26 junho 2016

Luís Gaspar lê «Vedes, formosa senhora…» de Fernan Rodriguez Calheiros

Português moderno

Vedes, formosa senhora minha,
segurament’ o que farei:
enquanto eu vivo for,
nunca a minha dor vos direi,
pois não me haveis de crer,
ainda que me vejais morrer.
Por que vos hei de eu, senhora minha,
dizer nada do meu mal?
Pois disto sou sabedor,
seguramente, sem qualquer dúvida
pois não me haveis de crer,
ainda que me vejais morrer.
Servir-vos-ei eu, senhora minha,
quant’ eu poder, enquanto viver,
mas, pois de coita sofredor
sou, não vo-lo hei de dizer,
pois não me haveis de crer,
ainda que me vejais morrer.
Pois eu entendo, senhora minha,
quão pouco proveito me vem
de vos dizer quão grande amor
vos tenho, não vou falar disso,
pois não me haveis de crer,
ainda que me vejais morrer

Português antigo

Uedes, fremosa mha senhor,
segurantent’ o que farey:
en tanto com’ eu uyuo for,
nunca uos mha coyta direy,
ca non m’ auedes a creer,
macar me ueiades morrer.
Por que uos ei eu, mha senhor,
a dizer nada do meu mal?
Pois d’ esto sõo sabedor,
segurament’ u nõ iaz al,
que non m’ auedes a creer,
macar me ueiades morrer.
Seruyr-uos-ey eu, mha senhor,
quant’ eu poder, nientre uiuer,
mays, poys de coyta sofredor
sõo, non uo’ l’ ey a dizer,
ca non m’ auedes a creer,
maçar nue ueiades morrer.
Poys eu entendo, mha senhor,
quan pouco proueito me ten
de uos dizer quã grãd’ amor
uos ey, nõ uos falarei en,
ca non m’ auedes a creer,
maçar me ueiades morrer.

Fernan Rodriguez Calheiros
Trovador português, muito provavelmente ativo nas primeiras décadas do século XIII, ou seja, na fase inicial da poesia galego-portuguesa, como a colocação das suas composições nas secções iniciais dos Cancioneiros parece confirmar.
Este poema faz parte do iBook “Coletânea da Poesia Portuguesa – I Vol. Poesia Medieval” disponível no iTunes.
Transcrição do Português antigo para o moderno de Deana Barroqueiro.

Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

«conversa 2164» - bagaço amarelo




Ela - Sabes... às vezes olho para trás e tenho pena de nunca me ter apaixonado por ti.
Eu - Apaixonaste-te por outros. Isso não se controla.
Ela - Pois... mas tenho a sensação que...
Eu - Que quê?!
Ela - Que sempre me meti com homens demasiado inteligentes.
Eu - Estás a chamar-me burro?
Ela - Não. Não sei bem explicar...


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

PI dos Casamentos de Santo António


Maitena - Condição feminina 33





25 junho 2016

«Mary Quant na história da moda e do crime» - Ricardo Araújo Pereira

No Brasil, uma jovem de 16 anos foi drogada e violada por mais de 30 criminosos, que filmaram o crime e o partilharam nas chamadas redes sociais. Como é evidente, um grande número de pessoas manifestou profunda indignação. Contra a vítima. Muitos, mas mesmo muitos comentários atribuíam a responsabilidade da violação à moça. Antes de mais nada, há que saudar as empresas de telecomunicações por conseguirem levar internet à gruta onde moram estes primatas. Mas talvez valha a pena debater os argumentos desta gente. Eu gosto particularmente de analisar textos antigos e estes comentadores vivem, claramente, na Idade Média. A ideia central destes filósofos medievais é clássica: certas indumentárias acirram os violadores. Nesta mundividência, um violador é um cidadão decente e cumpridor da lei, que só uma desonesta mini-saia consegue desviar do caminho recto. Mesmo quando transgride, o violador está menos interessado em cometer um crime hediondo do que em castigar uma indecência. No fundo, é uma pessoa moralmente irrepreensível, que apenas se deixa transtornar por peças de vestuário desavergonhadas. Nunca, na história da criminalidade, um violador abusou de uma mulher que envergasse calças. Quando surgem notícias (e não surgem assim tão poucas vezes) segundo as quais uma velhinha de 80 anos foi violada, pergunto sempre a mim próprio em que loja terá a senhora adquirido a mini-saia. Quando a notícia especifica que se trata de uma idosa acamada, censuro a opção de se ter deitado com a mini-saia vestida.

Creio que o corolário lógico desta linha de raciocínio só pode ser a criminalização da mini-saia. A mulher que usa mini-saia é, no mínimo, cúmplice do crime. Na verdade, é a instigadora. A autora moral da violação. A arma do crime é a mini- -saia. Que se possa comprar livremente uma arma destas, em qualquer loja de pronto-a-vestir, é circunstância que não deixa de causar perplexidade. Há que sensibilizar a sociedade para a especificidade deste crime, que é o único provocado pela vítima. Uma floresta, por mais frondosa, não provoca o incendiário. Um auto-rádio, por mais tecnologicamente avançado, não acicata o gatuno. A generalidade dos criminosos é culpada dos seus crimes. O violador é vítima de uma peça de vestuário. Há que pôr termo a esta injustiça. As senhoras devem parar de enervar os violadores. Vistam-se ao gosto deles. Que diabo, não custa nada. O ideal era que os violadores se dedicassem à moda e impusessem o seu estilo seguro e decente. Violadores-estilistas, era do que nós precisávamos. Fica a sugestão para os organizadores do Portugal Fashion.

Ricardo Araújo Pereira
ilustração de João Fazenda
in «Visão» de 2 de Junho de 2016

Homem que é homem


Consigo ter momentos de elevada genialidade. Desde que não tenha um par de mamas à frente a distrair-me.

Patife
@FF_Patife no Twitter

«Sex Tips For Husbands and Wives from 1894»

Mini-livro com indicações para maridos e mulheres, datadas de 1894.
Maxi-miminho de Carla Cristo para a minha colecção.




A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 1.900 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
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> muitas ideias para actividades complementares, loja e merchandising...

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Quem quiser investir neste projecto, pode contactar-me.

Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)

Sexo por comida - Liana Finck



Via Voluptama

24 junho 2016

Alice Caetano - «Diálogos de Maria e Miguel - 3»




Miguel – Hoje, irei ter contigo, quando a noite se fizer noite.
Maria – Levo o vestido preto e um ramo de flores brancas.
Miguel – O ramo é para tirarmos pétala por pétala e fazermos um círculo de amor.
Maria – Não vou esquecer-me das velas de canela.
Miguel – Os odores orientais e desorientais.
Maria – Hum…
Miguel – Vamos encontrar-nos na encruzilhada?
Maria – Sim, na encruzilhada das areias movediças.
Miguel – Vou oferecer-te uma imagem em argila negra, de Erato, já a tenho debaixo do braço.
Maria – Para eu me transformar em sílabas.
Miguel – E eu dizer o teu nome até ao fim das pálpebras.


Alice Caetano
in «Maçã de Zinco» - Editora Esfera do Caos

«Três» - Rubros Versos


Tiago Silva