"O corredor sempre fora assim, recheado de livros à esquerda e à direita, e a luz entrava diagonal de uma janela alta e mostrava o pó que se suspendia em dança lenta sempre que algum livro era mexido, e se havia alguns que sempre andavam de mão em mão, outros ficavam à mercê do tempo perdido e do ocasional espanador de alguma empregada de limpeza. E eles sabiam bem quais eram os livros que trocavam de mãos mais vezes. Um deles, velho conhecido, não iria a lado nenhum quase de certeza. Estava guardado ao lado de outros, ignorado. Decidiram utilizá-lo como veículo das suas mensagens, e era assim que também ele, de tempos a tempos, era manuseado. No tempo de todas as tecnologias, pequenas folhas de papel manuscritas eram colocadas dentro desse livro, nem sempre entre as mesmas páginas, saltando de capítulo em capítulo como por capricho. Ora de um, ora de outro. E as mensagens eram variadas. Um quero fazer tudo contigo, ou um amo-te seco à pressa, por vezes coisas mais crípticas que assinalavam locais e horas, e na verdade todos os dias se passeavam por ali para no recato de um momento vazio pegar no livro, abri-lo ao acaso, plantar uma folha escrita com emoção, fechá-lo e voltar a colocar na mesma prateleira, no local de sempre, desafiando o corropio de todos os outros. Talvez aquele não fosse a lado nenhum, talvez ninguém o quisesse ler, mas era o livro mais desejado de todos quantos ali se empurravam nas prateleiras.
Um dia ele foi lá e não encontrou nada. Pegou no livro como sempre, com o coração acelerado, com a emoção de querer ler o que ela tinha escrito para ele, mas abriu, folheou, virou até as folhas para o chão na esperança de ver cair uma folha solta que lhe tivesse escapado, mas nada. Só a luz a entrar diagonal pela janela e a poeira a dançar, suspensa no ar, como que a gozá-lo, sem vergonha nem consideração. O livro estava vazio, apesar de todas as suas páginas escritas. Passou outro dia e ele voltou a percorrer o mesmo corredor, e de novo o coração acelerado com uma expressão de expectativa no rosto, e as folhas impressas sem as palavras que ele procurava, nenhum papel solto lá dentro, nenhum quero-te, nenhum vem comigo, nada de ser só tua, nada de nada, só as folhas, as costuras, a capa dura. A poeira a dançar contra os raios de luz tornava-se a imagem do desespero, ela não estava ali, o livro estava morto, devolvido à prateleira apertada, e o rosto a encher-se de tristeza, e por vezes deixava ele um papel com a sua letra, onde estás, que é feito, onde foste, e encontrava-os no dia seguinte, colocados no mesmo local, sem sinal de nada, intocado, deixado por abrir. E um livro fechado é de pouco interesse, não diz nada, não fala, não aquece.
Mais tarde, centenas, milhares de dias a pegar naquele livro, à espera do papel que não aparecia, olhou a toda a volta, desconfiado de que alguém o observasse. O papel que lá havia deixado da outra vez, estava lá, sim. Mas estava noutro sítio. Noutro capítulo. Tinha sido mexido. E nos dias seguintes sempre aconteceu a mesma coisa, ele deixava os seus escritos num sítio, e eles apareciam noutro. Mas nada era respondido, nada era dito, e nunca ninguém parecia espreitá-lo, a hora era de morte como sempre, e aquilo que ele lá deixava parecia mudado como magia, como se o seu papelito manuscrito se dissolvesse entre as páginas e mudasse de local, sem que lhe tocassem. Deixou um novo, com palavras muito especiais, e veio embora, com um olhar que perdera brilho na passagem dos dias, que já nem notava a poeira na luz diagonal. Aquele livro onde colocava papelinhos manuscritos tornara-se um ritual de vida que lhe animava os passos, dava sentido, porque raios, algum sentido teria de haver, para alguma coisa havia de servir, não podia ser por nada, para nada.
