10 janeiro 2017

Caralho de S. Gonçalo

Biscoito em forma de falo e coberto com açúcar, típico das festas de S. Gonçalo de Amarante.
Os Colhões ou Caralhos de S. Gonçalo são doces tradicionais de Amarante, feitos em homenagem a S. Gonçalo, casamenteiro das velhas. Em Amarante há uma canção muito antiga:
"Raparigas de Amarante
Encostai o cu ao muro
Que aí vem o São Gonçalo
Com os colhões ao dependuro"
Oferta de Nelson S. para a colecção.








A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 1.900 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
> muitas ideias para actividades complementares, loja e merchandising...

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Quem quiser investir neste projecto, pode contactar-me.

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09 janeiro 2017

«Desvirtudes da ventura» - António Eça de Queiroz

Valdemira Gomes do Ó – ou Mirita, como todos a conheciam em Tagilde, onde geria com pulso de ferro um mini-mercado com tasca associada – atravessou a ponte sobre o Tâmega em direcção à bela Igreja de S. Gonçalo, onde entrou animada de plano concreto. Já dentro do rico templo procurou a pequena capela do santo, que à hora do almoço não apresentava grande movimento – apesar daquele primeiro domingo de Junho ser a sua festa anual.
Junto ao túmulo de calcário polícromo apenas duas mulheres rezavam, tocando o monumento umas vezes com as mãos, outras com a cabeça.
Mirita esperou, de joelhos no chão.
A seu lado, no interior de um saco colorido feito em espesso tecido bordado com motivos florais, descansava um outro saco de plástico transparente bem cheio de Doces do Santo – uma espécie de cavacas de Resende de formato inequivocamente fálico. Ela e o marido iriam nos dias mais próximos ter por sobremesa exclusiva os conhecidos ‘Caralhos de S. Gonçalo’.
Mas faltava o principal, de acordo com os conselhos da mulher de saber que consultara há duas semanas na Portela do Gove: devia esfregar a testa do corpo no túmulo do santo, mas sem qualquer roupa em cima…
Por isso viera sem cuecas.
Restava aguardar o momento em que a capela não tivesse ninguém: então iria erguer a saia, esfregando de seguida a felpuda intimidade no calcário pintado que cobria e alindava o túmulo do santo padroeiro de casadoiras e inférteis de longo curso.
Finalmente o momento chegou.
Ninguém à vista!
Mirita levantou a saia, que escolhera larga e apropriada à ousada manobra, e, cheia de cuidados, esfregou uma e outra vez a testa do sexo no vértice já um pouco gasto do velho túmulo – ao mesmo tempo que murmurava a ladainha que a Bruxa de Eiriz, como era conhecida a sua mulher de saber, lhe indicara por conveniente.
Na sua devoção paroxística nem deu pela aproximação de uma outra mulher, bem mais velha, que a assustou com um comentário trocista:
– Ó santinha…, deixe-se lá disso, carago… Olhe que não vão ser essas esfregadelas que a vão ajudar, isso é garantido…
Mirita, que baixara num repente o largo vestido e se apressava a ganhar alguma compostura no meio de uma coradela que não enganava ninguém, apressou-se a ripostar uma quase irada e gaguejante pergunta:
– E quem é você para saber se funciona ou não?…
– Sou parteira diplomada, Genoveva Pires ao seu dispor… Mas diga-me só uma coisa: já fez algum teste de fertilidade?…
– Já fiz sim senhora!, e o doutor disse que eu não tinha nada estragado…
Então a diplomada Genoveva pediu-lhe para a acompanhar para fora da igreja, pois tinha algo de muito importante para lhe dizer.
Já cá fora, no parque lateral ao convento, mesmo em frente ao Museu Amadeo de Souza-Cardoso, as duas encontraram poiso calmo e relativamente distante de ouvidos alheios.
Genoveva Pires foi direita ao assunto:
– Minha santinha, se você não tem nada estragado… então quem está estragado é o seu homem. Ele porta-se bem no serviço?…
