20 agosto 2014

«conversa 2094» - bagaço amarelo




Ela - Ouvi dizer que tens gatinhos pequeninos.
Eu - Só durante algum tempo. Sou FAT* duma gata que decidiu parir dois gatitos lá em casa.
Ela - Ao meu ex-marido aconteceu mais ou menos o mesmo.
Eu - Também é FAT de gatos?
Ela - Não. Foi FAT duma gaja logo a seguir a mim e quando deu por ela, ela já estava prenha.

* Família de Acolhimento Temporário


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

A Nu



«Desfaz-me» - João

"Contra uma parede estava o teu corpo, de braços cruzados e olhar no vazio. Sinais de inquietude. Distância e um pedido, não te aproximes. Estou bem assim? Estás. Não te aproximes por favor. Não te aproximes de mim, não mais que isso. Parado ficara, numa distância segura, e os olhares cruzaram-se de novo, e o corpo tremia. Não estava frio mas o corpo tremia. Os corpos. Plural. Mas porque não? Porque não? Não te aproximes por favor, porque se me tocares desfaço-me, se me tocares desfaleço, e não posso, agora não posso, e a parede a segurar-te, e o chão a suster-me, o ar a pesar-nos, os olhares a ligar-nos. E as mãos, as quatro, sem saber muito bem onde se esconder, e tu a quereres as minhas mãos nas tuas costas, e o silêncio a ecoar naquele espaço, a pressão tão grande, tão grande, inspirar era um turbilhão, expirar um tornado, e não me toques, insistias que não te tocasse para não desapareceres, para não derreteres, e eu dei um passo atrás e respeitei, e enquanto descruzas os braços e te vejo afastar da parede atirada em direcção a mim já só te consigo ouvir dizer que se foda, desfaz-me."
João
Geografia das Curvas

19 agosto 2014

Temperar a gosto

Gosto de entender a brisa morna que sopra como provinda do céu, da sua boca quente que arrepia a terra no areal desprotegido como uma nuca acabada de destapar.
Gosto de imaginar o som das ondas como a reacção ofegante dessa terra excitada, excitante, arrebatada pela sensação, exacerbada pela emoção que o céu, tão persistente, insiste em estimular.
Gosto de sentir o vento soprar cada vez mais forte, já perto do ocaso que anuncia a noite trazida pelo céu para cobrir como um véu o momento de encanto privado, a troca de carícias clandestina entre a terra feminina e o seu amante celestial, madrugada fora, até ao regresso do sol que ilumina como um sorriso o rosto da terra por instantes adormecida.
E depois a brisa de novo soprada, de forma gentil, para lhe sussurrar um até já porque esta história não tem fim.

É fácil gostar assim.

Postalinho da Moimenta da Beira

"Em lado algum no livro do Génesis se fala na maçã como fruto proibido. No entanto foi a maçã que pagou a conta e as culpas. A Eva impingiu o fruto, Adão ficou com ele entalado na garganta e até hoje vivemos com o jugo desse pecado dos dois jovens irresponsáveis.
Há no entanto terras que se orgulham de produzir maçã, e boa maçã. A maçã Bravo de Esmolfe, a única com pedigree português é um fruto pelo qual vale bem pecar. Moimenta da Beira, como zona de grande produção deste fruto, resolveu homenageá-lo com uma escultura. Cada vez que por lá passo, pergunto-me qual a fonte de inspiração do escultor: a bravo de esmolfe? A tentação? Ou o desejo de que o pecado vale bem mais que uma pomme de terre por melhor que ela seja? Cada um vê o que quer ver... Aqui vos deixo a foto daquilo a que eu chamaria de maçã bravo de vulva."
Jorge Prendas

«escrevia-te onde as mãos não chegam» - Susana Duarte

escrevia-te onde as mãos não chegam,
onde os cabelos não dormem,
e as coisas do mundo
permaneciam
ignotas.

aí, onde moram os fragmentos da paixão,
deixava, inertes, os olhos, escuros-
-adormecidos-povoados
de luz azul
e sonhos.

mortas as luzes sobre o peito,
aconcheguei nele o sol
dos poemas
de antes.

escrevo-te, ainda, onde a morte das palavras
é o recanto esquecido da dor,
e os olhos amortecem
a força das ondas
e o mar
todo.

escrevo-te, apenas, porque preciso de varrer
as folhas caídas no chão, aquelas
que deixaste, amarelas,
sobre as pedras
e o ventre.

escrevo-te, por fim,
para amainar
o vento.

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto

Sátiro convida

Estatueta em bronze, assinada por Malaquin, de sátiro segurando no pénis erecto com uma mão e fazendo um gesto de convite com a outra mão.
Um sátiro bem malandro com 24 cm de altura, a partir de agora na minha colecção.

Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)









18 agosto 2014

«Libidium Fast» - anúncio do Paulo Futre censurado pela televisão

Luís Gaspar lê «Dentro de mim» de Olavo Bilac


Vive dentro de mim, como num rio,
Uma linda mulher, esquiva e rara,
Num borbulhar de argênteos flocos, lara
De cabeleira de ouro e corpo frio.
Entre as ninféias a namoro e espio
E ela, do espelho móbil da onda clara,
Com os verdes olhos húmidos me encara,
E oferece-me o seio alvo e macio.
Precipito-me, no ímpeto de esposo,
Na desesperação da glória suma,
Para a estreitar, louco de orgulho e gozo.
Mas nos meus braços a ilusão se esfuma
E a mãe-d’água, exalando um ai piedoso,
Desfaz-se em mortas pérolas de espuma.

Olavo Bilac
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

«respostas a perguntas inexistentes (276)» - bagaço amarelo

Só os homens é que sabem Amar.

O meu vizinho do lado era um tipo forte, de poucas palavras e muita acção. Trabalhava na distribuição de fruta e acordava todos os dias por volta das cinco da manhã. Eu simpatizava com ele, apesar de nunca termos tido um contacto muito próximo. Cumprimentava-me sempre, mesmo quando estava visivelmente mal disposto.
No apartamento à frente também só vivia uma pessoa. Era uma mulher igualmente de poucas palavras, mas que preferia virar a cara a dizer "bom dia" quando nos cruzávamos na escada do prédio.
Um dia descobri que eram marido e mulher, mas que tinham decidido viver tão perto e tão longe um do outro quanto possível. Por isso é que eram vizinhos, apesar de partilharem a cama regularmente. Foi ele que mo disse, numa noite em que ambos nos deixámos estar para além da hora no café da frente.

- As mulheres não sabem Amar. Só sabem ser Amadas! - concluiu ao pousar o último copo de vinho.

Já não vivo naquele edifício e nunca mais vi aquela gente. Mesmo assim nunca mais a esqueci, principalmente por causa desta frase, que terá sido a última que ele me disse para além do "bom dia" ou "boa tarde" habituais.
Se hoje passasse por ele, explicar-lhe-ia que na altura era apenas um jovem adulto e não percebi onde ele queria chegar, mas a vida ensinou-me muita coisa e hoje percebo. O tempo dá-nos destas certezas. Só os homens é que sabem Amar.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Métodos de dormir em dupla

Que delícia, cara.




Capinaremos.com

17 agosto 2014

«Rejeitado por ser diferente»

Bryan Wilmoth cresceu numa casa muito conservadora e quando o seu pai descobriu a sua orientação sexual, expulsou-o de casa e impediu-o de contactar os seus familiares durante vários anos. Neste filme animado, Bryan conta a sua história e como fez para se reencontrar com os seus irmãos.


Rejeitado por ser diferente por EvelFatalis

Postalinho «on the rocks»