28 outubro 2014

«nesse dia, não mais sobrevoarás as palavras» - Susana Duarte

sobrevoas as noites, onde as flores são os ângulos escondidos das veias.
apareces, como um fantasma. povoas sonhos e roubas segredos.
sobrevoas os dedos, onde as noites são raras. partes, todas as noites,
mas pairas sempre sobre os passos através dos quais perscruto os caminhos
da vida. caminhas sobre os meus passos e, todavia, não estás. matas-me
e, todavia, regressas, como um espectro que desalinha as flores
e insemina de ausência os dias. perdido, tu próprio, nas linhas oblíquas
da chuva, congeminas olhares onde os teus olhos já não estão.

desaparecerás, um dia, dos caminhos dos sonhos e dos beijos por dar.
nesse dia, a luz-outra será o véu através do qual deixarei de te ver,
qual névoa de setembro, qual gota de chuva caída dos beirais de uma casa,
eclodindo na calçada para, depois- e para sempre- se ocultar das pedras.

desapareces já, noite após noite, onde os sonhos não te nomeiam
e os dedos não te procuram. talvez sejas já, apenas, a sombra dos dias
de ontem. o teu nome não me cerca. os teus olhos desaparecem
com as chuvas. a vida, um dia, recomeçará, fantasma, presença, ausência
de todas as ausências dos meus braços.
nesse dia, não mais sobrevoarás as palavras.

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto

Xadrez Kama-Sutra

Conjunto de 32 peças de xadrez (sem tabuleiro) em resina com figuras do Kama-Sutra.
Gostei tanto que comprei 3 conjuntos para a minha colecção.

Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)


27 outubro 2014

LEVI'S - «Undressed»

«pensamentos catatónicos (315)» - bagaço amarelo

É verdade que todos nós precisamos, de vez em quando, de desabafar. É mais verdade ainda que pode ser mais fácil desabafar com um desconhecido do que com um amigo.
Os amigos são aqueles que estão regularmente connosco e que, por isso, guardam o nosso desabafo para sempre. Se eu disser a um amigo que a minha vida está uma merda, não há forma de voltar atrás. Sempre que ele estiver comigo vai ter essa informação em conta, mesmo que a mim não me apeteça que tenha.
Pelo contrário, se eu o disser a um desconhecido qualquer, nunca mais vou ter que enfrentar alguém que sabe que a minha vida estava uma merda num determinado momento. Desabafar com um desconhecido é como vomitar para um saco e lançá-lo para dentro de um comboio em andamento. Os desconhecidos são, assim, para as ocasiões.
Estava a pensar nisto quando me apercebi que alguns dos meus melhores amigos eram desconhecidos quando tive um qualquer desabafo com eles. O comboio afastou-se, mas depois voltou. A amizade entre duas pessoas tem que ser capaz de levar com alguns sacos de vómito. Na verdade, o Amor também.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Os opostos se atraem




Coxinha x Reaça = <3

Capinaremos.com

26 outubro 2014

«Silenzioso fiore» (flor silenciosa) - Piero della notte


Silenzioso fiore from Piero della notte on Vimeo.

Luís Gaspar lê «Canção da Inocência Perdida» de Bertolt Brecht


O que a minha mãe dizia
Não pode ser bem verdade:
Que uma vez emporcalhada
Nunca passa a sujidade.
Se isto não vale pra a roupa
Também não vale pra mim.
Que o rio lhe passe por cima
Breve fica branca, assim.

Como qualquer pataqueira
Aos onze anos já pecava.
Mas só ao fazer catorze
O meu corpo castigava.
A roupa já estava parda,
No rio a fui mergulhar.
No cesto está virginal
C’mo sem ninguém lhe tocar.

Sem ter conhecido algum
Já eu tinha escorregado.
Fedia aos Céus, como uma
Babilónia de pecado.
A roupa branca no rio
Enxaguada à roda, à roda,
Sente que as ondas a beijam:
«Volta-me a brancura toda».

Quando o primeiro me amou
Abracei-o eu também.
Senti no ventre e no peito
Ir-se a maldade pra além.

Assim acontece à roupa
E a mim acontecerá.
A água corre depressa,
Sujidade diz: Vem cá!

Mas quando os outros vieram
Um ano mau começou.
Chamaram-me nomes feios,
Coisa feia agora sou.
Com poupanças e jejuns
Nenhuma mulher se acalma.
Roupa guardada na arca,
Na arca se não faz alva.

E veio depois um outro
No ano que se seguiu.
Vi que me fazia outra
Com o tempo que fugiu.
Mete-a na água e sacode-a!
Há sol, cloreto e vento!
Usa-a, dá-a de presente:
Fica fresquinha a contento.

