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09 janeiro 2018

a funda são mora na filosofia [X]



é uma vergonha, mas a verdade é que já passaram uns anos desde a última vez que escrevi aqui, neste cantinho. é uma vergonha pois a m'na Sãozita faz parte da minha vida, enquanto 'ssoa que bloga. 
vou redimir-me de tamanha ausência recuperando a ideia destas crónicas erofilosofódicas. 

hoje não tenho muito a dizer; estou ainda a recuperar da entrada no novo ano e a contemplar o mês de janeiro (cof cof cof). tem bom ar, não tem? um mês assim, novinho, tonificado, hidratado e sorridente, pronto para usarmos e abusarmos dele.

bom ano e essas merdas, sim? 

21 janeiro 2015

a funda são mora na filosofia [IX]


uma colega do ensino, que trabalha na área da filosofia para crianças - tal como eu - desabafou o seguinte:

Um aluno do 4º ano declarou que o amor se pode comprar e conquistar.

tendo rematado com a seguinte observação:

Interessante como tão pequenos conseguem transportar toneladas de machismo

a minha pergunta foi: mas por que dizes que isso é machismo? e se tivesse sido uma aluna a dizer isso também a rotulavas de machista?

a resposta foi evasiva: eles reproduzem os valores nos quais foram educados.

e isto é grave - quando digo grave refiro-me ao facto de alguém que está na área da filosofia ter rotulado aqueles comportamentos com a etiqueta "machismo" sem verificar o que é que a criança quer dizer com aquela observação. será que só conhece uma realidade em que o amor se possa comprar? e o que é conquistar o amor - também acontece pelo dinheiro ou há outras formas?

faz parte do papel de quem está no terreno educar para a diferença, sem juízos prévios. primeiro investigamos e depois podemos dar um nome - sem o peso negativo do rótulo. será que aquelas crianças sabem, têm consciência do que é ser machista? conhecem a palavra? e do feminismo, ouviram falar? e será que, na sala de aula, há meninos que têm uma experiência diferente do que é o amor, do que é conquistar alguém?

para comunicar são precisos dois - é o mínimo. dois que queiram ouvir, perguntar, partilhar. os rótulos usam-se nos frascos, sim? não nas 'ssoas humanas.

14 janeiro 2015

a funda são mora na filosofia [VIII]


fotografia retirada DAQUI


o drama, o horror, a tragédia. a pequena Shiloh Jolie-Pitt gosta de se vestir "à rapaz" e - pasmem-se as alminhas - os pais permitem e apoiam a escolha da sua filha.


a filha do mediático casal só é notícia pelo facto de ser... filha do mediático casal. outros casos há de meninas que querem ser meninos e vice-versa que não aparecem nas colunas do DN nem são tópico de discussão em fóruns da internet. 

conheço uma menina, chamemos-lhe Vanessa, que tem quase 9 anos e que me foi apresentada como "a menina que quer ser um menino". anda sempre de calções ou calças e os seus melhores amigos são os outros rapazes com quem joga à bola e brinca. as suas colegas sabem que ela não gosta de usar laçarotes nem coisas cor de rosa. já se apaixonou por uma colega e a turma inteira lidou com isso de forma natural: a Vanessa gostava muito de uma rapariga, mas perceberam que só podem ser amigas. 

crianças de 8, 9 anos a revelar uma maturidade de calibre "jolie-pitt". disponíveis para aceitar, para compreender e lidar com a diferença.

esta notícia sobre a Shiloh e a história de vida da Vanessa fazem-nos questionar várias coisas: 
o que é isso de vestir à rapaz? 
há cortes de cabelo femininos e masculinos?
onde é que termina o feminino e começa o masculino?
como é que podemos agir na educação para que crianças como a Vanessa possam (con)viver a sua diferença, naturalmente?

há dias, estava a ajudar o meu afilhado, Bernardo, de 9 anos a fazer os trabalhos de estudo do meio. eu, que sou gaja que só veste preto e anda de doc martens com biqueira de aço, fui ao meu carro (btw, que é violeta) buscar o kit S.O.S. de professora. fita cola? cor de rosa. canetas de feltro? cor de rosa. "eu não quero essa fita cola, é cor de rosa", dizia-me o Bernardo. "é a única que tenho e precisas dela para terminar o trabalho, Bernardo. qual é o problema?" 

e eu que já estava à espera do discurso "isso é de menina e eu sou rapaz", preparava-me para debitar a cassete do "mas será que só coisas que são só de menino e bla bla" quando oiço da boca do Bernardo uma observação simples e honesta:

"Joana, eu não gosto de cor de rosa".

ainda assim, o Bernardo terminou o trabalho com a tal fita cola. não havia mesmo outra! e eu respeitei o facto dele ser um menino e não gostar de cor de rosa - insistir no contrário é ser tão ditadora como aqueles que acham que a menina Shiloh deveria usar saias e sabrinas - quando ela não gosta de o fazer. 


07 janeiro 2015

a funda são mora na filosofia [VII]



Nota prévia: não sou feminista. E se me encontrarem num daqueles dias em que estou integralmente vestida de preto e com botas de biqueira de aço facilmente vos digo que não sou gótica. Assim como digo aos meus alunos do 1º ciclo: eu não sou professora. Sou Joana, Joana Rita – foram estes os nomes escolhidos pela minha mãe e pelo meu irmão para me registarem.

O motivo para nunca ter abraçado o feminismo relaciona-se com o facto de considerar que as mulheres são diferentes dos homens – e de me regozijar com essa diferença. Diferença que deve ser, a meu ver, preservada pela eternidade fora. O mais fantástico disto tudo é que – espantem-se! – há mulheres muito diferentes entre si; ainda que tenham em comum o facto de terem trompa de falópio e seios, há muito que as diferencia. Umas gostam de usar batom vermelho, outras preferem nunca se maquilhar. Há mulheres que escolhem ser mães e ficam em casa, outras nem querem ouvir falar em ter filhos. E os homens? Conheço homens que têm mais produtos de beleza no armário do wc do que eu; outros nem sequer usam um hidratante quando fazem uma tatuagem por receio de perderem a masculinidade.

A sociedade passou anos e anos e anos a tentar normalizar tudo para que fosse mais fácil, não sei, existir? Sim, dá-nos jeito que haja tamanhos de roupa normalizados – mas todos sabemos como um fato à medida é que nos enche... as medidas! E o gosto! Tudo foi normalizado, codificado, categorizado, arrumado em gavetas, etiquetado. De vez em quando a natureza prega-nos partidas e quebra essa normalidade. Mais um exemplo: as doenças raras, com sintomas díspares de pessoa para pessoa e que tornam difícil de “etiquetar” e de investigar. Outro exemplo da saúde: confrontada com um problema que provoca a produção de insulina em excesso, o endocrinologista diz “sabe como é, não há assim tanta gente com este problema que justifique investigar e arranjar soluções. Aprenda a viver com isto.”

Resultado: vive-se uma espécie de ditadura da igualdade perante a qual dizer: “desculpe, mas eu acho que somos mesmo todos diferentes” é sinónimo de dizer “eu sou a favor da desigualdade”. E não é.

Defender a diferença é fundamental para mantermos a riqueza daquilo que nos torna seres humanos, cada um de nós único e irrepetível.

Calma, calma. Não ignoro que as mulheres tenham sido – e sejam ainda – discriminadas em várias áreas da sociedade, só pelo facto de serem mulheres. O rótulo “mulher” revelou-se um obstáculo para que muitas pessoas (humanas) pudessem ascender a cargos de direcção ou gestão, por exemplo. O que sinto é que ser mulher também não pode ser uma garantia de qualidade para o que quer que seja – e o contrário para os homens.

Quando leio sobre aquilo que se faz em nome do feminismo, gosto de pensar que estas batalhas que se travam têm um alcance maior: a defesa dos direitos das pessoas humanas (sim, esta é uma expressão que eu uso amiúde e com convicção). Contem comigo.

22 abril 2014

a funda são mora na filosofia [VI]



O poliamor. Todo um sururu nas redes sociais em torno da reportagem da SIC Notícias. Muito se escreveu sobre isto. Em vários canais de comunicação. Usam-se termos como mononormalidade, paternalista, sexista, feminista, activista. Fala-se de amor e destila-se ódio. Another day in Paradise, certo?

Confesso que não apreciei o tom da reportagem: aquela cena de braços abertos à beira Tejo e as tentações de Santo Antão a servir de pano de fundo são profundamente discutíveis. Esqueçamos a forma e dediquemo-nos ao conteúdo.

O próprio conceito de poliamor também é discutível - para quem mora na Filosofia, tudo pode ser a base de uma boa troca de conversa e de argumentos. Há algum tempo que me pergunto - e pergunto aos outros - se a monogamia não será um mito. Se não será, antes de mais, uma convenção social, como aquela coisa de termos todos que ir para a faculdade, comprar um carro, a casa - depois arranjar um homem simpático para casar e ter filhos para garantir que o nome da família se perpetua. E esta é uma pergunta abstracta, mas baseada em estórias de vida: pessoas que assumem uma relação socialmente e depois têm outra(s) às escondidas, pessoas que gostam de ter vários parceiros sexuais - e desconhecem o significado da palavra namorado. Pessoas que simplesmente assumem uma perspectiva de vida que vai AO encontro daquilo que sentem. E, como diria um amigo, eu respeito isso.

Respeito sobretudo se falarmos de uma relação poliamorosa, cuja base é o consentimento informado de todas as partes. O discurso dos poliamorosos da reportagem pareceu-me muito seguro e inteligível. Se gostei de os ver aos beijos no metro? Já tenho visto coisas no metro que são mais chocantes: pessoas que não usam desodorizante há pelos menos 2 dias, gente que quer entrar na carruagem sem deixar que os outros dela saiam... isso sim, é chocante.

E lembrem-se: quando estamos apaixonados, sentimos borboletas na barriga. BorboletaS. No plural. Mais do que uma.

Vejam a entrevista AQUI. E leiam cenas ALI e ACOLI.  Reflictam e partilhem os vossos pensamentos na caixa de comentários.

11 março 2014

a funda são mora na filosofia [V]



Social media managers deste mundo, exmos heads (ou feet) of community fa-nha-nha e afins:

sabeis tão bem quanto eu qual é a palavra da moda. No fundo, até há mais do que uma. Mas aquela que mais tem soado aos meus ouvidos é mesmo "engajamento".  O que as empresas pedem aos social manager e heads of community é que criem conteúdos impactantes para provocar o engajamento. Há dias, num daqueles encontros muito contemporâneos-de-agora, de mulheres empreendedoras, lia-se num dos slides "bla bla bla engaging men". Como assim? Queremos ficar noivas dos homens? Então e as pessoas humanas de índole lesbiana?

Parece-nos que o que se pretende é engajar. A palavra não é, de todo, bonita. E se há coisa que soa mal é dizer: «oiça, temos que engajar com o cliente» - sobretudo quando isso  prevê a criação dos tais conteúdos impactantes. O que todos queremos, no fundo - e n'a funda - é vender e ter lucro e tal e tal - é isso que as empresas e as marcas procuram com o tal do engajamento. E o desgraçado do social media manager - ou afins - tem que impactar conteúdos que atinjam o potencial cliente "na muje" (como diria o povo). Tudo isto me parece demasiado agressivo, confesso. No final de contas, o engajamento é uma coisa que nos deixa com os olhos negros, tal não é o impacto do conteúdo nas nossas fuças.

