe cada conto para continuá-lo na noite seguinte, o que a mantém viva ao longo de várias noites – as mil e uma do título – ao fim das quais o rei já se arrependeu de seu comportamento e desistiu de executá-la.
(Wikipédia)
Conta-se — mas Alá é mais sábio e justo, mais poderoso e bom — que, quando decorria a antiguidade do tempo e o passado da idade e do momento, havia nas ilhas da índia e da China, um rei dos reis de Sássan. Era senhor de muitos exércitos, ministros, servidores, e numeroso séquito. Tinha dois filhos, um mais velho e outro mais novo. Eram ambos heróicos cavaleiros; mas o mais velho era mais valoroso que o mais novo. Reinou este mais velho naqueles países, governando os homens com justiça; por isso os habitantes daquele país e reino o estimavam. E o nome dele era rei Schahriar. Quanto a seu irmão mais novo, o seu nome era rei Schahzaman e reinava em Samarcanda.
Mantendo-se este dito estado de coisas, ambos residiam em seus países; e, cada um em seu reino, foram os dois justos governantes de suas greis pelo espaço de vinte anos. E ambos o foram até ao limite do mais dilatado desenvolvimento.
E deste jeito se mantiveram ambos até ao dia em que o mais velho desejou ardentemente visitar o irmão mais novo. Ordenou então ao vizir que se pusesse a caminho e ali lhe trouxesse seu irmão. Ao que lhe respondeu o vizir: «Escuto e obedeço!»
E assim partiu, e com a graça de Alá, chegou em bem: entrou em casa do outro irmão e saudou-o com o saiam. Informou-o de que o rei Schahriar desejava ardentemente vê-lo e que o fim daquela sua viagem tinha como finalidade convidá-lo a visitar seu irmão mais velho. Tendo o rei Schahzaman respondido: «Escuto e obedeço!» Ordenou os preparativos da viagem, mandando que se aprontassem tendas, camelos, machos, servidores e ministros. Elevou depois o seu próprio vizir a governante do país e partiu em demanda das terras do irmão.
Mas ia a noite em meio, lembrou-se de uma coisa que no palácio lhe ficara esquecida e que vinha a ser o presente que destinava a seu irmão. E, voltando atrás, entrou no palácio. E achou a esposa deitada em sua cama, muito abraçada a um preto retinto, seu escravo.
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
As histórias que compõem as Mil e uma noites tem várias origens, incluindo o folclore indiano, persa e árabe. Não existe uma versão definida da obra, uma vez que os antigos manuscritos árabes diferem no número e no conjunto de contos. O que é invariável nas distintas versões é que os contos estão organizados como uma série de histórias em cadeia narrados por Xerazade, esposa do rei Xariar. Este rei, louco por haver sido traído por sua primeira esposa, desposa uma noiva diferente todas as noites, mandando-as matar na manhã seguinte. Xerazade consegue escapar a esse destino contando histórias maravilhosas sobre diversos temas que captam a curiosidade do rei. Ao amanhecer, Xerazade interrompe cada conto para continuá-lo na noite seguinte, o que a mantém viva ao longo de várias noites – as mil e uma do título – ao fim das quais o rei já se arrependeu de seu comportamento e desistiu de executá-la.
(Wikipédia)
Conta-se — mas Alá é mais sábio e justo, mais poderoso e bom — que, quando decorria a antiguidade do tempo e o passado da idade e do momento, havia nas ilhas da índia e da China, um rei dos reis de Sássan. Era senhor de muitos exércitos, ministros, servidores, e numeroso séquito. Tinha dois filhos, um mais velho e outro mais novo. Eram ambos heróicos cavaleiros; mas o mais velho era mais valoroso que o mais novo. Reinou este mais velho naqueles países, governando os homens com justiça; por isso os habitantes daquele país e reino o estimavam. E o nome dele era rei Schahriar. Quanto a seu irmão mais novo, o seu nome era rei Schahzaman e reinava em Samarcanda.
Mantendo-se este dito estado de coisas, ambos residiam em seus países; e, cada um em seu reino, foram os dois justos governantes de suas greis pelo espaço de vinte anos. E ambos o foram até ao limite do mais dilatado desenvolvimento.
E deste jeito se mantiveram ambos até ao dia em que o mais velho desejou ardentemente visitar o irmão mais novo. Ordenou então ao vizir que se pusesse a caminho e ali lhe trouxesse seu irmão. Ao que lhe respondeu o vizir: «Escuto e obedeço!»
E assim partiu, e com a graça de Alá, chegou em bem: entrou em casa do outro irmão e saudou-o com o saiam. Informou-o de que o rei Schahriar desejava ardentemente vê-lo e que o fim daquela sua viagem tinha como finalidade convidá-lo a visitar seu irmão mais velho. Tendo o rei Schahzaman respondido: «Escuto e obedeço!» Ordenou os preparativos da viagem, mandando que se aprontassem tendas, camelos, machos, servidores e ministros. Elevou depois o seu próprio vizir a governante do país e partiu em demanda das terras do irmão.
