Vai para quinze anos fui parar ao Hospital de Santa Maria com uma tensão arterial altíssima. Estive umas horas no Banco de Urgências a fazer sucessivas medições da pressão arterial, ao mesmo tempo que os médicos de serviço me iam fazendo engolir comprimidos nem sei bem para quê.
Lembro-me apenas de, a certa altura, também me terem dado uma injecção com a finalidade de me obrigar a urinar.
Explicaram-me que a expelição da urina pode facilitar a descida da pressão arterial. Não me doía nada, sentia-me relativamente bem, mas os valores das medições continuavam altos. A médica de serviço disse-me:- Não posso deixá-lo sair daqui com a tensão arterial tão elevada. Corre o risco de lhe dar alguma coisa já à saída do Hospital e voltar aqui com algum problema grave.
- Vai ter que ficar aqui em observação esta noite.
- Ok. Respondi eu. A Doutora é que manda.
Permaneci até às quatro da manhã no SO e depois mandaram-me para uma enfermaria com a tensão arterial já estabilizada.
No dia seguinte depois de almoço uma médica veio ter comigo à enfermaria, conversámos e ela disse-me que me ia dar alta acompanhado com uma receita de uma série de comprimidos para ir tomando.
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Daí a 15 dias voltei ao Hospital para uma consulta que tinha ficado marcada pela médica. Auscultou-me e disse-me que estava tudo normal e que me ia mandar fazer uns exames.
Perguntei-lhe quais seriam as precauções que devia ter no que respeita à alimentação. Mandou-me reduzir ou mesmo eliminar o sal, as carnes com demasiadas gorduras, enfim essas coisas que todos já ouvimos falar...E, claro, que deixasse de fumar.
Não me falou numa coisa que me preocupava e que para mim não é menos importante que a alimentação e o tabaco
.
Perguntei-lhe: Doutora e sexo?
E ela, franzindo o sobrolho: Diga?!!!
Retorqui-lhe, explicando:
Sexo, Doutora! Fazer amor! Na minha ignorância de medicina, parece-me que a tensão arterial pode descontrolar-se quando se faz amor. E queria que me dissesse que precauções devo tomar. Ela compreendeu e recomendou:
Bom, são coisas naturais a que o organismo se adapta, não havendo razão para medidas especiais, mas reconheço que nada custa prevenir os riscos.
Recomendo-lhe que, nesses momentos, mantenha algum controle da tensão, evitando excessos e exageros.
Como sou obediente, desde então, tento fazer amor ( quando calha...) com o medidor de tensão apertado no meu braço e o tubo ligado a um monitor que comprei e mandei pendurar na parede do quarto, para onde olho de vez em quando, fazendo o que a médica mandou:
Controlando a tensão arterial que o monitor vai indicando...
Reedição de um conto Felício publicado aqui em 3 de Setembro de 2016
Rui Felício
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