Bem sei: Muito pode vir
Até que nada por fim, fica.
Só quando ninguém a usa
A roupa se sacrifica.
E uma vez que apodreça
Nenhum rio a embranquece.
Leva-a consigo em farrapos.
Um dia assim te acontece.

in “Canções e Baladas”

Bertold Brecht
Eugen Berthold Friedrich Brecht (Augsburg, 10 de Fevereiro de 1898 — Berlim, 14 de Agosto de 1956) foi um destacado dramaturgo, poeta e encenador alemão do século XX. Seus trabalhos artísticos e teóricos influenciaram profundamente o teatro contemporâneo.


Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

Trombas e trompas


Durante anos os naturalistas supuseram que os elefantes sofriam da doença do pénis verde até perceberam que isso era apenas um efeito secundário da intoxicação resultante do período de acasalamento, que transforma o elefante num ser agressivo e incontinente, com valores de testosterona 50 vezes acima dos normais, um cheiro fétido e, a verter cerca de 350 litros de urina por dia.

Não obstante as fêmeas ficam encantadas por terem à sua disposição o maior pénis do mundo (metro e meio a 2 metros de comprimento e 45 quilos de peso) mesmo que se apresente esverdeado. Elas não são parvas porque o tamanho e a curvatura em forma de esse são vantagens para conseguir alcançar a vagina de 50 centímetros de comprimento que não está logo ali à mão de semear abaixo da cauda obrigando o elefante a recuar um pedaço o que também é positivo porque assim ela não sente as 4 toneladas do elefante excitado a fazer peso nas suas costas e, melhor ainda porque após a penetração o macho só demora 30 a 60 segundos a ejacular.

Se ela não colaborar, ele pode ficar de trombas, perder o interesse ou até agredi-la mordendo-lhe o rabo e as orelhas. Se tudo decorrer de acordo com o manual, terminada a cópula todos os familiares da fêmea se aproximam para lhe manifestar orgulho pela sua conquista, urrando como quem faz soar trompas e defecando em redor, como se fossem presentes. O macho afasta-se então para permitir que a média de 5 coitos necessários para ocorrer a fecundação seja continuada por outros.

Sim, carinho...



Via heart-shaped apple

25 outubro 2014

Rui Machete

em nova polémica sobre as jihadistas portuguesas
  Raim on Facebook

Lenny Kravitz - «The Chamber»

«Bela, viúva e misteriosa» - por Rui Felício


Deve ter pouco mais de trinta anos...
De uma beleza exótica, a Catarina sorri simpaticamente aos vizinhos mas não lhes permite conversas prolongadas que invadam a sua privacidade ou destapem o secretismo da sua vida.
Mora numa vivenda isolada em frente ao mar, na Ericeira, e muito se estranha que não se lhe conheça nenhum namorado ou sequer amigo próximo.
Estranheza que aguça a curiosidade em se saberem os contornos e circunstâncias da sua viuvez,dando origem às mais díspares conjecturas e suspeições.
Realmente, aquela lindíssima mulher ainda jovem já enviuvou duas vezes em tão pouco tempo, não se descortinando nenhum homem que procure aproximar-se dela. Talvez porque ela nem sequer dê azo a que tal aconteça, por razões que só ela sabe.
O Paulo, que vivia sozinho na vivenda ao lado da dela, reparava que todas as noites ela mantinha a luz da sala acesa até tarde, parecendo estar acompanhada. Mas a verdade é que através das cortinas ele não via mais ninguém a não ser ela.
Ontem à noite ele não resistiu mais. Pé ante pé, saltou a sebe que separa os quintais, aproximou-se da janela entreaberta e agachou-se rente ao relvado atrás de um arbusto.
A misteriosa mulher, elegantemente vestida, estava sentada à mesa com três copos à frente.
Desrolhou uma garrafa de champanhe e verteu o capitoso líquido em cada um dos três copos.
O Paulo apenas a via a ela, mas supunha adivinhar a presença oculta de mais duas pessoas.
Especialmente quando ela ergueu o seu copo e disse:
- Tchim-Tchim, brindo aos dois únicos amores da minha vida!
Decididamente, a mulher tinha enlouquecido e confraternizava sozinha com as recordações dos seus dois maridos falecidos, o Guilherme e o António.
Era a conclusão evidente a que o Paulo chegou, entristecido.
Decidiu levantar-se e regressar a casa, satisfeita que estava a sua curiosidade.
Ainda não tinha dado dois passos, sentiu uma mão gélida tocar-lhe no ombro. Virou-se assustado, olhou em redor mas não viu ninguém.
No entanto, uma voz cavernosa ecoou-lhe nos ouvidos:
- Por favor entre! A Catarina precisa de uma companhia de carne e osso...
O susto foi-lhe fatal.
O Paulo, aterrorizado, sucumbiu, estremeceu e caiu redondo no chão com uma síncope cardíaca.
O Guilherme, olhando o corpo inerte, sentenciou:
- Amigo António, agora é que na Ericeira nunca mais ninguém vai deixar de falar das viuvezes da Catarina...

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido

Lote de 9 selos e um bloco

Selos e um bloco de Ajman (menor dos Emiratos Árabes Unidos), Roménia e União Soviética, da minha colecção.

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