17 maio 2013

"Co-adopção" - Webcedario


Webcedário no Facebook

«For Fuck's sake, use a condom» (por amor da foda, use preservativo)

Um mãos largas

A vida, essa puta. E o amor, esse chulo. E eu ávido por sustentá-los.

Gostas mais do papá ou do papá?



HenriCartoon

Prostituição - a minha história (XIII)

Verão de 1997... (...) Alternar entre o Mundo Real e o meu Mundo Paralelo era mais do que uma mudança de nome, como se o autocarro que eu apanhava fizesse um percurso num túnel entre uma dimensão e outra, as duas com cenários em cores totalmente diferentes. Mas, naquele túnel entre dois Mundos, eu não podia mudar de eu e era evidente que o eu ainda se encaixava muito dificilmente no Mundo paralelo. A questão é que começava também a ter dificuldades em encaixar no Mundo Real. Embora não sentisse mudanças internas, era como se o que vi tivesse formado uma película nas íris dos meus olhos e tudo o que eu via era visto através dessa película do que eu sabia. Era preciso ter atenção, era preciso ter cautela, ninguém se podia aperceber que alguma coisa estranha tinha entrado na minha vida, ninguém podia perceber que tinha mais dinheiro do que poderia ganhar num emprego, ninguém podia perceber que estava sexualmente mais adulta, ninguém podia perceber que eu sabia coisas, ninguém podia perceber porque ninguém me poderia perceber quando nem eu própria me percebia. Não foi um trauma mas sim o cansaço da duplicidade, o cansaço da passagem no túnel, a vontade de ser só uma que me fez parar. As aulas estavam prestes a recomeçar e a vida em que eu podia ser eu não podia ser vivida com aqueles olhos. O primeiro dia de aulas, os cadernos e livros, os Professores, os colegas, o retorno ao dia a dia do eu, estava ainda mais afastado daquele novo planeta, o túnel seria ainda mais longo. No fim do meu último dia na casa, ainda uma hesitação, a recepcionista dizia-me, satisfeita: "já viste quanto ganhaste hoje?"... Mas interrompi a hesitação com o pensamento de que era uma boa quantia para juntar ao pé de meia que acabei por fazer e ir-me embora sem olhar para trás. Até quando? Se isto fosse um livro, este seria apenas o fim do primeiro capítulo. (Continua)

Seduzir uma mulher é tão fácil!



Via Ela Tá de Xico

16 maio 2013

«Blachman» - "o corpo feminino tem sede de palavras de um homem”

«Blachman» é um programa da TV da Dinamarca em que uma mulher entra de roupão e se despe e fica sem poder dizer qualquer palavra, perante Thomas Blachman e um convidado masculino, ambos sentados num cenário vazio, todo negro, que fazem comentários sobre o seu corpo e sobre outros assuntos que lhes vêm à cabeça.
Thomas Blachman defende que está, “na verdade, a fazer um favor às mulheres, já que ‘o corpo feminino tem sede de palavras de um homem’”.
Este programa tem gerado uma grande polémica,como seria de esperar.Há quem classifique o programa como o mais machista da história e faça uma inaceitável coisificação da mulher.
O apresentador defende-se, argumentando que o programa tem um carácter revolucionário, pois pretende discutir a estética do corpo feminino sem permitir que a conversa seja “pornográfica ou politicamente incorrecta”. “Agora as mulheres podem entender o que os homens pensam sobre o corpo delas”.
No YouTube só se encontram pequenos videos promocionais e censurados, como este.
Mas encontrei na página da cadeia DR os seis primeiros episódios completos. O sexto (com o sexólogo Sten Hegeler) até está legendado em inglês. Quanto a mim, não tem nada de chocante. Mas cada um que forme a sua própria opinião:

É assim que quero




É assim que quero hoje,
teu corpo fértil, despido,
à mercê da carícia suave
das unhas vermelhas,
da boca suave,
da vulva doce...

É assim que quero!
Hoje faço o destino
na erecção do grito,
nos tremores do teu sentir,

É assim hoje.
No gemido infinito,
na carne suada
de ondas de prazer!

Vera Sousa Silva

3ª lição

A vagina já está perfeitamente adaptada à grossura e ao tamanho do pénis, encharcando-o de sucos e de fluidos quentes e facilitadores.
Os movimentos descritos nas lições anteriores, vão repetir-se compassados e persistentes. É o momento em que a mulher se inclina ligeiramente roçando os mamilos nos peitorais do macho. Este ângulo permite que o pénis toque o clítoris, friccionando-o no movimento que o faz mergulhar, curvo e pulsante, no lago apertado que o acolhe.
É o momento de dedicar atenção e cuidado aos testículos. A mão da mulher deve afagá-los como se os dedos fossem penas. Sentir-lhes a textura, os subtis movimentos, o volume, o boleado a sutura do escroto e percorrer-lhe a penugem macia que os torna aveludados. Este mover de dedos femininos é acompanhado pela descida da vagina, fazendo-a rasar a base do pénis de modo a que o clítoris embata no início do tronco latejante, permitindo, também, que os dedos formem um anel controlador e que, apertando-o, comandem a penetração que tende a ser cada vez mais acelerada, com os testículos a subirem e o arrepio brutal e animalesco de quem desespera na espera.
A forma mais eficaz de domar este impulso, é procurar rodear, anelar com delicada manobra e atenção redobrada, o início destas duas impaciências, coagindo-as a uma descida lenta e prazenteira. Os testículos obedecerão contrariados e a rigidez do pénis aumentará de forma significativa, tornando-o poderoso e fazendo-nos sentir que as paredes da vagina, que até ao momento o acolheram como um dedo de uma luva, devem agora readaptar-se a novas dimensões.
Será conveniente, em caso de masculinas emergências gemidas ou ganidas, libertar o falo e passar à quarta lição, sumariada em breve.
Camille

