Figura de Barcelos em barro pintado com apito, em que o músico tem a língua de fora, com a ponta vermelha. Na mão direita leva uma bengala e a mão esquerda segura o falo, fora das calças.
Em Barcelos, fazem parte da tradição do seu artesanato as figuras que recriam bandas filarmónicas, grupos de música e dança. Algumas dessas peças funcionam também como apitos. Há uns anos, comprei numa feira de artesanato esta peça, um elemento de uma banda filarmónica, mas com a língua de fora, só com a ponta vermelha e a pila de fora. Quando perguntei à autora a razão de ser daquela peça fora do comum, ela esclareceu-me: "Depois de fazermos tantas vezes as mesmas peças, às vezes precisamos de fazer algo diferente, para espairecer".
Tal como a peça Tocador de bombo, faz parte da minha colecção.
05 dezembro 2013
04 dezembro 2013
«Agora, agora mesmo» - João
"Queres que te fale do que me apetecia agora? Agora mesmo? Era não fazer falta. E de nada precisar. Era poder desligar tudo à minha volta, apenas por um tempo. Curto, que mais que isso é luxo. Mas por um pouco, uns dias, ser como inexistente, gente que ninguém procura nem procura ninguém. Que não precisa comer. Que não precisa beber. De certo modo, como um morto, mas vivo. Poder dizer “fui”, poder dizer “fodei-vos”, ou poder nem dizer nada, apenas ir. Fechar portas. Fechar janelas. Deitar-me e dormir. Agora, agora mesmo, quero deitar-me e dormir. Adormecer num sofá, ou numa cama. Em algum sítio. E acordar mais tarde, devagar, sem relógios, sem tempo a pressionar. Acordar num zigzag entre a realidade ténue e a sonolência. Ter sensações vagas, reconhecer o espaço, saber que estou entre paredes amigas, que os lençóis que me cobrem a nudez são macios, que o colchão que me separa do chão é abraço.
Agora, agora mesmo, era isso. E numa volta na cama, enquanto me espreguiçasse, seria muito natural que te quisesse sentir a pele. Sem a surpresa de ali estares. Só a doçura da tua pele, a textura, o cheiro que é teu. Com calma, com muita calma. Era natural que colocasses a tua mão sobre a minha, quando nos encostássemos. Quando me chegasse a ti, tu sabes, em conchinha. A minha mão era capaz de repousar sobre a tua barriga, ou talvez mesmo tocar-te as mamas, e tu irias até ela, entrelaçarias os teus dedos nos meus, e agitarias o corpo muito suavemente. Aconchegar-te-ias, reduzindo o ar entre os corpos, o espaço vazio entre as nossas epidermes. E era mesmo só isso, agora, agora mesmo."
João
Geografia das Curvas
Agora, agora mesmo, era isso. E numa volta na cama, enquanto me espreguiçasse, seria muito natural que te quisesse sentir a pele. Sem a surpresa de ali estares. Só a doçura da tua pele, a textura, o cheiro que é teu. Com calma, com muita calma. Era natural que colocasses a tua mão sobre a minha, quando nos encostássemos. Quando me chegasse a ti, tu sabes, em conchinha. A minha mão era capaz de repousar sobre a tua barriga, ou talvez mesmo tocar-te as mamas, e tu irias até ela, entrelaçarias os teus dedos nos meus, e agitarias o corpo muito suavemente. Aconchegar-te-ias, reduzindo o ar entre os corpos, o espaço vazio entre as nossas epidermes. E era mesmo só isso, agora, agora mesmo."
João
Geografia das Curvas
«nome» - bagaço amarelo
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
03 dezembro 2013
Cinco aberturas exemplares
"Chamo-me Arlete, sou
psicopedagoga e gosto de levar no cu. Esta é a minha história."
in E tudo das ventas levou
"Hans Mathuäus envernizava a
casota de sua cadela, quando vislumbrou a sua vizinha recém-chegada ao bairro tomando
o sol numa espreguiçadeira e massajando o clítoris enquanto sorvia um Toddy
quentinho. Hans pensou com os seus botões que havia muito tempo não tomava ele
próprio um Toddy quentinho."
