29 setembro 2011

Nus meandros

"Oiço palavras correndo pela minha cabeça.

Eu as oiço ascendendo nos meus quartzos, retendo-me num espaço aumentado, atravessando-me em volta de inúmeros ecos. Elas pensam, correm abertas em mim, como se eu fosse o seu céu e elas estrelas pela minha noite dentro...
Segredos em transe... imagens que partem e levam com elas o meu sangue, e me atiram para um mundo de sonhos, grandiosamente aberto, na mais limpa coada que dorme no centro de mim, entre as rotações, pressões, nas minhas artérias que são ceptros soberanos, entre os corredores, por onde a minha loucura é expelida...
Amo as Luas vermelhas que explodem na minha cabeça, repetidamente, repentinamente as chamas são um mar aberto reflectindo fúrias entre as constelações deste meu tempo interno, aos de mais externo, arfando continuamente, chamejando entre os meus lábios, detidos entre o silêncio e a insónia...
Cada palavra é um eclipse, um abismo profundo, um coração com garras que reflui e flui em mim, interminavelmente, até ao fim dos meus dias, entre as pernas..."

Luisa Demétrio Raposo

Tradução do amor (II)

Não sei quando
nem sei como
tudo isto começou
Tudo isto começou
e nenhuma luz acendeu
e nenhum sinal inequívoco
nenhum cumprimento à porta
do inferno em chamas do meu peito
antes de temperar o meu coração
Amo-te
e o tempo não fez o favor
de me anunciar
a minha nova vida
Amas-me
tu a anunciarás.

Meninas, mamas grandes é à chapada!



Atenção que não dá para fazer crescer pilas.

Brushstrokes 001


28 setembro 2011

Assim ou Sopas

Gosto de fazer amor devagar. Não estou a falar de sexo Tântrico, à la Sting (que afinal acabou por confessar que exagerou para nos impressionar) mas simplesmente de sexo lento, feito com atenção a pormenores: a forma como os meus mamilos endurecem e escurecem quando são estimulados, como o meu sexo incha, humedece e amolece em preparação para receber a carne hirta que dele se aproxima, a alteração do ritmo na minha respiração e do bater do meu coração. Gosto de reparar nesses pormenores da alteração dos cheiros no ar quando dois corpos se oferecem para trocar prazeres, de estar atenta ao momento em que as vozes se tornam ligeiramente mais roucas e mais ofegantes, gosto de tomar atenção a tudo isso enquanto prolongo o momento antes de ser penetrada. Poder estar atenta a esses pormenores requer tempo. Infelizmente para mim, isto não é exactamente compatível com esta minha condição quase permanente de ser “a Outra”.
Quando somos “a Outra”, são raras as vezes em que nos é concedido tempo para fazer amor como eu verdadeiramente gosto. Isto, independentemente do número de orgasmos. Para mim, atingir o orgasmo só é um objectivo quando me masturbo. Quando preciso de um orgasmo. E consigo perfeitamente chegar lá sem fazer amor. Quando se tem pressa, não se faz amor. Fode-se. A “rapidinha” é uma foda. Uma bela foda, mas uma foda à mesma.
Uma das relações que tive enquanto “a Outra”, foi com um homem incapaz de usar preservativo. Assim que eu abria a prata do preservativo, ele começava a desfalecer. Tentámos de tudo! Preservativos com sabores, sem látex, inseridos com a minha boca, vedei-lhe os olhos para tentar disfarçar o momento de lhe enfiar o barrete e… nada! Ele ia-se sempre abaixo!
Ora sabendo eu que nos vários anos do seu casamento entediante ele molhava frequentemente o seu pincel em vários boiões de tinta, não me atrevia a deixar que ele me viesse molhar o pincel no meu boião sem certos cuidados…
Andámos nisto durante meses a fio – a fazer amor sem penetração. Chegámos a um ponto em que já nem nos preocupávamos com tentar o preservativo. Amávamo-nos lentamente, ríamo-nos, tínhamos conversas intermináveis entrelaçados em posições que nos pareciam impossíveis, beijávamo-nos longamente de forma ofegante e trocávamos carícias. Nunca me ocorreu sequer trazer um vibrador para as nossas brincadeiras, tal era a forma como nos satisfazíamos mutuamente.
Na última vez que estivemos juntos algo inesperado aconteceu: entre risos jocosos, resolvemos tentar outra vez “enfiar-lhe o barrete”. Com uma mão a acariciar-lhe os testículos e a outra a ajudar a minha boca e língua a desenrolar o preservativo, ele manteve-se mais atento que nunca até eu o montar devagar, os dois a tremer na ânsia de sensações novas. Baixei-me nele até que ele estivesse completamente dentro de mim, ele sentado no meio da minha cama, as luzes acesas, eu sentada em cima dele, os meus seios ora se roçavam contra o peito musculado dele, ora eram recebidos pela boca dele, os nossos olhos bem abertos, humedecidos pelas sensações, incrédulos ao que se estava a passar.
Depois ele estragou tudo… trocou-nos as posições para que ficasse ele em cima e começou a foder-me àquele ritmo que me faz lembrar os cães quando se montam uns nos outros ou quando montam a perna de uma pessoa. Fodeu-me com movimentos curtos e bruscos durante muito tempo, trocando de posição mas não voltou a deixar-me estar em controlo. De repente, no meu quarto, havia apenas o pénis dele e uma vagina, que nem sei se ainda era a minha. Depois de se vir, deitámo-nos lado a lado sem dizer uma palavra. Ele com um sorriso na cara e eu… só sei que sentia a pele fria e uma certa apreensão. Ficámos assim no silêncio algum tempo até que ele se mexe, a tactear algo na mesa de cabeceira. A embalagem dos preservativos. Quando vi que ele já estava outra vez erecto e que estava a abrir um novo preservativo, levantei-me da cama, vesti o meu roupão de seda e disse-lhe nas calmas “vai-te embora. Não me voltes a contactar.”

Fruta 13 - Utilidade da gravata

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[Foto: Pedro Costa, 2010, Fashion XVIII]

long live the pride!

Enquanto isso num Universo Paralelo

Parabéns, é um lindo amendoim.




Não sendo pedófilo, mas eu comia fácil.

Capinaremos.com

27 setembro 2011

Grécia: eu má, os homens maus...

Há, afinal, vários intervenientes nesta história mágica do por-do-sol. O céu exposto a nu rende-se à noite, ela que o viole nas mais diversas direcções. O Sol, furioso com a traição do azul, lança fogo ao horizonte. O escuro é tão liquido na noite que nos chega aos olhos e dilui as chamas num alaranjado que se apaga. Todo este mar se lança na água dos rios, mergulham todos de mão dada. Tudo isto acontece submerso mas a água ri-se e garante-nos que é apenas reflexo, que nada ali acontece de verdadeiramente importante, nenhum espelho é real. Como se a água não soubesse que, quanto menos água temos, mais secamos. Como se a água não soubesse que nos vive ou nos deixa morrer. Há quem viva com muito pouca água, há humanos que são quase todos sólidos, como as pessoas que estão a filmar o por do sol porque lhes ensinaram a lista de coisas que nos devem fascinar ao ponto de serem filmadas. Mas não filmam os homens maus que vivem na casa do elevador do telhado. Os homens que vivem na casa do elevador são feios e sujos e fugiram da terra deles, fugiram do medo e da fome e da miséria e trazem tudo e mais o horror pendurados nas pestanas, por isso devem ser maus. Também moram muitos naquele espaço tão pequeno, por isso devem ser maus. Também fugiram da miséria das suas próprias ruas para passearem a miséria nestas ruas doutros, por isso devem ser maus. A cor diferente da pele deles é feia e suja e tem outro cheiro que lhes sulca a expressão do rosto, metem muito medo, por isso devem ser maus. Não consigo filmar a história mágica escrita nos olhos sem palavras destes homens maus, o pó que lhes molha a pele e as mãos também nada diz, devem ter ficado mudos vivos, uma espécie de mordaça da alma, talvez só lhes falem as pernas e por isso é que não trabalham e vagueiam todo o dia, rua acima, rua abaixo, enquanto os braços pendurados falam com a miséria e enganam a existência. Não sei, mas deve estar tudo nos telejornais. Nenhum deles me conta nada por isso vou continuar a falar com o céu e com a água, a esta hora consegue-se ver o fundo de tudo. Eu também devo ser má porque não concedo aos homens maus existência fora do meu olhar fixo, pelo menos o direito a não serem olhados fixamente, olho-os como se fossem animais numa jaula, como se eu tivesse pago um bilhete que me dá o direito de os olhar assim.