19 março 2010

O caminho mais fácil

Muita gente estuda, trabalha muito, se dedica, sofre para chegar a algum lugar na vida. Sempre em busca da fama, sucesso, reconhecimento, luxo… Tudo gira em torno do status social.
Porém existem caminhos mais fáceis para subir na vida. Um é adquirindo um cartão corporativo do governo. O outro é o mesmo que a menina escolheu:



Capinaremos.com

18 março 2010

A Centopeia



HenriCartoon

Evasão


Todos os nomes cabem
na minha mão
âmago!
o teu dispersa
em tempestade, turbilhão
um gemido aqui
(dentro)
uma loucura dissimulada
tempo!
escorregadio o destilar dos poros
e essa ânsia madura de ter
arde!

Vera Carvalho
Pétalas Minhas
___________________________________
Quando a malta gosta, a malta ode:

"Arde-te o corpo
num fogo escorregadio
Morfologia!
Esteganografia louca
que dissimula os poros
Barbara!
Veleiro desgovernado
vencendo o Adamastor
Utopia!
Dicionário em construção
alto-relevo, em esperanto
Acordo ortográfico!

Olá Vera inquietude...
Bartolomeu"

"Tens um fogo...
Apago!
Sentes um ardor...
Incendeio!
Tens um tempo...
Aguardo!
Sentes a ânsia...
Acredito!
Queres a loucura...
Espero!
Dás um gemido...
Eu grito!
Santoninho"

tocas-me

tocas o meu corpo
com as tuas mãos nuas,
firmes


roças a minha pele
com os teus lábios doces,
molhados


tocas-me
com a fúria de um orgasmo
com a doçura dos teus olhos


Tal e qual

Saber deixar correr. A vida, tal e qual. Como um rio sem barreiras ou o sexo sem fronteiras que acontecem porque sim. Indomáveis, imparáveis no seu curso, no leito, nas batidas que se sentem no peito quando as margens se deixam beijar, os corpos a latejar pelo sangue que corre também nas veias amantes como a água naqueles sulcos permanentes de vida a acontecer, tal e qual.
E é preciso saber, sem dúvida, deixar correr dessa maneira livre e espontânea, simples e consentânea com o ritmo acertado pelos ponteiros desses relógios tão certeiros que o destino cuida de gerir por nós de forma tão aleatória como a que define o percurso de cada rio até à foz onde desagua e se transforma, por osmose desequilibrada nas proporções, numa nova força, salgada, uma outra energia qualquer, exactamente como gostamos de conceber o melhor fim.
Tal e qual, a vida. A correr, deixada assim, à solta pelo tempo marcado para percorrermos o caminho desde a nascente até onde se verifica o ocaso de cada luz individual. Como um rio banhado pelo sol com raios de calor.
Como um corpo e uma alma obrigados a deixarem (es)correr, tão simples, o amor.

Pussy Juice!


Dispensa grandes comentários.
O original, tropecei nele aqui.


Outra forma de actuar na Casa da Música.

17 março 2010

vivemos num dos melhores países do mundo para o sexo...

Sexo puro e duro, como sói dizer-se. Sem barreiras nem estribeiras, curto e grosso, tântrico, elementar e profilático. E sem esforço. Ele está aí, entra-nos porta dentro (ou por onde calha e menos se espera) e nem pede licença.

E vêem de cima, como deve ser, os bons exemplos. Curando de cuidar dos cidadãos, tal é a preocupação dos mandantes (supostamente os elementos activos da relação), na sua agitada sanha em promover a satisfação sexual dos viventes, fodem-nos de todas as maneiras e feitios, numa incessante demanda – quiçá – de um sagrado Graal, que colhe em Epicuro o néctar.

Porque, em boa verdade, todos buscamos a felicidade, pela aponia – a ausência da dor – como pela ataraxia – a imperturbabilidade da alma. Temos, até, uma propensão muito nossa para fundir estas duas… e levitar – uma espécie de apotaraxia que nos pariu...

No corre-corre das portagens, em auto-estradas inoperantes por gigantescas filas de carros e eivadas de buracos com e sem obras; no PEC, óbvia abreviatura do esquema pecaminoso com que estamos a ser sodomizados; na Segurança Social à espera de que façamos filhos que nos assegurem a reforma, quando nós descontamos exorbitâncias… para a nossa reforma; por outro lado e em antítese, nas reformas milionárias e recordistas de velocidade de tanto afilhado do regime; de cada vez que metemos gasolina ou gasóleo; de cada vez que pagamos a electricidade, ou a água, ou o gás, ou o telefone; no maquiavelismo sado-masoquista do IRS; nas taxas «moderadoras» (e tantas outras…), bem como na medicamentação, na Saúde; na miserável rentabilidade dos Certificados de Aforro, quando o Estado paga quatro, cinco, seis, sete vezes mais às entidades a quem vai buscar o dinheiro «lá por fora»; na Educação, pobre, atrofiada e deficiente, mas sempre viva e exploradora, qual «marrequinha de Monsanto», à sombra da qual tanto editor livreiro tem feito fortuna; na Justiça, também ela tântrica, sado-masoquista e careira; na desmesura de uma Assembleia da República repleta de boys e girls, (que nem fornicam nem saem de cima, diga-se, mas fazem-se pagar bem e reformar melhor); na violação sistemática das regras ainda ontem definidas e que mudam de posição como amante inconsistente e volúvel, sem que ninguém seja capaz de lhes acompanhar o ritmo… E o rol seria infinito!

