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Foto de Isa Cortez - http://umpigodeluz.blogspot.pt/ |
Há muitos dias que o Roberto se instalava no Parque Dr. Manuel Braga com o cavalete e todos os apetrechos de pintura.
Pintava o rio Mondego e a ponte de Santa Clara emoldurados pela folhagem das árvores do jardim.
Travara conhecimento com a Mariana que costumava passear pelo aprazivel espaço ribeirinho quando saía do emprego ao fim da tarde.
Na sexta-feira passada, o marido da Mariana tinha ido a um congresso médico em Praga e estaria por lá durante dez dias. Aliás, a Mariana já estava habituada a estas ausências do marido que, volta e meia, viajava para o estrangeiro em trabalho.
Perguntou ao pintor se nessa noite ele não queria ir espairecer, beber uns copos e ouvir música com ela numa qualquer discoteca da cidade.
O Roberto sorriu, pousou os pinceis, arrumou a tela e o cavalete e disse-lhe que sim, que bem precisava de passar umas horas de descontracção. Agradecia-lhe o convite, que o enaltecia. Para mais, vindo de uma simpática e bonita mulher como a Mariana, que todos os dias ia apreciar o seu trabalho.
Divertiram-se muito, felizes, e, alta noite, a Mariana convidou-o para um último copo em sua casa.
Uma coisa levou à outra e deram por si abraçados no sofá a beijarem-se intensamente.
Aperceberam-se que não tinham preservativos. Nem um nem outro tinha previsto ou imaginado que a noite iria acabar assim.
Dirigiu-se à secretária do marido, um móvel antigo que ela tinha herdado do seu pai. A gaveta de cima estava sempre fechada à chave. Quantas vezes ela, em miúda, em casa dos pais, tinha aprendido a abri-la com um gancho do cabelo. Depois de casada nunca mais o fizera por uma questão de respeito e confiança no Daniel, seu marido.
Mas agora teria que o fazer para ver se, por acaso, ali haveria preservativos.
E havia...
Misturada com uns óculos antigos, um relógio, um caderno velho, inúmeras esferográficas, um molho de extractos bancários presos com um clip, papeis do seguro da casa, uma caixa de aspirinas, pilhas gastas, um rolo de fita adesiva , lá estava uma caixa de preservativos encetada mas quase completa.
Tirou um e deu-o ao Roberto.
No dia seguinte, a Mariana magicava que se o Daniel desse pela falta de um preservativo e se a questionasse, o que lhe iria responder?
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O Daniel até hoje, nunca fez qualquer alusão ao assunto. Na verdade, se o fizesse, teria que ser ele a explicar à Mariana por que carga de água tinha uma caixa de preservativos escondida na gaveta, se nas relações com a mulher nunca os usavam.
Rui Felício
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