"Queres que te fale do que me apetecia agora? Agora mesmo? Era não fazer falta. E de nada precisar. Era poder desligar tudo à minha volta, apenas por um tempo. Curto, que mais que isso é luxo. Mas por um pouco, uns dias, ser como inexistente, gente que ninguém procura nem procura ninguém. Que não precisa comer. Que não precisa beber. De certo modo, como um morto, mas vivo. Poder dizer “fui”, poder dizer “fodei-vos”, ou poder nem dizer nada, apenas ir. Fechar portas. Fechar janelas. Deitar-me e dormir. Agora, agora mesmo, quero deitar-me e dormir. Adormecer num sofá, ou numa cama. Em algum sítio. E acordar mais tarde, devagar, sem relógios, sem tempo a pressionar. Acordar num zigzag entre a realidade ténue e a sonolência. Ter sensações vagas, reconhecer o espaço, saber que estou entre paredes amigas, que os lençóis que me cobrem a nudez são macios, que o colchão que me separa do chão é abraço.
Agora, agora mesmo, era isso. E numa volta na cama, enquanto me espreguiçasse, seria muito natural que te quisesse sentir a pele. Sem a surpresa de ali estares. Só a doçura da tua pele, a textura, o cheiro que é teu. Com calma, com muita calma. Era natural que colocasses a tua mão sobre a minha, quando nos encostássemos. Quando me chegasse a ti, tu sabes, em conchinha. A minha mão era capaz de repousar sobre a tua barriga, ou talvez mesmo tocar-te as mamas, e tu irias até ela, entrelaçarias os teus dedos nos meus, e agitarias o corpo muito suavemente. Aconchegar-te-ias, reduzindo o ar entre os corpos, o espaço vazio entre as nossas epidermes. E era mesmo só isso, agora, agora mesmo."
João
Geografia das Curvas
04 dezembro 2013
«nome» - bagaço amarelo
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
03 dezembro 2013
Cinco aberturas exemplares
"Chamo-me Arlete, sou
psicopedagoga e gosto de levar no cu. Esta é a minha história."
in E tudo das ventas levou
"Hans Mathuäus envernizava a
casota de sua cadela, quando vislumbrou a sua vizinha recém-chegada ao bairro tomando
o sol numa espreguiçadeira e massajando o clítoris enquanto sorvia um Toddy
quentinho. Hans pensou com os seus botões que havia muito tempo não tomava ele
próprio um Toddy quentinho."
in Bem-Hurras
"Estava Cunegundes em pelota
no seu apartamento, quando a campainha soou e recebeu a visita inesperada de
catorze canalizadores senegaleses, sem nada por baixo das jardineiras."
in De costas no castelo
"Escolhe o comprimido
vermelho e num piscar de olhos serás devolvido ao conforto do teu quarto, onde
há pouco quatro anões halterofilistas te seviciavam as partes baixas. Mas opta
pelo azul e Meretrix não te dará descanso até que os tenhas como passas."
in Meretrix
"Este é o conto de uma criança muito especial, que
tinha o dom de foder tudo em que tocava, uma espécie de Midas do orgasmo. O seu
nome era Eduardo."
in Eduardo Mãos de Gaita
«talvez os braços sobre o ventre» - Susana Duarte
talvez os braços sobre o ventre,
ou a serena mansidão da espera intermitente.
escolho os braços,
e deixo de parte a antiguidade dos sonhos.
escolho os braços.
talvez os olhos claros sobre os dedos,
ou a interioridade do ventre
sobre os interstícios dos corpos.
escolho os braços
e a noite clara.
talvez sejas o sonho dissipado na névoa
das manhãs de outrora.
ou a memória viva
da pele
sobre a pele.
escolho os braços,
e deixo de parte a espera.
espreito o dia, como um espreita-marés
que, sobre os flancos, olha as margens
e navega sereno sobre os braços.
antes os braços com que me passeias
sobre o ventre, que os interstícios infindos
de corpos sem flanco.
