16 outubro 2016

Luís Gaspar lê «Entro…» de Casimiro de Brito

Entro paciente e afundo-me no reino
da mãe. O barro mais antigo
brilha no teu sexo que se abre escuro
ao meu desejo — à ternura, ao furor que busca
o caos. Só em ti, que não temes a noite nem a saudade,
me encontro. Abres a húmida concha
e salto para dentro do lume
da primeira casa. Deixo à entrada
a angústia de quem vai morrer.

Casimiro de Brito
Casimiro Cavaco Correia de Brito (Loulé - Algarve, 14 de Fevereiro de 1938) é um poeta, ensaísta e ficcionista português.
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

«mongólia e cova da piedade» - bagaço amarelo

A esta hora da noite a cidade parece abandonada. Caminho com a sensação de que todos os habitantes fugiram por causa duma súbita ameaça qualquer de que eu não me apercebi. Só ficaram as sombras. Há uma fininha lâmina de frio no ar a tocar-me as bochechas e sinto os meus sapatos a quererem deslizar nas pedras pequenas do passeio. Sinto-me frágil, tanto pelo desequilíbrio iminente como pelo eco dos meus passos ao fundo da rua.
Quando finalmente chego ao local combinado com um amigo croata que fiz uns dias antes, a lua surge cheia no céu. Veio espreitar, claro. Está curiosa com o facto de eu estar em frente a um bar de engate onde o sexo se paga a cada meia-hora. O porteiro é tão grande que me parece estar trilhado na porta. O seu corpo ocupa literalmente toda a entrada. Se fosse o guarda-redes duma baliza, eu não saberia por onde tentar meter a bola.
Recebo uma mensagem do Branimir a dizer que já está lá dentro. Não esperou por mim por causa do frio. O porteiro olha desconfiado para mim. Por cima dele, escritas em letras latinas pintadas por um fraco néon vermelho, as palavras "NON STOP". Não sei se isso quer dizer que o bar nunca fecha ou que o sexo nunca pára. A piada é estúpida. Ainda bem que a pensei mas não a disse a ninguém.
Afinal o porteiro não estava trilhado. Afasta-se e deixa-me passar.
O ambiente é escuro. Distingo nas paredes algumas pinturas eróticas e reparo que a maior parte das mesas estão vazias. Algumas delas estão em pequenos cúbiculos que se podem isolar facilmente com uma cortina preta. São iguais a algumas cabinas para experimentar roupa em lojas de pronto-a-vestir. Enquanto me interrogo como é que alguém consegue ter sexo ali dentro vejo alguém a acenar-me. É o Branimir. Está ao balcão e tem a mão esquerda no rabo duma mulher sentada ao lado esquerdo dele. Vou ter com ele o mais devagar possível para ter tempo de decidir o que devo fazer.
A música pára. Um som horrível e agudo que me lembra um ovni avariado fere-me os ouvidos. Do outro lado do balcão uma mulher dá uma pancada num leitor de cds e volto a ouvir os Duran Duran. O meu mais recente amigo cumprimenta-me e apresenta-me à mesma mulher que acabara de esmurrar a aparelhagem. É a dona. Diz-lhe que eu posso fazer tudo o que quiser e ele paga. No dia anterior ganhei-lhe uma aposta que eu próprio não levara a sério. Pensei ser apenas uma piada, mas quando o Manchester United chegou ao fim do jogo empatado com o Stoke ele mandou vir mais duas cervejas e prometeu-me a noite da minha vida.

- Nunca pensei que o Mourinho não ganhasse este jogo! - disse
- Nem eu. Na verdade só disse que não ia ganhar por dizer. Podia ter dito outra coisa qualquer...

Ele riu-se.
Pois bem. Pelos vistos a noite da minha vida é neste bar de miúdas, enquanto ele mantém a mão no rabo duma mulher com metade do tamanho dele e eu não faço a mínima ideia de como me hei-de comportar. A boa notícia é que há uma prateleira cheia de garrafas com marcas de uísque, algumas das quais nunca ouvi falar.

- Quais são os teus gostos? - Pergunta a dona.
- Bushmills, mas acho que hoje vou beber Hakushu. Nunca ouvi falar em Hakushu antes.
- Falo de mulheres... quais são os teus gostos?

Raios. Nunca na vida me tinham feito uma pergunta tão absurda. Sei lá quais são os meus gostos por mulheres. Só costumo gostar daquelas com quem consigo ter longas conversas e, mesmo intimamente, só me envolvi com mulheres depois de as conhecer e de ter gostado de partilhar algum tempo a falar seja do que for.

- Gosto de mulheres da Mongólia.

Na verdade, às vezes digo coisas só porque sim. Não sei bem porque é que me saem, mas sei que até ao momento nunca tinha pensado sequer em mulheres da Mongólia. Disse-o exactamente com a mesma certeza que tinha dito um dia antes ao meu amigo croata, durante o almoço, que o Manchester não ia ganhar. Quando digo coisas absurdas, penso sempre que ninguém me vai levar a sério, mas às vezes levam.
Estou a dar o segundo ou terceiro gole no uísque japonês quando uma mulher de olhos em bico me abraça e beija na face.

- Olá. Sou da Mongólia. De onde é que tu és?

É bastante baixa e muito bonita. O sorriso chega-lhe de orelha a orelha e puxa-me o braço como se me quisesse tirar dali.

- Sou de Portugal, duma terra chamada Cova da Piedade.

