31 outubro 2015

«russia» - Kinbaku LuXuria


russia from KinbakuLuXuria on Vimeo.

Um video de kinbakuluxuria.com

«Amor com amor se paga» - por Rui Felício

Foto de Isa Cortez - http://umpigodeluz.blogspot.pt/
Há muitos dias que o Roberto se instalava no Parque Dr. Manuel Braga com o cavalete e todos os apetrechos de pintura.
Pintava o rio Mondego e a ponte de Santa Clara emoldurados pela folhagem das árvores do jardim.
Travara conhecimento com a Mariana que costumava passear pelo aprazivel espaço ribeirinho quando saía do emprego ao fim da tarde.
Na sexta-feira passada, o marido da Mariana tinha ido a um congresso médico em Praga e estaria por lá durante dez dias. Aliás, a Mariana já estava habituada a estas ausências do marido que, volta e meia, viajava para o estrangeiro em trabalho.
Perguntou ao pintor se nessa noite ele não queria ir espairecer, beber uns copos e ouvir música com ela numa qualquer discoteca da cidade.
O Roberto sorriu, pousou os pinceis, arrumou a tela e o cavalete e disse-lhe que sim, que bem precisava de passar umas horas de descontracção. Agradecia-lhe o convite, que o enaltecia. Para mais, vindo de uma simpática e bonita mulher como a Mariana, que todos os dias ia apreciar o seu trabalho.
Divertiram-se muito, felizes, e, alta noite, a Mariana convidou-o para um último copo em sua casa.
Uma coisa levou à outra e deram por si abraçados no sofá a beijarem-se intensamente.
Aperceberam-se que não tinham preservativos. Nem um nem outro tinha previsto ou imaginado que a noite iria acabar assim.
Dirigiu-se à secretária do marido, um móvel antigo que ela tinha herdado do seu pai. A gaveta de cima estava sempre fechada à chave. Quantas vezes ela, em miúda, em casa dos pais, tinha aprendido a abri-la com um gancho do cabelo. Depois de casada nunca mais o fizera por uma questão de respeito e confiança no Daniel, seu marido.
Mas agora teria que o fazer para ver se, por acaso, ali haveria preservativos.
E havia...
Misturada com uns óculos antigos, um relógio, um caderno velho, inúmeras esferográficas, um molho de extractos bancários presos com um clip, papeis do seguro da casa, uma caixa de aspirinas, pilhas gastas, um rolo de fita adesiva , lá estava uma caixa de preservativos encetada mas quase completa.
Tirou um e deu-o ao Roberto.
No dia seguinte, a Mariana magicava que se o Daniel desse pela falta de um preservativo e se a questionasse, o que lhe iria responder?
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O Daniel até hoje, nunca fez qualquer alusão ao assunto. Na verdade, se o fizesse, teria que ser ele a explicar à Mariana por que carga de água tinha uma caixa de preservativos escondida na gaveta, se nas relações com a mulher nunca os usavam.
Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido

Homem-apito

Peça de artesanato em barro, proveniente do México para a minha colecção.



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Fruta

Ontem fui ao médico e ele recomendou-me comer mais fruta. Assim que apanhei uma gaja na rua, papaia toda.


Patife
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30 outubro 2015

«Persona» - Gordon Von Steiner


Persona from Madrid Fashion Film Festival on Vimeo.

«devíamos ter tido sexo!» - bagaço amarelo

Lembro-me dela a ver as letras de romances intermináveis. Não sabia ler, mas virava as páginas uma a uma como se percebesse o sentido de cada página, de cada frase, de cada palavra. Talvez percebesse mesmo, porque no silêncio deve existir um sentido qualquer.
Uma vez levantei a voz para simular o roncar do motor de um pequeno carro de rali que os meus pais me tinham oferecido no Natal e ela pediu-me silêncio. Encostou o dedo indicador aos lábios e depois apontou para o livro aberto nas próprias pernas.

- Chiu...

Nunca conheci o pai da Susana. Na verdade, creio que nunca existiu. Talvez tenha morrido quando ela era ainda bebé, talvez tenha emigrado. Não sei. Sei que um dia perguntei-lhe por ele e ela limitou-se a abanar os ombros.

- Não está cá!