Que sim, que era um animal completo, que não a deixava em paz noite nenhuma… A não ser quando apanhava grossa carraspana. E acusava-a de não lhe dar filhos, um que fosse, e ela que bem queria, pois seria maneira dele a deixar em paz por uns tempos, ao menos…
– Então é porque tem os leites estragados…, disse a diplomada em tom professoral.
Que não podia ser, que nem lho poderia dizer, que a matava, que lhe fugiria – lamentava-se Valdemira Gomes do Ó, com lágrimas fáceis a inflamar-lhe já as vistas.
O conselho da diplomada parteira chegou seco e pesado com um relâmpago do estio:
– Arranje outro macho para o serviço… Mas longe daqui, que não seja conhecido… E faça a parte de comer os doces, e diga ao seu homem que veio à igreja esfregar-se, que ele assim achará que foi mesmo milagre…
Da imediata reacção furiosa de Mirita resultou o fim da entrevista, com a parteira Genoveva a bater em retirada no meio de comentários pouco abonatórios à inteligência da putativa mãe frustrada.
À falta de melhor, a gerente comercial de Tagilde voltou à igreja em busca de consolo no confessionário.
Cinco meses se passaram, assim como muita água do Tâmega correu por baixo da velha testemunha granítica de napoleónicos esforços e galopes liberais ou absolutistas.
Num início de tarde outonal, Valdemira do Ó saía do restaurante ‘Zé da Calçada’ apoderada do braço de um homem atarracado que se esforçava, de forma quase hostil para terceiros, por protegê-la de qualquer encontrão do muito povo que animava as ruas. A protuberância ventral que Mirita exibia não deixava dúvidas: estava grávida, muitíssimo grávida!…
O casal encaminhou-se para uma Toyota Hiace, onde o homem, com cuidado extremo, ajudou a mulher a subir e a instalar-se comodamente no lugar do passageiro. Depois, ligando o rádio e beijando-a com carinho evidente, rumou à Igreja de S. Gonçalo.
Mirita cabeceava de sono quando um leve toque no vidro da Hiace a fez despertar para uma incómoda realidade: do outro lado, com um sorriso de frincha negra, a parteira diplomada fez-lhe sinal para descer o vidro.
Não querendo escândalo, a gerente comercial de Tagilde lá acedeu em descer o vidro, para de imediato ouvir um sonoro «Ahhh!…».
– É, respondeu Mirita secamente.
– E?…, perguntou a parteira Genoveva.
– Oh!…, não lho vou dizer, carago…
– Diga-me só se é de longe, minha filha. Não lhe quero mal nenhum, e por isso é que lhe pergunto se não é daqui… Porque, veja bem, se for daqui e tiver mais filhos, ainda pode acontecer uma coisa que você nunca quereria… Imagine que tem uma menina e ela, daqui a 20 anos, se apaixona por um meio-irmão que não conhece?…
– Bem…, começou a medo a futura mãe, ele não é daqui mas tem vivido por aqui…
– Eu sei tudo sobre os pais e os filhos desta cidade e arredores…, bem, de quase todos… Diga-me só quem é, para sabermos se há algum risco. Pela minha honra que nunca falarei no assunto…
Mirita corou como uma romã madura e bem aberta, antes de garantir que não havia perigo nenhum:
– … É o padre…
Genoveva Pires deitou por momentos as mãos à cara, antes de declarar o seu espanto:
– Ai então não há perigo por ser o padre?!… Pois olhe que agora é que o perigo é grande, mulher!… É que eu nem lhe conheço os filhos todos, carago…
Eu bem lhe disse que isso era para se fazer longe daqui, santinha!…
A conversa desfez-se ali, o vidro subiu lentamente, com o mesmo vagar com que a diplomada se afastava da Hiace.
O atarracado marido regressava, de sorriso estampado no rosto.
De longe ainda, apontou para um transparente saco repleto de ‘Caralhos de S. Gonçalo’.
Ao entrar no furgão anunciou com felicidade evidente:
– Hoje até me confessei!…

António Eça de Queiroz
Mini-conto incluído no livro «Dias de riso e impiedade» (Amazon, 2015) e reproduzido do blog «Escrever é triste» com permisSão do autor

Postalinho das Maurícias

"Uma rapidinha... bem cadenciada..."
Suzana R.




