08 junho 2015
«Ordem» - João
"No momento em que o telefone toca e o coração dispara, um dedo desajeitado desliza sobre o ecrã para atender e encostar o aparelho ao ouvido na expectativa do que dali viesse, e dali veio um sonoro fode-me. Como? Isso mesmo, fode-me. Não me obrigues a dizer mais, é muito complicado, leva muito tempo, e isto é a versão condensada. Fode-me por favor, e ele a pensar que isso nem é por favor, muito menos obrigação, e sim que te fodo, diz-me onde, diz-me quando, que te fodo agora, que te fodo já, e enquanto nos fodemos tu contas-me tudo com os teus olhos e eu com os meus, e com as mãos fazemos desenhos, e no meio de suspiros tudo será conhecido, é mais simples assim, talvez, e preciso tanto, precisas tanto, disto, de tudo isto, e se no fim disseres que não perdemos o jeito, se no fim disseres que somos animais, então o mundo está a girar à velocidade de sempre e no caos prevalece ainda alguma ordem."
João
Geografia das Curvas
João
Geografia das Curvas
07 junho 2015
Luís Gaspar lê «A noite na ilha» de Pablo Neruda
Dormi contigo toda a noite
junto ao mar, na ilha.
Eras doce e selvagem entre o prazer e o sono,
entre o fogo e a água.
Os nossos sonos uniram-se
talvez muito tarde
no alto ou no fundo,
em cima como ramos que um mesmo vento agita,
em baixo como vermelhas raízes que se tocam.
O teu sono separou-se
talvez do meu
e andava à minha procura
pelo mar escuro
como dantes,
quando ainda não existias,
quando sem te avistar
naveguei a teu lado
e os teus olhos buscavam
o que agora
– pão, vinho, amor e cólera –
te dou às mãos cheias,
porque tu és a taça
que esperava os dons da minha vida.
Dormi contigo
toda a noite enquanto
a terra escura gira
com os vivos e os mortos,
e ao acordar de repente
no meio da sombra
o meu braço cingia a tua cintura.
Nem a noite nem o sono
puderam separar-nos.
Dormi contigo
e, ao acordar, tua boca,
saída do teu sono,
trouxe-me o sabor da terra,
da água do mar, das algas,
do âmago da tua vida,
e recebi teu beijo,
molhado pela aurora,
como se me viesse
do mar que nos cerca.
(Tradução de Albano Martins)
Pablo Neruda
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
Contornos do calor
Lá íamos nós a chinelar da praia para o apartamento, tchec tchec tchec naquele passo amolecido que o sol e a água da praia provocam. É como se o esforço de exalar calor por cada poro da pele durante horas me fizesse desfalecer. E no entanto este aumento da temperatura corporal ao distribuir facilmente o sangue por cada canto de mim também me aumenta a energia como se acabadinha de sair de um aparelho de ginásio mesmo que naquele dia só lá estivessem barrigudos para lavar as vistas. É assim a modos como encher o peito de ar e, as mamas estivessem de dedinho no ar a gritar eu quero, eu quero uma massagem com o refresco da saliva que nestas ocasiões faz muito bem as vezes de um cubinho de gelo.
Ele continuava calado como se o peso da toalhita lhe retirasse o fôlego e avancei que talvez fosse bom lancharmos para ele arrebitar e porque o mar abre sempre o apetite. Ele concordou, pediu-me as chaves para abrir a porta e perguntou-me o que é me estava a apetecer. Dei-lhe as chaves na mão enquanto o pressionava contra a porta e fazia descair a minha mão direita que não sou canhota para o seu centro de gravidade, abrindo bem os dedos para abarcar todo o volume das massas em causa e lhe dizer que desde que proibiram as bolas de Berlim na praia mais vontade tenho delas com um niquito de leite fresco.
Ele continuava calado como se o peso da toalhita lhe retirasse o fôlego e avancei que talvez fosse bom lancharmos para ele arrebitar e porque o mar abre sempre o apetite. Ele concordou, pediu-me as chaves para abrir a porta e perguntou-me o que é me estava a apetecer. Dei-lhe as chaves na mão enquanto o pressionava contra a porta e fazia descair a minha mão direita que não sou canhota para o seu centro de gravidade, abrindo bem os dedos para abarcar todo o volume das massas em causa e lhe dizer que desde que proibiram as bolas de Berlim na praia mais vontade tenho delas com um niquito de leite fresco.
06 junho 2015
«Nua e teimosa» - por Rui Felício
Depois de tomar banho, espelha a maior felicidade.
Gosta de ficar esparramada no sofá a ver TV, completamente nua, deliciada com o cheiro do banho acabado de tomar.
Já lhe disse várias vezes que ao menos podia vestir aquela saia curta, levezinha, que lhe comprei há tempos. Embora estivesse na intimidade do lar, escusava de ficar assim nua, descomposta , húmida e sujeita a apanhar uma constipação...
Ontem, mais uma vez, insisti que vestisse a roupa que lhe comprei.
Reagiu, agressiva, abocanhou a saia que eu lhe tentava enfiar, rasgou-a, e saiu para o quintal esbaforida a ladrar.
Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido
Gosta de ficar esparramada no sofá a ver TV, completamente nua, deliciada com o cheiro do banho acabado de tomar.
Já lhe disse várias vezes que ao menos podia vestir aquela saia curta, levezinha, que lhe comprei há tempos. Embora estivesse na intimidade do lar, escusava de ficar assim nua, descomposta , húmida e sujeita a apanhar uma constipação...
Ontem, mais uma vez, insisti que vestisse a roupa que lhe comprei.
Reagiu, agressiva, abocanhou a saia que eu lhe tentava enfiar, rasgou-a, e saiu para o quintal esbaforida a ladrar.
Rui Felício
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«Antologia de poesia latina erótica e satírica»
Antologia com poesia da Carmina Priapea, de Catulo, Tíbulo e Sulpícia, Propércio, Horácio, Ovídio, Marcial, Juvenal e Reposiano, com textos introdutórios de vários docentes da faculdade de Letras de Lisboa - Custódio Magueijo, J. Lourenço de Carvalho e José António Campos. Prefácio de José Martins Garcia. Ilustrações de Eduardo Batarda, José Lopez-Werner, Edgar Perdigão e Olga Pianola.
Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)
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05 junho 2015
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