Chegou um novo dia, um qualquer novo dia, e ele, passo a passo, lá foi. Repetir o gesto de sempre, fazendo o corredor até onde estava aquele livro tão especial para ele, um dia para eles mas agora talvez só para ele, que ninguém levava, ninguém pedia, não havia quem abrisse senão ele e sabe-se lá se mais alguém que lhe trocava as voltas mudando os papeis de sítio. Talvez tivesse sido observado por algum traquina, talvez alguém tivesse decidido gozá-lo, trocar-lhe as voltas, ou fazê-lo sentir-se senil, maluco, fora de prazo. De pé, frente à lombada, de mão já pousada sobre ele com o gesto de quem o vai retirar, nota que está uma folha de cor diferente, saliente, visível entre todas as outras. Era algo novo em tanto tempo, mas conhecido. A mesma cor de papel que tanto tempo antes havia lido, com a letra torneada que reconheceria em qualquer ponto do mundo ou da vida. O coração que já seguia gasto das emoções passadas e os olhos baços da esperança perdida aceleraram-se e brilharam de novo, e a respiração fez-se ofegante e abriu o livro à pressa, pegou a folhinha que ali estava e deu um passo atrás quase em desequilíbrio, o coração tanto mais rápido e os olhos fixos. O livro. Um papel. Uma palavra apenas.
Virou-se e viu o rosto dela por entre livros da prateleira em frente. Ficou imóvel, paralisado pela surpresa, enquanto a viu acelerar o passo em direcção a ele, a apanhá-lo nos braços e a apertá-lo com força. Com muita força. Estou viva ainda, respiro contigo e por ti, e ele quase a cair, e ela a ampará-lo, que não sonhas, não te deixes cair amor, eu seguro-te, e os lábios a colar-se, ele a chorar como menino pequeno, e a incredulidade, estás aqui? E estava, eram eles, era o livro, era o papelinho, e a luz diagonal a mostrar as poeiras que dançavam, lânguidas, suspensas no ar agitado pelos seus corpos que a pouco e pouco, recompostas as emoções, dançavam também, na descoberta de que as peles eram iguais, e tudo continuava electrizante, como em tempo parecia até aborrecer, de tão animais que eram. E continuavam a ser."
João
Geografia das Curvas
12 outubro 2015
Postalinho da baixinha de Coimbrinha
"Toma lá um buraquinho que serve almoços e petiscos, enquanto outro, mesmo ao lado, está fechado e trancado"
Daisy Moreirinhas
Daisy Moreirinhas
11 outubro 2015
«respostas a perguntas inexistentes (311)» - bagaço amarelo
Quando um Amor acaba é sempre triste, mas a maior tristeza não é o seu fim. É a sua morte lenta. O Amor devia morrer como se morria no velho Oeste, com um tiro na nuca e um cadáver no chão. Mas não. Tem a mania de morrer como um náufrago num dia de Verão. Desaparece lentamente numa praia qualquer e esperam-se dias, às vezes meses ou anos, para que o mar devolva o corpo já em decomposição.
É a morte lenta do Amor, aquela em que vida perde o sabor e não há tempero que lhe valha. Acontece no exacto momento em que deixamos de conseguir imaginar a vida sem o outro. A vida não merece isso, o outro também não. E o sexo torna-se um hábito gasto e mecânico tanto quanto outro momento qualquer.
O que um primeiro grande Amor nos ensina é a preservar o segundo, se conseguirmos perceber que o que falhou não foi o outro. Foi tudo, principalmente o dia-a-dia. Se todos o sabemos, porque é que nunca o dizemos? Não sei.
Sei que vivo a maior parte do meu tempo sozinho e que neste momento me dou ao luxo de estar numa sala desarrumada só por mim. Tenho as calças de ganga que trago a uso atiradas num dos sofás, uma pilha de livros que já li espalhada pelo chão e um copo de vinho vazio em cima duma cadeira que precisa de ser colada.
Daqui a nada pego no copo e vou à cozinha enchê-lo. Daqui a uns dias pego na minha saudade e vou a casa da minha companheira beijá-la. Vivo sempre com saudades dela e quero manter-me assim, saudoso. É a mesma saudade que tenho de encher o copo, porque o Amor que tenho por ela me embriaga da melhor maneira. Sem ressaca.
O que um primeiro grande Amor nos ensina é a preservar o segundo, repito. Sei que quando a saudade morre, o Amor morre a seguir. Mantenhamos a saudade para manter o Amor. Se todos vivêssemos bêbedos, o mundo era melhor.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
10 outubro 2015
«Lógica versus legalidade» - por Rui Felício
Nervosa e mal preparada, a Sandra não acertou em nenhuma das questões durante a prova oral da cadeira de Filosofia do Direito.
Condescendente, o professor tentou acalmá-la e propôs-lhe que dissertasse sobre um tema simples e do mais comum bom senso: “ A Lógica e a Legalidade”.
