13 janeiro 2014

«respostas a perguntas inexistentes (263)» - bagaço amarelo

Lembro-me duma árvore com um tronco sólido e sinuoso, dum carro abandonado com os vidros partidos, duma capela com velas a arder e dum bêbedo numa esquina a gritar com quem passava. Era a minha rua, que não tinha princípio nem fim.
Era também o meu estádio de futebol' onde uma bola de futebol vazia se queixava, em frágeis e sofridos sopros, dos pontapés que levava. Lembro-me das balizas feitas com pequenos montes de pedras e de camisolas sujas. Lembro-me das mulheres que vinham à janela chamar os miúdos para o almoço ou para o lanche, algumas delas com rolos na cabeça e lábios pintados de vermelho vivo.
Lembro-me do único café que tinha o único televisor a cores da cidade, onde o meu me levava depois do jantar para beber uma Sumol de laranja, e de fazer uma pequena cidade em cima da mesa com a garrafa, o copo e o porta-guardanapos, para conduzir o meu Morgan Plus em miniatura enquanto não começava o programa dos Marretas.
Lembro-me de revelar à Dora, que vivia do outro lado da rua, um dos mais profundos e misteriosos segredos da vida, e de ela me dar um beijo como recompensa. Fez-me corar, fez-me fugir.

- O Monstro das Bolachas é azul.
- Azul escuro ou azul claro?
- Não sei bem, mas é mesmo muito azul.

Lembro-me de tudo isso nesta outonal tarde, muitos anos depois. Da janela da minha casa vejo agora outro mundo. Uma mulher, que passa as tardes a fumar numa janela cansada, dá para uma rua despovoada. As persianas dos prédios estão quase sempre fechadas, como se quisessem esconder alguma coisa. Penso nos segredos que desapareceram e das ruas que já não têm crianças.
Ainda estou, de vez em quando, com a Dora. Há dias, durante um curto café a seguir ao almoço, perguntei-lhe se se lembrava deste episódio das nossas vidas e ela abanou afirmativamente a cabeça. Deu-me um beijo igual ao de há trinta anos atrás, um beijo roubado e rápido. Fez-me corar, mas não me fez fugir. Fiquei a ver aquela cidade caótica em cima da mesa onde se amontoavam duas chávenas, um pacote de açúcar por abrir, um copo de água e um porta-guardanapos. Revelou-me outro segredo.

- Tenha saudades tuas.
- Saudades escuras ou saudades claras?
- Não sei, mas mesmo muitas saudades.

Eu também. Talvez o Amor seja isso mesmo, ter saudades de quem está ao nosso lado.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Está muito frio

Frio é psicológico :S



Dizem que esses caras bombadinhos de academia também sentem “muito frio”

Capinaremos.com

12 janeiro 2014

Dança erótica - o elemento Água


Erotic Dance - The Water Elemental from Erotic Dance on Vimeo.

À gato



Senhor Doutor,
Tal como me recomendou, caso eu passasse estes dias fora, cá estou eu a escrever-lhe um email para o pôr a par dos acontecimentos.

Quando chegámos, eu estava a morrer de calor e de sede. Pedi-lhe que me indicasse a cozinha para poder beber água. Com aquele meu hábito de gato, abri a torneira, inclinei-me sobre o lava-louças e com a mão em concha, sorvia-a avidamente. Senti que me abraçava pela cintura e a descarga eléctrica de tal toque, fez-me baixar mais a boca sobre a água para em contrapeso, me levantar mais os glúteos. As mãos dele escorregaram pela minha saia esvoaçante e conduziram as minhas a voltar-me para um frente a frente. Penetrei aqueles olhos de avelã pela boca, num abraço que misturava indiscriminadamente cabelos, orelhas, pescoço, braços e nádegas. Ele soergueu-me as mãos para me retirar a blusa. Respondi desabotoando cada botão da sua camisa, enquanto ele se debatia com o fecho do meu sutiã, e sugeri ronronante que deixasse ficar a gravata. Num riso cúmplice, puxei o cinto para o chão e descobri o seu entusiasmo no meio de uns confortáveis slipes pretos. Colei as minhas costelas e coluna ao seu peito, dançando com as ancas e agarrei o lava-louças com ambas as mãos para, de mansinho, com a saia a cobrir-me o frio das costas, sentir que em mim desaguava a sua nascente, ora em calmas passagens, ora em bruscos sobressaltos.

Posso assegurar-lhe Senhor Doutor que a falta de vizinhança descansou-me quando vagi silabadamente Manuel João, antecipando a comemoração do Dia da Árvore e, de efeméride em efeméride, adiantámos o próximo Dia da Água toando um banho de imersão cheio de espuma, para poupar água.

Postalinho escultórico de Sesimbra

"Escultura de... coisos, no final da marginal de Sesimbra, em frente ao mar."
Paulo M.


