Trazias nos olhos um brilho de mulher
E um sorriso prematuro como um beijo
Um torvelinho em cada braço sem saber
E o linho claro de um conceito no desejo.
Porque as palavras para aquém da fluidez
Emaranhadas nas teias da nossa mente
Lembram sangue lembram Pedro e Inês
Neste tempo que é urgente estranhamente.
Quase não lembro qual era a sensação
Na presença real do teu corpo abstraído
De ter tudo sempre tão presente tão à mão
E tão distante ao tocar-lhe embevecido.
Mas eras tu feita saudade permanente
Amazona deste tempo galopante
A esbrasear gritos em cada fria madrugada
Numa implosão de ansiedade requerente
Que resumidamente
É quase tudo é quase nada.
Trazias nos olhos um brilho de mulher
E um sorriso prematuro como um beijo
Um torvelinho em cada braço sem saber
E o linho claro de um conceito no desejo.
«O silêncio e o gume da palavra», 2022
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