A Sandra começou, primeiro a medo, depois mais segura de si, socorrendo-se de exemplos práticos:
- O Sr. Dr., casado e com 60 anos de idade, ser amante da minha jovem e bonita colega Ivone, é lógico mas é ilegal.
- Já é ilógico que ela, tão nova ainda, mantenha consigo, tão mais velho, essa relação amorosa, mas do ponto de vista dela, que é descomprometida e livre, é legal.
- O que é ilógico e ilegal é que o Sr. Dr. me dê nota para eu passar sem eu perceber nada disto, só porque tem medo que eu faça chegar esta história aos ouvidos da sua mulher.
Mas sei que me vai dar 10...
Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido
Os Irlandeses são danados para a brincadeira!
Três preservativos humorísticos provenientes da república da Irlanda para a minha colecção: «Rub me for luck», «Full Irish breakfast» e «kiss my shillelagh» (bastão de caminhada típico da Irlanda).
Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)
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Garimpeiro sexual = Squirt
Estava a jantar calmamente com um amigo num restaurante de eleição de Lisboa, quando inadvertidamente escuto a conversa de duas finórias que se banqueteavam na mesa de trás. Dizia uma que teria vergonha se fosse uma daquelas mulheres que fazem squirt. “Coitadas, que vergonha deve ser no momento”, dizia. Ai filha, não preciso de muito mais para ficar intrigado, que é como quem diz, motivado para te arrancar um squirt dessa pachacha aprumadinha e toda cheia de nove horas. Acabámos a tomar os digestivos os quatro juntos, o que é meio caminho andado até às cuecas da moça. Não que precise de as embebedar para as pinar. Aliás, estou convicto que sou daqueles homens que quando entra num bar as mulheres começam logo mentalmente a tocar-se em simultâneo com uma mão na chona e com a outra mão rabo acima. Já não tenho é 20 anos e prefiro acelerar o tempo de engate para me alongar pachacha fora.
Dito e feito. Pouco tempo depois já eu estava a trabalhar aquela senisga como um garimpeiro em início de carreira. A mafarrica já estava tão inchada que o seu clítoris mais parecia uma pepita de 24 quilates. E é aí que começa a magia das mãos do Patife. A moça começa a arfar sofregamente, o seu rosto totalmente ruborizado, os olhos reviram-se com a desorientação própria de uma bússola no triângulo das bermudas e sinto que a explosão está a caminho. Neste momento a magana encontra-se completamente possessa da pachacha e mal sabe o que lhe está a acontecer. A chona entra em exaltação máxima e gera um autêntico tsunami orgástico que só por sorte não me levou de enxurrada do Chiado até à Baixa de Lisboa. Ela fica imóvel e ofegante, confusa com o que ocorreu, pois não sabia que lhe podia acontecer a ela. Julgava ela que o squirt era uma propensão natural de apenas algumas mulheres que certamente padecem de algum tipo de histeria vaginal. Saiu a bambolear como quem fica no céu a saborear prazeres terrenos. Eu cá fico por terra, a contar as chonas que passam.
Patife
@FF_Patife no Twitter
09 outubro 2015
«A última vez» - J. P. Silva
Finalmente o dia acabou. Estou tão cansado, e ainda hoje é só segunda-feira. Não sei o que se anda a passar, mas sinto algo errado na minha vida. Pode ser pelas coisas com a Marta continuarem confusas, por estar quase sempre sem apetite ou por andar a dormir pouco. Não sei mesmo…
Vou para casa descansar, tentar receber algum carinho dela ou então beber só um copo de whisky, enquanto ouço um pouco de Frédéric Chopin ou Beethoven. Provavelmente é mais fácil que aconteça a segunda hipótese. Não sei por que digo isto, mas é o que sinto no corpo quando penso. Enquanto não chego, vou fumando uns cigarros a ouvir um pouco de rádio. Ainda é uma hora até casa e, como sempre, parece que está algum trânsito. Já só me vem à cabeça a merda do copo de whisky!
Pois bem, cheguei finalmente e nem me apetece sair do carro. Esta viagem é sempre uma treta. Em vez de uma hora demorei quase duas, e agora que cheguei reparo num carro estranho aqui à porta de casa, um pouco escondido! Será alguma amiga da Marta? Estranho! Ela tem tão poucas amigas e aquelas que conheço são umas vacas, que não querem saber dela para nada e que raramente põem os pés aqui em casa porque me acham insuportável. Umas vacas, não haja dúvida.
