"Os homens sempre reclamaram que as mulheres não sabem o que querem. Isso é besteira. Toda mulher quer um homem fofo e rude, companheiro e solitário, que a respeite e a esnobe, que seja romântico e canalha e também honesto e cafajeste com ela. Se, além disso, ele também for bilionário, aí é pra casar."
19 abril 2015
Luís Gaspar lê «Soneto do cativo» de David Mourão-Ferreira
Se é sem dúvida Amor esta explosão
de tantas sensações contraditórias;
a sórdida mistura das memórias,
tão longe da verdade e da invenção;
o espelho deformante; a profusão
de frases insensatas, incensórias;
a cúmplice partilha nas histórias
do que os outros dirão ou não dirão;
se é sem dúvida Amor a cobardia
de buscar nos lençóis a mais sombria
razão de encaminhamento e de desprezo;
não há dúvida, Amor, que te não fujo
e que, por ti, tão cego, surdo e sujo,
tenho vivido eternamente preso!
David Mourão-Ferreira
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
Elevador da Glória
Não nego que seduzi o professor para fazer direito por linhas tortas mas o canudo já cá canta e quem tenha uma licenciatura impoluta que me atire a primeira pedra. Aliás, foram noites esforçadas em que afincadamente nem reparei nas rugas que lhe enchiam o pescoço nem as mãos perceberam as carnes moles do seu rabo graças a auxiliares de memória de estudos anteriores.
Não nego que troquei o catedrático por um administrador da empresa onde consegui lugar pela cunha de um amigo de nossa casa, depois de um sábado em que acertámos os pormenores desse emprego estiraçados na banheira com muita champanhota. O administrador ainda estava em muito bom estado de uso, tanto que ainda era capaz de me pegar ao colo e lambuzar-me as mamas enquanto me transmitia o seu poder e mais a mais, catapultou-me para um lugar cimeiro da firma, dando-me pela primeira vez o prazer de poder mandar em pessoas e ver os gajos chocarem uns com os outros na pressa de me darem lume ou chegarem um cafézinho como se fosse um alinhamento em estado de prontidão para todos os recados.
Não nego que passei a ter assento nos restaurantes de negócios e depois de alguns investimentos falhados em dirigentes desportivos e construtores civis, lá consegui trocar o administrador por uma homem da área financeira que até já me deu uma fundação inteirinha para dirigir.
Só me parece que era escusado os colegas da faculdade chamarem-me Elevador da Glória.
Não nego que troquei o catedrático por um administrador da empresa onde consegui lugar pela cunha de um amigo de nossa casa, depois de um sábado em que acertámos os pormenores desse emprego estiraçados na banheira com muita champanhota. O administrador ainda estava em muito bom estado de uso, tanto que ainda era capaz de me pegar ao colo e lambuzar-me as mamas enquanto me transmitia o seu poder e mais a mais, catapultou-me para um lugar cimeiro da firma, dando-me pela primeira vez o prazer de poder mandar em pessoas e ver os gajos chocarem uns com os outros na pressa de me darem lume ou chegarem um cafézinho como se fosse um alinhamento em estado de prontidão para todos os recados.
Não nego que passei a ter assento nos restaurantes de negócios e depois de alguns investimentos falhados em dirigentes desportivos e construtores civis, lá consegui trocar o administrador por uma homem da área financeira que até já me deu uma fundação inteirinha para dirigir.
Só me parece que era escusado os colegas da faculdade chamarem-me Elevador da Glória.
Vai-te lavar, morena, vai-te lavar... se não fores ao rio vai-te lavar ao mar...
A flausina que acabou de sair deixou-me a cama toda suja. Enfim... despojos de guelra.
Patife
@FF_Patife no Twitter
18 abril 2015
«A casa assombrada» - por Rui Felício
Era na única rua do Chão do Bispo que morava o Dr. Sebastião Nunes, chefe de secção no Banco de Portugal, à Portagem.
A casa era própria. Tinha-a comprado, ainda novo, aos herdeiros do antigo proprietário, o fidalgo D. Thomaz de Noronha. Ficou-lhe barata porque ninguém a queria. Dizia-se que estava assombrada.
