30 outubro 2015

«Le nécessaire» - Ruim

Eu não sei porque caralho homens feitos e adultos tiveram a necessidade de usar um francesismo (que é um eufemismo para paneleirismo) para decidir a certa altura que a minha “malinha das merdas” se passasse a chamar de nécessaire. Porque eu não recebi nada no mail ou SMS a pedir a minha opinião ou pelo menos a informar-me que isto mudou de nome.
A minha malinha das merdas é só minha e tem as minhas merdas: tem a merda da minha escova de dentes, a merda da minha espuma da barba, a merda da minha lâmina BIC laranja, a merda do meu aftershave que dá para assar chouriços, a merda do meu corta-unhas e a merda dos meus cotonetes. E a minha malinha das merdas vai comigo quando necessário e não quando nécessaire.
A dada altura alguém se sentou numa courgette por engano enquanto comia um macaroon rosa a cantar Chet Faker e decidiu que a partir de agora a minha malinha com as merdas se chamaria de necessaire e passaria a conter: le merde da minha escova de dentes super suave com lava língua incluído, le merde da minha lâmina Gillete com tri-action superglide não sei quê com 3 lâminas que quando preciso de outra tenho de ligar á Cofidis a pedir um empréstimo, le merde do meu pós-barba (aftershave é muito mainstream) para pele sensível e aromatizado com raspas de panda bebé e óleo de jojoba, le merde do exfoliante e creme hidratante, le merde de 2 tipos de gel e le merde dos cotonetes com fibras de pelos púbicos de virgens de 18 anos suecas que custam o mesmo que um kilo de bifes do lombo. Nota: o nécessaire carece de corta-unhas porque estas Elsas do Frozen vão a uma cavalariça disfarçada de cabeleireiro limar os cascos.
A malinha das merdas sai do seu sítio quando precisa: uma viagem, ginásio, futebolada entre amigos ou ir comer uma gaja e ficar lá a dormir feito parasita. O nécessaire sai da sua estante Luís XIV do quarto de banho nem que se vá aos correios buscar uma carta registada das Finanças porque “ai de mim se de repente preciso de tirar cera dos ouvidos na fila e não tenho o meu nécessaire”.
Um necessaire não é necessário, é um acessório desnecessário (e pelos vistos um trava línguas!). A minha malinha das merdas não é! E não quero que lhe deem nomes de pintores impressionistas franceses. A minha malinha das merdas come mão de vaca com grão, peida-se, é do Benfica e bate nos outros acessórios de casa de banho se for preciso. O necessaire come tofu e bagas goji, pede licença para ir ao quarto de banho se soltar, não vê bola e leva porrada do estojo de maquilhagem.
Abaixo o nécessaire! Vive les males das mérdes!

Ruim
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