24 dezembro 2013
Boas Frestas, são os votos de Triângulo Felpudo
Só para desejar um Feliz Natal a todos os leitores e companheiros de deboche d'A Funda São. Nelo, não te enchas de enrabanadas.
É tradição enviar isto a todos os contactos, sem excepção. Ainda não fui despedido, nem a avó teve uma síncope. Eis um vídeo natalício com mulas, anões e o caralho. Frestas Felizes!
23 dezembro 2013
«conversa 2053» - bagaço amarelo
Ela - Tens uns vasos no meio da tua casa...
Eu - Estou a experimentar uma coisa que vi na internet. Colocas umas velas a aquecer um vaso pequeno, virado ao contrário, com outro vaso maior por cima. Parece que aquece o ambiente...
Ela - E aquece mesmo?
Eu - Aquece, embora ainda não esteja satisfeito com os resultados obtidos.
Ela - Mas porque é que estás a usar velas perfumadas para esta experiência?
Eu - Só tinha essas velas em casa quando me decidi a fazer isso.
Ela - Mas estas velas são caras, sabias?
Eu - Estou-me nas tintas. Não servem para nada. Tenho-as aí há que tempos. Foi alguém que mas deu num aniversário, num Natal, ou coisa parecida...
Ela - Pois foi, eu sei. Fui eu que tas ofereci...
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Luís Gaspar lê «Envelhecer» de Jorge de Sena
I
Nesta claridade silenciosa e pálida os vultos
deslizam como sombras no entanto nítidos e
contornados por um brilho que entontece o
olhar.
Há uma distância incomensurável entre nós. E
dir-se-ia que nenhum gesto é bastante para os
atingir. O tempo se fez distância.
Paralisado em transparência gélida eu não
mudei porém. Pelo contrário é como se
contido o ardor fosse maior.
E doloroso mais. Porque de antigamente o
não-ter e o perder ainda eram certeza de
atingir, senão de amor.
II
De amor eu nunca amei senão desejo visto ou
pressentido. Um corpo. Um rosto. Um gesto. E
nunca de paixão sujei o meu prazer ou o de
alguém. Por isso posso
mesmo as audácias recordar sem culpa.
Tudo o que fiz ou quis que me fizessem o
paguei comigo ou com dinheiro. E só
lamento as vezes que perdi
retido por algum respeito. Errei
por certo — mas foi nisso. O que me dói
não é tristeza de quem dissipou
no puro estéril quanto esperma pôde gastar
assim. O que me mata agora é este frio que
não está em mim.
Jorge de Sena
Jorge Cândido de Sena (Lisboa, 2 de Novembro de 1919 — Santa Barbara, Califórnia, 4 de Junho de 1978) foi poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário português.
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
Nesta claridade silenciosa e pálida os vultos
deslizam como sombras no entanto nítidos e
contornados por um brilho que entontece o
olhar.
Há uma distância incomensurável entre nós. E
dir-se-ia que nenhum gesto é bastante para os
atingir. O tempo se fez distância.
Paralisado em transparência gélida eu não
mudei porém. Pelo contrário é como se
contido o ardor fosse maior.
E doloroso mais. Porque de antigamente o
não-ter e o perder ainda eram certeza de
atingir, senão de amor.
II
De amor eu nunca amei senão desejo visto ou
pressentido. Um corpo. Um rosto. Um gesto. E
nunca de paixão sujei o meu prazer ou o de
alguém. Por isso posso
mesmo as audácias recordar sem culpa.
Tudo o que fiz ou quis que me fizessem o
paguei comigo ou com dinheiro. E só
lamento as vezes que perdi
retido por algum respeito. Errei
por certo — mas foi nisso. O que me dói
não é tristeza de quem dissipou
no puro estéril quanto esperma pôde gastar
assim. O que me mata agora é este frio que
não está em mim.
Jorge de Sena
Jorge Cândido de Sena (Lisboa, 2 de Novembro de 1919 — Santa Barbara, Califórnia, 4 de Junho de 1978) foi poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário português.
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
22 dezembro 2013
Segunda-feira
Acordei tarde para não variar com o corpo a estender o sono até deglutir toda a nicotina nocturna. Saltei para o duche de poucos minutos que nestes dias os segundos andam sempre mais depressa. À minha espera lá tinha a blusa nova de decote em vê com fecho éclair de lado. Enfiei-a e tudo corria bem até puxar o fecho. O danado não subia acima da cintura. Fiz força para baixo, fiz força para cima mas o desgraçado dali não se mexia a fazer pirraça aos ponteiros do relógio. Num repente puxei a blusa para fora e vá de experimentar o fecho que corria na perfeição nos dois sentidos. Voltei a vesti-la e pimba, o gajo parava no mesmo sítio como se fosse ali paragem de autocarro ou lugar cativo de estacionamento. Ao contrário do poema de António Gedeão o que eu não queria ter era um fecho éclair. Expirei fundo, bufei como um gato ameaçado e peguei na patilha com toda a genica a medir forças com aquele energúmeno que me estava a atazanar a manhã. Certamente com pena de mim ele lá condescendeu subir um bocadinho mas por mais que eu teimasse, não ia até ao fim.
Conferi as horas e percebi que não me apetecia ir escolher outra roupa nem sequer procurar combinar as cores das calças com outra blusa e outros sapatos para já não falar da suprema chatice de despejar o conteúdo da mala para arrumar noutra. Pespeguei a mala no ombro do lado do fecho e ala moça que se faz tarde para o local de trabalho onde a primeira colega caridosa que encontrei com as duas mãos em riste o puxou todo para cima e me acabou com o problema.
E é nestas alturas Senhor Doutor que me parece que até pode fazer falta um homem em casa.
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