30 outubro 2015
«devíamos ter tido sexo!» - bagaço amarelo
Uma vez levantei a voz para simular o roncar do motor de um pequeno carro de rali que os meus pais me tinham oferecido no Natal e ela pediu-me silêncio. Encostou o dedo indicador aos lábios e depois apontou para o livro aberto nas próprias pernas.
- Chiu...
Nunca conheci o pai da Susana. Na verdade, creio que nunca existiu. Talvez tenha morrido quando ela era ainda bebé, talvez tenha emigrado. Não sei. Sei que um dia perguntei-lhe por ele e ela limitou-se a abanar os ombros.
- Não está cá!
Restava a mãe, a senhora que lia livros sem saber ler, enquanto nós fazíamos corridas com miniaturas de automóveis numa sala alcatifada a vermelho. A Susana não tinha bonecas nem cozinhas de brincar, mas tinha um grande balde de blocos de construção e outro com muitos carrinhos. Eram brinquedos tipicamente masculinos, o que ainda me fazia estranhar mais a ausência de um pai, mas talvez tenha sido por isso que ficámos tão amigos. Pelos brinquedos e pela ausência do pai.
- A tua mãe assustava-me um bocado!
E a Susana sorriu. Muitos anos depois reconheci-a, primeiro pelos gestos, depois pela fisionomia. Estava a ler um romance qualquer na mesma posição da mãe, que fechou para me abraçar deixando o dedo indicador a marcar a página.
Bebemos alguma cerveja juntos, onde as nossas memórias de infância flutuaram vindas bem do fundo. Depois percorremos a cidade de mãos dadas, na expectativa de afogar essas recordações e de ver nascer um presente ou um futuro em nós, o que não aconteceu. O abraço com que nos despedimos foi um pouco menos intenso do que aquele com que nos reencontráramos nessa mesma tarde. A nossa amizade morria assim, tão devagar quanto possível, entre duas cidades e dois abraços diferentes.
Esta semana, vinte anos depois desse segundo encontro, tomámos um café entre essas duas cidades. Ela apareceu com um livro que podia ser o mesmo da segunda vez e o mesmo que a mãe lia quando éramos crianças. Contei-lhe a nossa própria história, mais ou menos como contei até ao parágrafo anterior.
- Devíamos ter tido sexo!
Sorriu.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
«Le nécessaire» - Ruim
Eu não sei porque caralho homens feitos e adultos tiveram a necessidade de usar um francesismo (que é um eufemismo para paneleirismo) para decidir a certa altura que a minha “malinha das merdas” se passasse a chamar de nécessaire. Porque eu não recebi nada no mail ou SMS a pedir a minha opinião ou pelo menos a informar-me que isto mudou de nome.
A minha malinha das merdas é só minha e tem as minhas merdas: tem a merda da minha escova de dentes, a merda da minha espuma da barba, a merda da minha lâmina BIC laranja, a merda do meu aftershave que dá para assar chouriços, a merda do meu corta-unhas e a merda dos meus cotonetes. E a minha malinha das merdas vai comigo quando necessário e não quando nécessaire.
A dada altura alguém se sentou numa courgette por engano enquanto comia um macaroon rosa a cantar Chet Faker e decidiu que a partir de agora a minha malinha com as merdas se chamaria de necessaire e passaria a conter: le merde da minha escova de dentes super suave com lava língua incluído, le merde da minha lâmina Gillete com tri-action superglide não sei quê com 3 lâminas que quando preciso de outra tenho de ligar á Cofidis a pedir um empréstimo, le merde do meu pós-barba (aftershave é muito mainstream) para pele sensível e aromatizado com raspas de panda bebé e óleo de jojoba, le merde do exfoliante e creme hidratante, le merde de 2 tipos de gel e le merde dos cotonetes com fibras de pelos púbicos de virgens de 18 anos suecas que custam o mesmo que um kilo de bifes do lombo. Nota: o nécessaire carece de corta-unhas porque estas Elsas do Frozen vão a uma cavalariça disfarçada de cabeleireiro limar os cascos.
A malinha das merdas sai do seu sítio quando precisa: uma viagem, ginásio, futebolada entre amigos ou ir comer uma gaja e ficar lá a dormir feito parasita. O nécessaire sai da sua estante Luís XIV do quarto de banho nem que se vá aos correios buscar uma carta registada das Finanças porque “ai de mim se de repente preciso de tirar cera dos ouvidos na fila e não tenho o meu nécessaire”.
Um necessaire não é necessário, é um acessório desnecessário (e pelos vistos um trava línguas!). A minha malinha das merdas não é! E não quero que lhe deem nomes de pintores impressionistas franceses. A minha malinha das merdas come mão de vaca com grão, peida-se, é do Benfica e bate nos outros acessórios de casa de banho se for preciso. O necessaire come tofu e bagas goji, pede licença para ir ao quarto de banho se soltar, não vê bola e leva porrada do estojo de maquilhagem.
Abaixo o nécessaire! Vive les males das mérdes!
Ruim
no facebook
A minha malinha das merdas é só minha e tem as minhas merdas: tem a merda da minha escova de dentes, a merda da minha espuma da barba, a merda da minha lâmina BIC laranja, a merda do meu aftershave que dá para assar chouriços, a merda do meu corta-unhas e a merda dos meus cotonetes. E a minha malinha das merdas vai comigo quando necessário e não quando nécessaire.
A dada altura alguém se sentou numa courgette por engano enquanto comia um macaroon rosa a cantar Chet Faker e decidiu que a partir de agora a minha malinha com as merdas se chamaria de necessaire e passaria a conter: le merde da minha escova de dentes super suave com lava língua incluído, le merde da minha lâmina Gillete com tri-action superglide não sei quê com 3 lâminas que quando preciso de outra tenho de ligar á Cofidis a pedir um empréstimo, le merde do meu pós-barba (aftershave é muito mainstream) para pele sensível e aromatizado com raspas de panda bebé e óleo de jojoba, le merde do exfoliante e creme hidratante, le merde de 2 tipos de gel e le merde dos cotonetes com fibras de pelos púbicos de virgens de 18 anos suecas que custam o mesmo que um kilo de bifes do lombo. Nota: o nécessaire carece de corta-unhas porque estas Elsas do Frozen vão a uma cavalariça disfarçada de cabeleireiro limar os cascos.
A malinha das merdas sai do seu sítio quando precisa: uma viagem, ginásio, futebolada entre amigos ou ir comer uma gaja e ficar lá a dormir feito parasita. O nécessaire sai da sua estante Luís XIV do quarto de banho nem que se vá aos correios buscar uma carta registada das Finanças porque “ai de mim se de repente preciso de tirar cera dos ouvidos na fila e não tenho o meu nécessaire”.
Um necessaire não é necessário, é um acessório desnecessário (e pelos vistos um trava línguas!). A minha malinha das merdas não é! E não quero que lhe deem nomes de pintores impressionistas franceses. A minha malinha das merdas come mão de vaca com grão, peida-se, é do Benfica e bate nos outros acessórios de casa de banho se for preciso. O necessaire come tofu e bagas goji, pede licença para ir ao quarto de banho se soltar, não vê bola e leva porrada do estojo de maquilhagem.
Abaixo o nécessaire! Vive les males das mérdes!
Ruim
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29 outubro 2015
Feitos um para o outro
Lote de 2 Porta-Chaves - pénis e vagina de Cusco (Argentina).
Nunca separados, na minha colecção.
Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)
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28 outubro 2015
«pensamentos catatónicos (323)» - bagaço amarelo
Há mulheres que pensam que os homens são fáceis. Pensam que basta estalar os dedos para levar um para a cama. São parvas, até porque aquilo em que acreditam é a mais pura das verdades. A única excepção à regra são elas mesmas.
Os homens são fáceis, a não ser que sejam tratados como tal.
Há homens que pensam que as mulheres são difíceis. Pensam que é preciso este mundo e o outro para levar uma para a cama. São parvos, até porque aquilo em que acreditam é a mais pura das verdades. A única excepção à regra são eles mesmos.
As mulheres são difíceis, a não ser que sejam tratadas como tal.
A delícia da sedução pode passar por aí: um homem fácil a mostrar-se difícil e uma mulher difícil a tentar ser fácil. Nesse caso, ele dar-lhe-á este mundo e o outro até ela estalar os dedos.
O Amor é tão difícil, não é?
bagaço amarelo
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