18 outubro 2011

Joalharia

«Proibições que são hinos à vida» - quarto video de divulgação da colecção de arte erótica

Neste quarto e último video desta série, toda ela produzida e realizada pela Joana Moura, a voz de ouro de Luís Gaspar revela-nos desta vez um texto de Jorge Castro (OrCa) inspirado na minha colecção.



Para memória futura e como tributo à malta que me ajudou a fazer esta «colecção sobre a colecção», deixo aqui os textos que o Luís Gaspar leu em cada video e os respectivos links:

«Proibições que são hinos à vida»

"A COLECÇÃO DE OBJECTOS ERÓTICOS DA SÃO ROSAS

Aqui um livro que não me deixavam ler; além um baralho de cartas que o pai guardava numa gaveta fechada a sete chaves; no armário da sala, por trás de copos, medalhas, e tralhas diversas, um cinzeiro metálico com uns relevos esquisitos; na arrecadação, numa velha caixa de cartão, um avental que só era usado em festas de amigos mais chegados e onde todos queriam meter a mão num bolso central que revelava uma conspícua protuberância…
O prazer estimulante de um sorriso brejeiro, a curiosidade avassaladora a que a vida vai dando mais perguntas e respostas, e tudo a pairar no sedimento dos objectos que nos vão rodeando, pelos degraus do nosso ser, altares de proibições sem sentido que, afinal, mais não são do que hinos, com redenção mais ou menos conseguida, à mesma vida que os sugeria.
Depois, guardar um objecto que se ri de nós e connosco, que lembra ou espicaça a aventura, que nasceu porventura das mãos de um sonho ansiado ou, muito ao contrário, de uma realidade degustada à exaustão.
Atrás desse, outro vem. O metal, o papel, o vidro, mas também a madeira, o plástico, o tecido, cúmplices e conluiados todos em estratagemas subversivos, perversos, amorais, para desinquietarem os espíritos ou para marcarem presença de troféu aventureiro, concretizado e irredutível.
Um a um se juntam os objectos como as lembranças, para edificarem o que queremos filtrar das vivências. E somos essa manta de retalhos, estranhamente unificada no edifício coerente, por onde correm os medos e as virtudes, as alegrias e os pecados, em suma o acto de coragem de se estar vivo.
Pode haver arte, com primores técnicos ou artesanalmente rupestre. Nada disso importa, para além do incontrolável sorriso que a gravura, o relato, a escultura, a pintura, o engenho projecta no material seleccionado pelas mãos para dar corpo ao que a mente anseia…
Levanta-te e caminha? Porque não, se está ali tão representada a força vital mais derradeira da Humanidade?

- Jorge Castro
2 de Setembro de 2011"

«Um olhar repleto de pulsações»

"há uma poalha dourada
a escorrer pela fímbria do tempo
onde se desenham as volutas de corpos
atormentados de luxúria
na partilha das seivas vitais
sangue
sémen
saliva
e um restolhar doce
que pode ser o ruído arrastado dos passos de todos os espíritos
dançando um tango de Piazzolla no salão nobre dos dias

há um frémito que percorre o aposento
cheio de ausentes presenças
cheio de todos os nadas de tudo de que a vida é feita
e desfeita
contrafeita
um encontro furtivo de amantes
um estertor
ou um olhar repleto de pulsações

e quando a noite cai
ou o clima sossega
e as estrelas vogam no seu interminável
passeio pela eternidade
cada objecto reflecte um brilho único
que lhe é próprio e alheio
ao mesmo tempo

que lhe é próprio e alheio
porque assim é
porque assim se conjuga o intemporal presente
feito de tudo o que nos é próprio ou alheio
apenas por sermos
o que somos
e não qualquer outra coisa sem sentido.

- Jorge Castro
02 de Setembro de 2011"

«Carícias ao nosso olhar»

"As peças não são imóveis,
vibram, acariciam o nosso olhar
como se, subitamente, entre olhos,
se nos abrisse uma vulva
que recolhe um corpo já vivo
e animado pelo bater do erotismo.
Nós somos os quase imóveis, os pasmados,
assim, percorridos até às entranhas
por este gemido da percepção.

Miss Joana Well"

«Caminhantes no vale da sedução»

"Todas estas cores se unem
entram em nós pelos olhos,
pelas mãos, pele já rendida;
todas estas cores formam uma,
antes da ancoragem no corpo;
se essa uma cor pudesse falar,
apresentar-se-ia: Erótica,
a caminhante no vale da sedução
e nós, os rendidos, os dobrados
ao tom mais Sol de todos,
observamos o que nunca foi inanimado
e escutamos o gemer da inspiração.

