Lovis Corinth (1858–1925) – «José e a mulher de Putífar», segunda versão, 1914 - óleo sobre tela - 77 × 62 cm. Krefeld, Kaiser-Wilhelm-Museum
10 abril 2014
Lovis Corinth 10
Lovis Corinth (1858–1925) – «José e a mulher de Putífar», segunda versão, 1914 - óleo sobre tela - 77 × 62 cm. Krefeld, Kaiser-Wilhelm-Museum
09 abril 2014
«Sabes sempre tão bem» - João
"Noite. Tinha-se abatido sobre nós, e sobre todos, há já largos minutos. E frio. Na cidade encontrámo-nos nós, junto a portentosas fachadas, e tu da forma que eu gosto. Seria escusado descrevê-lo. Na verdade, é mesmo escusado, porque sabias sempre, como sempre sabes, o que gosto de ver no corpo de uma mulher. Desta feita, com tudo no sítio, a lingerie completa sem peças em falta. Tu sabias porquê, e eu também. Na fusão com o barulho ambiente questionei, depois de te olhar, tens o remoto?, e tu tinhas. Com um trejeito da boca, de certo modo trocista, lançaste a mão à mala e dela tiraste um pequeno objecto. Sorrimos.
Na longa mesa, de alva toalha, sentaste-te tu. E eu por perto, na tua diagonal. No meu bolso o pequeno controlo remoto. E melhor que isso, na tua cona o pequeno vibrador. Bem seguro, encaixado no teu calor e devidamente travado pela tua lingerie. Sentada nada havia a temer. Mas ainda havias de levantar-te e caminhar. Talvez de pernas bambas. Se conseguisses. Apanhei-te muitas vezes distraída enquanto procuravas manter uma conversa coerente com os demais convivas. Alguns terão achado que a sua conversa era a mais interessante do mundo, porque tinhas momentos de sorrir, mas também outros em que os talheres que tentavas manusear se cruzavam com estrépito, ou massacravam a comida, como se fosse ela a culpada de eu pressionar, de quando em vez e sem aviso, os botões que te faziam vibrar. Por mais que uma vez, olhei-te provocador e a seguir deste pequenos saltos na cadeira. Por mais que uma vez, senti a mesa tremer, quando os teus pés descalços (tiveras a prudência de deixar os saltos perto, mas desligados do teu corpo) lhe batiam. Imaginei-te a querer sair dali, desesperadamente. Os nossos olhares foram muitas vezes assim. Vamos embora daqui, por favor. Depressa. Quero ir embora contigo. Já. E eu de remoto na mão, e tu de vibrador na cona.
E a tua tortura não era maior que a minha. Era diferente. Eras tu no precipício do orgasmo, e eu a ler-te todos os movimentos, a tentar fazer-te caminhar entre a segurança e a queda, e torturado de tesão, de quem só queria arrebatar-te dali para fora e consumir-te num corpo agarrado com fome e roupas rasgadas. E quando dali finalmente nos subtraímos, preparámo-nos para fechar a noite, subindo a rua calmamente, ardendo por dentro, o teu braço dado no meu e os teus saltos navegando as pedras escorregadias e molhadas. Menos molhadas que tu, tristemente escorregadias comparadas com o teu corpo quente. E num ponto mais escuro da cidade, pediste-me emprestado o sobretudo que colocaste sobre os ombros, cobrindo-te um pouco abaixo dos joelhos, disseste espera um pouco, e com uma agilidade invejável, num movimento contínuo, ultrapassaste a saia e a lingerie, e retiraste o pequeno vibrador que te havia torturado toda a noite. Deste-mo para a mão e sabias o que eu ia fazer. Só podias saber o que eu ia fazer. Segurei-o com cuidado, que me deslizava nos dedos, e lambi-o, sôfrego, e disse que sabes bem, sabes sempre tão bem."
João
Geografia das Curvas
Na longa mesa, de alva toalha, sentaste-te tu. E eu por perto, na tua diagonal. No meu bolso o pequeno controlo remoto. E melhor que isso, na tua cona o pequeno vibrador. Bem seguro, encaixado no teu calor e devidamente travado pela tua lingerie. Sentada nada havia a temer. Mas ainda havias de levantar-te e caminhar. Talvez de pernas bambas. Se conseguisses. Apanhei-te muitas vezes distraída enquanto procuravas manter uma conversa coerente com os demais convivas. Alguns terão achado que a sua conversa era a mais interessante do mundo, porque tinhas momentos de sorrir, mas também outros em que os talheres que tentavas manusear se cruzavam com estrépito, ou massacravam a comida, como se fosse ela a culpada de eu pressionar, de quando em vez e sem aviso, os botões que te faziam vibrar. Por mais que uma vez, olhei-te provocador e a seguir deste pequenos saltos na cadeira. Por mais que uma vez, senti a mesa tremer, quando os teus pés descalços (tiveras a prudência de deixar os saltos perto, mas desligados do teu corpo) lhe batiam. Imaginei-te a querer sair dali, desesperadamente. Os nossos olhares foram muitas vezes assim. Vamos embora daqui, por favor. Depressa. Quero ir embora contigo. Já. E eu de remoto na mão, e tu de vibrador na cona.