Vou entrar devagar, sem fazer barulho porque estou com um pressentimento que algo não vai correr bem. Entro sorrateiramente, vou direto à cozinha, o mais rápido possível, o mais sorrateiramente possível. Não ouço nada! Parece que não está ninguém em casa. Estranho! Vou à garrafeira, abro uma das garrafas oferecidas pelos pais dela no nosso casamento: aquele J&B de 30 anos. Sinto que hoje vai dar jeito. Não sei por que sinto isso, mas se sinto vale mais deixar-me levar. Tiro um copo silenciosamente, duas pedras de gelo, e engulo o primeiro de seguida!
Meu Deus! O melhor whisky de sempre! Só falta mesmo a música, mas não a vou ligar sem ter a certeza do que se está a passar na minha casa. Bem, vou só encher mais um. Este aqui é para beber lentamente, enquanto subo as escadas até ao andar de cima.
Comecei a subir e lentamente acompanhava cada degrau com um pequeno gole de whisky. Fiquei espantado, mas não perdi a calma com o que ouvi. A Marta gemia por todos os lados. Nunca a ouvi gemer tão alto. Ao princípio pensei que estivesse sozinha a dar algum prazer a si própria, mas entretanto ouvi:
- Fode-me, fode-me mais, por favor.
Ela gritava por mais:
- Não pares, bate-me, com mais força! Isso! Mais!
Até que pediu agressivamente
– Agora mete-me o teu caralho na boca, quero chupá-lo já, por favor!
Fiquei chocado! Mantive a calma, não sei bem como, mas talvez tenha sido da ajuda do whisky! Ela gemia desalmadamente. Dava para perceber que já começava a chorar de tanto prazer e eu só a ouvia a chupar o caralho sabe-se lá de quem.
Fui bebendo o meu copo de whisky a ouvir todos aqueles sons que de certa forma me deixavam cheio de tesão, e eu sem saber o porquê! Nunca me tinha sentido assim, nunca a tinha sentido assim e nunca a tinha fodido assim. Desci as escadas, a falta de mais whisky já se fazia sentir no meu corpo e eu já só pensava em beber a garrafa inteira, para não fazer nenhum escândalo. Não queria escândalos, só queria deixar aquele homem ir embora. Fiquei sentado no sofá, mas com a garrafa ao lado. Desisti do gelo, só queria aquecer a alma e o corpo por dentro. Sentia-me de certa forma frio! Calmo, mas frio.
Passaram umas horas, a garrafa acabou e eu ouvi alguém descer as escadas a correr, ainda com as calças na mão e o cinto a bater no corrimão. A porta fechou. Ouvi o carro a sair bem a fundo pela rua de baixo para ninguém perceber. Entretanto fui à entrada, abri e fechei a porta, para dar aquela sensação de que tinha chegado naquele momento. Fui bem-sucedido! Chamei por ela e disse que já tinha chegado. Ela disse-me que ia tomar um banho e eu disse-lhe que ia ouvir um bocado de música e comer qualquer coisa.
Para ser sincero estava com fome, mas não de comida! Toda aquela cena de filme - ou que eu pensava que só acontecia na sétima arte - juntamente com a garrafa de whisky, deixaram-me com fome. Fome de sexo, fome de ser violento, fome de a matar, mas não no sentido literal da palavra.
Subi as escadas, reparei que ela já estava no duche, tirei a roupa aos poucos, entrei na casa de banho e entrei no chuveiro. Ela ficou assustada e deu-me um beijo. Eu simplesmente não queria saber dos beijos. Peguei-lhe na mão e fi-la agarrar o meu caralho. Ela imediatamente retirou-a e virou-se de costas:
- Agora não! Estou cansada! - disse ela.
Não fiz mais nada: agarrei-lhe no cabelo com a mão esquerda, encostei-lhe a cara ao vidro do chuveiro e sussurrei-lhe ao ouvido:
- Eu quero e vou-te foder, aqui e agora.
Enquanto lhe dizia essas palavras encantadoras, com a outra mão dava-lhe aquele jeito no cu. Ela começou a gemer, um pouco a sofrer, mas eu não quis saber da dor dela. Não queria saber da dor dela para nada! Ela começou a gritar de prazer, começou a dizer tudo aquilo que tinha dito antes, e eu tapei-lhe a boca! Não a queria ouvir dizer nem uma palavra! Queria fazê-la chorar de prazer, queria ver as lágrimas a escorrer-lhe pelo rosto e queria que ela dissesse as únicas palavras que eu pretendia ouvir: «Fode-me outra vez!»