Miss Joana Well"

Orvalho

Reconheço-te a nudez morna,
o quente soluço
dos teus pulsos.
Roço na tua pele
o desejo;
fogueira atiçada.
Curvo-me sobre as tuas pernas,
doce e húmida:
o orvalho meu,
da madrugada, hoje.

Poesia de Paula Raposo

16 outubro 2011

Alguma das meninas consegue fazer isto?



«Amor e rosas» - por Rui Felício

As pontas dos lençóis arrastavam pelo chão em desalinho, a fronha da almofada ao seu lado ainda continha a concavidade da cabeça do Paulo. E até o seu cheiro suave, característico.
Fitando o tecto, saciada e feliz, ela sentia ainda, no lençol debaixo da sua perna dobrada, a humidade e o calor dos suores dos corpos.
A Beatriz era uma mulher madura, mas os anos não lhe tinham destruído a beleza e a fogosidade. Sentia-se ainda suficientemente atractiva aos olhos dos homens. Mesmo quando tinham menos vinte anos do que ela, como era o caso do Paulo.
Ele já tinha saído há umas duas horas, mas ela mantinha-se deitada. Não lhe apetecia sair da cama, queria prolongar o prazer daquela madrugada de sonho, reviver tudo, semicerrar os olhos e visualizar por entre a névoa da fantasia o seu rosto atraente, o seu corpo viril, o seu abraço carinhoso.
De súbito, a campainha tocou.
Esperou que a enteada fosse abrir.
Mas pouco depois a campainha retiniu com mais insistência. Ninguém fora abrir a porta.
A Natália já deve ter saído, pensou a Beatriz.
Contrariada, despertou da letargia em que se encontrava, enfiou à pressa a camisa de noite e estugou o passo até à porta.
Abriu, perscrutou com o olhar para um lado e para o outro, mas já não estava lá ninguém.
Já ia fechar a porta quando reparou, no chão, ao lado, um belo ramo de rosas com um cartão.
Sentiu o coração bater desordenadamente, cheia de felicidade, pela delicadeza do Paulo ao oferecer-lhe, em sinal de amor, aquele magnifico ramo de flores.
Pegou no cartão perfumado que as acompanhava e leu:
“Para a Natália, grande amor da minha vida, com mil beijos do Paulo.”

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações

Vales para posições sexuais

A Suzana Redondo ofereceu-me esta caderneta com 10 vales («vouchers») com diferentes posições sexuais. Malta amiga é quem quer o melhor para nós (ou, como é o caso, para a nossa colecção).

Os amigos são para as ocasiões

crica para visitares a página John & John de d!o

15 outubro 2011

Erasmo Carlos - «Kamasutra»

Um video excelente e - infelizmente tão óbvio - polémico.

Erasmo Carlos - Kamasutra (Videoclipe Oficial) from Coqueiro Verde Records on Vimeo.


Cantem com ele:

Hu, hu, hu
Hu, hu, hu
Hu, hu, hu
Em que posição?

Frontal, de pé, por trás ou de lado
A hidra às voltas com o dragão
Tesoura, fechadura ou de quatro
Em que posição?

Coqueirinho ajoelhado
Trapézio ou carrinho de mão
Gangorra de cabeça pra baixo
Em que posição?

Ficamos de mãos dadas no improvável caranguejo
Mas foi com a chave de ouro que o namoro começou
No 69 a gente deu nosso primeiro beijo
O que faremos hoje com nosso desejo?
Onde colocar o amor?

O enroscado da trepadeira
Picada de escorpião
Guindaste, tartaruga ou vaqueira
Em que posição?

Fênix na caverna vermelha
Noventa graus de conexão
Carrossel ou chão de estrelas
Em que posição?

Já experimentamos quase o Kama Sutra inteiro
Até contorcionismo a gente às vezes praticou
A borboleta em concha fez você gozar primeiro
Mas no tradicional papai-mamãe
Foi que a gente mais arrebentou

O parafuso, a ponte e o arco
Da rã, do caranguejo ou do cão
Lótus, vai e vem, tiro ao alvo
Em que posição?

Hu, hu, hu
Hu, hu, hu
Hu, hu, hu
Em que posição?

Cúmplice

Convexo vivo vibrante,
mortal apogeu;
perturbador silêncio
em suor:
vida em seu esplendor
máximo.
Musa solidão
no teu poema;
evocação premente
em golpes,
compassada,
um verbo no infinito.
Uma pausa no recomeço.

Poesia de Paula Raposo