E a tua tortura não era maior que a minha. Era diferente. Eras tu no precipício do orgasmo, e eu a ler-te todos os movimentos, a tentar fazer-te caminhar entre a segurança e a queda, e torturado de tesão, de quem só queria arrebatar-te dali para fora e consumir-te num corpo agarrado com fome e roupas rasgadas. E quando dali finalmente nos subtraímos, preparámo-nos para fechar a noite, subindo a rua calmamente, ardendo por dentro, o teu braço dado no meu e os teus saltos navegando as pedras escorregadias e molhadas. Menos molhadas que tu, tristemente escorregadias comparadas com o teu corpo quente. E num ponto mais escuro da cidade, pediste-me emprestado o sobretudo que colocaste sobre os ombros, cobrindo-te um pouco abaixo dos joelhos, disseste espera um pouco, e com uma agilidade invejável, num movimento contínuo, ultrapassaste a saia e a lingerie, e retiraste o pequeno vibrador que te havia torturado toda a noite. Deste-mo para a mão e sabias o que eu ia fazer. Só podias saber o que eu ia fazer. Segurei-o com cuidado, que me deslizava nos dedos, e lambi-o, sôfrego, e disse que sabes bem, sabes sempre tão bem."
João
Geografia das Curvas
«conversa 2059» - bagaço amarelo
(nas escadas do meu prédio)
Eu - Vamos pelas escadas.
Ela - Porquê?
Eu - Eu vou sempre pelas escadas por uma questão de método. Faço mais exercício e poupo electricidade ao condomínio.
Ela - Eu tenho que ir de elevador por uma questão de método também. O teu elevador tem espelho e eu gosto de me ver ao espelho.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Eu - Vamos pelas escadas.
Ela - Porquê?
Eu - Eu vou sempre pelas escadas por uma questão de método. Faço mais exercício e poupo electricidade ao condomínio.
Ela - Eu tenho que ir de elevador por uma questão de método também. O teu elevador tem espelho e eu gosto de me ver ao espelho.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
08 abril 2014
Postalinho de Los Angeles - da Daisy
"Olá, São Rosas
Já te mandei outra cópia desta escultura, em Veneza (o «Anjo da Cidadela», do Marino Marini).
Esta está no J. Paul Getty Museum at Getty Center, em LA.
Beijo"
Daisy
Já te mandei outra cópia desta escultura, em Veneza (o «Anjo da Cidadela», do Marino Marini).
Esta está no J. Paul Getty Museum at Getty Center, em LA.
Beijo"
Daisy
Eva portuguesa - «Preciso de ti»
Sou de paixões avassaladoras.
Mas gosto de amores calmos.
Tudo ao mesmo tempo.
Preciso de sentir as borboletas na barriga. Preciso do ombro amigo. Preciso do beijo que não pode esperar.
Preciso de ter para quem voltar.
Preciso da estabilidade e do imprevisto.
De quem me acalme e me surpreenda.
Preciso das noites e preciso dos dias.
Preciso de me sentir viva e de fazer viver.
Preciso de quem me ame e se apaixone por mim todos os dias.
Preciso de amar sem limites e de me apaixonar loucamente. Todos os dias.
Preciso de ti. E preciso de ti.
Eva
blog Eva portuguesa - porque o prazer não é pecado
Mas gosto de amores calmos.
Tudo ao mesmo tempo.
Preciso de sentir as borboletas na barriga. Preciso do ombro amigo. Preciso do beijo que não pode esperar.
Preciso de ter para quem voltar.
Preciso da estabilidade e do imprevisto.
De quem me acalme e me surpreenda.
Preciso das noites e preciso dos dias.
Preciso de me sentir viva e de fazer viver.
Preciso de quem me ame e se apaixone por mim todos os dias.
Preciso de amar sem limites e de me apaixonar loucamente. Todos os dias.
Preciso de ti. E preciso de ti.
Eva
blog Eva portuguesa - porque o prazer não é pecado
«Despida» - Susana Duarte
Tenho os sentidos despidos de ti,
e de ti vestidos
na montanha de luas antigas,
na sáfara atravessada de rugas,
na territorialidade das névoas,
e na eternidade dos olhos.