Desligámos o chuveiro, levei-a para o quarto e continuámos a foder. Meti-a de quatro, deixei-lhe o rabo todo vermelho só porque sim, sempre com a boca dela tapada só para lhe ouvir os gemidos e os gritos meio abafados.
Ela veio-se, uma, duas, três, quatro vezes. Eu nunca parei. Não quis parar. Queria que ela chorasse, e só iria parar quando isso acontecesse! À quinta vez viemo-nos em simultâneo. Tirei-lhe a mão da boca e as lágrimas de êxtase começaram a escorrer-lhe no rosto até que ela disse:
- Fode-me outra vez!
Não o fiz! Apenas lhe disse:
- Amanhã tens os papéis do divórcio para assinar e as tuas malas para arrumar. Irás sair e levar tudo o que quiseres, mas vais deixar a outra garrafa de whisky que os teus pais nos deram no casamento.
FIM
J. P. Silva
Vou para casa descansar, tentar receber algum carinho dela ou então beber só um copo de whisky, enquanto ouço um pouco de Frédéric Chopin ou Beethoven. Provavelmente é mais fácil que aconteça a segunda hipótese. Não sei por que digo isto, mas é o que sinto no corpo quando penso. Enquanto não chego, vou fumando uns cigarros a ouvir um pouco de rádio. Ainda é uma hora até casa e, como sempre, parece que está algum trânsito. Já só me vem à cabeça a merda do copo de whisky!
Pois bem, cheguei finalmente e nem me apetece sair do carro. Esta viagem é sempre uma treta. Em vez de uma hora demorei quase duas, e agora que cheguei reparo num carro estranho aqui à porta de casa, um pouco escondido! Será alguma amiga da Marta? Estranho! Ela tem tão poucas amigas e aquelas que conheço são umas vacas, que não querem saber dela para nada e que raramente põem os pés aqui em casa porque me acham insuportável. Umas vacas, não haja dúvida.
Vou entrar devagar, sem fazer barulho porque estou com um pressentimento que algo não vai correr bem. Entro sorrateiramente, vou direto à cozinha, o mais rápido possível, o mais sorrateiramente possível. Não ouço nada! Parece que não está ninguém em casa. Estranho! Vou à garrafeira, abro uma das garrafas oferecidas pelos pais dela no nosso casamento: aquele J&B de 30 anos. Sinto que hoje vai dar jeito. Não sei por que sinto isso, mas se sinto vale mais deixar-me levar. Tiro um copo silenciosamente, duas pedras de gelo, e engulo o primeiro de seguida!
Meu Deus! O melhor whisky de sempre! Só falta mesmo a música, mas não a vou ligar sem ter a certeza do que se está a passar na minha casa. Bem, vou só encher mais um. Este aqui é para beber lentamente, enquanto subo as escadas até ao andar de cima.
«The holes (Os buracos)» Paul Balan, Roménia, 2002 óleo sobre tela, 61x92 cm da colecção de arte erótica «a funda São» |
- Fode-me, fode-me mais, por favor.
Ela gritava por mais:
- Não pares, bate-me, com mais força! Isso! Mais!
Até que pediu agressivamente
– Agora mete-me o teu caralho na boca, quero chupá-lo já, por favor!
Fiquei chocado! Mantive a calma, não sei bem como, mas talvez tenha sido da ajuda do whisky! Ela gemia desalmadamente. Dava para perceber que já começava a chorar de tanto prazer e eu só a ouvia a chupar o caralho sabe-se lá de quem.
Fui bebendo o meu copo de whisky a ouvir todos aqueles sons que de certa forma me deixavam cheio de tesão, e eu sem saber o porquê! Nunca me tinha sentido assim, nunca a tinha sentido assim e nunca a tinha fodido assim. Desci as escadas, a falta de mais whisky já se fazia sentir no meu corpo e eu já só pensava em beber a garrafa inteira, para não fazer nenhum escândalo. Não queria escândalos, só queria deixar aquele homem ir embora. Fiquei sentado no sofá, mas com a garrafa ao lado. Desisti do gelo, só queria aquecer a alma e o corpo por dentro. Sentia-me de certa forma frio! Calmo, mas frio.
