28 dezembro 2015

Buyma (mercado da moda) - «Drones púdicos»

«Não estás a entender» - João

"Não estás a entender, dizia-lhe, e os corpos agitavam-se, e ela chorava e resistia, e dizia que não podia, que não devia ser assim, que tinha de ser mais, que só podia ser mais, e ele a pegar-lhe e ela a contorcer-se, e os pulsos a querer fugir e ele a agarrá-los com força, e a encostá-la à parede com força e a dizer-lhe ao ouvido que não estava a entender, que não era nada disso, e ela a debater-se como se fosse uma virgem da Ilha dos Amores numa fuga agitada mas cheia de vontade, a dualidade de não querer e querer tanto, e o sexo a acontecer entre eles, a parede a segurá-los, mais a eles que ao resto do edifício, e ela a queixar-se que era pouco, e ele a insistir que não era nada disso, e depois, depois de ela se vir e tremer até ao chão, sem forças, ele a pegar num casaco quente e a cobrir-lhe o corpo a arrefecer, e a aninhar-se frente ao seu rosto e a repetir-lhe que não tinha entendido nada, que não era nada daquilo, e ela percebeu então. Percebeu por causa do casaco quente, dos olhos dele, e porque não se foi embora como nas histórias de foda, dos dias curtos de sentir."
João
Geografia das Curvas

Postalinho da feira

"Fui à feira e lembrei-me de ti, São!
A verdadeira armadilha para ratas!"
Sofia Coppula


É uma região crítica mesmo



Capinaremos.com

27 dezembro 2015

«Batucada» - Kunstenfestivaldesarts 2014

Performance criada por Marcelo Evelin, coreógrafo brasileiro, sobre as ideias e a dinâmica do convívio humano, concentrando-se no corpo como meio de expressar-se no espaço público.


Batucada / Kunstenfestivaldesarts 2014 from Kunstenfestivaldesarts on Vimeo.

«respostas a perguntas inexistentes (318)» - bagaço amarelo

Estavam dois copos em cima da mesa, ambos já bastante babados por lábios cansados, sabe-se lá de terem falado muito ou de terem bebido demais. Provavelmente as duas coisas. Ainda assim o Fred dividiu irmãmente o que restava da última garrafa de vinho, alinhando-os lado a lado e igualando as quantidades como se estivesse num laboratório. Queria continuar a conversa.
Conversar era um hábito que perdera com o casamento. Uma vida a dois, preenchida por quatro filhos, afastara-o do mundo que conhecera alguns anos antes, mas que agora lhe parecia longínquo. Um mundo de conversas com amigos e de copos babados, de alguns abraços e de olhares soltos para mulheres desconhecidas.
Adormeceu à mesa.
A mulher dele tinha sido a minha primeira namorada. Éramos então dois adolescentes, cujo Amor parecia impossível de terminar um dia e cuja vida se adivinhava dinâmica e feliz. Sem sobressaltos, sem zangas, sem filhos. Sobretudo sem adormecermos à mesa derrotados pelo cansaço.
Creio que durou um mês, esse sonho.
O Fred ressonava. Acordei-o com o cuidado de um pai que acorda um filho, dei-lhe um cobertor e mandei-o para o sofá da sala.
Fechei a luz, ouvi-o ressonar e telefonei à Laura.

- O teu marido dorme cá hoje!

Do outro lado ouvi o silêncio mais pesado que se pode ouvir. Passou-me tudo pela cabeça, incluindo a certeza que ela tinha de que estivéramos a beber até um de nós adormecer. Talvez estivesse desconfortável pelo leque de possibilidades temáticas que dois homens que dormiram com a mesma mulher podem ter. Talvez até já nem se lembrasse de mim.

- Laura?!

O silêncio continuou mais um pouco, mas desta vez com uma respiração libertadora.

- Que saudades que eu tenho duma noitada assim! - disse ela.
- Compreendo!
- Lembras-te de nós? - Insistiu.
- Lembro. Claro que lembro.

E o silêncio tornou-se mais leve.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

PI das Descobertas


Maitena - Condição feminina 8