Susana Duarte
Fotografia de Ivano Cetta, em Lisboa
Blog Terra de Encanto
ou a serena mansidão da espera intermitente.
escolho os braços,
e deixo de parte a antiguidade dos sonhos.
escolho os braços.
talvez os olhos claros sobre os dedos,
ou a interioridade do ventre
sobre os interstícios dos corpos.
escolho os braços
e a noite clara.
talvez sejas o sonho dissipado na névoa
das manhãs de outrora.
ou a memória viva
da pele
sobre a pele.
escolho os braços,
e deixo de parte a espera.
espreito o dia, como um espreita-marés
que, sobre os flancos, olha as margens
e navega sereno sobre os braços.
antes os braços com que me passeias
sobre o ventre, que os interstícios infindos
de corpos sem flanco.
Susana Duarte
Fotografia de Ivano Cetta, em Lisboa
Blog Terra de Encanto
Duas estatuetas em barro vermelho não pintado, em estilo grego
Numa das estatuetas, um homem aproxima-se de uma mulher e mete-lhe a mão por dentro da túnica, enquanto ela passa um braço à volta do pescoço dele.
Na outra, um homem com cálices em ambas as mãos e com o falo erecto.
Provenientes do Chipre, fazem parte da minha colecção.
Na outra, um homem com cálices em ambas as mãos e com o falo erecto.
Provenientes do Chipre, fazem parte da minha colecção.
02 dezembro 2013
«a primeira vez» - bagaço amarelo
O que eu estou a dizer é que é muito mais importante o que nós fazemos com a nossa inteligência do que a nossa inteligência propriamente dita. Um homem que agride constantemente a mulher é estúpido, um homem que controla todos os movimentos da mulher é estúpido, um homem que manda calar a mulher também é estúpido. Por muito inteligente que se ache, claro.
Já sei que me vão dizer que também se passa o inverso. Obrigado, eu sei. Só que também sei que tenho quarenta e dois anos e nunca li no jornal que dezenas de homens foram assassinados pelas suas suas companheiras em Portugal, enquanto sobre mulheres mortas leio constantemente. Este ano foram trinta e três, num país do tamanho de um berlinde.
A violência doméstica não tem solução, se calhar porque a estupidez parece ser uma característica biológica e não cultural. Pelo menos nalguns casos. Por isso é que a coisa tem que passar pela primeira vez. E isto é um pedido que faço a todas as mulheres: a primeira vez que ele vos levantar a mão, a primeira que ele vos ameaçar, a primeira vez que ele fechar a porta de casa e esconder a chave ou a primeira vez que ele vos ofender, a única solução é dizer-lhe adeus.
A estupidez funciona muito melhor quando está sozinha.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Luís Gaspar lê «Como eu não possuo» de Mário de Sá-Carneiro
Olho em volta de mim. Todos possuem -
Um afecto, um sorriso ou um abraço.
Só para mim as ânsias se diluem
E não possuo mesmo quando enlaço.
Roça por mim, em longe, a teoria
Dos espasmos golfados ruivamente;
São êxtases da cor que eu fremiria,
Mas a minh’alma pára e não os sente!
Quero sentir. Não sei… perco-me todo…
Não posso afeiçoar-me nem ser eu:
Falta-me egoísmo pra ascender ao céu,
Falta-me unção pra me afundar no lodo.
Não sou amigo de ninguém. Pra o ser
Forçoso me era antes possuir
Quem eu estimasse – ou homem ou mulher,
E eu não logro nunca possuir!…
Castrado d’alma e sem saber fixar-me,
Tarde a tarde na minha dor me afundo…
- Serei um emigrado doutro mundo
Que nem na minha dor posso encontrar-me?.