in Bem-Hurras
"Estava Cunegundes em pelota
no seu apartamento, quando a campainha soou e recebeu a visita inesperada de
catorze canalizadores senegaleses, sem nada por baixo das jardineiras."
in De costas no castelo
"Escolhe o comprimido
vermelho e num piscar de olhos serás devolvido ao conforto do teu quarto, onde
há pouco quatro anões halterofilistas te seviciavam as partes baixas. Mas opta
pelo azul e Meretrix não te dará descanso até que os tenhas como passas."
in Meretrix
"Este é o conto de uma criança muito especial, que
tinha o dom de foder tudo em que tocava, uma espécie de Midas do orgasmo. O seu
nome era Eduardo."
in Eduardo Mãos de Gaita
«talvez os braços sobre o ventre» - Susana Duarte
talvez os braços sobre o ventre,
ou a serena mansidão da espera intermitente.
escolho os braços,
e deixo de parte a antiguidade dos sonhos.
escolho os braços.
talvez os olhos claros sobre os dedos,
ou a interioridade do ventre
sobre os interstícios dos corpos.
escolho os braços
e a noite clara.
talvez sejas o sonho dissipado na névoa
das manhãs de outrora.
ou a memória viva
da pele
sobre a pele.
escolho os braços,
e deixo de parte a espera.
espreito o dia, como um espreita-marés
que, sobre os flancos, olha as margens
e navega sereno sobre os braços.
antes os braços com que me passeias
sobre o ventre, que os interstícios infindos
de corpos sem flanco.
Susana Duarte
Fotografia de Ivano Cetta, em Lisboa
Blog Terra de Encanto
ou a serena mansidão da espera intermitente.
escolho os braços,
e deixo de parte a antiguidade dos sonhos.
escolho os braços.
talvez os olhos claros sobre os dedos,
ou a interioridade do ventre
sobre os interstícios dos corpos.
escolho os braços
e a noite clara.
talvez sejas o sonho dissipado na névoa
das manhãs de outrora.
ou a memória viva
da pele
sobre a pele.
escolho os braços,
e deixo de parte a espera.
espreito o dia, como um espreita-marés
que, sobre os flancos, olha as margens
e navega sereno sobre os braços.
antes os braços com que me passeias
sobre o ventre, que os interstícios infindos
de corpos sem flanco.
Susana Duarte
Fotografia de Ivano Cetta, em Lisboa
Blog Terra de Encanto
Duas estatuetas em barro vermelho não pintado, em estilo grego
Numa das estatuetas, um homem aproxima-se de uma mulher e mete-lhe a mão por dentro da túnica, enquanto ela passa um braço à volta do pescoço dele.
Na outra, um homem com cálices em ambas as mãos e com o falo erecto.
Provenientes do Chipre, fazem parte da minha colecção.
Na outra, um homem com cálices em ambas as mãos e com o falo erecto.
Provenientes do Chipre, fazem parte da minha colecção.
02 dezembro 2013
«a primeira vez» - bagaço amarelo
O que eu estou a dizer é que é muito mais importante o que nós fazemos com a nossa inteligência do que a nossa inteligência propriamente dita. Um homem que agride constantemente a mulher é estúpido, um homem que controla todos os movimentos da mulher é estúpido, um homem que manda calar a mulher também é estúpido. Por muito inteligente que se ache, claro.
Já sei que me vão dizer que também se passa o inverso. Obrigado, eu sei. Só que também sei que tenho quarenta e dois anos e nunca li no jornal que dezenas de homens foram assassinados pelas suas suas companheiras em Portugal, enquanto sobre mulheres mortas leio constantemente. Este ano foram trinta e três, num país do tamanho de um berlinde.
A violência doméstica não tem solução, se calhar porque a estupidez parece ser uma característica biológica e não cultural. Pelo menos nalguns casos. Por isso é que a coisa tem que passar pela primeira vez. E isto é um pedido que faço a todas as mulheres: a primeira vez que ele vos levantar a mão, a primeira que ele vos ameaçar, a primeira vez que ele fechar a porta de casa e esconder a chave ou a primeira vez que ele vos ofender, a única solução é dizer-lhe adeus.
A estupidez funciona muito melhor quando está sozinha.
bagaço amarelo
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