Alguém duvida, pois, que nesta costa banhada por tantas lágrimas de Portugal – como dizia o poeta… - haja também muito miasma misturado nas salsas ondas, tal a imensidão orgasmática em que vivemos?

Eu cá não tenho dúvidas… E já estou pràqui que nem posso, diga-se!


(Desculpa lá, São, mas se não fosse aqui, onde verteria eu este suspiro de sublime prazer?)

IBIZA FUCKING ISLAND by Tatúm





Dos dibujos de la serie
Inéditos (2006)
Lápiz sobre papel Gvarro esboso DIN A4
Click en las imágenes para ampliar
Ver más en Blog by Tatúm

Só porque sim

Não sendo fumador, e com isso desconhecendo por completo (e sem vontade de saber) o prazer que um cigarro possa dar entre os dedos, e para além disso nunca tendo tido o desprazer de lamber cinzeiros, claro que recebi de braços abertos a Lei que proibiu o tabaco em espaços públicos. Se eu sou obrigado a ir a uma casa-de-banho para devolver a cerveja que bebi, que não sendo um vício, é um prazer meu, parecia-me, no mínimo, injusto que tivesse de levar com o fumo de quem disfrutava do seu prazer: o tabaco.

Para mais, enquanto que se eu urinasse em cima de um fumador, nenhum mal viria à sua saúde, já o fumo do seu tabaco era para mim prejudicial. Fazia-me fumador passivo e de roupa mal-cheirosa. A partir do momento em que essa Lei entrou em vigor, aconteceram duas coisas interessantes. Uma delas, terem os espaços públicos fechados ficado mais agradáveis. Sabe bem estar num espaço comercial e não cheirar o fumo. Sabe bem poder comer uma refeição sem tabaco à mistura. A outra coisa interessante: os fumadores estabeleceram rotinas que me divertem. E porque me divertem? Explico já de seguida.

No local onde agora trabalho há alguns fumadores. Quando sentem o apelo de colocar algo entre os dedos, ou algo na boca (e eu teria ideias alternativas para isto), abandonam os seus postos de trabalho e avançam para a rua. A sala de fumo é a atmosfera. E quando lá vão, combinam entre eles a viagem. Convidam-se. Dizem “vamos a um cigarrinho”.

Mas outros há que o fazem de uma maneira que a mim parece mais característica: tentam enfiar o cigarrinho em momentos-chave do dia. Há um homem que passa pelo corredor e grita à colega, “Sofia (nome fictício), vamos fumar antes da reunião?”, ou então “Sofia, vens fumar agora?”. Quando estas perguntas se fazem em voz alta no corredor eu sorrio, porque altero os verbos. Como seria isto com outros prazeres?

“Oh Sofia, vamos dar uma antes da reunião?”, “Sofia, vens fazer-me um felatio agora?”, “Sofia, tens tempo para um cunnilingus antes do almoço?”. Imagino estas coisas e sorrio. Sorrio pensando como seria se isto se dissesse, assim, em voz alta e sem que alguém estranhasse, como seria se ao sair a porta do edifício, em vez de encontrar meia dúzia de agarrados à nicotina, encontrasse malta a dar quecas contra a parede, contra a porta, no chão, por todo o lado, assim durante cinco ou dez minutos, antes de uma reunião, só porque sim.

Possivelmente sorrio porque sei que isso não vai acontecer. Apesar de toda a minha imaginação, essas coisas só porque sim, à porta do edifício, seriam estranhas. E as pedras do chão magoariam os joelhos e as costas.

Nas nuvens

Tinha dedos nublados
deixou-lhe nuvens nos seios
deixou-lhe nuvens nos lábios
e ainda flutuavam
e ainda se roçavam
como ventos enluvados
de memórias de suaves tecidos
memórias de gemidos acetinados
Na última vez que se amaram
das nuvens que os rodearam
ficaram os dedos marcados
palavras inéditas em dicionários
escritos no ventre, novos ensaios
e ainda divagavam
e ainda se reconheciam
no corpo dos dedos nublados.


Lucía, gabinete de sexologia -"O que faço, doutora?"

Mais uma história do livro «Lucía, gabinete de sexologia», com a autorização de publicação pela editora el Jueves:




16 março 2010

Amor?!...


- Ama-me.
É pedir muito?
Possivelmente.

Amar não é para todos:
custa, magoa, revolve as entranhas.

- Amas-me?
É uma pergunta chata?
Possivelmente.

Amar não é para todos:
revolve-nos, magoa, custa sentir.

- Porque amas?!

Amas.
Amas?
Amas!

Não...
És um imbecil
à volta da sua própria cauda,
buscando o que não encontra:
mas saberás o que procuras?!

Foto e poesia de Paula Raposo

_________________________
O PreDatado propõe uma versão fundíssima:

"Mamas-me a chata?
Possivelmente.

Mamar não é para todos
revolve-nos, enjoa (não vale mentir).

- Porque mamas?

Porque sou imbecil,
eu queria mesmo era chupar-te a cauda
mas ando às voltas e não te encontro.

Voltas?
Às sete."