Colocou-lhe na cimalha um dístico pretensioso em letras metálicas douradas cravadas no granito:
Villa Sebastiana.
Na frente havia um jardinzinho que se encurvava para a esquerda, debruado a bucho de uns oitenta centímetros de altura, rasgado a meio por um pequeno portão de ferro forjado.
Os arbustos bordejavam todo o jardim, como um muro vegetal, sob o vão da varanda lateral do primeiro andar, que corria em volta de toda a mansão.
O Dr. Sebastião nunca casou. Não que acreditasse na maldição da casa onde, contava-se em surdina, o fidalgo D. Thomaz de Noronha tinha sido degolado pela sua mulher que em seguida se suicidou.
Mas à cautela, achava que era melhor não desafiar os espíritos malignos que o povo dizia que pairavam pelo casarão para levar para os infernos quem ali se atrevesse a viver maritalmente.
Para além de que, com a sua figura, teria sido difícil encontrar companheira.
O Sebastião era um homem grave, circunspecto, sisudo, de ventre proeminente e calvície brilhante.
As mãos popudas, de dedos curtos, seguravam uma eterna pasta de cabedal engraxado, feita de encomenda em pele de vaca, pelos presidiários da Penitenciária de Coimbra.
Nela trazia papéis da repartição, não com o fito de os ler, mas para agradar ao Director do Banco que assim ficaria a pensar que o zeloso funcionário levava trabalho para casa.
Na ponta do nariz abatatado onde medrava uma verruga, encavalitavam-se umas cangalhas de aros grossos.
Pesado e asmático, ajoujado ao peso da pasta e balouçando-se ao traulitar cadenciado do bastão encastoado a ouro, em que se apoiava para disfarçar o manquejar, era com grande esforço que vencia os dois degraus da porta de entrada.
Certo dia, enquanto esperava o trolley do Calhabé, uma prostituta sorriu-lhe, encostou-lhe o seio libidinosamente ao braço, sussurrou-lhe que o queria, e o Dr. Sebastião endoidou, sentiu o corpo estremecer de desejo, depois de tantos e tantos anos de abstinência e convidou-a a pernoitar na sua casa.
No dia seguinte, o Diário de Coimbra titulava a toda a largura da primeira página, que o ilustre Dr. Sebastião e uma mulher ainda não identificada, foram encontrados numa poça de sangue, abraçados um ao outro, no leito de um quarto da Villa Sebastiana, bárbaramente degolados.
Rui Felicio
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido
Príapo magnético
Pequeno íman de frigorífico.
Veio da Turquia para a minha colecção.
Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)
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17 abril 2015
Postalinho de Santiago (2ª série - 1)
"Coisas que se encontram ao longo do Caminho Português pela Costa para Santiago de Compostela"
Antonino S.
Antonino S.
«Papel de embrulho» - João
"A pornografia é sempre fácil. É a parte mais fácil, a coisa mais simples. Pegar em dois corpos despidos ou a caminho da nudez, descrever um cenário onde eles possam ondular em conjunto, salpicar os parágrafos de conas, caralhos e manteiga, pintar danças com gemidos e frases derretidas. A pornografia é sempre fácil, é o que de superficial existe, está à flor da pele, toda a gente a percebe, desde os mais argutos aos mais limitados. Mas eu não escrevo na prateleira de baixo, eu imagino-me sempre noutro sítio qualquer, e a minha pornografia é apenas o embrulho, o papel para rasgar, o somatório de entrelinhas reservadas a quem é sagaz. Porque difícil, muito difícil, é escrever sem escrever, dizer mais numa vírgula que numa frase inteira, esconder na pornografia que parecia simples, fácil, tanta coisa que afinal está dentro dela. Assim, bem se vê, a pornografia já não é sempre fácil. Já não é a coisa mais simples. Só para quem veja mal, porque quem veja bem, quem tenha o tacto apurado, percebe. Percebe que a pornografia esconde coisas muito mais profundas. E de uma frase ou duas, tira páginas e páginas de gente, de sangue veloz, daquilo que se encontra no fundo do olhar. E isso já não é fácil. É preciso quem consiga rasgar o papel de embrulho. E ver (muito) além."
João
Geografia das Curvas
João
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