Mas ia a noite em meio, lembrou-se de uma coisa que no palácio lhe ficara esquecida e que vinha a ser o presente que destinava a seu irmão. E, voltando atrás, entrou no palácio. E achou a esposa deitada em sua cama, muito abraçada a um preto retinto, seu escravo.
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
24 novembro 2013
«The Ball» (a bola) - um filme de Orlando Mesquita (Moçambique)
Como os preservativos podem ser usados de forma alternativa a... fazer balões ou enchê-los de água...
Soluções magnéticas
Deixei-o abrir-me a porta do carro. Foi o primeiro erro. A seguir, aceitei flores que até parecia uma menina educadinha a receber os galanteios de um cavalheiro como no tempo dos meus bisavós.
Estava a vender gato por lebre e porém ainda consegui piorar a má fortuna quando admiti que ele me despisse como quem desembrulha uma relíquia sagrada, sem me mexer um milímetro que fosse e como se ainda não bastasse, em atenção à sua esmerada educação de fornada pasteleira - a dos colégios para meninos queques e copos de leite,claro - nem uma asneirita proferi enquanto os nossos corpos se enroscavam como peças de roupa no tambor de uma máquina de lavar, numa esfrega constante mas apenas com ruído na torcidela final.
A sedução leva-nos pelo caminhos ínvios de não manifestar totalmente a nossa imagem de marca adornando-a com ofertas que aparentam fidelizar o potencial consumidor só que o meu feitio cigano de calcorrear cada dia ardentemente já estrebuchava e atirei fora os paninhos quentes para confessar que estava fodida porque me bastava o tempo profissional para fingir ser quem não era como uma puta e c'um caralho, nas relações pessoais sempre me comportara como um frigorífico: ou o outro sentia uma necessidade magnética de se colar a mim ou caía de vez.
Estava a vender gato por lebre e porém ainda consegui piorar a má fortuna quando admiti que ele me despisse como quem desembrulha uma relíquia sagrada, sem me mexer um milímetro que fosse e como se ainda não bastasse, em atenção à sua esmerada educação de fornada pasteleira - a dos colégios para meninos queques e copos de leite,claro - nem uma asneirita proferi enquanto os nossos corpos se enroscavam como peças de roupa no tambor de uma máquina de lavar, numa esfrega constante mas apenas com ruído na torcidela final.
A sedução leva-nos pelo caminhos ínvios de não manifestar totalmente a nossa imagem de marca adornando-a com ofertas que aparentam fidelizar o potencial consumidor só que o meu feitio cigano de calcorrear cada dia ardentemente já estrebuchava e atirei fora os paninhos quentes para confessar que estava fodida porque me bastava o tempo profissional para fingir ser quem não era como uma puta e c'um caralho, nas relações pessoais sempre me comportara como um frigorífico: ou o outro sentia uma necessidade magnética de se colar a mim ou caía de vez.
23 novembro 2013
«Sentimento de Urgência» - João
"Lembro-me de ter, talvez, uns seis ou sete anos e ver nas telenovelas, na televisão, os beijos na boca – supõe-se que com língua – e pensar para mim que tardava o momento de também eu beijar assim (hoje sei que não desenvolvi da melhor forma esse talento, mas cada um especializa-se numas coisas em detrimento de outras, e o que não faço sentir no beijo, faço sentir em algo diferente). Recordo-me, também, de ser já adolescente e querer, muito, ter relações sexuais. Viria a tê-las numa idade que muitos considerarão tardia, o que fez com que durante alguns anos me sentisse, posso dizê-lo, desesperado. Mas elas vieram, e quando vieram não senti ter perdido nada. Ou antes, dito de outra forma, quando finalmente comecei a ter relações sexuais, não senti saudade de algo que não conhecia, e não lamentei as fodas não dadas antes da primeira. Dediquei-me a viver as fodas que tinha, e nada senti pelas que não tive antes. A vida dar-me-ia muitas fodas doravante. E, em abono do que então senti, posso dizer que desde então já muitas vezes me senti fodido.
Recordo palavras da minha mãe que muito me disse que esta juventude (a minha) queria viver tudo muito depressa. Que descobriam tudo muito depressa e não guardavam nada para depois do casamento. Era a maneira que ela tinha de dizer que se os jovens faziam, em solteiros, tudo quanto podiam, fodendo até partir, o casamento já não traria um objectivo novo senão a junção logística e partilha de aborrecimentos (o que em si mesma é uma visão discutível). Pretendia ensinar-me, de algum modo, que para tudo existe um tempo. Não tive esse talento (e já lá vão dois talentos inexistentes, o do beijo e o da espera).