Passaram umas horas, a garrafa acabou e eu ouvi alguém descer as escadas a correr, ainda com as calças na mão e o cinto a bater no corrimão. A porta fechou. Ouvi o carro a sair bem a fundo pela rua de baixo para ninguém perceber. Entretanto fui à entrada, abri e fechei a porta, para dar aquela sensação de que tinha chegado naquele momento. Fui bem-sucedido! Chamei por ela e disse que já tinha chegado. Ela disse-me que ia tomar um banho e eu disse-lhe que ia ouvir um bocado de música e comer qualquer coisa.
Para ser sincero estava com fome, mas não de comida! Toda aquela cena de filme - ou que eu pensava que só acontecia na sétima arte - juntamente com a garrafa de whisky, deixaram-me com fome. Fome de sexo, fome de ser violento, fome de a matar, mas não no sentido literal da palavra.
Subi as escadas, reparei que ela já estava no duche, tirei a roupa aos poucos, entrei na casa de banho e entrei no chuveiro. Ela ficou assustada e deu-me um beijo. Eu simplesmente não queria saber dos beijos. Peguei-lhe na mão e fi-la agarrar o meu caralho. Ela imediatamente retirou-a e virou-se de costas:
- Agora não! Estou cansada! - disse ela.
Não fiz mais nada: agarrei-lhe no cabelo com a mão esquerda, encostei-lhe a cara ao vidro do chuveiro e sussurrei-lhe ao ouvido:
- Eu quero e vou-te foder, aqui e agora.
Enquanto lhe dizia essas palavras encantadoras, com a outra mão dava-lhe aquele jeito no cu. Ela começou a gemer, um pouco a sofrer, mas eu não quis saber da dor dela. Não queria saber da dor dela para nada! Ela começou a gritar de prazer, começou a dizer tudo aquilo que tinha dito antes, e eu tapei-lhe a boca! Não a queria ouvir dizer nem uma palavra! Queria fazê-la chorar de prazer, queria ver as lágrimas a escorrer-lhe pelo rosto e queria que ela dissesse as únicas palavras que eu pretendia ouvir: «Fode-me outra vez!»
Desligámos o chuveiro, levei-a para o quarto e continuámos a foder. Meti-a de quatro, deixei-lhe o rabo todo vermelho só porque sim, sempre com a boca dela tapada só para lhe ouvir os gemidos e os gritos meio abafados.
Ela veio-se, uma, duas, três, quatro vezes. Eu nunca parei. Não quis parar. Queria que ela chorasse, e só iria parar quando isso acontecesse! À quinta vez viemo-nos em simultâneo. Tirei-lhe a mão da boca e as lágrimas de êxtase começaram a escorrer-lhe no rosto até que ela disse:
- Fode-me outra vez!
Não o fiz! Apenas lhe disse:
- Amanhã tens os papéis do divórcio para assinar e as tuas malas para arrumar. Irás sair e levar tudo o que quiseres, mas vais deixar a outra garrafa de whisky que os teus pais nos deram no casamento.
FIM
J. P. Silva
«conversa 2127» - bagaço amarelo
Eu - Não digas isso ao teu ex-marido.
Ela - Já disse.
Eu - Disseste?
Ela - Claro. Foi a primeira coisa que lhe disse. Ainda nem tinha levado nenhum gajo para a cama e já lhe tinha dito.
Eu - A que propósito?
Ela - Para lhe baixar a auto-estima, claro.
Eu - E acreditas que lhe baixaste mesmo a auto-estima?
Ela - Tenho a certeza. Os homens são tão totós que até dá dó.
Eu - Totós?!
Ela - Sim. Levas um gajo para cama e no fim dizes-lhe que ele foi o melhor de sempre. A auto-estima dele sobe em flecha imediatamente. O contrário também acontece...
Eu - Se ele acreditar...
Ela - Acredita sempre, por isso é que digo que os homens são uns totós. Uma mulher diz-lhes que eles são os melhores na cama e eles acreditam... (risos)
Eu - Mas mentes muitas vezes?
Ela - Minto sempre. Quando digo a um homem que ele foi o melhor na cama é sempre por pena. Normalmente é porque até é um gajo simpático e esforçado mas... pronto, coitado. Não dá mais...
Eu - As mulheres são todas assim?
Ela - Acredito que há muitas assim. Já alguma te disse que foste o melhor na cama?
Eu - Pois... euh... nem sei bem...
Ela - És um totó!
bagaço amarelo
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