Contaminações

Crica para veres toda a história
Lençóis freáticos


1 página

08 janeiro 2017

Postalinho de aperitivos húmidos

"Sugestão do Aldi do Casal do Marco"
Carlos Freire


«sexo» - bagaço amarelo

Encostei-me a uma nuvem e a nuvem eras tu, com a tua voz trémula a perfumar-me e o teu corpo a fechar-se em concha. Primeiro não percebi muito bem o que é que os teus braços finos queriam, se afastar-me ou se abraçar-me. Depois concluí que tu própria também não sabias. Quando é assim, são os braços que mandam e não nós. Eu obedeci-lhes com receio.

- Sabes que eu tenho quase mais vinte anos do que tu?
- Hum...

E os teus braços a tentarem dar um nó cego em mim. Nunca to disse, mas o meu maior medo era partir-te. Quebrar-te em dois como se quebra, por exemplo, o esparguete antes de o cozer. Foi por isso que hesitei e te penetrei devagar, colocando as mãos a salvo do resto do teu corpo. Estavas tu a suar Amor e eu a Amar suor. Éramos só um quando te percebi a chorar.

- Queres que eu pare?
- Anda!

E eu fui.
Não to disse, mas os teus dedos frágeis pareciam pincéis a pintar-me em Pontilhismo quando me tocavam no rosto, com pequenas e indeléveis manchas Impressionistas. Nunca ninguém me tinha pintado antes, nem eu sabia que o Impressionismo partira do sexo com medo. Se eu soubesse, tinha-te explicado que não sou propriamente uma tela em branco. Foi a vida que me fez assim, em tantas pinceladas sem nexo que eu próprio não sei quem sou.

- Anda! - Tu outra vez...

Uma hora antes estávamos no teu bar habitual, com a tua cerveja habitual e os teus amigos habituais sentados na mesa ao lado. Cumprimentavam-te de forma a que eu os pudesse ouvir bem e tu respondias de forma a que eu não te pudesse ouvir de todo. Apeteceu-me dizer-te que és bonita, mas esse está longe de ser o maior elogio que te posso fazer. Calei-me.

- Gostas de David Byrne? - Perguntaste.
- Sim. Quando tu nasceste eu tinha dezoito anos e já ouvia Talking Heads...

Tinhas-me pedido para fechar a persiana do teu quarto e, em abono da verdade, só conheço o teu corpo por gestos. Nunca o vi, mas imagino-o agora numa pintura que descansa no meu peito e me pergunta pelo futuro.

- Não te metas nisso. Vai correr-te tão mal. Lamento.

E tu a abraçares-me mais.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

PI das rotinas de Verão

Juntos venceremos!


07 janeiro 2017

Postalinho de Melides

"Está na casa de banho do Restaurante Melidense em Melides."
António Candeias


«Espermograma» - por Rui Felício

O Sr. Silva tinha atingido os 70 anos de idade há pouco tempo.
Submeteu-se a uma série de exames médicos, análises ao sangue, radiografias. Enfim, a um check-up geral que a sua idade aconselhava e que o médico lhe mandou fazer.
Faltava apenas fazer uma análise ao sémen.
Como o médico lhe tinha dito, foi à farmácia e comprou um frasco apropriado para a recolha.
Relógio de pulso da Kit-Kat com espermatozóides
Colecção de arte erótica «a funda São»
Já em casa, usou a mão direita, depois a esquerda, até as duas ao mesmo tempo.
Exausto, sem nada conseguir, pediu ajuda à mulher.
Ela usou as mãos, suavemente ao princípio, a seguir mais firmemente, depois com força, chegou a tentar até com a boca, mas sem sucesso.
Pediram apoio à vizinha, mulher experiente, que tudo fez, com as mãos, com a boca, chegou a usar as pernas como tenaz, mas igualmente sem resultado.
Lembraram-se da jovem e bela filha da vizinha que, embora constrangida, acedeu a também ela tentar ajudar. Mas nada!...
O septuagenário, conformado, desistiu de novas tentativas e dirigiu-se à farmácia, pedindo à empregada para lhe arranjar outro frasco porque àquele que ele tinha levado, ninguém lhe conseguia abrir a tampa.

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido

Sempre a rasgar!...

Comigo a queca é tão intensa que o preservativo mais parece película aderente a tentar proteger um tupperware no epicentro de um tornado.

Patife
@FF_Patife no Twitter