A minha colecção passou a ter uma honrosa extensão em Azurva (Aveiro).
"Sãozita,
Pedras de xadrez de grande categoria, merecem um tabuleiro de igual classe!...
Que tal? Achas que estão bem?
Obrigado
Um beijo
Alfredo"
08 setembro 2015
07 setembro 2015
«Finalmente sós» - João
"Tenho algo de que precisas, tu tens algo de que preciso. Damos por nós finalmente a sós, tu, eu, este espaço, e começo a ver os teus joelhos tremer, as tuas pernas a ceder a mim, até que num suspiro decides deixar-me entrar, porque eu tenho algo de que precisas e tu tens algo de que eu preciso, um algo que é muito, muito mais do que se vê, como em tudo, como sempre, e agora, e aqui, tu só, e eu só, furtivos num pedaço de tempo em que nos esmagamos, como átomos atirados a toda a velocidade um contra o outro, e salvo-te, salvas-me, colamos lábios, colamos pele, colamos pernas e mãos e suspiros, gemidos, palavras sem sentido. Eu venho-me, tu vens-te. Somamos e dividimos, que bom, que bom que isto é, que matemática perfeita, tão singular. Vemo-nos de novo um dia destes, neste contínuo do ir e do vir, da escuridão dos sonhos e das noites frias, das ausências que dão espaços, porque tenho algo de que precisas muito, e tu tens algo de que eu preciso muito, e se parece coisa única, singular, é plural, tão plural que não tem explicação. Nenhuma. E quase aborrece."
João
Geografia das Curvas
João
Geografia das Curvas
06 setembro 2015
Postaliño da Figueira de la Foz
"Carro... digo, coche estacionado à porta do mercado da Figueira da Foz, num destes dias de Verão.
Paulo M.
Paulo M.
Tradições
Isto de acordar do coma passados dez anos complica-me as sensações e só pode ter sido a curiosidade que me moveu a aceitar ir a casa dele depois de me mostrar que lia os jornais numa lousa electrónica a dar toquezinhos com a ponta dos dedos e me dizer que bebia café em cápsulas quando afinal as metia numa maquineta com um design a imitar os anos 50 e risonho me lançava o indecifrável só tenho medo que me caia um piano em cima.
Já no envolvimento de música de filmes holiodescos ainda me mostrou que acedia a uma coisa chamada face-qualquer-coisa pela televisão mas era óbvia a urgência dele em me ver despida de roupas e muito por força do iminente risco de riso que os boxers com ursinhos dele me provocavam rapidamente afoguei a cara no púbis dele e com afã dediquei-me a incitar os bravos a mover o pináculo de catedral que me faria florete de espadachim em posição canina e de frango assado.
Lá me voltou a falhar a compreensão quando ele acabou de resfolegar e conseguiu articular a necessidade de multibanco móveis mas quando vi as notas à beira do sofá percebi que afinal há tradições que ainda são o que eram.
05 setembro 2015
«pensamentos catatónicos (322)» - bagaço amarelo
O problema dos homens sós não é apenas a solidão. É o Amor estar em todo o lado menos neles. Os homens sós estão para o Amor assim como um ateu está para Deus. Sabem que ele existe mas não lhe conseguem tocar. Assim como os ateus dizem "Meu Deus!" sem acreditarem que podem chegar a Deus, os homens sós dizem "foda-se" sem acreditarem que podem chegar ao Amor. Vai dar ao mesmo. É um desabafo.
O problema das mulheres sós não é apenas a solidão. É o Amor não estar em lado nenhum a não ser nelas. As mulheres sós estão para o Amor assim como Deus está para os ateus. Sabe que eles existem mas não obtém nada deles. Assim como Deus não lhes diz nada, as mulheres sós também nada dizem. Vai dar ao mesmo. É o silêncio.
E eu, que ateu me confesso, homem só me sinto.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
«Na paragem do autocarro» - por Rui Felício
«Plaisir des Dieux» - canções malandras francesas Disco em vinil da colecção «Prazer dos Deuses» - "tonus" (volume 15) da colecção de arte erótica «a funda São» * |
Um corpo escultural, o nariz perfeito bem desenhado equilibrava o rosto oval, de pele sedosa, onde sobressaiam uns olhos negros, profundos como um lago onde apetecia mergulhar, emoldurado por belas madeixas de cabelos negros.
Da sua boca de lábios carnudos, apetitosos, escapava-se de vez um quando um suspiro de impaciência a que se seguia um ligeiro virar da cabeça para me lançar um lânguido olhar e um sorriso que deixava ver duas fiadas de dentes imaculadamente brancos.
As pernas altas, torneadas, em cima de uns sapatos brilhantes de saltos finos, de agulha, davam-lhe a elegância de uma deusa. Por vezes, batia repetidamente com o tacão dos pontiagudos saltos dos sapatos, em sinal de ansiedade e expectativa, pela demora do autocarro.
Atrás dela, estático, tenso, na fila da paragem do autocarro, mirava-lhe as generosas curvas do corpo envolto por um vestido leve de seda que quase me deixava ver aquilo que imaginava. Sentia o seu cheiro perfumado, a proximidade e o calor do seu corpo. Retesava-me, contraído e, em vez de um sorriso, devolvia-lhe o olhar com um esgar revelador da ansiedade que também sentia, já indisfarçável.
As palavras que ia alinhavando na minha cabeça para lhe dizer, ficavam bloqueadas, presas na garganta.
Por fim, enchi-me de coragem, venci a minha timidez e disse-lhe:
- Desculpe minha Senhora, o salto do seu sapato em cima do meu pé, está a provocar-me uma dor horrível!
Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido
* Em França há uma tradição muito curiosa: as «chansons paillardes» (canções tradicionais libertinas, cantadas em privado, entre amigos), também conhecidas como «chansons de salles de garde». A página chansons-paillardes.net recolhe músicas, letras, publicações sobre o tema. No livro «Anthologie des chansons paillardes», Pierre Enckell, explica: "Georges Brassens, Serge Gainsbourg,... muitos artistas marcaram a música popular e cantaram alegremente o erotismo e a sensualidade. Muitas vezes foram chamadas de «músicas de quartos de custódia», em referência aos internos dos hospitais, que supostamente as deveriam saber todas de cor, ou mesmo «canções de alunos», como se tivessem tido origem exclusivamente nas tradições perpetuadas em universidades e escolas. No entanto, as canções obscenas experimentaram uma distribuição extremamente ampla. Em todos os níveis da sociedade e em todas as ocasiões, os seus versos foram cantados ou gritados, desde há mais de um século, na cidade e no campo, nos quartéis e na vida civil, durante jantares de casamento ou viagens de autocarro. Estas «gaulesices» em verso formam, assim, um fundo cultural amplamente compartilhado, condenado a viver para sempre na memória colectiva de França. Transmitida de boca em boca, com o passar das gerações e transformações culturais, as canções deformam-se, perdem elementos ou caem gradualmente no esquecimento." As colectâneas, estudos e gravações ajudam a preservar esta tradição.
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