07 maio 2017

«Porque é que os homens têm sempre que foder?» - bagaço amarelo

A luz da casa dela é diferente da luz exterior. É como se a manhã tivesse passeado pela cidade e entrado pela janela da sala para se esconder nos móveis e nas paredes. Sinto-me estranho. Vê-la em camisa de dormir a fazer torradas e sumo de laranja para o pequeno-almoço é duma intimidade maior do que aquela que temos. Por causa das torradas e do sumo, não pela camisa de dormir. Ainda assim ela age como se nem pensasse nisso.

- Tira o casaco! - ordena. Talvez não pense mesmo.

Põe uma torrada no prato e dá-mo. Não me apetece comê-la, apesar da fome. Sei que assim que a trincar vou cortar o silêncio que se veio esconder com a luz. Começo por dar um gole no sumo e espero que seja ela a trincar primeiro a sua.

- Onde é que ias com tanta pressa? - Pergunta.
- Para casa, acho.

Foi uma noite mais ou menos difícil, passada num sofá que não é cama. Quase não dormi e, assim que amanheceu, vesti o casaco para sair. Ela apanhou-me já com a mão na porta e pediu-me para tomarmos o pequeno-almoço juntos. Depois leu o bilhete que eu deixara em cima da mesa.

Obrigado pelo abrigo e pelo vinho. Beijo.

Não está nada preocupada em disfarçar o ruído que faz quando trinca a torrada. As migalhas chovem-lhe na camisa de dormir, mas ela não liga. Está a olhar para mim e para um pequeno bibelot translúcido que me parece ser um golfinho de vidro. Também o olho e reparo que ele reflecte a nossa imagem, ou seja, mesmo quando ela desvia os olhos de mim continua a ver-me.

- Nunca dormes com uma mulher na noite em que a conheces?
- Às vezes sim, outras vezes não.
- E quando é que é sim e quando é que é não?

Sorrio com a pergunta e como a torrada toda de uma só vez. É o meu momento de libertação. A questão dela não tem a ver com ter passado a noite sozinha, mas sim em saber se eu a considero suficientemente boa para mim. Ou não, claro.

- Sim é quando me apetece, não é quando não me apetece. Mas isso tem só a ver comigo e não contigo. Quando não gosto duma mulher nem sequer subo cinco andares a pé para entrar na casa dela.

Ela levanta-se, junta os pratos e os copos e desaparece em passo apressado. Os tornozelos dela estalam. Ouço-a pousar a louça na banca da cozinha e acender um cigarro. Depois, enquanto expele uma quantidade controlada de fumo, aproxima-se e diz-me para ir embora.

- Vai-te embora, então...

Visto o casaco propositadamente devagar, para não parecer que quero fugir. Há na voz dela uma agressividade qualquer que me incomoda. Lá fora, nas escadas do prédio, ouço algum movimento do que me parece ser uma família numerosa, talvez com um carrinho de bebé e muita pressa de sair. Tenho saudades de ter uma vida normal, penso.
Tenho a mão novamente na maçaneta da porta, mas ainda não a abri. Dou alguns passos atrás e fito a silhueta dela em contraluz na janela da cozinha. Talvez já vá no segundo cigarro. Não sei.

- Explica-me uma coisa! - peço.
- Diz...
- Porque é que os homens têm sempre que foder?

Ela não responde. Saio.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Postalinho de sinalética pedonal

"Ninguém se perde, seguindo pelo passeio à frente do Museu Erótico... digo, Marítimo de Ílhavo."
Paulo M.




Postalinho pus o pé, molhei a meia


Nem atas nem desatas


Tenho tantas pachachinhas para pinar que não sei se me desate a rir, se me ate a chorar.

Patife
@FF_Patife no Twitter

06 maio 2017

«A última moda» - Porta dos Fundos

"Quando o assunto é gastronomia, a tendência do momento é fazer todas as vontades do consumidor oferecendo novas experiências. Tem até restaurante em que a pessoa não pode usar os dentes, e ainda escolhe se engole ou cospe o pedido."

Postalinho de Coimbra

"No bar Galerias, em Santa Clara."
Diogo Jesus



Galo e lua amante

Medalha metálica com figuras em relevo: numa face, um galo; na outra face, a lua toca com a língua numa mulher nua.
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A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
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Um sábado qualquer... - «Cães e Gatos – Precisamos conversar 3»



Um sábado qualquer...

05 maio 2017

Ah, as escadas rolantes...

Postalinho marítimo do LIDL

"O que é que está afinal dentro do caralho do navio? É para princesas?
Bom dia, São. Este artigo estava à venda no LIDL. Deduzo que seja uma bisnaga de cola para colar algumas partes de madeira que vêm por colar. Aquele cesto do mastro chama-se mesmo caralho e a bisnaga assemelha-se a um sex-toy"
José Beirão


Luís Gaspar lê «O amor, quando se revela» de Fernando Pessoa

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p’ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente…
Cala: parece esquecer…
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P’ra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar…

Fernando Pessoa
Fernando António Nogueira Pessoa (Lisboa, 13 de Junho de 1888 — Lisboa, 30 de Novembro de 1935), mais conhecido como Fernando Pessoa, foi um poeta e escritor português. É considerado um dos maiores poetas da Língua Portuguesa e da Literatura Universal, muitas vezes comparado com Luís de Camões.
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

#pinguinsoanointeiro - Ruim

Para uma mulher, não há tal coisa como demasiadas mantas numa cama. Podem estar 45 graus em pleno Agosto no pico do verão e insistem em quererem tapar-se com um edredão de penas de ganso e mais uma mantinha "para o caso de ficarem com mais frio durante a noite". Isto é tudo muito giro até um ser humano normal (ex: homem) dormir na mesma cama. O pior nem é o calor vulcânico que se faz sentir em menos de 5 segundos, mas sim o peso que aquilo tem em cima de uma pessoa. Juro-vos que já acordei a pensar que o telhado me tinha caído em cima durante a noite. Mas para elas está sempre tudo bem porque conseguem escapulir-se da cama tipo serpentes a fugir de um pote de um indiano. E nós? Nós ficamos a pensar se não é melhor chamar os bombeiros para nos desencarcerarem da cama com recurso a uma moto-serra nas 29 mantas.
Tenham juízo.

Ruim
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