O engajamento deixa de ser o engagement, com direito a anel e tudo, com pedido de casamento num sítio romântico (Paris ou Roma, por exemplo), para passar a ser uma cena que envolve interesse, dinheiro e uma estratégia de Lobo Mau: "eu vou-te comer, Capuchinho"! 

A minha relação com a palavra piorou no momento em que, numa apresentação oral, um futuro social-media-head-whatever falava dos tais conteúdos estratégicos para as marcas, perdão, brands, e terminava todas as frases com "e coise". E coise? E tal?

Saí da aula capaz de iniciar um movimento pela recuperação da dignidade da palavra engajamento: reduzi-la a um coise impactante parece-me muito... er, como dizer... fonhonhó?




14 fevereiro 2014

a funda são mora na filosofia [IV]

Time Out Lisboa - 05 de Fevereiro de 2014

It takes two to tango, costuma dizer-se. e nunca ninguém especificou se esses dois têm que ser homem e mulher, pois não? Mas a sociedade - essa amálgama irreconhecível de pessoas humanas e não humanas - lá convencionou que é homem com mulher; numas danças, podem dançar junto, noutras nem por isso. e normalmente é o homem quem conduz.
Isto é coisa para fazer com que as mais feministas das feministas (aquelas que quase usam bigode, vá) se insurjam, porque a mulher não pode simplesmente ser "comandada" pelo homem. e ouvir, nas aulas, coisas como

«se o homem não der o comando, a senhora não faz nada»
«senhoras, só têm que obedecer ao comando»
«o homem é que manda»

Por esse motivo - e talvez por tantos outros - nasceu uma nova corrente de dança, designada de queer. Quanto a mim, a coisa só começa mal pelo nome em si. Kizomba Queer, Tango Queer - quando no fundo o que se faz aqui - mais do que promover as danças entre "os homens sexuais e as mulheres sexuais" [desculpem, mas ouvi uma senhora de idade a referir-se assim aos gays e achei delicioso - sobretudo porque a senhora defendia com unhas e dentes a possibilidade da co-adopção entre casais do mesmo sexo e afins]; mas dizia eu, mais do que promover as danças entre gays, promove a abolição do estatuto convencional do homem e da mulher, na dança. E isto, diria Thomas Kuhn [não se esqueçam que estas crónicas (também) são filosóficas] é uma mudança de paradigma relevante.

O homem já não tem que suportar a tarefa de comandar a dança, imaginar os passos, decorar a coreografia, também poderá ser conduzido e deixar-se levar. E a mulher pode praticar o inverso.

Além disso, praticamos imenso a lateralidade e a coordenação motora. JURO. Palavra de quem anda a aprender a dançar kizomba [hey, nada de piadas que envolvam tarraxinha filosófica]!

Sim, senhoras e senhores, sabem aqueles «blá blá blá» sobre o hemisfério direito e o esquerdo? De como se devem treinar um e outro? Estas coisas podem ser levadas a sério e a fundo [a funda!] através da prática da dança, por exemplo.

Um dia chegamos lá. Se ainda há dias encontrei um rapaz, bem giro, a dançar na discoteca, de cadeira de rodas... reparem, se ele consegue dançar, também as pessoas (humanas e sem cadeiras de rodas) poderão aceitar esta inversão de papéis, sem preconceitos. Quanto a mim, era só mudar o nome da coisa - para evitar que se pense que este tango é só para gays. Nós, os hétero, também temos direito, 'tá!!!

24 janeiro 2014

a funda são mora na filosofia [III]




Circulou há dias um vídeo, um TED, com uma speaker de seu nome Lizzie Velasquez, considerada por muitos como "a mulher mais feia do mundo" (a maioria das entradas do google com o seu nome referem este facto; mas a Lizzie está tão a borrifar-se para isto…). Nesse vídeo podemos ouvir a sua história de vida: portadora de uma doença rara que não lhe permite ganhar peso (INVEJA!), lutou desde o primeiro dia de vida contra os preconceitos - até dos médicos que a ajudaram a nascer - e por uma vida digna. Para além da doença rara, teve a sorte de ter uns pais ainda mais raros que nunca baixaram os braços  e a amaram incondicionalmente.

