06 setembro 2015

Tradições

Isto de acordar do coma passados dez anos complica-me as sensações e só pode ter sido a curiosidade que me moveu a aceitar ir a casa dele depois de me mostrar que lia os jornais numa lousa electrónica a dar toquezinhos com a ponta dos dedos e me dizer que bebia café em cápsulas quando afinal as metia numa maquineta com um design a imitar os anos 50 e risonho me lançava o indecifrável só tenho medo que me caia um piano em cima. 

Já no envolvimento de música de filmes holiodescos ainda me mostrou que acedia a uma coisa chamada face-qualquer-coisa pela televisão mas era óbvia a urgência dele em me ver despida de roupas e muito por força do iminente risco de riso que os boxers com ursinhos dele me provocavam rapidamente afoguei a cara no púbis dele e com afã dediquei-me a incitar os bravos a mover o pináculo de catedral que me faria florete de espadachim em posição canina e de frango assado. 

Lá me voltou a falhar a compreensão quando ele acabou de resfolegar e conseguiu articular a necessidade de multibanco móveis mas quando vi as notas à beira do sofá percebi que afinal há tradições que ainda são o que eram.