10 maio 2015

Luís Gaspar lê «Para os lábios que o homem faz» de Mário Cesariny


Para os lábios
que o homem faz
que atraem beijos
ao redor do mundo
ficou na nossa memória
em qualquer parte a qualquer hora
um pedaço
de pão
Promessa
que se cumpre
que alimenta
o mundo
Olhos
a exigir
uma floresta

Mário Cesariny, in “Pena Capital”
Mário Cesariny de Vasconcelos GCL (Lisboa, 9 de Agosto de 1923 — Lisboa, 26 de Novembro de 2006) foi pintor e poeta, considerado o principal representante do surrealismo português. É de destacar também o seu trabalho de antologista, compilador e historiador (polémico) das actividades surrealistas em Portugal.
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

Jogo de cintura


Não tive jogo de cintura. Sentei-me na sua frente, ajeitei a saia como se por artes mágicas o tecido fosse crescer naquele preciso momento e fiquei a ouvi-lo discorrer sobre as oportunidades que se abriam, o lugar vago, as regalias inerentes, enquanto os seus olhos faziam a carreira regular de elevador entre o traçar das minhas pernas e as minhas mamas e não tive dúvidas de que ele pintava o cabelo para o seu rosto mimoso não deixar transparecer o ano de nascimento impresso no bilhete de identidade.

De forma cavalheiresca estendeu-me a cigarreira e fez questão de me dar lume com o seu isqueiro Dupont prateado, enaltecendo o desafio desta oportunidade que até poderíamos discutir à mesa se isso me agradasse mais já que ele, graças ao facto da esposa ser médica tinha as análises sempre em dia e transportava-as consigo no bolso interior do casaco.

Verdade seja dita que uns amassos até fazem mais pela minha estética que várias sessões de ginásio e aquele exemplar até tinha um corpinho jeitoso para lhe fazer uma sauna mas esgravatava-me o orgulho aquela imposição de me fazer assalariada quando apenas sou promíscua com quem me dá na real gana pelo que na volta lhe retorqui que não trazia arco porque não era adepta da prática do hula-hula.



Lá vamos, cantando e rindo...


Ela dizia que não era fascista, mas lá que gostava da dita dura…

Patife
@FF_Patife no Twitter

09 maio 2015

Sexo estranho - "Looners - Fetiche por balões"

«Quando se ama alguém ausente...» - por Rui Felício

Deitada, meio adormecida, ouviu-lhe os passos a entrar no quarto e momentos depois a enfiar-se na cama por baixo dos lençóis que a cobriam.
Despertou quando o companheiro lhe tocou os cabelos, os olhos, o pescoço.
Sentiu cócegas quando os dedos dele desceram para as costas e para o peito, dedilhando-lhe o corpo como quem pisa suavemente os bordões do braço de uma guitarra.
Ao principio era vontade de rir o que sentia, mas aos poucos o riso transformou-se num arrepio, num estremecimento, na contracção involuntária dos músculos do corpo.
Deu por si a ondular lentamente, de forma instintiva, involuntária. A respiração acelerava como se estivesse cansada, sem o estar.
As caricias carinhosas das mãos dele provocavam-lhe sensações voluptuosas irreprimíveis, estranhamente na região do corpo onde ele ainda nem sequer havia tocado.
Retribuiu-lhe os carinhos com um beijo longo, prolongado, que lhe aumentava as sensações e lhe acelerava a respiração e os movimentos.
Endoideceu ao escutar o gemido rouco, gutural, que ele não conseguiu evitar quando a mão dela lhe percorreu o corpo, detendo-se onde ele parecia mais desejar.
Descontrolou-se quando a mão dele finalmente a pressionou na fornalha que já a incendiava.
Na penumbra do quarto, as silhuetas dos corpos nus apenas se adivinhavam. Só pelo tacto tinham a certeza de que não era sonho, de que eram reais.
Cavalgaram as sucessivas ondas de prazer até ao cume.
No auge, ele não resistiu e sussurrou-lhe:
- Amo-te, Catarina!
Uma onda gélida escorreu pelo corpo dela em chamas.
A Marta esperava tudo menos isso...
Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido

«O tango» - Judith Teixeira

«Tango» - Zheng Qiuna
Óleo sobre tela, China, 2003
Colecção de arte erótica «a funda São»
Enlaçados fortemente
Deslizam pela sala,
Ele sorri, ela não fala…

Bem colados,
os peitos bem unidos
em requebros sensuais,
embaralhados
os corpos e os sentidos
nos movimentos desiguais –
ela enrolava-o todo nos vestidos!

E os olhos falam de um desejo,
exigente, febril, incendiado!
As bocas recortaram-se num beijo…
- uma promessa
apenas
que se não confessa,
pondo-lhe sombras morenas
no olhar cobiçoso e abrasado!
……………………………………………………

A orquestra emudeceu…
……………………………………………………
Agora ao canto da janela
o perfil dela,
loiro, branco, estilizado,
tem o ar frio e recatado,
de quem não entendeu
aquilo que prometeu…

Judith Teixeira (1888-1959)
Poemas a Tinta
Estoril-Junho
1922

~ Descoberto e enviado por A. Maia

Um sábado qualquer... - «Contrastes»



Um sábado qualquer...

08 maio 2015

CoolCoolCool - «Ad Song»

Com a actriz porno russa Anna Polina (25 anos).


CoolCoolCool - AD SONG (Official Uncensored /// ANNA POLINA) from CoolCoolCool on Vimeo.

Teresa Torga - liberdade... mas não para a nudez!

