No feixe do teu olhar há um espaço que me ocultas
Mas que eu anseio
Porque é o único que faz refulgir o meu ocaso
E se tudo o que na vida fulge é consumado
Fica apenas o sal que o sol da água não retira
Tornando crespo o branco sentir onde me espraio
Aquém da sombra desse espaço que me ocultas
Mas que eu anseio.
(No meu olhar há um feixe que alvorece
Que se ergue neste tempo de baixeza
E desse alvor quando quando a neblina esmaece
Surge o fulgor esbraseado da incerteza.)
Esse é o espaço que me liberta outra visão
No sossego brando e fascinante do teu rosto
Mesmo na sombra mais lilácea e entardecida
E eu pasmo de espanto neste canto sem acordes
Enquanto o silêncio cerra lento as cortinas
Do espaço que eu anseio e que eu preciso
E que tu me ocultas com tenacidade rigorosa
Por detrás desse meigo e enigmático sorriso.
«O silêncio e o gume da palavra», 2022
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