Lex Drewinski (Polónia) - poster «Stop Sex With Children» (Parem o sexo com crianças) - 1998


15 maio 2013

«Dos cinzentos deslizantes» - João

"Para mim a vida era simples de categorizar. Ou era branca, ou era preta. Não havia segredo. Nem truque. Nem nada além disto. Tomava-se uma posição e ficava-se nela. Como facções. Ou estávamos de um lado, ou contra ele. Branco. Preto. Como tabuleiros de xadrez. Estava errado. Com o tempo vim a entender que a vida não se faz de brancos e pretos. É como as probabilidades. As probabilidades oscilam entre zero e um, entre a impossibilidade e a certeza. Mas nunca temos a certeza de nada. Nem a certeza da certeza, nem a certeza da impossibilidade. As probabilidades são, para mim, cinzentos da matemática, assim como os dias que vivemos, entre o momento em que acordamos até à cama onde nos deitamos ao fim do dia, são os cinzentos da vida. Contas feitas, matemática esgotada, os brancos e os pretos não existem. Só existem cinzentos. Uns muito claros, que quase parecem brancos, e outros, muito escuros, que quase nos parecem pretos. E, entre eles, um infinito de gradações em que nos movemos.
Uma existência a branco e preto é conveniente a superegos muito dominantes. No domínio da moral, quando a moral nos pesa para além de um núcleo indispensável, com demasiadas excrescências, com coisas que não são inteiramente nossas, os brancos e os pretos dão jeito. São confortáveis. As coisas ou são, ou não são. Não temos de testar o nosso superego. Não o colocamos à prova. Conformamo-nos. É um aborrecimento ter de assumir que a vida tem cinzentos. Dá trabalho. Obriga-nos a olhar para dentro, a questionar aquilo em que acreditamos. Provavelmente com medo. Porque tantos anos seguidos a alimentar um superego, choca perceber que ele é, porventura, mais pesado do que precisa. Chocará perceber que deitar uma boa parte dele fora não nos torna piores, não faz de nós seres amorais, não nos retira coluna, pilares, princípios. Apenas nos torna mais adaptáveis aos imprevistos. Permite-nos deixar falar mais o id, permite-nos um ego mais solto, permite-nos inalar o cheiro da vida a plenos pulmões.
Julgo que somos ensinados, muitos de nós, a suprimir o id. É-nos dito que o id é coisa geradora de pecado, que não é suposto a vida ter piada, que apenas os domínios do ego e do superego devem ser alimentados, que o instinto, que o desejo mais primário, é fonte de perigos e contratempos. E isso gera, inevitavelmente, gente branca. E gente preta. E gente sem graça. A vida está nos cinzentos, digo-vos. É neles que apetece deslizar. É neles que está o sumo dos dias. E o truque, afinal, é meter tudo no lugar certo. Não deixar nenhum deles abafar-nos ao ponto de nos tornar tristes e frios. Soltar o id nesses cinzentos, e esquecer os brancos, esquecer os pretos. Porque não existem."

João
Geografia das Curvas

«conversa 1972» - bagaço amarelo

-Lembras-te de mim? - Perguntou-me ela.

Lembrava mas, tal como ela, também eu tinha dúvidas que ela se lembrasse de mim. As memórias são apenas a paisagem dum caminho estreito, que percorremos sós. Assim, por um momento, fiquei a olhar para o meu passado sem lhe ver o horizonte.

- Claro que lembro. Que patetice, então não me havia de lembrar? - Mas não era uma patetice.

Ela calou-se e fitou-me nos olhos, como se procurasse alguma coisa escondida em mim. Acho que sempre que perdemos alguma coisa noutra pessoa, os olhos são o primeiro sítio onde a vamos procurar. Deixei-me estar quieto, a ver o primeiro sinal de desilusão no seu rosto. O que quer que fosse que ela queria ver, não viu. Depois veio o silêncio.

- E então, que fazes? - Perguntei.
- Estou desempregada. Trabalhei muitos anos em Setúbal, em várias coisas...
- Eu também estou desempregado. Trabalhei sempre cá por cima, com alguns intervalos para trabalhos no estrangeiro...

Mas as palavras iam morrendo pouco a pouco, como que intoxicadas pelo desinteresse da banalidade. Temos os dois mais de quarenta anos e não nos víamos desde a adolescência, numa noite qualquer de Verão. Na verdade, foi essa a única noite em que a vi, e só me lembro que ficámos para trás de um grupo de vários amigos comuns que iam a uma discoteca qualquer. Passámos horas numa praia qualquer do Alentejo, onde fizemos da areia a nossa cama e do som do mar a nossa conversa.
Ela tornou a fitar-me nos olhos.

- Apaixonaste-te muitas vezes, desde então?
- Duas ou três. - respondi.
- Duas ou três?! Tens sorte.
- Sorte?! Porquê?!
- Eu já lhe perdi a conta...


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»