06 abril 2015

As mãos

As mãos. São sempre as mãos que começam o frenesim incessante percorrendo o corpo. Não param. Umas vezes mais suaves, outras mais firmes e enérgicas parecem querer aquecer e fazer fluir o sangue. Os olhos passeiam pelas pálpebras cerradas. O cabelo sente o toque profundo dos dedos. Segue-se o arrepio na pele. Todo o corpo reage sempre daquela mesma forma. O apelo ouve-se em todas as células. Depois vêm os lábios. Tão quentes e húmidos a emoldurar uma língua ávida de sussurros. Os beijos moram no pescoço, nos ombros, nos seios e na cintura. Toda a pele reclama aquele gesto. Lábios nos lábios trocam beijos, segredos, afetos e desejo. Tudo se mistura até que os olhos se abrem e entram na alma um do outro vagueando e navegando por todos os cantos. Cada olhar é uma descoberta. Uma dádiva. Os lençóis moldam-se aos corpos banhados em fluidos que se confundem mas que se distinguem nas pontas dos dedos. A luz muda e emudece o mundo. O tempo habita onde os paralelos se cruzam. Bem para além do horizonte. A linha que, cúmplice, lhes serve de leito.

«Alexandria Morgan corre sem alças» - TomTom

«Deixa-te de coisas» - João

"Sinto frio. Tremo. Não creio que os joelhos se aguentem muito firmes. Sopra vento. Eu não tenho cabelo para ondular, mas ondula o teu. Sentes frio. Tremes. Escondemos os corações que se agitam velozes, e não estamos sequer perto para o sentir, nem perto ainda para ver o que os rostos mostram. Enquanto caminho fixo o olhar nas pedras, nas plantas, nos pedaços de estrada e terra batida, vejo pessoas que passam ao longe em vidas que parecem sorrir-lhes, vejo automóveis acelerar para qualquer sítio que não é aquele para onde vou, e embrenho-me numa paisagem densa, encontro um banco onde o Sol contraria a temperatura mais baixa e sento-me. Umas vezes nervoso, olhando à volta, outras de olhar fixo no chão, ou em frente a mim, na paisagem que se estende ao largo com a pressa de milhões de anos para se vestir. Sei que chegas porque consigo ouvir os teus passos mover as pequenas pedras e areias do chão. Sei que chegas porque o ar se transforma num perfume diferente. Sei que chegas porque, teimoso em não te olhar por mais alguns momentos, te deixo sentar ao meu lado, num silêncio que não é sequer incómodo, é reserva, é fome de páginas. As páginas que eu tenho sob a minha mão, todas as coisas que foram escritas sobre os minutos, as águas, as danças e os corpos. Levas a tua mão às mesmas folhas de papel, e com isso os nossos mindinhos tocam-se. E a pouco e pouco, não querendo dizer depressa, muito depressa, dos mindinhos são já todos os dedos que se entrelaçam, mas ainda sem olhar. Como se houvesse vergonha, como se nos fosse difícil encarar, como se existisse medo. E há quantos anos não lias as páginas? Que saudades trazias de ler a ponta dos meus dedos, as palavras que despejo no papel velho, da tinta permanente que insisto verter? Há quanto tempo não me lês, pensei, há quanto tempo te quero ler, pensaste. As mãos seguiam quentes, mas havia tremura, em mim, em ti. Não era o frio, não era o vento, era a cabeça a fazer-nos tremer com um nervosismo miúdo, com as borboletas que voam na acidez do estômago, e precisámos de tempo. Ficámos ali sentados no nosso silêncio, vários minutos, vários sorrisos tímidos, com as mãos quase a doer de tão agarradas, de tão apertadas que não foges, que não te deixo ir a lado nenhum senão aqui mesmo, e as tuas pernas que balançam, e as minhas que se encostam às tuas, e é um namoro de pele, de tacto, os ombros já juntos, o papel vincado, tanta coisa escrita entalada entre os corpos que se querem perto, e quando o tremor cessa, quando finalmente nos encaramos, pego nas folhas que arremesso ao ar, que atiro ao vento, e beijamo-nos com doçura e com fome, quantos são afinal, quantos são estes dias, e fazemos contas de cabeça sem a importância de acertar, estimativas grosseiras apenas para enquadrar a necessidade de rasgar a pele e deixar o outro entrar, e os papéis ainda voam, flutuam no ar, outros vão para longe, são letras mortas, são palavras pálidas agora que estamos naquele sítio, sentados já frente a frente, e deixamo-nos de coisas, deixa-te de coisas dizes, deixo-me de coisas, digo, e não sei já quem avança para cima de quem, acho que me dominas de joelhos opostos, sentada ao meu colo, oscilando o teu corpo sobre o meu e dizendo-me ao ouvido que se eu soubesse, se eu soubesse o quanto já precisavas disto, se eu soubesse, e não sei eu? Não saberia eu? Não precisaria eu? E tanta força, tanta força, aguentarão os nossos ossos esta força que nos aperta, a força que os nossos braços fazem ao corpo um do outro, a minha cara que desaparece no teu pescoço, no teu cabelo, a tua boca que me morde o ombro, haverá outro mundo para lá deste, haverá palavras em papéis mortos que valham mais que isto?"

João
Geografia das Curvas

Quase pino


E mais um dia foi salvo pelo…



Capinaremos.com

05 abril 2015

«Vintage Porn logos»


Vintage Porn logos from OuYeah! on Vimeo.

Luís Gaspar lê «Litania» de Eugénio de Andrade


O teu rosto inclinado pelo vento;
a feroz brancura dos teus dentes;
as mãos, de certo modo, irresponsáveis,
e contudo sombrias, e contudo transparentes;

o triunfo cruel das tuas pernas,
colunas em repouso se anoitece;
o peito raso, claro, feito de água;
a boca sossegada onde apetece

navegar ou cantar, ou simplesmente ser
a cor de um fruto, o peso de uma flor;
as palavras mordendo a solidão,
atravessadas de alegria e de terror,

são a grande razão, a única razão.

Eugénio de Andrade
pseudónimo de José Fontinhas (Póvoa de Atalaia, 19 de Janeiro de 1923 — Porto, 13 de Junho de 2005). Apesar do seu enorme prestígio nacional e internacional, Eugénio de Andrade sempre viveu distanciado da chamada vida social, literária ou mundana, tendo o próprio justificado as suas raras aparições públicas com «essa debilidade do coração que é a amizade».
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

PI dos perigos da frontalidade






São fases

Ontem conheci uma esotérica que dissertava sobre a lua em quarto crescente. Começa lá nua no meu quarto e logo vês o que fica crescente.

Patife
@FF_Patife no Twitter

04 abril 2015

«A State of Undress - a night of Traditional Striptease and live Jazz»


A State of Undress - a night of Traditional Striptease and live Jazz from Anthony Ratcliffe Films on Vimeo.

«Ilusão» - por Rui Felício



Dei por mim a mirar a Lua Cheia, pastoreando um rebanho de estrelas, nesta noite fria.
A mais luminosa, a mais bela, apartou-se, tresmalhada, cintilante.
Beijou-me como uma amante.
Não sei se o calor que sinto é da lareira acesa, se do beijo.

Rui Felicio
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido

Garrafa de Cerveja «L´Alsacienne»

Oferta feita à minha colecção... mas não me recordo por quem...



Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)

«Amor é prosa» - Adão Iturrusgarai


03 abril 2015

Parabéns, Pai - «Muito Obrigada»


Margaret - Thank You Very Much from Chris Marrs Piliero on Vimeo.

Para que não haja confusões...



Capinaremos.com

«Se puderes» - João

"Numa tirada rápida, com uma inflexão de discurso sem preparo, eis que ele lhe diz que, se pudesse, a fodia. “Como?”, isso mesmo. “Se pudesse, fodia-te”, e depois de uma pausa ligeira, que serve para centrar bem os olhares, insistiu, “e bem. Ias gostar”. Era isso que lhe queria dizer, que se pudesse a fodia bem. Mais do que muito, bem. Era preciso. Para reavivar os corpos da dormência, para reanimar os desejos profanos. Era urgente fazer algo a esse propósito.

“Sabes”, prosseguiu, “se te fodesse ia deitar-me atrás de ti. Ias sentir-te dominada. Segurava-te pelos pulsos atrás das costas e encostava-me a ti quase ao ponto de te penetrar”. Por aquela altura, lambiam-se os lábios. Admitia que a adrenalina lhe tivesse deixado a pele mais seca e a garganta mais necessitada de água, porque palavras, nenhumas, e o modo como procurava humedecer os lábios diziam-lhe que estava a crescer nela a excitação causada por um filme cujo final ela desejava muito. Mas reagiu então perguntando-lhe “e mais?”. E mais? Brincaria com ela por algum tempo. Tocando a pele arrepiada sem pressas, absorvendo esses odores que dão cor à química, que unem ou afastam pessoas sem lógica aparente, humedecendo os dedos nos seus espaços mais quentes, preparando caminho. “E?”, e depois, triunfando, derrubando todas as barreiras, se ainda as houvesse, entraria nela. Se eu pudesse, dizia ele, eras fodida nesse momento. Quando já estivesses a desesperar. A pingar.

“Apetece-me muito”, disse ela. Virou-se de costas para ele, despiu célere a fina blusa e a saia que, descobriu ele então, eram a única roupa que lhe cobria o corpo. Afastando um pouco as pernas, e mais ainda os braços, encostou-se à parede mais próxima insinuando as suas belíssimas nádegas, e olhando discretamente sobre o ombro disse-lhe de novo, “apetece-me muito, se puderes”."


João
Geografia das Curvas

«Limpinho» - Shut up, Cláudia!




no Tumblr
no Facebook

02 abril 2015

Água Vitasnella - «a mulher perfeita»

"Tutti sembrano voler dire alle donne come dovrebbero essere. Ma cosa succederebbe se le donne li ascoltassero davvero? Guarda l’esperimento di live mapping 3D realizzato da Acqua Vitasnella per celebrare la bellezza delle donne"

Parece que todos querem dizer às mulheres como elas devem ser. Mas o que aconteceria se as mulheres realmente os ouvissem? Assista à experiência de mapeamento 3D ao vivo criado pela água Vitasnella para celebrar a beleza das mulheres.

«inútil declaração de Amor» - bagaço amarelo

É uma merda que as pessoas se cansem de fazer declarações de Amor. Quando nos apaixonamos, não fazemos outra coisa senão falar de Amor, mas depois cansamo-nos e habituamo-nos à coisa. Começamos a dar ao Amor a mesma importância que damos às compras: é uma coisa que se faz porque se tem que fazer. Repito: isso é uma merda.
Volto ao princípio para me explicar melhor. O Amor tem que ser uma causa, daquelas pelas quais lutamos com todas as nossas forças. Não podemos aceitar que estar apaixonado seja a mesma coisa que estar na fila para o pão, ou seja, que o Amor se transforme numa variável útil da nossa vida, daquelas que só temos porque dá jeito ter.
O melhor Amor é aquele que não dá jeito nenhum. É o Amor inútil. Só existe pela mesmíssima razão que o Big Bang se deu. É a explosão que nos permite viver. Tirando essa razão para viver, não nos dá mais nada, a não ser sexo.
Ninguém devia responder "mais ou menos" quando lhe perguntam como está de Amor. Estar mais ou menos é a mesma coisa que estar mal, ou pior, é ainda mais vazio, mas cheio de nada. É só por isso que hoje, mais de seis anos depois de te ter conhecido, me apetece dizer publicamente que te Amo inutilmente.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Mulher transparente

Pintura sobre vidro, com moldura, da minha colecção.

Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)