19 dezembro 2018

Da «Origem do mundo à «Origem da guerra»

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Cavalheiro do pinanço

Por vezes recebemos sinais muito evidentes que só conseguimos perceber depois da asneira feita. Esta achava que me conhecia de algum lado. Cismava e cismava que já tínhamos sido apresentados. "Foi naquele bar", dizia. "Aquele... ai, estou com o nome na ponta da língua...". Do momento em que estava com o nome na ponta da língua até ter lá a minha pichota foi um tirinho. Assim que entrámos na sua casa lançou-me para cima da cama, pronta para se lambuzar com o Pacheco, e pelo ar de sofreguidão brocheira que apresentava, acredito que marchava o Pacheco e mais um par de chotas. E foi quando estava entretido com o meu fellatiozinho, que reparei no estado gasto e decadente dos lençóis de cama. Não se convida ninguém para uma cambalhota épica com este enxoval de terceiro mundo. Sou um artista da pinada e preciso de condições. Pequenas coisas como uma má iluminação, um jogo de cama turco com borboto ou umas cuecas com o elástico lasso, são elementos capazes de colocar em risco uma prestação de nível cinematográfico, que é a isso que me proponho sempre. Como sei de antemão que não vamos voltar a pinar, pois "Uma vez é ocasional,duas é relacional", empresto uma vivacidade e autenticidade únicas, pois é um momento que não se vai voltar a repetir e quero que fiquem com uma memória histórica de uma queca digna de tela de cinema. Coisa impossível de atingir tendo como palco uns lençóis turcos de uma cor há muito levada pela voragem do tempo. Agora que penso nisso, devia ter percebido que me estava a meter em maus lençóis naquele preciso momento. Sempre tive particular atenção à idade das mulheres que vou pinando. É que se as mais novas são demasiado idealistas, as mais velhas são demasiado cínicas. É preciso articular cuidadosamente um meio termo. E descuidei-me com esta, pois tinha um corpo tão hipnotizante que mal liguei aos sinais de evidente tenra idade.
É como diz o provérbio: Rapariga nova é como o ananás. Em cima está verde, mas em baixo está capaz.
Com o idealismo próprio da casa dos vintes a pulular hormonas acima, haviam de ver a batalha que tive de enfrentar para sair daquele redemoinho de lençóis ainda mais aviltante do que na hora em que entrei. Os lençóis devem facilmente ter triplicado os borbotos com a intensidade do esfreganço e até a cor parecia mais enfadonha depois de ter sido exposta ao meu ritmo frenético de bombada. Se bem que aquilo já nem sequer era cor. Aquilo era o máximo que a cor pode fazer quando quer renunciar a ser cor. E eu, que só queria entra nos meus lençóis de cetim francês, perfumados e sem uma única ruga de tecido. Mas não. Insistia que tinha de dormir lá, "aninhadinhos", que lhe devia isso depois dela me ter dado a cona. Ela não disse bem assim, mas estão a ver a ideia. Já idealizava novas pinadas completamente abismada com a quantidade de orgasmos que tinha tido. Parece que há meses que só apanhava tipos que se vinham antes dela atingir o clímax e agora, de papo-cheio, fazia planos de futuro sem pedir licença. Toma lá que é para aprenderes. Mas convenhamos. É o apanágio de ser um cavalheiro do pinanço. Nunca atiro o meu foguete antes da fresta.

Patife
@FF_Patife no Twitter

18 dezembro 2018

«em cada...» - Susana Duarte

há mistérios no dorso
proeminente
das aves surdas,

e sacrilégios em cada plúmula.

das nuvens às árvores,
as aves perdem os dias
e os dias desencontram-se

das quimeras.

há, nas aves negras, as toadas
silenciadas pelo ritmo
das vozes.

em cada voz, um vôo perdido

em cada plúmula, um corpo
desencontrado de si

em cada ave, um amor suposto,
e em cada um, um futuro desaparecido
nas brumas

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
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Quem mais?!...

"As forças da natureza são sempre espectaculares de observar mesmo que para nós tenham efeitos devastadores"
ExRobot

Não se zanguem comigo, mas as primeiras que me vieram à ideia foram as mulheres.
#ShameOnMe


Sharkinho
@sharkinho no Twitter

A queima dos soutiens

Gravura em folha A3 com assinatura original do autor e reprodução em folha A4 da capa da revista «Inimigo Público» nº 39, suplemento do jornal «Público» aonde foi utilizada.
Junta-se a outros trabalhos de Nuno Saraiva, este grande artista e amigo na minha colecção.



A colecção de arte erótica «a funda São» tem:
> 2.000 livros das temáticas do erotismo e da sexualidade, desde o ano de 1664 até aos nossos dias;
> 4.000 objectos diversos (quadros a óleo e acrílico, desenhos originais, gravuras, jogos, mecanismos e segredos, brinquedos, publicidade, artesanato, peças de design, selos, moedas, postais, calendários, antiguidades, estatuetas em diversos materiais e de diversas proveniências, etc.);
> muitas ideias para actividades complementares, loja e merchandising...

... procura parceiro [M/F]

Quem quiser investir neste projecto, pode contactar-me.

Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)

15 dezembro 2018

«eras tu» - Susana Duarte

eras tu, a árvore da minha vontade
de voar para onde as aves
falam de naufrágios
e de arribas
escondidas

pela erosão fácil da alma.

perdi os dias a falar com as ondas,
e as noites à procura do ar
lento que as aves
soletram,
apátridas

como as almas que deambulam
ao largo, onde o sargaço se move
e a praia é um lugar longe.

longe de ti, longe de mim
e do mundo das pessoas,
procurei ainda a sombra
azul das águas
entristecidas

pelas marés estranhas do ser.

não soube ir além da foz e, todavia,
eis o sorriso fácil da árvore
da vida, nascido
dos teus olhos
e derramado
como luz sobre a maré

onde, outrora, me uni
às arribas fósseis da vontade
de navegar,

para, em ti, ser soluço,
voz de ave,
maré indissolúvel.

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
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