Num outro registo de vídeo, também num TED, Maysoon Zayid, outra mulher rara, com uma paralisia fruto de um parto mal assistido, conta-nos como foi a sua vida, também ela de luta contra o preconceito dos médicos que, à partida, lhe eliminavam do horizonte de vida a possibilidade de andar, de ir à escola… de fazer tudo aquilo que nós gostamos de fazer.

Duas mulheres, raras.

Digam a verdade: estas mulheres dificilmente seriam tidas pelos nossos leitores como objectos de desejo, como mulheres atraentes - mas se e só se elas ficarem imóveis e coladas ao chão, sem abrir a boca. Se a sua imagem, por si, não causa arrebatamento… esperem até as ouvir falar. Esperem até à sua energia ser traduzida por palavras, carregadas de emoções, de estórias vividas na primeira pessoa, que nos fazem rir, que nos fazem chorar. E sentir uma beleza que, diria Saint Exupéry, é essencial e invisível aos olhos.

Numa era em que a imagem é (quase) tudo para todos (confessem… quantos filtros tem a vossa fotografia de perfil do facebook? thank god for instagram!) há que tirar o chapéu a mulheres como Lizzie e Maysoon que se assumem tal como são, ultrapassando preconceitos e arregaçando as mangas para xurdir (entenda-se, fazer pela vida). A sua vida é, diria Leibniz, a melhor das vidas possível.

Quanto a nós, resta-nos desejar ter, um dia, metade da coragem (sim, estas miúdas têm os ditos cujos no sítio, oh se têm), para enfrentar o mundo.

They are the beauty… e quem disser o contrário, esses são the beasts!

17 janeiro 2014

A funda São mora na filosofia [II]



Tenho ali numa estante um livro que se chama Os Filósofos e as Paixões, e que faz um percurso histórico sobre a forma como a paixão é encarada pelos vários filósofos, em diferentes contextos. É um livro necessário - até porque há uma espécie de regra implícita de que o filósofo tem que ser racional, frio, calculista - ok, talvez o Kant nos tenha dado um bocadinho de má fama. Ou então é angustiado até à 5ª casa - Schopenhauer, you did it again! O facto é que, bem vistas as coisas, a palavra filosofia contém amor/amizade (philia), sendo esses sentimentos projectados (de forma não violenta, vá!) face à sofia (à sabedoria).

Parece fácil concluir que a filosofia é uma actividade que encerra alguma promiscuidade em si mesma: somos todos amantes (diria amigos coloridos) da sabedoria e queremos muito, mas muito praticar o amor com ela. Sim, praticar. Experimentar. Ir para lá do amor platónico. Somos muitos a dormir com a sofia (a sabedoria, entenda-se), o que faz de mim lésbica (OMG, e agora? vou já escrever para a Hora do Sexo, e expor a situação ao Dr. Quintino!) e de tantos de vós gays. E felizes, que isto do saber está estreitamente relacionado com o sabor e o saborear (psshht onde é que essa mente perversa já ia? venha cá sachavore).

Tenho uma pessoa amiga que está a passar por uma relação à qual não consegue dar um nome. Não sabe "o que é aquilo". Para os filósofos, isto é um problema, pois gostamos de trabalhar com conceitos, definir o seu significado, para depois problematizar e aprofundar o mesmo. Assim sendo, resolvi ajudar a pessoa amiga. Perguntei-lhe algumas coisas, usando palavras como "namorado", "amigo colorido". Nada do que ela dizia sobre essa relação coincidia com esses conceitos.