Como eu desejo a que ali vai na rua,
Tão ágil, tão agreste, tão de amor…
Como eu quisera emaranhá-la nua,
Bebê-la em espasmos d’harmonia e cor!…
Desejo errado… Se a tivera um dia,
Toda sem véus, a carne estilizada
Sob o meu corpo arfando transbordada,
Nem mesmo assim – ó ânsia! – eu a teria.
Eu vibraria só agonizante
Sobre o seu corpo d’êxtases dourados,
Se fosse aqueles seios transtornados,
Se fosse aquele sexo aglutinante…
De embate ao meu amor todo me ruo,
E vejo-me em destroço até vencendo:
E que eu teria só, sentindo e sendo
Aquilo que estrebucho e não possuo.
Mário de Sá-Carneiro
(Lisboa, 19 de Maio de 1890 — Paris, 26 de Abril de 1916) foi um poeta, contista e ficcionista português, um dos grandes expoentes do modernismo em Portugal e um dos mais reputados membros da Geração d’Orpheu.
Ouçam este poema na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
Um afecto, um sorriso ou um abraço.
Só para mim as ânsias se diluem
E não possuo mesmo quando enlaço.
Roça por mim, em longe, a teoria
Dos espasmos golfados ruivamente;
São êxtases da cor que eu fremiria,
Mas a minh’alma pára e não os sente!
Quero sentir. Não sei… perco-me todo…
Não posso afeiçoar-me nem ser eu:
Falta-me egoísmo pra ascender ao céu,
Falta-me unção pra me afundar no lodo.
Não sou amigo de ninguém. Pra o ser
Forçoso me era antes possuir
Quem eu estimasse – ou homem ou mulher,
E eu não logro nunca possuir!…
Castrado d’alma e sem saber fixar-me,
Tarde a tarde na minha dor me afundo…
- Serei um emigrado doutro mundo
Que nem na minha dor posso encontrar-me?.
Como eu desejo a que ali vai na rua,
Tão ágil, tão agreste, tão de amor…
Como eu quisera emaranhá-la nua,
Bebê-la em espasmos d’harmonia e cor!…
Desejo errado… Se a tivera um dia,
Toda sem véus, a carne estilizada
Sob o meu corpo arfando transbordada,
Nem mesmo assim – ó ânsia! – eu a teria.
Eu vibraria só agonizante
Sobre o seu corpo d’êxtases dourados,
Se fosse aqueles seios transtornados,
Se fosse aquele sexo aglutinante…
De embate ao meu amor todo me ruo,
E vejo-me em destroço até vencendo:
E que eu teria só, sentindo e sendo
Aquilo que estrebucho e não possuo.
Mário de Sá-Carneiro
(Lisboa, 19 de Maio de 1890 — Paris, 26 de Abril de 1916) foi um poeta, contista e ficcionista português, um dos grandes expoentes do modernismo em Portugal e um dos mais reputados membros da Geração d’Orpheu.
Ouçam este poema na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
Homens e mulheres
A MILF natureza os fez de uma forma interessante.
Você me entende, você me completa.
Capinaremos.com
Você me entende, você me completa.
Capinaremos.com
01 dezembro 2013
«Lady Christiny» - curta-metragem Porta-Curtas
Documentário
Director: Alexandre Lino
Elenco: Dona Diva, Kátia Queiroz, Lady Christiny
Duração: 12 minutos
Ano: 2005
País: Brasil
Sinopse: Celso Marques era cantor, casado e pai de dois filhos. Até se apaixonar por um fã. Sua esposa, Célia, aceita e apoia o romance, desde que o rapaz morasse com eles - Célia, Celso e os filhos.
Director: Alexandre Lino
Elenco: Dona Diva, Kátia Queiroz, Lady Christiny
Duração: 12 minutos
Ano: 2005
País: Brasil
Sinopse: Celso Marques era cantor, casado e pai de dois filhos. Até se apaixonar por um fã. Sua esposa, Célia, aceita e apoia o romance, desde que o rapaz morasse com eles - Célia, Celso e os filhos.
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