11 janeiro 2014

Publicidade a... pasta dos dentes?!

Philosophia da Ponta

Diógenes de Sinope mandando Alexandre, o Grande para o caralho.

«Costumava (Diógenes de Sinope) masturbar-se em público e ponderava: "Seria óptimo se pudéssemos aplacar a fome esfregando o estômago.

in Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres, Diógenes Laertios

Uma frase de Erica Fontes que faz pensar

O livro «De corpo e alma», de Erica Fontes, é o 1.762º (sim, sim, milésimo setecentésimo sexagésimo segundo) livro da minha colecção. E, desta autobiografia desta actriz portuguesa de filmes porno, realço uma frase da página 208:

"Há actores que dizem, por graça,
que há mais respeito pelos outros
na pornografia do que na religião."

Saiu o nº 4 (Dezembro 2013) da revista Erotika

(crica na imagem para acederes à revista online)

10 janeiro 2014

Skank - «Garota Nacional»

"Eu quero te provar
Sem medo e sem amor
Eu quero te provar"

A funda São mora na filosofia [I]


E eis que inauguramos as Crónicas Erofilosofódicas com uma questão ética, muy clássica, que se pode resumir numa pergunta: os fins justificam os meios?

Os Bombeiros Sapadores de Setúbal resolveram despir-se (mas só o tronco, vá) para criar um calendário muito especial para 2014. Tão especial que tem doze bombeiros muito bem parecidos, tonificados e visivelmente em sapador esforço e além disso ainda tem os doze meses do ano, com os dias da semana e afins. Trata-se, pois, de um calendário muito útil, que nos pode orientar em cada dia do ano, com uma sapadora precisão e sem corrermos o risco de nos distrairmos e perdermos o norte. Isto é serviço público, todos concordamos, certo?

Consta que para além de um corpo tonificado, estes bombeiros têm bom coração e quiseram que o lucro da venda dos calendários revertesse a favor de uma instituição. Pensaram na CARITAS. Consta que esta instituição negou o apoio financeiro. A questão que se coloca é: o que justifica a recusa?

Podemos pensar em vários cenários, podemos levantar hipóteses (e isto porque, de acordo com as fotografias, as mangueiras já estão erguidas). Por exemplo: o calendário tem carácter erótico e a Caritas tem carácter religioso, coisas que para muitos são opostas e que não se encontram nem no infinito. Outra hipótese: os valores defendidos pelos Pukaninos Bombeiros vão DE encontro aos valores da Caritas. Analisemos esta questão. Pode ler-se na página da Caritas que os seus valores são:

Caridade e Justiça Social
Compaixão
Espiritualidade

Gratuidade

Opção preferencial pelos mais pobres

Partilha
Subsidiariedade
Universalidade


Peguemos no gesto dos Bombeiros (ai oh pah!) e vamos verificar se estes valores se verificam. Ao querer ofertar o lucro da venda de um calendário-cheio-de-bombeiros-giros-e-de-tronco-nu à Caritas, os Pukaninos procuraram praticar:

- a caridade e justiça social, permitindo que o valor entregue em dinheiro seja usado para apoiar as acções da instituição;
- a compaixão, pelas mulheres (e pelos gays que connosco partilham o fraquinho pelo sexo masculino) que há muito se queixavam da falta de oferta de calendários deste tipo;
- a espiritualidade, pois a contemplação do belo aproxima-nos mais do(s) deus(es);
- a gratuidade, pois a oferta dos Bombeiros era de coração e não esperavam nada em troca (sobretudo um não!);
- a opção preferencial pelos mais pobres reflecte-se na escolha da instituição. não pensavam eles que iriam encontrar pobres de espírito;
- a partilha, porque ele há coisa mai'boa do que partilhar o fruto de tanto trabalho no ginásio, de dedicação à vida de bombeiro e assim? *suspiros*;
- a subsidiariedade é uma palavra muito bonita e comprida, tal como as mangueiras;
- a universalidade do belo, espelhada nas fotografias.

Perante isto, estamos já em condições de responder «os fins justificam os meios»? A resposta é claramente um SIM, desde que esses meios estejam tonificados, transpirados e sejam acompanhados de um sorriso bonito e de bons corações, como os dos Bombeiros Sapadores de Setúbal.

A exibicionista



HenriCartoon

Entro em ti

A novidade provoca excitação e ansiedade. A vontade cresce em cada momento. Motivando a exploração do sentimento. Este floresce sem qualquer consentimento. E quando tomamos conhecimento, tarda o encontro. Tarda o momento. Em que entro em ti, por não mais caber em mim de tanto contentamento. E neste movimento, em que me atiro para dentro, saio de mim e entro em ti, nem que seja por pouco tempo...