Fizeram o Patife acreditar que tinha um problema. Eu bem que mudei 11 vezes de terapeuta para me arranjarem uma solução diferente, ou mesmo que me dissessem que o Patife não tem problema nenhum, e que o apetite voraz associado à sensibilidade de gnu, com umas salpicadelas de fantasia erótica, de imaginação hedónica, e de perversão exótica, é sinal de uma mente sã em falo são. Em jeito de rodapé, ouso pensar que a terapeuta, qualquer uma das 11, ou as 11 em uníssono, ainda diria que me devia tornar num guru do desejo. Mas não. Em vez de acertarem no diagnóstico, enviaram-me para um retiro espiritual de conexão com as emoções, para proporcionar uma profunda libertação, e fazer uma incursão no meu mundo interno, com uma perspetiva de observação, de compaixão e de aceitação das tuas fragilidades e forças emocionais, bem como de acolhimento do meu Eu Interior.
Durante o retiro de 3 meses, nem pensar em pinar e focar nas putas das emoções do Eu interior. Belo serviço. No final, como na escolinha primária, não poderia faltar uma composiçãozinha de descoberta, para terminar o curso. Como sempre fui bom aluno e queria ser o melhor da turma, eis o que saiu:
"As emoções não entravam nas minhas contas, nas minhas conas, nas manhas e desejos ardentes de luxúria. Seriam sempre um empecilho, um tiro no escuro, algo que se esconde dos outros. Mantidas em segredo, mesmo sem haver algo a revelar, o segredo como um preciosismo de um coração de pano, controlado por um conjunto de cordas amargas.
Absorvo o momento, não esquecendo de gemer, de desejo, de saudade, do cheiro a chona molhada palpitante de prazer. Não há diluente que dissolva as nódoas, nem tempo que lave as mágoas. Somente no enjeito de quem ainda acredita na esperança, o amor sempre soube fazer-me a espera à porta, numa tão mais rendida pausa de entrega.
Pinar acontece, por vezes colérico, abrupto e de chofre. Por causa do gancho que lhe prende o cabelo, da sua pele desnuda sob a luz, de uma forma de olhar enigmática, de um cruzar de pernas descuidado, de uma gargalhada elegante e blasé. No fim de uma pinada, quando já nem o corpo carrega a alma, reconfortava-me apenas um toque passageiro, sem expressivos gestos de quem gosta e deseja passar a fronteira a monte sem alertar as agentes alfandegários das emoções.
Sem a mesura de uma emoção, flor agreste de aroma idealista, perco-me na arquitetura de um beijo, na ausência da voz, nos gestos forçados, na existência de outros. É uma morte anunciada, capitulando o seu mais querer ao infortúnio de um homem náufrago de si mesmo. Crispado, rosto cinzelado na rudeza de só saber de si, sem acreditar nessa velha ironia chamada Amor, que toda a gente banaliza a cada esquina do tempo, diminuída a palavra de uso corrente. Por isso é que Pinar acontece, por vezes no hálito de aguardente, entre dentes cerrados e olhos de sangue.
A emoção não passava de um engano, nas teias de um armário mal resolvido, de uma desarrumação esquecida no canto de uma vida já tardia. Seria uma sereia raptada dos mares, acompanhada apenas pelas vagas do pêndulo do relógio de parede. Tic Tac. Tic Tac. Sem sal, com o pó de quem dança por dentro, no ainda palpitar que estremece só de pensar em amar.
Despedaça-se o coração, queimado pela selvajaria do meu entusiasmo, o toque feito lancinante, porque o tesão acontece assim. Não há distância que quebre o desejo, nem memória que a traga de novo a si. Começa a desvanecer-se. A vida esquece-se dele, a lembrança colada ao olhar no vazio, entre os primeiros tons de uma emoção interior, até ao infinito de a querer refém na memória. Apenas porque o amor acontece assim."
E pronto.
Ainda tiveram a ousadia de me pedir para partilhar em voz alta, e no final deu-me um toque no ombro, assim ao jeito de quem diz “bom trabalho, grande evolução”. Saí de lá orgulhoso, com um diploma excepcional de mérito e de dedicação, o mesmo que deveria ter recebido aqui o meu Pacheco assim que saiu do retiro e, sem travões, mas com trovões a ecoarem-lhe mastro acima, logo se enfaixou pachacha adentro na chona da primeira sirigaita de ancas proeminentes que lhe apareceu à frente.
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