24 novembro 2013

Soluções magnéticas


Deixei-o abrir-me a porta do carro. Foi o primeiro erro. A seguir, aceitei flores que até parecia uma menina educadinha a receber os galanteios de um cavalheiro como no tempo dos meus bisavós.

Estava a vender gato por lebre e porém ainda consegui piorar a má fortuna quando admiti que ele me despisse como quem desembrulha uma relíquia sagrada, sem me mexer um milímetro que fosse e como se ainda não bastasse, em atenção à sua esmerada educação de fornada pasteleira - a dos colégios para meninos queques e copos de leite,claro - nem uma asneirita proferi enquanto os nossos corpos se enroscavam como peças de roupa no tambor de uma máquina de lavar, numa esfrega constante mas apenas com ruído na torcidela final.

A sedução leva-nos pelo caminhos ínvios de não manifestar totalmente a nossa imagem de marca adornando-a com ofertas que aparentam fidelizar o potencial consumidor só que o meu feitio cigano de calcorrear cada dia ardentemente já estrebuchava e atirei fora os paninhos quentes para confessar que estava fodida porque me bastava o tempo profissional para fingir ser quem não era como uma puta e c'um caralho, nas relações pessoais sempre me comportara como um frigorífico: ou o outro sentia uma necessidade magnética de se colar a mim ou caía de vez.