Restava a mãe, a senhora que lia livros sem saber ler, enquanto nós fazíamos corridas com miniaturas de automóveis numa sala alcatifada a vermelho. A Susana não tinha bonecas nem cozinhas de brincar, mas tinha um grande balde de blocos de construção e outro com muitos carrinhos. Eram brinquedos tipicamente masculinos, o que ainda me fazia estranhar mais a ausência de um pai, mas talvez tenha sido por isso que ficámos tão amigos. Pelos brinquedos e pela ausência do pai.

- A tua mãe assustava-me um bocado!

E a Susana sorriu. Muitos anos depois reconheci-a, primeiro pelos gestos, depois pela fisionomia. Estava a ler um romance qualquer na mesma posição da mãe, que fechou para me abraçar deixando o dedo indicador a marcar a página.
Bebemos alguma cerveja juntos, onde as nossas memórias de infância flutuaram vindas bem do fundo. Depois percorremos a cidade de mãos dadas, na expectativa de afogar essas recordações e de ver nascer um presente ou um futuro em nós, o que não aconteceu. O abraço com que nos despedimos foi um pouco menos intenso do que aquele com que nos reencontráramos nessa mesma tarde. A nossa amizade morria assim, tão devagar quanto possível, entre duas cidades e dois abraços diferentes.
Esta semana, vinte anos depois desse segundo encontro, tomámos um café entre essas duas cidades. Ela apareceu com um livro que podia ser o mesmo da segunda vez e o mesmo que a mãe lia quando éramos crianças. Contei-lhe a nossa própria história, mais ou menos como contei até ao parágrafo anterior.

- Devíamos ter tido sexo!

Sorriu.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

«Le nécessaire» - Ruim

Eu não sei porque caralho homens feitos e adultos tiveram a necessidade de usar um francesismo (que é um eufemismo para paneleirismo) para decidir a certa altura que a minha “malinha das merdas” se passasse a chamar de nécessaire. Porque eu não recebi nada no mail ou SMS a pedir a minha opinião ou pelo menos a informar-me que isto mudou de nome.
A minha malinha das merdas é só minha e tem as minhas merdas: tem a merda da minha escova de dentes, a merda da minha espuma da barba, a merda da minha lâmina BIC laranja, a merda do meu aftershave que dá para assar chouriços, a merda do meu corta-unhas e a merda dos meus cotonetes. E a minha malinha das merdas vai comigo quando necessário e não quando nécessaire.
A dada altura alguém se sentou numa courgette por engano enquanto comia um macaroon rosa a cantar Chet Faker e decidiu que a partir de agora a minha malinha com as merdas se chamaria de necessaire e passaria a conter: le merde da minha escova de dentes super suave com lava língua incluído, le merde da minha lâmina Gillete com tri-action superglide não sei quê com 3 lâminas que quando preciso de outra tenho de ligar á Cofidis a pedir um empréstimo, le merde do meu pós-barba (aftershave é muito mainstream) para pele sensível e aromatizado com raspas de panda bebé e óleo de jojoba, le merde do exfoliante e creme hidratante, le merde de 2 tipos de gel e le merde dos cotonetes com fibras de pelos púbicos de virgens de 18 anos suecas que custam o mesmo que um kilo de bifes do lombo. Nota: o nécessaire carece de corta-unhas porque estas Elsas do Frozen vão a uma cavalariça disfarçada de cabeleireiro limar os cascos.
A malinha das merdas sai do seu sítio quando precisa: uma viagem, ginásio, futebolada entre amigos ou ir comer uma gaja e ficar lá a dormir feito parasita. O nécessaire sai da sua estante Luís XIV do quarto de banho nem que se vá aos correios buscar uma carta registada das Finanças porque “ai de mim se de repente preciso de tirar cera dos ouvidos na fila e não tenho o meu nécessaire”.
Um necessaire não é necessário, é um acessório desnecessário (e pelos vistos um trava línguas!). A minha malinha das merdas não é! E não quero que lhe deem nomes de pintores impressionistas franceses. A minha malinha das merdas come mão de vaca com grão, peida-se, é do Benfica e bate nos outros acessórios de casa de banho se for preciso. O necessaire come tofu e bagas goji, pede licença para ir ao quarto de banho se soltar, não vê bola e leva porrada do estojo de maquilhagem.
Abaixo o nécessaire! Vive les males das mérdes!

Ruim
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«Ass assino» - Shut up, Cláudia!



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