Para quem não saiba quem é a Teresa Torga da canção do Zeca Afonso... o Rui Pato mostrou-nos a explicação:



Aqui dão mais detalhes:
Com o título "Quem se despiu na via pública, ontem, às 4 da tarde?", no Diário de Lisboa (4.5.75), Rogério Rodrigues conta a história de uma mulher "de que não se conhecia o nome", que ontem, às quatro da tarde, fazia strip-tease enquanto dançava, ao centro do cruzamento da Avenida Miguel Bombarda com a Avenida 5 de Outubro."Visivelmente surpreendidos, alguns espectadores da cena, invulgar em ruas de Lisboa, dirigiram-se para a mulher no intento de a proteger das vistas de quem passava e de quem parava, persuadi-la a vestir-se e abandonar o local. No meio da confusão, surge o repórter António Capela, que começa a disparar. Os populares, indignados com o que consideram 'uma baixeza moral', investem sobre ele, insultam-no, empurram-no, agridem-no e só a intervenção do proprietário da drogaria vizinha impede que não lhe partam a máquina. (...) Entretanto a mulher tinha sido levada para o limiar de um prédio com porteira à porta. Já vestida, olhava apática para as pessoas que a rodeavam. Dizem-me que se chamava Maria Teresa. 'Não sou Maria. Não sou Teresa. Tenho muitos nomes.' Tinha os lábios encortiçados e recusava o copo de água que lhe ofereciam.""Quem se despiu na via pública, ontem, às 4 da tarde?". interroga-se o jornalista. que passa a contar o percurso de vida, entretanto averiguado, de uma mulher de 41 anos, divorciada, sucessivamente actriz de revista, emigrante no Brasil, cantora de fado e que agora, no intervalo de tratamentos no Júlio de Matos, "mudava discos no pick-up" de uma boite em Benfica.Usava o nome de Teresa Torga "porque há um escritor que se chama assim" e ela gostava muito de ler, conta uma vizinha. A última vez que o repórter a viu seguia ela num carro da polícia para a esquadra do Matadouro. Zeca Afonso lê a crónica, magnífica, põe-lhe notas e voz, e imortaliza-a.
(in "Os dias loucos do PREC" de Adelino Gomes e José Pedro Castanheira. Ed. Expresso/ Público, 2006).

E aqui explicam um pouco mais e podes ouvir algumas músicas cantadas pela Teresa Torga.

José Afonso - «Teresa Torga»
Letra e música: Zeca Afonso
in «Com as minhas tamanquinhas»

No centro da Avenida
No cruzamento da rua
Às quatro em ponto perdida
Dançava uma mulher nua
A gente que via a cena
Correu para junto dela
No intuito de vesti-la
Mas surge António Capela
Que aproveitando a barbuda
Só pensa em fotografá-la
Mulher na democracia
Não é biombo de sala
Dizem que se chama Teresa
Seu nome é Teresa Torga
Muda o pick-up em Benfica
Atura a malta da borga
Aluga quartos de casa
Mas já foi primeira estrela
Agora é modelo à força
Que a diga António Capela
T'resa Torga T'resa Torga
Vencida numa fornalha
Não há bandeira sem luta
Não há luta sem batalha


«Madrugada fria» - João

"Fiz aquela estrada na madrugada fria, umas vezes molhada, a estrada vazia a acelerar por ali fora, minutos, pouco menos, pouco mais, gente que concorria comigo nas faixas da vida paralela a caminho de qualquer lugar, mas eu arrancado da cama, cama onde me apetecia estar, onde queria ficar, quente, contigo, com o teu corpo atirado para cima do meu, e sempre havia calor, como havia calor, e eu queria tanto ficar, queria tanto estar, e arrancávamo-nos um do outro, os dois do leito, olhando os ponteiros do relógio, a luz a quebrar a escuridão em dois, a entrar pela janela e deixar distinguir o contorno da roupa tão depressa despida horas antes, e eu a lançar-me num beijo teu e num abraço triste, de que não vás, que fiques, que te quero aqui, que quero ver o sol forte, mais forte que esta luz ténue, quero recebê-lo contigo, e triste vias-me partir, e triste partia eu, e fiz aquela estrada na madrugada fria, na madrugada molhada, os quilómetros vazios, e suponho que tu te preparavas para o dia nascente com a saudade vertida na roupa já fria.

“Das traseiras da tua casa deitas uma escada e por fim, vens ter a mim, vens ter a mim, e eu qual Romeu digo-te sim, dou-te amor quem mo quer dar a mim?
Tenho os meus armários cheios de cartas a dizer I love you, que eu só quero alguém como tu, vem por-me a nu, vem por-me a nu. Queria amor e amor deste tu.”

(contém excertos de Linha das Fronteiras, dos Trovante)"


João
Geografia das Curvas

«Balança mas não cai» - Shut up, Cláudia!




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07 maio 2015

Lama a fazer parentes (certamente para os pôr na lama)



Enviado pela São Patrício

«respostas a perguntas inexistentes (299)» - bagaço amarelo

insuficiência

Todos procuramos certezas no Amor, sem percebermos que são elas o seu fim. Um Amor a sério vive sempre da dúvida e da insegurança, do receio e da saudade. Por mais que se tenha de um Amor nunca é suficiente. A insuficiência e a insegurança, como duas irmãs gémeas, andam sempre de mão dada.
Pedir a quem se Ama que dê mais é a mesma coisa que pedir a um rio que mude o seu curso natural. Não se faz nem leva a lado nenhum. Para viver bem com um Amor é preciso viver bem com o insuficiente.
Mal do Amor quando é suficiente, quando um dos apaixonados diz para si mesmo que já chega. Todos procuramos certezas no Amor, é verdade. Eu procuro-as na insuficiência, porque é dela que vivo.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»