Pequeno prato de porcelana de Limoges, pintado à mão, com um casal numa cama.
De Limoges (França) para a minha colecção.
Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)
12 maio 2015
11 maio 2015
«Tempestade» - João
"A notícia chegou e rebentou como trovoada seca, e logo disse que tinha de ir, que precisava lá estar, mas disseram-lhe que não, que era perigoso, podia originar problemas, conflitos, que podia ser mal interpretado, que ia correr mal, mas ele tinha de lá estar, tinha de ir, e foi escondido entre amigos, vestido de escuro como escura era a notícia, e enquanto os viu avançar, lá abaixo, ficou ele resguardado, menos das pingas que as nuvens trocistas soltavam do que dos olhares alheios, impacientemente escondido atrás de uma árvore, de olhar preso lá longe, ao fundo, onde todos se agrupavam, escondiam a mágoa e cumprimentavam de rostos sombrios. E no final, quando todos subiam a pequena encosta de regresso ao caminho empedrado, ele distraiu-se com a árvore e a árvore com ele, e os olhos dela viram-lhe o recorte na paisagem, e parou, parou por um momento e fixou-o por instantes antes de avançar resoluta até ele, e ele até ela, e as nuvens a troçar, a enviar pingas mais pesadas e mais frequentes, o vento a fazê-las bater nos rostos fechados e nuns quantos guarda-chuvas, e pararam sozinhos a meio, de pés no relvado, ela atirou-se aos braços dele que se fecharam como concha, e soluçando escondeu-se nele, por um bom tempo, até lhe perguntar se não dizia nada. Mas ele, estando ali, já lhe havia dito tudo."
João
Geografia das Curvas
João
Geografia das Curvas
Postalinhos da Turquia - 1
"Cybele, Mãe Deusa da Fertilidade pré-histórica, ladeada por duas leoas, encontrada em Çatalhöyük (Turquia) e datada do Neolítico (cerca de 6000-5500 a.C.).
Peça do Museu das Civilizações da Anatólia, em Ankara."
Paulo M.
Peça do Museu das Civilizações da Anatólia, em Ankara."
Paulo M.
10 maio 2015
Luís Gaspar lê «Para os lábios que o homem faz» de Mário Cesariny
Para os lábios
que o homem faz
que atraem beijos
ao redor do mundo
ficou na nossa memória
em qualquer parte a qualquer hora
um pedaço
de pão
Promessa
que se cumpre
que alimenta
o mundo
Olhos
a exigir
uma floresta
Mário Cesariny, in “Pena Capital”
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
Jogo de cintura
Não tive jogo de cintura. Sentei-me na sua frente, ajeitei a saia como se por artes mágicas o tecido fosse crescer naquele preciso momento e fiquei a ouvi-lo discorrer sobre as oportunidades que se abriam, o lugar vago, as regalias inerentes, enquanto os seus olhos faziam a carreira regular de elevador entre o traçar das minhas pernas e as minhas mamas e não tive dúvidas de que ele pintava o cabelo para o seu rosto mimoso não deixar transparecer o ano de nascimento impresso no bilhete de identidade.
De forma cavalheiresca estendeu-me a cigarreira e fez questão de me dar lume com o seu isqueiro Dupont prateado, enaltecendo o desafio desta oportunidade que até poderíamos discutir à mesa se isso me agradasse mais já que ele, graças ao facto da esposa ser médica tinha as análises sempre em dia e transportava-as consigo no bolso interior do casaco.
Verdade seja dita que uns amassos até fazem mais pela minha estética que várias sessões de ginásio e aquele exemplar até tinha um corpinho jeitoso para lhe fazer uma sauna mas esgravatava-me o orgulho aquela imposição de me fazer assalariada quando apenas sou promíscua com quem me dá na real gana pelo que na volta lhe retorqui que não trazia arco porque não era adepta da prática do hula-hula.
De forma cavalheiresca estendeu-me a cigarreira e fez questão de me dar lume com o seu isqueiro Dupont prateado, enaltecendo o desafio desta oportunidade que até poderíamos discutir à mesa se isso me agradasse mais já que ele, graças ao facto da esposa ser médica tinha as análises sempre em dia e transportava-as consigo no bolso interior do casaco.
Verdade seja dita que uns amassos até fazem mais pela minha estética que várias sessões de ginásio e aquele exemplar até tinha um corpinho jeitoso para lhe fazer uma sauna mas esgravatava-me o orgulho aquela imposição de me fazer assalariada quando apenas sou promíscua com quem me dá na real gana pelo que na volta lhe retorqui que não trazia arco porque não era adepta da prática do hula-hula.