Mais uma vez digo uma coisa absurda, não sei bem porquê. Explico-lhe o que quer dizer Cova da Piedade, mas ela não parece nada interessada no assunto. Senta-me numa mesa daqueles cubículos pequenos e fecha o cortinado. Senta-se ao meu colo e beija-me a boca. Com jeito, afasto-a um pouco e sento-a ao meu lado. Dou mais um gole no uísque japonês. Não sei muito bem como, mas ela também tem uma bebida qualquer na mesa. Não vi ninguém trazê-la, mas o facto é que está ali.

- Quanto tempo é suposto estares aqui comigo? - Pergunto.

Os olhos dela abrem como se fossem ameijoas. São pretos, profundos e bonitos, mas também inquisitivos.

- Até meia-hora... meia-hora está bem.
- Okay. Eu não vou ter sexo contigo porque não me apetece. És muito bonita, mas eu nunca faço isto, percebes?
- Sim...
- Podemos ficar aqui meia-hora a falar?
- Sim...


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Alcovas da fundação



Num tempo em que 45 anos eram a esperança média de vida que tudo a mais disso era bónus a Teresa foi despachada aos 13 pelo pai, para um gajo francês de meia idade, o Henrique, que tinha 24 e ainda recebeu de dote o Condado Portucalense, tudo por mor de uns serviços de espadeirada pela Galiza afora.

Quando aos 46 o gajo bateu a bota dedicou-se então Teresa  aos encantos de um sensual galego, vinte anos mais novo, o Fernão Peres de Trave que era casado com Sancha Gonçales, coisa a que não se ligava nenhuma na época que sexo era sexo e contratos eram contratos e não tinha o cu a ver com as calças. Aliás, a mãe de Teresa também não era a esposa de Afonso seu pai. Certo é que a Teresa e o Fernão devem ter funcionado bem na cama porque tiveram duas mimosas filhas, a Sancha e a Teresa. 

Afonso, o filho de Teresa e de Henrique é que a páginas tantas puxou o tapete à mãe, à espadeirada como era uso nessa época e, lá ficou ele a mandar no Condado.

A menina dos olhos de Afonso e que até lhe levantava mais qualquer coisa abaixo do umbigo era a Flâmula Gomes, que o fizera pai de Fernando Afonso e de Pedro Afonso, mas ser rei obrigava-o a casar com uma princesa e para esse efeito lá mandou vir do estrangeiro a Mafalda que cumpriu plenamente as funções que lhe foram confiadas e em 12 anos pariu 7 rebentos tendo mesmo morrido no parto do último.

Já com o dever cumprido, Afonso Henriques, do alto dos seus 48 anos para estoirar antes que se faça tarde, dedicou-se ao intercâmbio de carnes com Elvira Gualtar, a quem fez duas lindas meninas, a Teresa e a Urraca.


Maitena - Condição feminina 49



15 outubro 2016

Eva portuguesa - «Deito-me no teu mundo»

Deito-me no teu mundo e já não sei dormir no meu... 
É no teu mundo e nos teus sonhos que consigo repousar e encontrar energias. As que dei. As que me foram roubadas. 
O meu mundo agora é um grande nada que só existe à sombra do teu... 
Deito-me no teu mundo para conseguir acordar no meu. É no teu que encontro as forças para viver no meu... 
Sem o teu mundo não consigo viver no meu. Porque não consigo repousar. Não consigo dormir. Não consigo esquecer. Não me consigo engrandecer... 
Dormir no teu mundo torna o meu real (por muito paradoxal que isto pareça). E é no teu leito que encontro o meu mundo... 
Se me mandas embora, se não me deixas dormir no teu mundo, como faço para que o meu continue a existir?...

Eva
blog Eva portuguesa - porque o prazer não é pecado

«O caju e a mulher (ou, nem tudo o que parece, é)» - por Rui Felício

Tal como o morango, que é tido como fruto nas que na realidade não é, também com o caju se passa algo idêntico.
Com efeito, num caso e noutro, aquilo a que chamamos fruto não o é, mas sim o pedúnculo em que se encastram os verdadeiros frutos. No morango, os aquénios (grainhas), no caju, a castanha.
Nos supermercados europeus, onde proliferam as mais variadas frutas tropicais, aparece a castanha de caju, mas o caju propriamente dito não aparece normalmente, devido à dificuldade da sua conservação e elevado perecimento.
A primeira vez que experimentei provar um caju directamente arrancado do cajueiro, senti um gosto agridoce, algo estranho, talvez desagradável, ao trincar a pele espessa exterior do atractivo e belo fruto.
Mas à medida que ia saboreando a polpa consistente e sumarenta cujo sumo me enchia a boca, senti um prazer inigualável. Não conheço outro fruto cujo sabor seja mais divinal, cujo néctar mais parece ter sido inventado para gáudio de deuses e não de simples mortais.
Também assim é com algumas mulheres.
Sedutoras e belas, tornam-se ásperas e desagradáveis numa abordagem superficial, mas desfazem-se em doçura quando conseguimos imiscuirmo-nos no seu âmago e elas nos deixam degustar o seu néctar.

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido


Pirete ventilado

Ventoinha em plástico movida com uma manivela. Brinquedo chinês supostamente para crianças, mas bem malandreco.
Um presente de aniversário que vem arejar a minha colecção.






A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 1.900 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
> muitas ideias para actividades complementares, loja e merchandising...

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Quem quiser investir neste projecto, pode contactar-me.

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Enroscadinhos

Este fim de semana estava a entrar em parafuso, por isso precisei de ir à procura de uma porca. Sou apenas uma vítima do sistema.

Patife
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