Não acredito no Amor para sempre. Acredito no Amor durante algum tempo, seja ele mais curto ou mais longo consoante diversas variáveis. A vida pode ser óptima quando finalmente nos apercebemos disso mesmo, ou seja, que o Amor da Disney não existe. O problema que eu tenho é que, apesar de não acreditar no Amor para sempre, desejo-o.
Para quem o deseja mas não acredita nele há várias formas de o prolongar o mais possível. Estou convencido que a melhor de todas é ter vida própria e dar espaço a que a pessoa Amada também a tenha. Vida própria e ciúmes dela, claro.
Os ciúmes não são assim tão maus. Se não se tornarem doentios até são um dos ingredientes obrigatórios do Amor. É por isso que os devemos sentir de vez em quando e, caso já não os sintamos, temos que fazer por isso. A vida própria de ambos é uma boa maneira de o conseguir.
Com vida própria temos sempre alguma coisa para contar à pessoa que Amamos. Onde estivemos, o que fizemos, o que aprendemos e conhecemos. Além disso, também temos sempre alguma coisa nova para ouvir. É uma revelação constante, sendo que essa revelação, logo antes do ciúme, é o principal ingrediente de um Amor longo.
Alimento-me de sonhos. De esperança. De promessas. De ilusões e desilusões.
Alimento-me das tuas palavras. Das tuas promessas. Das esperanças que tu me dás.
Vivo imaginando a realidade que tu me descreves; uma realidade nossa, única, protegida, comum, feliz.
Bebo cada pensamento,cada promessa de um encontro, de uma nova vida - a nossa vida! - como uma alma sedenta no meio do deserto.
Rio risos de realidades não vividas. Sonho sonhos de uma vida que não é minha. Gozo orgasmos de um corpo que não é o meu. Chamas-me princesa e perguntas se quero ser tua. Mas alguma vez não o fui?...
E tu, meu querido? Queres ser meu? Só meu?...
E és tu o meu príncipe?...Vais matar o dragão que infecta o meu mundo e salvar-me de uma vida de tormentos?... Vais cumprir as tuas promessas?... Vais tornar real a minha ilusão? Realizar o meu sonho?...
Continuo a alimentar-me de ti... a acreditar, apesar das mentiras, das desilusões, das promessas infundadas...
São também fantasia os sentimentos que dizes ter?... De que te alimentas tu? Putas? Sexo? Engano e desengano?...
Eu alimento-me de fantasia... Alimento-me de ti. Porque mesmo não sendo verdade, é melhor imaginar-te do que não te ter. "O sonho comanda a vida". Verdade esta frase... tão verdade... Não só comanda a vida como alimenta pessoas. Alimenta-me a mim.
Alimento-me do futuro e das memórias felizes do passado. Eles são combustíveis para o fogo que me dá vida. E também a música, sem dúvida que me alimento dela. E o sorriso do meu filho, a visão do paraíso!...
Alimento-me de cada pedacinho de alegria, real ou não. De cada dia de sol. Do barulho da chuva a cair no telhado das casas. Do cheiro da terra molhada. Do aroma do pão acabado de cozer. Do banho relaxante após um dia intenso.
Alimento-me de vida... Alimento-me de ti...
Ela - Estou numa fase boa da minha vida.
Eu - Fico contente em ouvir isso.
Ela - Apercebi-me que os maridos não fazem falta para quase nada e sinto-me bem sozinha.
Eu - Para quase nada?! Então fazem falta para alguma coisa...
Ela - Sim, fazem falta para implicar de vez em quando, mas como tenho um filho adolescente não preciso de mais nada.