09 maio 2015
«Quando se ama alguém ausente...» - por Rui Felício
Deitada, meio adormecida, ouviu-lhe os passos a entrar no quarto e momentos depois a enfiar-se na cama por baixo dos lençóis que a cobriam.
Despertou quando o companheiro lhe tocou os cabelos, os olhos, o pescoço.
Sentiu cócegas quando os dedos dele desceram para as costas e para o peito, dedilhando-lhe o corpo como quem pisa suavemente os bordões do braço de uma guitarra.
Ao principio era vontade de rir o que sentia, mas aos poucos o riso transformou-se num arrepio, num estremecimento, na contracção involuntária dos músculos do corpo.
Deu por si a ondular lentamente, de forma instintiva, involuntária. A respiração acelerava como se estivesse cansada, sem o estar.
As caricias carinhosas das mãos dele provocavam-lhe sensações voluptuosas irreprimíveis, estranhamente na região do corpo onde ele ainda nem sequer havia tocado.
Retribuiu-lhe os carinhos com um beijo longo, prolongado, que lhe aumentava as sensações e lhe acelerava a respiração e os movimentos.
Endoideceu ao escutar o gemido rouco, gutural, que ele não conseguiu evitar quando a mão dela lhe percorreu o corpo, detendo-se onde ele parecia mais desejar.
Descontrolou-se quando a mão dele finalmente a pressionou na fornalha que já a incendiava.
Na penumbra do quarto, as silhuetas dos corpos nus apenas se adivinhavam. Só pelo tacto tinham a certeza de que não era sonho, de que eram reais.
Cavalgaram as sucessivas ondas de prazer até ao cume.
No auge, ele não resistiu e sussurrou-lhe:
- Amo-te, Catarina!
Uma onda gélida escorreu pelo corpo dela em chamas.
A Marta esperava tudo menos isso...
Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido
Despertou quando o companheiro lhe tocou os cabelos, os olhos, o pescoço.
Sentiu cócegas quando os dedos dele desceram para as costas e para o peito, dedilhando-lhe o corpo como quem pisa suavemente os bordões do braço de uma guitarra.
Ao principio era vontade de rir o que sentia, mas aos poucos o riso transformou-se num arrepio, num estremecimento, na contracção involuntária dos músculos do corpo.
Deu por si a ondular lentamente, de forma instintiva, involuntária. A respiração acelerava como se estivesse cansada, sem o estar.
As caricias carinhosas das mãos dele provocavam-lhe sensações voluptuosas irreprimíveis, estranhamente na região do corpo onde ele ainda nem sequer havia tocado.
Retribuiu-lhe os carinhos com um beijo longo, prolongado, que lhe aumentava as sensações e lhe acelerava a respiração e os movimentos.
Endoideceu ao escutar o gemido rouco, gutural, que ele não conseguiu evitar quando a mão dela lhe percorreu o corpo, detendo-se onde ele parecia mais desejar.
Descontrolou-se quando a mão dele finalmente a pressionou na fornalha que já a incendiava.
Na penumbra do quarto, as silhuetas dos corpos nus apenas se adivinhavam. Só pelo tacto tinham a certeza de que não era sonho, de que eram reais.
Cavalgaram as sucessivas ondas de prazer até ao cume.
No auge, ele não resistiu e sussurrou-lhe:
- Amo-te, Catarina!
Uma onda gélida escorreu pelo corpo dela em chamas.
A Marta esperava tudo menos isso...
Rui Felício
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«O tango» - Judith Teixeira
«Tango» - Zheng Qiuna Óleo sobre tela, China, 2003 Colecção de arte erótica «a funda São» |
Deslizam pela sala,
Ele sorri, ela não fala…
Bem colados,
os peitos bem unidos
em requebros sensuais,
embaralhados
os corpos e os sentidos
nos movimentos desiguais –
ela enrolava-o todo nos vestidos!
E os olhos falam de um desejo,
exigente, febril, incendiado!
As bocas recortaram-se num beijo…
- uma promessa
apenas
que se não confessa,
pondo-lhe sombras morenas
no olhar cobiçoso e abrasado!
……………………………………………………
A orquestra emudeceu…
……………………………………………………
Agora ao canto da janela
o perfil dela,
loiro, branco, estilizado,
tem o ar frio e recatado,
de quem não entendeu
aquilo que prometeu…
Judith Teixeira (1888-1959)
Poemas a Tinta
Estoril-Junho
1922
~ Descoberto e enviado por A. Maia
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