"Não sei se estás preparada para isto" - disse-lhe, do alto da minha sapiência (NOT) - "mas o que tu tens é uma cena, com o rapaz." Nem é carne, nem é peixe - nem seitan ou tofu. É uma cena. Descansa, isso não é um problema de saúde pública (nem a virgindade aos 26 anos, sim, Dr. Q?). Tantas vezes vivemos e experimentamos coisas que não sabemos exactamente o que são (por exemplo, o tofu é um mistério para muitos) e ninguém morre por causa disso. Morre-se, sim, quando se recusa viver essas cenas, que nos dão alento (filosófico e não só). Quando se pressiona, demasiadas vezes, o cursor que nos faz recuar.

Talvez haja uma forma mais filosofódica de dizer isto. Ora bem. 'Xa cá ver:

Foda-se. Amai-vos uns aos outros, caralho!

10 janeiro 2014

A funda São mora na filosofia [I]


E eis que inauguramos as Crónicas Erofilosofódicas com uma questão ética, muy clássica, que se pode resumir numa pergunta: os fins justificam os meios?

Os Bombeiros Sapadores de Setúbal resolveram despir-se (mas só o tronco, vá) para criar um calendário muito especial para 2014. Tão especial que tem doze bombeiros muito bem parecidos, tonificados e visivelmente em sapador esforço e além disso ainda tem os doze meses do ano, com os dias da semana e afins. Trata-se, pois, de um calendário muito útil, que nos pode orientar em cada dia do ano, com uma sapadora precisão e sem corrermos o risco de nos distrairmos e perdermos o norte. Isto é serviço público, todos concordamos, certo?

Consta que para além de um corpo tonificado, estes bombeiros têm bom coração e quiseram que o lucro da venda dos calendários revertesse a favor de uma instituição. Pensaram na CARITAS. Consta que esta instituição negou o apoio financeiro. A questão que se coloca é: o que justifica a recusa?

Podemos pensar em vários cenários, podemos levantar hipóteses (e isto porque, de acordo com as fotografias, as mangueiras já estão erguidas). Por exemplo: o calendário tem carácter erótico e a Caritas tem carácter religioso, coisas que para muitos são opostas e que não se encontram nem no infinito. Outra hipótese: os valores defendidos pelos Pukaninos Bombeiros vão DE encontro aos valores da Caritas. Analisemos esta questão. Pode ler-se na página da Caritas que os seus valores são:

Caridade e Justiça Social
Compaixão
Espiritualidade

Gratuidade

Opção preferencial pelos mais pobres

Partilha
Subsidiariedade
Universalidade


Peguemos no gesto dos Bombeiros (ai oh pah!) e vamos verificar se estes valores se verificam. Ao querer ofertar o lucro da venda de um calendário-cheio-de-bombeiros-giros-e-de-tronco-nu à Caritas, os Pukaninos procuraram praticar:

- a caridade e justiça social, permitindo que o valor entregue em dinheiro seja usado para apoiar as acções da instituição;
- a compaixão, pelas mulheres (e pelos gays que connosco partilham o fraquinho pelo sexo masculino) que há muito se queixavam da falta de oferta de calendários deste tipo;
- a espiritualidade, pois a contemplação do belo aproxima-nos mais do(s) deus(es);
- a gratuidade, pois a oferta dos Bombeiros era de coração e não esperavam nada em troca (sobretudo um não!);
- a opção preferencial pelos mais pobres reflecte-se na escolha da instituição. não pensavam eles que iriam encontrar pobres de espírito;
- a partilha, porque ele há coisa mai'boa do que partilhar o fruto de tanto trabalho no ginásio, de dedicação à vida de bombeiro e assim? *suspiros*;
- a subsidiariedade é uma palavra muito bonita e comprida, tal como as mangueiras;
- a universalidade do belo, espelhada nas fotografias.

Perante isto, estamos já em condições de responder «os fins justificam os meios»? A resposta é claramente um SIM, desde que esses meios estejam tonificados, transpirados e sejam acompanhados de um sorriso bonito e de bons corações, como os dos Bombeiros Sapadores de Setúbal.