De ti, retenho em mim a pele,
e na pele
dispo as cátedras do que sabia antes,
em dias que não sei,
em tempos e lugares onde fui outra,
em tempestades que retive na sombra
dos tecidos
do corpo.
Do corpo, despi-me na neve
e na neve das noites
enchi-me de ar,
volteei em ondas de som
e deixei-me encantar pelas nuvens
da mente.
Resido nas pontas feiticeiras
de um saber antigo
e dispo-me dos sentidos:
olhar,ainda que despida dos olhos;
sentir, ainda que sem tocar;
escutar, ainda que os ouvidos
alados
se tenham tornado viajantes
onde torres caem e mistérios
se levantam
nos dias
que sou.
Despi-me de tudo.
Prossigo em ti.
Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
e de ti vestidos
na montanha de luas antigas,
na sáfara atravessada de rugas,
na territorialidade das névoas,
e na eternidade dos olhos.
De ti, retenho em mim a pele,
e na pele
dispo as cátedras do que sabia antes,
em dias que não sei,
em tempos e lugares onde fui outra,
em tempestades que retive na sombra
dos tecidos
do corpo.
Do corpo, despi-me na neve
e na neve das noites
enchi-me de ar,
volteei em ondas de som
e deixei-me encantar pelas nuvens
da mente.
Resido nas pontas feiticeiras
de um saber antigo
e dispo-me dos sentidos:
olhar,ainda que despida dos olhos;
sentir, ainda que sem tocar;
escutar, ainda que os ouvidos
alados
se tenham tornado viajantes
onde torres caem e mistérios
se levantam
nos dias
que sou.
Despi-me de tudo.
Prossigo em ti.
Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
Jardim dos Mijões
Jardim dos Mijões é uma roda em barro com vários homens nus com chapéus, da autoria de Júlia Côta (Barcelos).
Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)
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07 abril 2014
Trolha no tasco
"Olha lá ó garanhão das avenidas, queres as amêijoas à Bulhão Pato?"
"Não, foda-se. Como-as à canzana."
"Não, foda-se. Como-as à canzana."
«coisas que fascinam (164)» - bagaço amarelo
Acontecem coisas estranhas nos dias normais. Nenhuma dessas coisas é igual a outra, mas nunca damos por elas porque acontecem regularmente. É isso que as torna iguais, apesar de diferentes. Uma vez por outra, muito raramente, numa dessas coisas surge um pequeno rasgo de Amor, assim como um passageiro desconhecido que sai do comboio num apeadeiro qualquer à procura de aventura.
Numa estação do metro do Porto, num dia em que o céu se assemelhava a uma cinzenta aguarela infantil, uma mulher dividiu o guarda-chuva dela comigo. Ficou ali a segurá-lo, protegendo-me da água que ia caindo, como se isso fosse a coisa mais natural deste mundo. Mas não era. A normalidade depende da estatística e eu não via mais ninguém a dividir o guarda-chuva com um estranho. Esse dia foi hoje.
Ela não disse nada. Nem sequer uma palavra. Eu só disse uma. Obrigado. Depois vi-a sair em Campanhã e entrar no comboio para Braga, enquanto eu me dirigia para a linha seis onde me esperava o comboio para Aveiro. Provavelmente nunca mais a vejo. De certeza que nunca mais a esqueço.
É no comboio que escrevo estas linhas. Sentei-me à frente dum casal. Ele dormia com a cabeça pousada no ombro dela, enquanto ela olhava pela janela como se analisasse ao pormenor uma pintura qualquer. Os nossos olhares encontraram-se por uma pequena fracção de segundo, como se fossem duas borboletas num voo tonto, para logo a seguir pousarem em pontos distantes.
Ela acabou por sair na estação de Esmoriz. Primeiro afastou-lhe cuidadosamente a cabeça e pousou-a para trás, como se estivesse a mudar de sítio uma frágil peça de louça. Depois levantou-se e saiu em silêncio enquanto ele lhe pediu desculpa, ainda estremunhado. Afinal não eram um casal. Não se conheciam de lado nenhum, mas ele adormecera no ombro dela e ela deixara-se estar ali, tão quieta como uma fêmea leoa que protege uma cria de cordeiro.
Acontecem coisas estranhas nos dias normais. Uma das coisas mais estranhas que me acontece a mim é quase nunca dar por elas. Se desse, se eu fosse capaz de reparar todos os dias nas mulheres que têm a coragem de salvar o dia de um homem, tenho a certeza que os meus dias seriam diferentes. Mais estranhos e mais normais. Certamente melhores.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
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