Vedes, formosa senhora minha,
segurament’ o que farei:
enquanto eu vivo for,
nunca a minha dor vos direi,
pois não me haveis de crer,
ainda que me vejais morrer.
Por que vos hei de eu, senhora minha,
dizer nada do meu mal?
Pois disto sou sabedor,
seguramente, sem qualquer dúvida
pois não me haveis de crer,
ainda que me vejais morrer.
Servir-vos-ei eu, senhora minha,
quant’ eu poder, enquanto viver,
mas, pois de coita sofredor
sou, não vo-lo hei de dizer,
pois não me haveis de crer,
ainda que me vejais morrer.
Pois eu entendo, senhora minha,
quão pouco proveito me vem
de vos dizer quão grande amor
vos tenho, não vou falar disso,
pois não me haveis de crer,
ainda que me vejais morrer
Português antigo
Uedes, fremosa mha senhor,
segurantent’ o que farey:
en tanto com’ eu uyuo for,
nunca uos mha coyta direy,
ca non m’ auedes a creer,
macar me ueiades morrer.
Por que uos ei eu, mha senhor,
a dizer nada do meu mal?
Pois d’ esto sõo sabedor,
segurament’ u nõ iaz al,
que non m’ auedes a creer,
macar me ueiades morrer.
Seruyr-uos-ey eu, mha senhor,
quant’ eu poder, nientre uiuer,
mays, poys de coyta sofredor
sõo, non uo’ l’ ey a dizer,
ca non m’ auedes a creer,
maçar nue ueiades morrer.
Poys eu entendo, mha senhor,
quan pouco proueito me ten
de uos dizer quã grãd’ amor
uos ey, nõ uos falarei en,
ca non m’ auedes a creer,
maçar me ueiades morrer.
Fernan Rodriguez Calheiros
Este poema faz parte do iBook “Coletânea da Poesia Portuguesa – I Vol. Poesia Medieval” disponível no iTunes.
Transcrição do Português antigo para o moderno de Deana Barroqueiro.
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa