17 novembro 2013

«Rumo ao futuro» - por Rui Felício


No meu gabinete de trabalho, há uma cadeira destinada a quem me vem consultar.
É confortável, pode ser manobrada para baixo, para cima, para os lados, é reclinável e está rodeada de variados instrumentos eléctricos. Parece uma cadeira de dentista, mas não é.
Ontem, uma cliente entrou, sentou-se e, depois de nos cumprimentarmos, perguntei-lhe ao que vinha.
Desencaixou a máscara, uma espécie de capacete semelhante a um grande ovo de cor creme e depositou-a em cima da minha secretária.
Pediu-me que lhe avivasse as sobrancelhas, lhe rosasse as faces, lhe repuxasse as pálpebras e lhe arrebitasse um pouco o nariz.
Agora, despojado da sua máscara craniana, o cérebro da minha cliente ficara à vista, esponjoso, ondulado, composto por aleatórios refegos sobrepostos.
Enquanto eu retocava a máscara craniana como me pedira, ia olhando constrangido, de vez em quando, para o seu cérebro nu ali ao alcance das minhas mãos, provocador...
Reparei nalguns neurónios soltos, desligados e perguntei à cliente se não queria que os soldasse.
Respondeu-me que sim e, já agora, que podia aproveitar para limpar o pó que devia estar a bloquear-lhe alguns dos circuitos cerebrais.
Deixei cair dois microscópicos pingos de solda nos neurónios afectados e testei a passagem dos impulsos eléctricos.
Liguei a pequena escova adjacente à cadeira e, delicadamente, fui limpando as poeiras entranhadas nos mais pequenos interstícios, aconselhando a cliente a não tirar a máscara muitas vezes, porque assim desprotegia o cérebro, sujeitando-o à sujidade ambiente
Devo-me ter descuidado ao fazer a limpeza do hipotálamo porque a minha cliente, de súbito, foi inundada de calores, abraçou-se a mim e incitou-me a fazer amor com ela.
Acordei hoje de manhã, confuso, com este sonho ainda bem presente.
Retive que tudo se passou na minha outra vida futura, no ano de 3152.
A minha profissão era (será) a de técnico neurológico.

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido

Postalinho da Praia do Camilo, em Lagos

Os gatos



Ai Senhor Doutor, venho fula! Imagine que recebi uma carta do marketing da Sheba. Sim porque eu tenho um gato, o Trafaria.

E não é que aquelas almas para vender os novos Sheba de Natal com ganso e galinha me escarrapacham uma fotografia de uma rapariga junto da árvore de Natal e do seu gato, sentada no chão da sala, num lençol de cetim, com uma lareira por trás e vestindo uma coisa de seda que tanto pode ser um vestido como uma camisa de dormir?!...

É claro que se notam as formas da rapariga que está ali embasbacada a olhar o céu como se esperasse que de lá caísse um anjo, obviamente bem artilhado de sexo, para a aquecer por dentro com a sua velinha e a fazer saborear as delícias da quadra num bacalhau com todos.

Oh Senhor Doutor e porque é que eu fiquei fula?!... Ora porque aqueles gajos do marketing, e só podem ter sido gajos, pensam que as mulheres que vivem só com gatos estão sempre à espera que lhes caia um gajo em casa, de prenda. E eu, na minha humilde opinião, julgo que uma mulher que gosta de gatos se quiser um homem, ronrona-lhe ao ouvido, dá-lhe uma lambidela no pescoço enquanto lhe passa a mão pelo material e depois, é só abrir o fecho éclair e puxá-lo para casa.

Papas pouco, papas...


Objetos (espaço dedicado aos nossos amigos diários)

16 novembro 2013

Cátia Terrinca - «Que inveja tens tu das rosas»

De noite pelas campinas
Anda o sol atrás da lua
Assim vai a minha sina
Meu amor atrás da tua

Que inveja tens tu das rosas
Se és linda como elas são
A rainha das flores
Tratadas por tuas mãos

Tratadas por tuas mãos
Pelas tuas mãos tão mimosas
Se és linda como elas são
Que inveja tens tu das rosas

(tradicional do Baixo Alentejo)

O OrCa não pode ver destas coisas que ode logo (abençoado):

Bate bate chuveirinho
neste peitinho de rosas
tuas gotas são miminho
nessas roseiras mimosas

se me alegra o teu cantar
se me deres o quanto ouvi
quem me dera a mim estar
a chover assim p'ra ti


Cátia Terrinca - "Que inveja tens tu das rosas" from MPAGDP on Vimeo.

«Coração apertado» - João

"Não voei. Fiquei com os pés no chão como querias. Suponho que tivesses medo, muito medo de que algo me acontecesse. Não querias que fosse eu mais um a contar para os dias tristes. Fiquei, por isso, sentado em terra. A olhar o Sol que desaparecia todos os dias quando o silêncio finalmente se instalava. Hoje, hoje mesmo, estou de novo com os pés em terra. Precisado de mimo. Mimo ontem, mimo hoje, mimo sempre. Mesmo quando somos fodilhões, somos sedentos de mimo. Ninguém é fodilhão todas as horas do dia. E hoje não é dia disso. Hoje é dia de coração apertado. É dia de mãos na cara e um beijo. É dia de abraço. De mão no cabelo, embalo. E por isso é o Sol de novo que se põe, num céu diferente. Com o silêncio."
João
Geografia das Curvas

Mulher e burro do Nepal

Estatueta em bronze com duas peças... que se encaixam... na minha colecção.




Um sábado qualquer... - «Dúvidas»



Um sábado qualquer...