"Estavas tão hesitante que se notava nas tuas pernas, torneadas, um recorte perfeito no contraste da paisagem, e não há ninguém, não há ninguém aqui, e tu num nervosinho miúdo, miudinho, e eu também, e a electricidade no ar, sentes? Sentes a electricidade a envolver-nos? A comer-nos por dentro, por fora, a atrair, a faísca a formar-se, e as tuas pernas a hesitar, os teus braços atrás das costas sem saber o que fazer, e para onde vamos, o que vem lá, um sol que nasce ou noite escura, e quem vem lá, quem está cá, ninguém, não há ninguém, só silêncio e hesitação, e o teu corpo a conquistar milímetros, avanços e recuos à força para novos avanços sem conseguir resistir e então que te quero, não consigo mais, e deixas-te cair sobre mim, e eu faço-me chão teu, e acolho o teu corpo a cair, a cair, a tombar, desfaleces sobre mim e suspiras, deixas rolar lágrimas pesadas de querer guardado e não há ninguém aqui, não há alma alguma que não a tua, e seguramo-nos num abraço longo, no conforto do cheiro da pele, e o silêncio é imenso, o tempo da verdade, dos sinais, da telepatia que nos faz.A cortina de veludo vermelho pendia de um varão acobreado, horizontal, separando duas paredes que compunham um provador bastante espaçoso. As paredes, pintadas em cinza escuro, aproximavam-se do chão preto e brilhante, que funcionava como um espelho perfeitamente polido, e ao fundo daquela sala, em oposição ao provador, estava um sofá branco, para três pessoas, e eu sentado do lado esquerdo, com o braço apoiado no sofá e a perna cruzada, ondulando o pé vagarosamente enquanto ouvia o barulho de cabides a despir-se da roupa que seguravam, e a cortina vermelha a ondular, a reagir à brisa que o teu corpo provocava sempre que te movias mais exuberante.
A tua mão surge e afasta a cortina, e encostas-te à parede, de lado para mim, com um vestido belo e saltos muito altos. E perguntas-me se gosto. Gosto, se gosto. Mas depressa te digo
tira tudo, mas deixa ficar os sapatos
e então descruzo as pernas, e tu caminhas em direcção a mim, no sofá branco, e eu sento-me ao meio, tu sobre mim, com um joelho de cada lado, e o peito ao nível da minha boca, e dizes-me que te lamba, e eu lambo, e delicio-me com os teus mamilos enquanto te seguro e a dado instante, a dado instante já me interessa muito pouco, se alguma vez, se o sofá é branco ou não."
João
Geografia das Curvas
03 agosto 2015
02 agosto 2015
Luís Gaspar lê «Não é o tempo…» de Otília Martel
Não é o tempo magoado
da tua ausência
Não é o vento percorrendo
o meu corpo solitário
Não são as palavras que sibilam baixinho
no meu pensamento
Não é o cheiro de maresia
nos meus cabelos revoltos
Não é o orvalho que sinto escorrer
pelo rosto embaciando-me o olhar.
É o tempo das manhãs claras.
Da gargalhada solta.
Das tuas mãos nas minhas.
Da tua voz sussurrante na minha boca.
Da magia que me empurra para ti.
São estes momentos que me fazem falta.
Otília Martel
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
O pacote da Pandora
A gaja chamar-se Pandora é um apelo explícito a deixar-lhe a caixa toda escancarada, certo?
Patife
@FF_Patife no Twitter
01 agosto 2015
«conversa 2122» - bagaço amarelo
Eu - Sim... tirando não ter dinheiro para mandar cantar um cego, está tudo bem.
Ela - O Stevie Wonder, por exemplo.
Eu - O quê?!
Ela -O Stevie Wonder é cego e não tens dinheiro para o mandar cantar. Deve ser caríssimo...
Eu - Onde é que queres chegar com isso?
Ela - A lado nenhum...
Eu - Pareces chateada...
Ela - E estou... mas não é contigo.
Eu - Então?!
Ela - O meu marido entrou hoje na casa de banho quando eu lá estava...
Eu - E qual é o problema?
Ela - O problema é que eu sou casada com ele e a retrete é o único lugar onde uma pessoa casada consegue ter alguma privacidade. Até à retrete ele já chegou. Percebes o que eu estou a dizer?
Eu - Mais ou menos... qual é a relação com o Stevie Wonder?
Ela - Mandei-o sair da casa de banho e ele veio com a mesma conversa de que não temos dinheiro para mandar cantar um cego, por isso temos que partilhar a casa de banho quando for preciso. Não temos dinheiro para uma casa maior. O Stevie Wonder foi a resposta que eu lhe dei...
Eu - E ele?
Ela - Começou a cantar o "I Just Called To Say I Love You".
Eu - E tu?
Ela - Saí de casa um bocado enraivecida e depois de discutir com ele...
Eu - Ele está bem?
Ela - Está. Não te preocupes, não o matei.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
«Sonho que se cumpriu» - por Rui Felício
«Rapariga a tomar banho num balde com top de tecido que sai e mostra o peito» Estatueta em resina e tecido da colecção de arte erótica «a funda São» |
A Sandra despiu-se lentamente. Primeiro os sapatos, a seguir a saia, a blusa, o soutien, toda a roupa, peça por peça, até ficar nua. Flectiu uma perna, depois a outra, deitou-se de costas, o corpo lânguido, a boca entreaberta, os olhos semicerrados a fitarem um ponto vago e indefinido.
Primeiro os dedos, depois as palmas das mãos começaram a percorrer o seu corpo. A cada toque, o pensamento divagava, os olhos quase se fechavam. Conseguia ouvir a cadência do coração a bater dentro do peito, o prazer inundava-a...
Não resistiu, estendeu o braço e envolveu com a sua mão aquele objecto duro de textura suave, ligeiramente húmido, que sempre estivera ali a seu lado.
Conduziu-o para junto do rosto, sentiu o seu perfume, passou-o pelo pescoço, pelos seios. Fazia-o deslizar em movimentos ondulatórios, ora com maior ora com menor pressão sobre a pele.
Levou-o a descer pela barriga, acompanhando os movimentos das ancas. Escorregou-lhe da mão, já molhado, revestido por um liquido espesso e cremoso. Tacteou avidamente aquele instrumento de prazer e voltou a pegar-lhe, desta vez com mais força.
Agora, fazia-o deslizar pelas coxas. Entreabriu-as lascivamente e levou-o aos poucos até mais acima. Passou-o repetidamente em volta, pela frente, por trás, até que o pressionou demoradamente sentindo o mesmo prazer indescritível que as estrelas de cinema confessavam experimentar.
A Sandra, ainda meio submersa na banheira da sua casa de banho, tinha cumprido o seu sonho.
Não era em vão nem por mero acaso, o velho slogan de que nove em cada dez estrelas de cinema usavam o sabonete Lux.
Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido
31 julho 2015
Raimundos - «Selim»
Eu queria ser o banquinho da bicicleta
P'ra ficar bem no meio das pernas
E sentir o seu ânus suar
Eu queria ser a calcinha daquela menina
P'ra ficar bem perto da vagina
E às vezes até me molhar
Mas eu não sei o que se passa nesta cabecinha
É claro que era da minha
Você não pode duvidar
Fica quieto
Não me deixe envergonhado
Pois se eu ficar excitado
Minha calça vai estourar.
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