Quando, passando por um corredor de supermercado, dou por mim a pensar neste sentimento de urgência, de tudo viver não agora mas mesmo ontem, não me alheio. Não projecto isto para outros. Os outros têm este sentimento, e eu também. Também eu tenho pressa. Também eu quero tudo a correr. Tenho medos diversos. Notem: tenho medo de morrer antes de; medo de adoecer antes de; medo de perder algo ou alguém antes de; medo de não ter a oportunidade antes de; medo de já não conseguir aproveitar se. É triste (não?) este sentimento de urgência alimentado pelo medo.
Não me atrevo, naturalmente, a negar que há momentos na vida que merecem que algumas coisas aconteçam. A nossa existência tem alguns compartimentos móveis onde mais facilmente se encaixam alguns dos nossos desejos e necessidades. Mas o sentimento de urgência que nos invade é muitas vezes estranho a esses compartimentos. E quase inexplicável. Insano, a espaços. Consome-nos a ideia de não poder ter já tudo quanto sentimos que nos pode trazer bons momentos. Sabor de felicidade.
E no entanto, talvez não precise ser assim. Nas voltas que a vida (nos) dá, não fechando portas com chaves que se atirem ao rio, talvez consigamos transformar os sentimentos de urgência em algo diferente. Levei muitos anos (à dimensão do meu desejo) até conseguir ter algumas coisas. Quando as tive, a espera como que desapareceu. Na minha mente, os dias de busca e desejo ardente esmoreceram, e todo o meu sentir se dedicou ao que efectivamente estava, já, a acontecer. Portugal aguarda D. Sebastião há séculos. Estou certo de que num qualquer dia de nevoeiro, se ele surgir, a nação esquecerá os séculos de espera, e rejubilará. E é assim que, entre um e outro corredor de supermercado, compreendo que numa vida razoavelmente longa, atirando para trás das costas todos os medos, de coisas que não controlamos e por isso não devem petrificar-nos, desde que em algum momento consigamos aquilo a que nos propomos, não é mais tempo, menos tempo, que verdadeiramente nos rouba o sabor que buscamos."
João
Geografia das Curvas
Recordo palavras da minha mãe que muito me disse que esta juventude (a minha) queria viver tudo muito depressa. Que descobriam tudo muito depressa e não guardavam nada para depois do casamento. Era a maneira que ela tinha de dizer que se os jovens faziam, em solteiros, tudo quanto podiam, fodendo até partir, o casamento já não traria um objectivo novo senão a junção logística e partilha de aborrecimentos (o que em si mesma é uma visão discutível). Pretendia ensinar-me, de algum modo, que para tudo existe um tempo. Não tive esse talento (e já lá vão dois talentos inexistentes, o do beijo e o da espera).
Quando, passando por um corredor de supermercado, dou por mim a pensar neste sentimento de urgência, de tudo viver não agora mas mesmo ontem, não me alheio. Não projecto isto para outros. Os outros têm este sentimento, e eu também. Também eu tenho pressa. Também eu quero tudo a correr. Tenho medos diversos. Notem: tenho medo de morrer antes de; medo de adoecer antes de; medo de perder algo ou alguém antes de; medo de não ter a oportunidade antes de; medo de já não conseguir aproveitar se. É triste (não?) este sentimento de urgência alimentado pelo medo.
Não me atrevo, naturalmente, a negar que há momentos na vida que merecem que algumas coisas aconteçam. A nossa existência tem alguns compartimentos móveis onde mais facilmente se encaixam alguns dos nossos desejos e necessidades. Mas o sentimento de urgência que nos invade é muitas vezes estranho a esses compartimentos. E quase inexplicável. Insano, a espaços. Consome-nos a ideia de não poder ter já tudo quanto sentimos que nos pode trazer bons momentos. Sabor de felicidade.
E no entanto, talvez não precise ser assim. Nas voltas que a vida (nos) dá, não fechando portas com chaves que se atirem ao rio, talvez consigamos transformar os sentimentos de urgência em algo diferente. Levei muitos anos (à dimensão do meu desejo) até conseguir ter algumas coisas. Quando as tive, a espera como que desapareceu. Na minha mente, os dias de busca e desejo ardente esmoreceram, e todo o meu sentir se dedicou ao que efectivamente estava, já, a acontecer. Portugal aguarda D. Sebastião há séculos. Estou certo de que num qualquer dia de nevoeiro, se ele surgir, a nação esquecerá os séculos de espera, e rejubilará. E é assim que, entre um e outro corredor de supermercado, compreendo que numa vida razoavelmente longa, atirando para trás das costas todos os medos, de coisas que não controlamos e por isso não devem petrificar-nos, desde que em algum momento consigamos aquilo a que nos propomos, não é mais tempo, menos tempo, que verdadeiramente nos rouba o sabor que buscamos."
João
Geografia das Curvas
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